sexta-feira, 24 de abril de 2020

A SOMBRA NA PAREDE


Tira-se o impacto de Hiroshima e vê-se, projetada na parede
Ainda as partículas de um ser, que seja, alguém pulverizado
Por uma explosão que – pasmem – a humanidade soube criar!

Das reportagens antigas, daqueles jornais monocromáticos,
Daqueles sonhos de um país melhor, desde tempo imemorial
Seríamos fantoches da mesma sombra que não desgrudar-se-ia?

Não, não há o aspecto ventríloquo de uma mediunidade,
Não, não há a vereda de uma luminosa academia em sua ignorância
Que empata o amor, que verte a mesma sombra de uma guilhotina!

Resta saber-se o antípoda da tristeza, que não seja sombra, quase
Uma alegre face de falsas esperanças, quando o que se quer é cópula
Daqueles que na verdade não veem nisso nenhuma vantagem capital.

Certezas cruas, verdades falseadas, já fazem de nossa diagnose vertebral
Algo sistêmico mesmo de quaisquer sistemas, a ver que em uma axis
De panorama de um lado fica transtornada ao ver o cartesianismo…

A lógica do espaço tridimensional, a ver que um vértice vira uma aresta,
E esta uma face, compondo talvez no futuro a diagonalidade de um ângulo
Que reflita a geometria nascente e que muitos ignoram por nunca saberem.

Resta saber se a poesia repete o homem, ou a mão repete igualmente um
Que não possa ser dois, mas que reveste naquilo de tela a carne que falta
No banquete solitário em que o ser remete a uma beleza transgênera!

E tudo que alguém compreenda, as milhares de faces hedonistas, a conquista
Da crudeza em se trair sua própria sombra, o evanescimento de algo
Que a alguns pode parecer espiritual e a outros relembra apenas a carestia…

Que se remonte de critério quem já está montado em notícias, e que algo
De extrema destruição revele ao mundo que a realidade pesponta
A mesma colcha de retalhos que distribuía aos seus: três remendos, e voltava um.

Não somos fantoches da materialidade, somos um só corpo em um só espírito,
Somos a sombra da Virgem Santa, somos o Cristo em sua cruz, somos o peão
Que navega pelas sombras de seus sonhos, enfronhado com os seus tijolos…

O que se merece por compartir daquilo que nos frustra a princípio, não há de ter
Verdade alguma que não seja falseada com o nosso orgulho que empata
Até mesmo aquele copular-se tão trivial que se tem saudade de recomeçar o carinho.

Que sejamos maiores, do mundo que esperemos as faltas, seremos apenas a questão
De tempos outros onde um Poder dita que não vai haver piores dias, e a nossa Era
De Kali só relembra a poucos que teremos centenas de milhares de anos de restrições.

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