sexta-feira, 30 de abril de 2021

O DILETANTISMO DA VIDA

 


             Resta-nos sabermos da vida como ela é ou o que queremos ser a partir dessa realidade, o existir. Esse caudal remonta a muitos milênios em que a Terra era pátria sem ser, em que a terra não era somente pasto, e onde a árvore porventura ainda não conhecia o madeiro… Dessas condições em que o ser humano quase não habitasse em um processo civilizatório, quiçá em outros tempos em que as condições da agricultura também não fossem sequer imaginadas, já que a imaginação tem lugar nas músicas dos Beatles, ou em uma projeção da arquitetura de Lorenzo Bernini. Não somos folhas mortas jogadas ao vento, e nem por isso sejamos uma árvore supracitada que oscila nas tempestades. Seremos sempre melhores do que isso tudo, seremos seres que sempre existimos, não importando sequer se algum processo civilizatório abriga muitos de nós em suas claudicantes ondas.
          Sejamos coerentes no diletantismo de nossas atuações, não importando muito se reverberamos a alma, ou se consolidamos a matéria, nas vanguardas de um materialismo histórico. Essa questão meio ou bastante filosófica quando resguardamos nossa origem e ancestralidade, e, sim, fazemos uma releitura da dialética material e seu suporte para conversas em um si mesmo espiritual.
Esse por si em posto no essere hegeliano verte na lógica seus fundamentos quase adversos. No entanto, uma lógica inenarrável onde o pressuposto da materialização de nossas proposições navega por uma questão que não sucede apenas à consubstanciação de um mero fato, mas o essente em si, o ser por si. Desse ser que é o Eu, o verdadeiro ser que na indicação histórica é e será sempre o que acompanha o homem, o que acompanha a mulher desde a origem de nosso processo evolutivo que, conforme Darwin, remonta Galápagos e suas conchas… Em uma mutação gênica mudamos ao inverso do que seríamos, dentro da auréola de uma planta, dentro do estômago de um cordeiro, dentro de um cérebro veloz que ainda não há nele referências concludentes à altura desse órgão. Recebemos algo realmente concludente dentro de nossa limitada percepção, que nos aproxima de uma pintura sacra, ou de uma mentira no dançar contemporâneo, quando este se torna brincante, apenas, ou mesmo quanto o diletantismo retrai muita condições anacrônicas com a proposta inevitável da eternidade no sufragar as ondas que representa dentro de um arcabouço da filosofia que se torna mais séria desde um princípio que apoiamos para continuar nossa aproximação com a arte e a literatura!
         É possível dentro de um diletantismo vertebral e sólido consolidarmos a poesia com a crônica, a literatura com um ensaio, a tese e a antítese, o dialogo e sua dialética, porquanto provamos com a mais b que o que estamos dizendo ou vivenciando é uma natureza das ideias, é fomentar o ilimitado, é ampliar espiritualmente os nossos canais perceptivos.
Essa natureza das ideias é um tipo de farnel que exemplarmente recrudesce por vezes um instinto de Thanatos, deixando Eros literalmente sobre uma esteira produtiva. Marcuse fala desse assunto já nos sessenta, e remonta um quebra-cabeça freudiano que muito tem a ver com um pensamento agigantado, no que Fritjof Capra vem a estabelecer seus ensinamentos sobre o Tao já nos anos oitenta do século passado. Esses escritores vêm a estabelecer recursos especulativos determinantes, ao menos para manter nossas mentes algo azeitadas… O que parte de um mísero poeta por vezes é um diletantismo eterno, impublicável no papel, mas com certos recursos na rede, o que causa por fagocitose abraçar algum assunto e ruminá-lo até as profundezas de suas veredas. Quando o ser essencial, essente, passa pelo vértice de algum eixo monumental, outras axis respondem, quando esse essente permite que se reproduza canais de entendimento circulares, como na miríade da imagem de uma bela mandala. Essa beleza não passa despercebida de modo algum, pois remonta através das letras a imagem lúcida e coerente de uma forma descomunalmente bela tal qual, como exemplo, a flor de lótus em um lago como o Yamuna: tão sagrado como o pressentimento da beleza e do amor!


Nenhum comentário:

Postar um comentário