sábado, 26 de setembro de 2020

TORNAR-SE MELHOR

 

De tanto se pensar, de tanto se especular, perdemos
Um fio da meada, um vértice obscuro de uma trama,
Os pontos que não merecemos por mérito e fato…

Nesse não merecimento está a ignorância, modalidade
Tão pungente neste século de obscuridade, nesse mote
De se estar partícipe sem se ter maiores noções
Que venham de uma luz lunar ou solar a densas frentes
Porquanto o que se afirma é a opinião cabalmente lunática!

O Poeta pode afirmar, em sua defesa, que é melhor para um
Ignorar sua existência, pois nada se compara em Poder
À força das palavras, que podem dilapidar um Império
E erradicar as veias de falsas dialéticas, no que não seja
Nem mesmo o diálogo, mas a dita efervescência
Das tramas de dados alcançados, de informações
Que não se permitem serem justas, posto o conhecimento
Não é tarefa para muitos, justo ser bom ter três idiomas
Para começar a compreender a ciência da língua
Sem necessariamente entornar vinho e mulheres
Em uma relíquia de Eça de Queiroz para elucidar
Os veios incomensuráveis da importância da erudição!

O Poeta segue em sua defesa, a permitir que escambem
Seu trabalho, e que ignorem sua existência, por ventura
Seja talvez a falta no engajamento vulgar da aventura
A que tantos se voltam no intuito e na intenção crua
Dos mesmos corvos que isentam a carcaça quando sita
Em um domínio público a que já não mereçam a confiança…

Estabelece a ignorância em um domínio cru e sensato
Naquilo que não enobrece a atitude, na sensatez fácil,
De um domínio pungentemente ignóbil, no que a palavra
Passa-se a tornar a arma mais poderosa, porquanto consistente
De uma razão indelével, nua e crua, despida de rumores
Quando se estabelece nas artérias da ciência que transcende.

Por isso ignora-se a poesia, por isso não se compreende seu alcance,
Dentro de uma plataforma de consonância com a Verdade
E com o destino de milhões de pessoas que – se a compreendem –
Ao menos em uma sílaba passageira, saberão um pouco
Do significado de suas existências, independente o fato
De estarmos entornando justamente a verdade no caldeirão
Extremamente quente de uma ignorância impertinente.

Em síntese, o reflexo de palavras bem enunciadas
- Seja em que retrato for – evanesce as trevas de um quinhão
De frutos mal merecidos, e por mais que evitem divulgar
O trabalho e a fruição da arte poética, saibam os algozes
Do não se estar bem com a arte e a poiésis, a praxis,
Que tudo isso pertence a um patrimônio que parte a estar
Na memória das gentes, nem que oralmente se possa
Estar a traduzir a vicissitude de toda uma intensa era!


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