quinta-feira, 10 de agosto de 2017

UMA FÁBULA ATEMPORAL

          Diz-se de alguém justo quando se pauta por lei justa… Diz-se de um honesto quando se pauta pela honestidade. São valores do caráter social, humano, indivisível. Pode ser que no comércio de modo assaz cruento, em que os grandes devoram capitais mais reduzidos, que se possa coabitar com um processo mais ou menos paritário ao funcionamento das Leis do Mercado que, na nossa atual economia Neo Liberal, não perdoa por vezes a um cidadão que prime pela honestidade, ou um grau de pureza de retórica de um idealismo pela justiça social. Isso é um fato incontestável. A diáspora que se seguiu aos diversos pensamentos do que seria o Estado fora desse padrão é algo que merece uma observação crítica dos processos que se revelaram inóspitos na questão das desavenças e caminhos pelos quais trilharam certos países com crises de belicismo, armas, relações de poder e fatores ideológicos altamente contestáveis pelo bem comum: comum às diferenças, e comuns às igualdades proscritas por muitos, em ordens inversas. As nossas dúvidas residem em um fator existencial que pode trasladar-se à coletividade como semente semeada que nem sempre frutifica, pois o uso de uma tomada de Poder pelo caráter da Força reza que a sua manutenção por vezes assuma papéis distorcidos, manipulações que podem gerar a um indivíduo a dificuldade no isolamento e sua inserção social baseada pura e simplesmente na validação de sua pretensa utilidade nesses caracteres. Que o valha Orwell e Huxley, duas literaturas ficcionais que nos revelam a profética onda do totalitarismo no mundo, agora cada vez mais presente, nas relações humanas “filtradas” pelo neotecnicismo – grande ismo surgido, e a onda do poder que se instala simples e cartesiana pelo modal previsivelmente tecnocrata, como uma grande burocracia com perfil de meios universalizantes, e no entanto incapaz de reverter o vácuo existencial de caráter polar, em que o positivo e negativo não são mais forças correlatas e harmônicas, pois passamos a viver o erro ou o desacerto, o bom e o mau, o coerente e o contraditório: uma sociedade maquiavélica e maniqueísta. Onde o ser vira máquina-objeto, e a máquina vira ser, quase pensamento bruto ou simplificado no seu aspecto “funcional”. Contextos como capitalista ou socialista, esquerda ou direita, branco ou negro, rico ou pobre, religioso ou ateu, acabam por sepultar cada vez mais a possibilidade de diálogo, com farta orientação pedagógica retroalimentadora dos veículos da mass media e da indústria cultural, impondo ao planeta um estado de tensão e vigilância permanentes, como em um ciclo onde todos os mais poderosos sepultam as esperanças nas relações verticais de um dia a dia sectário, aberto a um preconceito atávico e a volta de modais de servilismos nas relações de trabalho. A luta passa a ser conteúdo de filmes reais, porém sempre inócua porquanto previsível e a justiça não apenas tarda como falha.
         Sobrante: in vino veritas, that’s the status quo!

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