sábado, 24 de março de 2018

A OCA DE NÓS MESMOS

Viveremos melhor em nossas toscas ocas que índios somos
A que ninguém se permita dizer civilizado porquanto nós somos
Os donos desta terra toda onde o homem branco hasteou seus pés.

Os pés enlameados em suas botas sujas de couro morto de outros
Por todos os solos calcinados, onde agora da Amazônia fala-se
De um crescimento que na verdade passa a ser imoral enquanto lei.

A todos os indígenas, a todos os negros expatriados em nossos braços
De braços emprestados, a toda a Latino América tão linda que não deixem
De olhar para si mesmos para verem os estragos embutidos na farsa.

Queremos um país dos brasileiros, e não é a interveniência estrangeira
Que porá fim a um sem dono a que abanam seus rabos de antanho
Quando veem que um que se preze sabe que o mundo não é de ninguém!

Que sigam mapeando, nada vão encontrar além das ocas de nós mesmos
Dentro de cada qual, na resiliência infinita de nossos voos pela natura
Mesmo em concretos de cidades onde não se veem os pássaros...

Não venhamos com a história do preconceito aos povos mais pobres
Posto que somos iguais na mesma matéria da carne, de pés e mãos
Que sabemos muito bem onde mora o líder de nós mesmos e nossa face!

Somos todos proprietários de nada, tentando fazer de conta o ganho
Dentro da dura luta onde os necessitados sabem que é na grande Igreja
Que a casa se refaz dentro do que imagináramos não fôssemos sombra.

A oca esta intacta, cada qual em seus portões, em aptos aptos, em solos,
Em pátria e vento, em esperança, em gestos e não nas organizações
Que só fazem desorganizar as nossas intenções de ao menos sermos mãos.

Dos filhos que, justos, nascem para o vindouro, que o futuro não corra
Como um carro atravessado que dentro de seu álcool atropela a certeza
De saber estar impune quando pratica as pequenas e duras maldades.

Ah, sim, a oca de nós fortes ou não, com a fortaleza do pensar na proa
E a certeza de saber que seremos igualmente força quando pensarmos
Que a vida não se desmerece no gesto falho de uma autoridade falível.

Não, que tenhamos qualidade em pensar que a vida é muito mais flexível
Do que tantas outras que se nos acodem quando precisamos, mesmo quando
Soubermos que de fato quando pensamos que estamos a solidão nos pega.

Mas sim que a jornada é tarefa de alguns, e todos que participem da vida
Pois a oca é de todos, uma taba de diâmetros causais e precipitados
Na razão sincera de ao menos sabermos que não estamos distantes do algo.

Jorra a semântica da poesia, pois quem diria que o poeta não estivesse vivo
Se no mais a poesia é ferramenta igualmente indiscreta quando vale mais
Do que um jogo a mais em um negócio escuso onde se encerra um ser.

Tenhamos que depender tanto das auras que a eletrônica nos ensaie e erre
Quando nos percebemos mais vivos porquanto existente nas selvas
Aninhados nas tribos que nos consolem por serem mais estridentes que outras?

Tá valendo, que vale, que vale sempre estarmos em consonância com todo
O que se move na esteira rubra de uma calçada, no tronco de uma palmeira,
No orifício de um parafuso mal encaixado, nas sobras de um ontem para hoje...

Seria maravilhoso vermos toda a produção de uma programação de TV
No que não vimos até a parte que cabe no latifúndio de nós mesmos, área
De circunscrição, que perdoem, não houve a intenção qualquer de dizer algo!

Se as inteligências se entorpecem com alguma verdade mal pronunciada
Que tentem vir a ser mais inteligentes do que um país que não cansa
Ou um braço que segue dando o exemplo de não ser apenas mais um.

Não teçamos comparação com algo, pois o que já foi não se repete na história
E a pretensa erudição de dois anos de academia não significa mais do que
Apenas mais três polegares nos bíceps e tríceps e cinco a mais no trapézio.

Não haverá como isolarem mais o verbo, pois este não encerra qualquer ato
Que por ventura alguém saiba melhor do que milhares de ocas cerradas ou não
No motivo fremente de viver nos conformes, sem qualquer necessidade maior.

Que venham os marinheiros de outrora, em suas embarcações de velames,
Mas que venham aprender em nossas ocas como herdar humanidades e modos
De uma vida em que a juta que tecemos sabe mais do que o ébano expatriado!

Que as luzes de um farol imenso mostre não um led posicionado em um sonar
Em um drone submarino de tecnologias inversas do que se diria de um futuro
Quando na verdade este mesmo futuro não se traça na superfície do Sol...

E que se fale que não se construiu a poesia, que o papel jamais a aceitará
Posto a concretude do ato de um artista não convive com as sobras da dúvida
Em uma infelicidade de não se saber vivente por não se conviver mais com a arte.

Justo que a poesia de um vate permanece no silêncio de uma estrela distante
Que revela o fazer da arte e a pronúncia de um prazer igualmente gigantesco
Posto estar com a arte em todos os séculos em que os índios nos ensinaram...

Que não nos sobrem a amarga condição em que muitos sinalizam as frentes
Do que somos quais peças antigas e reformadas de cinzéis romanos
Quanto de sabermos que as vertentes que brotam de nossas vidas não são vis.

A condição da poesia é navegar por sobre o sonho, quando este se revela
Mais do que todas as lideranças constituídas de um ego construído no Poder
Em que este exima a que todos deles participam, posto joga-se um jogo cru.

Se outras questões foram mal colocadas, saibamos que as nossas ocas estão
Fremindo os desejos de compartir com todas as outras que são similares
Às diferenças que capitulam a inquietude da intenção da intolerância.

Saibamos de uma vez por todas que ninguém deve estar julgando que não seja
Na própria palavra o ato em si mesmo, para saber que o sonho de um país livre
Sabe mais da soberania do que existe no princípio de sua própria Natureza.

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