domingo, 10 de janeiro de 2021

DETERMINANTES

 

            O que sabemos de um período qualquer, e que não sabemos do todo da história, quais suas razões e quais suas consequências podem auferir um significado amplo em uma análise que determine igualmente estes fatores e os equilibrem, se possível. Diversos são esses fatores da história, mas por vezes é complexa a dimensão que se alterna dialeticamente com as populações que subscrevem a mesma história. Muitos dessas populações altercam-se diariamente com aqueles que sobrevivem na miséria por vezes por gosto e facto. Há encontros e desencontros, mas a sociedade burguesa raramente enxerga o que há por trás de uma plataforma que equidista o mesmo espaço urbano: as ruas e seus caminhos. Podemos estar atrás de verdadeiras fortalezas, enquanto na rua a miséria ocorre com tamanha sofreguidão que já possui seus códigos de honra, desde que porquanto entre si, afora os que contribuem com a situação de quase calamidade em que se encontra essa gente, haja vista a burguesia ser enxergada com olhos de cervos. Os estilos quase naufragam no escurecer da noite, em verdadeiras colunas de gente que vai e vem por supostos motivos, quais não sejam a mendicância ou o puro encontro com algum trabalho que porventura possa atingir esses periféricos espíritos… Notívagos muitas vezes, procuram incessantemente por algo, por algum conforto que seja melhor que as ruas, navegam silenciosos por seus caminhos trôpegos e saem de sua clausura interna com ímpetos de possuírem ou registrarem na sua excêntrica existência a ausência de terem algum interesse à sua reintegração social. A sua rebeldia passa ao largo da possibilidade de terem interesse algum na leitura, mesmo porque grande parte dessas almas sequer sabe ler. Em síntese, passam ao largo de uma motivação realmente libertadora, subscrevendo uma dislexia histórica, no que se faça presente ao menos a possibilidade de se ter a emancipação necessária desse arremedo de classe, em que pese o fato de serem desempregados e caminham em direção mais ao trágico do que a construção de uma classe social. Essa desconstrução social ocorre no mundo todo, com a exceção pura e simples daqueles países que possuem um Estado garantidor desse pressuposto de vida, comprando a necessidade e não deixando caírem no desamparo sem similar e aproveitando a inclusão para reformar positivamente o indivíduo dentro do pressuposto de uma coletividade maior e mais seletiva…
          Não nos cabe dividir o planeta em quem é melhor ou é pior, mas é mister saber que uma sociedade de uma Nação que não olha para os excluídos segue um caminho de querer impor certas regras que fomentem a exclusão, e esse prisma não possui grandes cores, mas empata o arco das possibilidades a tal ponto em que o racismo, a xenofobia e o clima odiento crie sinistras asas. E o crime come solto, vitupera, fala alto, cria suas máfias, transforma-se e, o que antes seria certo, torna o padrão de conduta algo ruim e vira um procedimento cabalmente comum entre as gentes, girando incessantemente em torno da ignorância e do caminho aparentemente mais fácil e facilitador da iniquidade. Não é importante afirmar que nas Américas tudo isso não foge à regra e, o que antes era apenas miséria, vira a aplicação de populações vulneráveis com soldados da contravenção, no que se torna um eixo rigorosamente ferruginoso, azeitado até os dentes de suas profundas engrenagens que se infiltram no sistema até a medula. Esse é o critério quase Lockeano que traduz o determinismo peremptório no âmago do país que coaduna com critérios dessa ordem, e o que nos faz diferentes é justamente a nossa indiferença e nosso egoísmo perante o que acontece em malhas e malhas na complexidade de todo o processo que – em vez de cessar – aumenta mais e mais… Pudera termos o condão de transformar a consciência de muita gente, mas reza o determinismo que não estaremos em um porto seguro se deixarmos por desleixo ou omissão de rever nossos conceitos quanto ao futuro dos homens e mulheres vulneráveis que encontramos em nossas portas e muros.

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