domingo, 1 de janeiro de 2023

PALAVRAS AUSENTES

 


Do que seriam as palavras se a poesia as procura dentro de um reflexo?
A mais do que se dizer são gestos de uma mão generosa fremindo perdão
A um incontestável sofrer das gentes que são esquecidas pelos tempos.
Quem dirá o que é o verbo de uma nascente que verte de olhos claros,
De um rumor relampejando na esquina, de um olhar silencioso de um gato,
Quando este encontra na procela dos céus a sua cria, e a protege
Com as garras serenas e exatas de seus consentimentos cabais de sempre.
Quem diria que o poeta não verte no nascituro de sua quadrática poesia
Um vértice a mais que compõe as arestas de uma grande e inevitável paz
Em que serena seu propósito em prosseguir por mar de carnaval de cinzas.
Do que se peça a uma manufatura de obreiro, que tantos são os mestres
Em ofícios já consagrados no farnel do povo, em que se cogite algo
Ao mesmo povo com seus costumes a se preservar em suas conquistas
Do quilate dos trabalhos, sejam os mesmos ofícios ou uma própria vida
Que cresce na esperança de que os dias sejam cada vez melhores
Em mais páginas da mesma História em que nos sentimos sinceros
Quando percebemos que pela ausência de palavras, grava-se a razão
Na covardia infecta do entreguismo, que pede sua passagem em um barco
De uma lata vazia em seu casco besuntado pelo piche em que se navega
A um prumo de derrocadas, pois os ponteiros do tempo alicerçam
As propostas condizentes com o destino simples e puro do trabalho…

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