quarta-feira, 17 de julho de 2019

A MINÚCIA NÃO SE APRESENTA SEMPRE


          A minuciosa frase que por vezes ouvimos pode ser em vários vocábulos, um tanto de código, um tanto do nada, a expressão pura, o dito pelo não dito, ou pior, ainda um contexto de língua estrangeira. Mas o detalhe mora ao lado… Se somos algo, não somos tão mutantes, ao menos na vida interna, sem o figurinista chefe do dia, ou a atitude ensaiada para não dar juízo aos bois. O que se vê e nos acompanha silenciosamente é o bosque, o pássaro, o cão e o gato, quando possuímos ao menos o céu em uma São Paulo – por exemplo cedente – de seus recortes e skylines. Mas não assim totalmente, pois o progresso também está no metal, no plástico, nas contas, no sorriso de mês e no estudo que demande sempre um tempo maior, consonante com a rotina e a disciplina: o mergulho, aquilo em que voltamos à tona mais tarde para reaver o oxigênio gasto na apneia.
         Os ismos nos colocam termos, o ismo em si, de per si e para si, enquadrado na prefixação daquilo que se dá de nome, o que não seria tão fácil, mas vira facilitador de um tipo de onda, que fosse melhor, como a poesia de João Cabral de Melo Neto, seria o Modernismo passado, ou depois venha a estética pós-modernista com suas variantes, antes de chegarmos ao escrever do cotidiano contemporâneo. Tudo tem sua base de dados, em relevo, imagens, sons, tratados filosóficos e uma integralidade que jamais vai ser concluída em virtude de ruídos e espionagens industriais ou não. Vivemos em uma Biblioteca onde os servidores já tecem novas redes, e estas nem sempre se apresentam ipsis litteris. Os equipamentos gigantescos ainda não reinventaram a imprensa, supostamente, mas os pequenos são como vértices vulneráveis porquanto portáteis, e no entanto miraculosamente inovadores. No entanto, essa ciência só se fará progressivamente se os usuários atinarem-se um pouco no antigo, em Éfeso, ou na Mesopotâmia, nas origens, no pensamento, naquilo que aqueles que estudam o cérebro ainda não têm condições de decifrar, a se explicar, que Deus também está nos detalhes! Aliás, se considerarmos que também está no átomo, ou dentro do coração de cada entidade viva, estaremos bem acompanhados, mesmo porque a visão brahmínica resolve que O vejamos por quaisquer lados, assim como certos índios veem no trovão um Deus. De qualquer modo, como citado acima, há cientistas que veem nas suas descobertas a própria possibilidade infinita ou, melhor dizendo, perpétua na vida de cada qual, a cada experimento, como a ficção de Conan Doyle, que nunca revelara se seu maior personagem, Holmes, cria em algo afora seu ofício. Mas as bênçãos são bem-vindas, posto quando auferem a saúde e a espiritualidade, o autoconhecimento e a projeção da bondade sobre todos. Vem à carga o anímico, o subjetivo, os meandros do inconsciente, a tanto de se perceber quão distante é a certeza que podemos ter a respeito do mundo e seus mistérios. Isso conjuga o verbo quando por vezes temos a necessidade de obtermos uma explicação sobre tudo o que nos move e cerca, nosso entorno e a questão existencial de nosso ser, conforme muito se escreveu a respeito no século passado, que ainda perpassa por este em que estamos… Quando um ser se revela obstinado, temos um sentimento de que conhecemos esse ser e, no entanto, as fronteiras que nos ligam a outras espécies marcam mais presença pelo modal invasivo e persecutório, em intenção destrutiva, aniquiladora. Esse viés cria oportunidades de se lucrar com os índices de afeto do ser humano, quando se criam serviços cada vez mais aplicados em função da ganância sem medida, e que contam com a frieza desses atores. Demanda que coloquemos algum freio no motor que por vezes nos move sem sabermos se estamos agindo considerando detalhes de suma importância, ou meramente dando asas aos ofícios para que não nos conheçamos mais na plataforma da solidariedade.
           O esforço hercúleo de alguns cidadãos que se mantém conscientes dos fatos que ocorrem diariamente e buscam se habilitar para consentir a eles mesmos a retirada do peso paulatino no ombro do sofrimento, seja ele material ou espiritual, revela que – apesar desse esforço – novas dificuldades geradas pela carestia de ambos os lados mantém a prerrogativa de que o universo de escape em nossa cultura está se rarefazendo como uma fumaça tíbia que se junta a outras depois de ver o que era seu tronco a ser devorado pelo descaso e falso orgulho, no embate cruento daquele que não presencia o ato a não ser no resultado bancário, ou na montagem de mais uma offshore.

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