Prabhupada, em sua bagagem, o
Bhagavatam... Abrisse passagem, de Jaladuta, o barco, para o mundo, e sua
esteira espiritual algo complexa a se compreender de rompante. De um santo, um
verdadeiro santo do século XX. Quiçá muitos não aceitassem o fato, da remissão
da renúncia, da gana com fortaleza em traduzir, aos setenta anos, os dezenove
livros e seus doze Cantos. A bagagem de um mahatma, algumas rúpias em seus
bolsos, uma máquina de escrever, um baú, uma deidade, mrdanga e pressupostos
indizíveis de religião autêntica, vinda da mais remota Índia e seus
antepassados históricos de uma civilização voltada à realização espiritual...
Que não se negara o Cristo, que não se negara o Judaísmo, a religião Maometana
ou quaisquer outras, mas que trouxesse Krsna à luz, a uma frente em que
resguardemos tesouros e crenças, de Brahma à Visnu. Há que se ter a coragem,
mas que uma coragem que transude a fé em estarmos sabendo de trajetórias como
essa. Da Índia e seus templos à Nova Iorque conturbada nos anos sessenta.
Carreguemos com simplicidade as
nossas bagagens, como um tipo de substrato do nosso querer, um pouco daquilo
que somos ou não, que não olhemos muito para trás, mas que saibamos da história
que por vezes não nos contam, ou que não aprendemos, sem que para isso deixemos
de buscar por tudo: a vida espiritual, nosso erguer na reivindicação de nossos
atos, em sabermos igualmente que nada será um ultimato a não sermos, ou aqueles
que nos ditem o modo de ser, não obrigatoriamente o sejamos... Desde que
sejamos obedientes à Lei, saibamos que portar-se bem é sinal da paz entre
irmãos ou amigos, entre aqueles que se dizem nossos inimigos por termos uma
opinião filosófica, em um exemplo algo cabal, mas que tendem a recuar quando
dizemos da questão do que é ser um rival, do que é uma contenda fútil, do que
são energias não renováveis da competição desmedida e da disputa por poderes,
muitas vezes escusos por própria e inequívoca natureza...
A paz não há de ser um fardo, pois
enquadrar algo ou alguém com pressupostos de origem preconceituosa, não apenas
racialmente, mas de modo factual, apenas revela o esforço contrário para que
permaneçamos em um grande litígio. Talvez saibamos que há muitos interesses no
mundo, mas a paz deve ser a argumentação logicamente mais forte para fazermos
ver aos olhos das sociedades e seus povos que não pode haver mais espaço para
guerras, pois à atitude beligerante só surgem mais e mais conflitos. A Paz deve
ser recorrente, deve ser a sombra que nos una por sob as árvores, deve ser o
destino e a origem, para que o caminho se torne imantado desde seu princípio, e
que leiamos nos capítulos da história onde erramos para que os diálogos
sinceros e amistosos devam ser pronunciados sem o temor de que – para parafrasear
estranho paradoxo – falar sobre a paz ela mesma como princípio e fim não seja
compreendida por aqueles que fabricam as guerras. Estes talvez não compreendam
nunca, pois a paz não os torna ricos e poderosos...
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