quarta-feira, 31 de agosto de 2016

POR VENTURA UM ENCONTRO COM BAGAGEM

            Prabhupada, em sua bagagem, o Bhagavatam... Abrisse passagem, de Jaladuta, o barco, para o mundo, e sua esteira espiritual algo complexa a se compreender de rompante. De um santo, um verdadeiro santo do século XX. Quiçá muitos não aceitassem o fato, da remissão da renúncia, da gana com fortaleza em traduzir, aos setenta anos, os dezenove livros e seus doze Cantos. A bagagem de um mahatma, algumas rúpias em seus bolsos, uma máquina de escrever, um baú, uma deidade, mrdanga e pressupostos indizíveis de religião autêntica, vinda da mais remota Índia e seus antepassados históricos de uma civilização voltada à realização espiritual... Que não se negara o Cristo, que não se negara o Judaísmo, a religião Maometana ou quaisquer outras, mas que trouxesse Krsna à luz, a uma frente em que resguardemos tesouros e crenças, de Brahma à Visnu. Há que se ter a coragem, mas que uma coragem que transude a fé em estarmos sabendo de trajetórias como essa. Da Índia e seus templos à Nova Iorque conturbada nos anos sessenta.
            Carreguemos com simplicidade as nossas bagagens, como um tipo de substrato do nosso querer, um pouco daquilo que somos ou não, que não olhemos muito para trás, mas que saibamos da história que por vezes não nos contam, ou que não aprendemos, sem que para isso deixemos de buscar por tudo: a vida espiritual, nosso erguer na reivindicação de nossos atos, em sabermos igualmente que nada será um ultimato a não sermos, ou aqueles que nos ditem o modo de ser, não obrigatoriamente o sejamos... Desde que sejamos obedientes à Lei, saibamos que portar-se bem é sinal da paz entre irmãos ou amigos, entre aqueles que se dizem nossos inimigos por termos uma opinião filosófica, em um exemplo algo cabal, mas que tendem a recuar quando dizemos da questão do que é ser um rival, do que é uma contenda fútil, do que são energias não renováveis da competição desmedida e da disputa por poderes, muitas vezes escusos por própria e inequívoca natureza...
            A paz não há de ser um fardo, pois enquadrar algo ou alguém com pressupostos de origem preconceituosa, não apenas racialmente, mas de modo factual, apenas revela o esforço contrário para que permaneçamos em um grande litígio. Talvez saibamos que há muitos interesses no mundo, mas a paz deve ser a argumentação logicamente mais forte para fazermos ver aos olhos das sociedades e seus povos que não pode haver mais espaço para guerras, pois à atitude beligerante só surgem mais e mais conflitos. A Paz deve ser recorrente, deve ser a sombra que nos una por sob as árvores, deve ser o destino e a origem, para que o caminho se torne imantado desde seu princípio, e que leiamos nos capítulos da história onde erramos para que os diálogos sinceros e amistosos devam ser pronunciados sem o temor de que – para parafrasear estranho paradoxo – falar sobre a paz ela mesma como princípio e fim não seja compreendida por aqueles que fabricam as guerras. Estes talvez não compreendam nunca, pois a paz não os torna ricos e poderosos...

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