quinta-feira, 29 de março de 2018

POR VEZES SOMOS ALGO MAIOR

           Será muito dizer que o ser humano talvez não esteja habituado com o caminhar sereno em uma questão de tranquilidade, tão somente. Nos caminhos que nos levam à consciência do que é cidadania é que podemos visualizar os direitos e os deveres. Direito em que todo o cidadão é igual perante o próximo; dever, em que se respeite, primeiramente a todos. A hostilização por interesses quaisquer é o que nos torna ínfimos, e a paz que é negada por muitos os torna nada. Assim, como diria um filósofo, o que seria o ser, o que é o nada? Pensemos a respeito, nas circunstâncias a que muitos são submetidos quando lutam amargamente para sobreviver, dentro de suas limitações ou determinismos sociais, assim, de estarmos em estudar um pouco a globalização que por vezes pode parecer um rolo compressor sobre os costados de quem empresta a sua força para ganhar seu sustento… Haveremos de ver o ódio sobre aqueles que se manifestam saudavelmente por seus líderes, haveremos de ver o preconceito e a discriminação sendo obra de fato dos governos? Que será da juventude de uma nação se não escutar aos mais velhos? Seria obra de fetiche, onde os mais velhos creem que os filhos de políticos podem exercer a política mesmo que sejam detentores dos mesmos modos de atuar, se corromper, ampliar leques de possibilidades sinistras. Não, que não seja essa a perspectiva de remoçar, pois por vezes a engrenagem do motor só se encaixa no mesmo lugar daquela que estava sem um dente, ou mesmo oxidada ao extremo, envelhecida, desde que saibamos que o motor por vezes deve ser trocado integralmente, ao concluirmos que peças iguais em funcionamento não correspondem a uma renovação tecnológica. Em tese saibamos que motores mais antigos possuem menos descarte, e boa recuperação de sua mecânica, mas sabermos existencialmente que somos máquinas apenas corrobora o perfil algo justo na mecânica, onde não somos peças de um sistema, e sim seres humanos com sua individualidade e crenças consagradas.
          Se há porventura algum estudo relativo a que sejamos previsíveis como um objeto mais complexo, esse algo de relativização de conceitos peca por afirmar que conhece o todo através do que percebe em fragmentos. O todo pode estar em qualquer parte, e o visível na tela digital é relativamente a percepção que temos através do gadget. Esse conceito por si quebra uma dependência de que seremos mais “atuais” se possuirmos nosso android atualizado, ou com aplicativos que nos diferenciem uns dois outros por uma competência assaz “estimulante”.
           Em outra perspectiva, há miríades de seres que compartem a Terra com a nossa espécie, porquanto gostaríamos de saber, isso dito quiçá no coletivo (onde o debate acontece): o nós. Gostaríamos de saber um pouco mais sobre as outras espécies, das quais as abelhas, sem as quais não vivemos. Para um debate, talvez fosse interessante saber que mesmo em uma megalópole o homem e a mulher não podem ignorar a Natureza, desde que se saiba que um ecossistema não se restringe ao mar, e quiçá o distanciamento do ser com outros revela que a nossa atitude consciente é que nos resguarda da ameaça a outros seres do planeta. Por mais que exista uma manta que nos isole da terra, por baixo esta é território vivo, e por cima a manta se ressente do não escoamento aplicado em projetos preventivos, como o saneamento enquanto função de evitar no mínimo as tragédias. Se uma espécie em extinção apontasse para a nossa e dissesse a Deus sobre os Direitos Universais, caber-se-ia na Declaração adendos e mais adendos, pois Deus não a criou, pois já existia antes do homem surgir no planeta azul. A ONU, em sua empáfia de fazer crer à humanidade que é uma instituição rigorosamente correta, deveria rever o conceito da sua participação nos negócios de seus amigos e correlatos, já que se revela como um bom instrumento de participação nas questões de ordem de muitos países e continentes. A proposta inicial parece boa, a participação e a união, mas a crítica vem de um espaço onde vemos que nestes nossos tempos as grandes instituições e corporações rezam pela valia de seus interesses, tão somente, e suas estratégias que se confrontam com a riqueza das nações, na proposta de ajudar “humanitariamente” na repartição do bolo.
          Talvez possa parecer fruto de um necessário esforço para saber quem está com mais poder ou não, ou como utilizam diversas organizações ou verdadeiras instituições onde nem sempre as coisas funcionam como deveriam. Passa a ser de pequena importância a defesa de algum interesse particular, mas seria bom pensarmos mais grandemente: ampliarmos paulatinamente a consciência com relação a tudo que nos envolve, incluso termos a ciência de sabermos o que é certo e o que é errado nas sociedades, para sermos algo um pouco maior do que a expectativa que por vezes o Poder espera que sejamos. É muito crível sabermos que dentro da mentalidade da diáspora que separa o rico do pobre é importante às classes mais ricas que a pobreza não seja consciente no sentido de se ter uma educação de boa qualidade. Talvez a maior parte dos ricos não pense dessa forma, mas as cúpulas que orientam verticalmente como o Brasil deve se comportar prima por essa premissa, para que haja uma resignação com relação ao status quo, mesmo que se submetam massas ao exército industrial de reserva, ou que a fome não comova mais àqueles que a presenciam nas cidades, ou mesmo no campo. Há uma espécie assustadora de torpor, de um silêncio, de as pessoas terem medo de se pronunciar se não estiverem alicerçadas a algo, a ponto de Ulisses ter que se amarrar ao mastro para não sucumbir…
           Pois bem, em um cenário de selva, no recrudescimento da violência e da covardia, do roubo e da corrupção, do jornalismo vendido e dos filmes exatamente programados ao horror, tem-se recrudescimentos de enfermidades de ordem psíquica. No garimpo e adaptabilidade de uma mesmice despontam almas na arte de um viver distinto onde não há espaço para sonhos próprios, a não ser o que a grande mídia redescobre nos arquétipos já estudados no inconsciente coletivo, em que Gustav Jung já pesquisara nas sociedades tribais ou “civilizadas” há algumas e bem estudadas décadas, de um século cada vez mais vivo que se tornou o XX. Foi nesse século estrito que surgiram os grandes regimes totalitários, independentes de sistematização ou não e, destes, algumas receitas certamente serviram àqueles que hoje disputam o poder no mundo. Será quase impossível, no atual século, que a verdade surja correspondente à sua aceitação, posto as letras agora dependem exclusivamente da linguística científica, como o contexto e a normatização de investigações excludentes, o que levará a literatura amadurecida a uma crise, ainda que seja uma manifestação artística mais independente do que as artes visuais de tintas e pincéis, ou a poesia livre na forma como manifestação do caráter libertário da expressão humana. Os canais expressivos fazem sua função de amortizar uma resposta mais longa através da premiação de insights mais curtos, em que aqueles que primam pela leitura e pesquisas mais amadurecidas por vezes não encontram rebatimentos necessários da aceitação desse modal existencial como padrão favorável em uma sociedade em processos de concussão.
          Por estes fatos, sentimo-nos desesperançados, como quando percebemos que avançamos em direção ao bem estar da liberdade concreta, à justiça social, e tiranos nos lançam golpes para destruir com os nossos sonhos e conquistas. Saibamos ao menos que a mentira institucionalizada não vence sempre, e o que nos levará à vitória é a sinceridade e verdade de nossos gestos!

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