Quem dera pudéssemos recontar a
vida e sua Criação em uma página somente… Veríamos Deus em sua
onipresença, seu total penetrante, sua infalível ordem que vai além
da compreensão menos inteligente da raça humana, esta que é, como
Gil canta, uma semana do trabalho do Altíssimo. A vida em uma página
começa com o rumor de um ser original, quiçá de um protozoário
que nasce de uma descarga de trovão, mas que o mar já era seu
confidente e o criacionismo perde para uma lógica da ciência, se
não nos tardar a memória que ainda a possuamos.
Vivemos
os pensamentos mais díspares, onde era a ciência pode ser o
protagonismo algo fundamentalista neopentecostal, ou uma liturgia
católica. Tudo vem de si e a página continua sem ter todas as
respostas cabais, concretas, intermitentes, sólidas, com afinidades
lógicas e de razão inegável. Nisso perdemos um pouco pois, até
então estamos cercados pela semiótica que busca transcender a
lógica, mas é assunto que a poesia não alcança, posto não haver
índices nem símbolos na mente do poeta. O que se é, é talhado
para se viver e o que se não é não passa de leve conjectura. Assim
se processa certo pensamento, assim se faz um certo discurso
filosófico a quem aparentar possa, e assim remontamos um
quebra-cabeça de pedras. Baste-se, foi colocada já metade da
página, e a discussão sobre a vida nem sequer foi citada. Por isso
talvez seja assim mesmo, da vida não se tira mensuração, período,
articulação linear, pois nem a linha do tempo retrata o vão
infinito do céu, os pássaros que o completam, a indecifrável
profundidade do mar…
Assim de se dizer remendamos mais
alguns significados, do sigilo das ondas, do verticilo de uma espécie
vegetal, do modo consuetudinário de nossos procederes. Assim vamos
prosseguindo, nos vértices de uma conexão, encobertando frases
resilientes, estudando a vida tal como é, com todos os percalços de
uma cidadania infelizmente um pouco dilapidada conforme os eixos que
se renovam a cada dia, no sentido de direção – feito axis – na
plataforma tridimensional. O que se ergue depois de cada dia é um
iceberg de propostas, a poesia de cada dia este, a consonância de
saber-se mais próprio no andamento de um cavalo cocho que ainda dá
seus sinais de si e nos leva até o paradeiro. Este caminhar solene
sobre nossas – por aquisição – patas nos revela uma gripe que
nos ameaça em cada passo, a se retratar os dias contemporâneos…
Talvez essa citação anterior nos leve a uma realidade que não
queremos ver com nossos desatentos olhos, mas que verte na pronúncia
das causas a repetição de nossos hábitos. Talvez devamos sair um
pouco, mas o caminhar solene só é assim por fases de cada ser
humano em nossa busca pelo humanismo.
Reiterar que a
habilidade do homem reside em suas mãos é saber que, em virtude de
uma página somente, tente reproduzir a vida que pulsa em todos nós,
a qualquer ser vivente. O coração de uma árvore igualmente pulsa,
nesta que possui os seus direitos sobre a terra, nesta que demanda a
própria terra e seus seres, nesta que vive mais do que nós por
vezes, não de um viver intenso em nossas idiossincrasias, mas de um
viver sereno e tolerante… E que nos faça compreender melhor um
possível espelhamento cabal e correto do ser inanimado e, no
entanto, com o poder de nos abrigar… Remende-se qualquer troco de
medida, qualquer valor a curto ou longo prazo de gananciarmos, que no
trato com a bola a partida de uma árvore qualquer remonte nesta
página a vida daquela, que tanta falta nos dá quando não existe
mais, e que os pássaros reencontrem outras a quem faça a diferença
como ser humano na hora de preservar a riqueza mais nobre que
possuímos no rescaldo da vida, que seja, em uma página!
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