sábado, 20 de agosto de 2022

A HISTÓRIA DO PRÓXIMO FINAL DE SEMANA

 

         O dia amanheceu frio, com a previsibilidade algo obscura de tempos previsíveis, e portanto perigosamente difíceis, especialmente aos cidadãos de bem, em uma pequena ponta de praia, onde estaria-se fatidicamente em um sábado, fora, de manhã, tarde, cedo, enfim… Tomás sabia de uma mulher que lhe regalara promessas de encontro, assaz ocupada, como todos nos graphos de ocupação circunscritos, nas suas secretas missões, meio que fatalmente esperando desfechos. Eram tempos mecânicos nos comportares diversos, e de brutalidades insólitas, covardemente desfechados, onde a própria cruz pendurada sobre o colo de um homem poderia gerar contendas e agravamentos que transcendiam até mesmo a mais sábia diplomacia. A guerra silenciosa já travara seus argumentos, e nada mais era segredo pelos jardins daqueles édens sintéticos de chumbo, onde a maldade reverberava algo de estranhos e inóspitos julgamentos. A questão era que Tomás sabia que estava só, sua mãe, enferma, não conseguia a tão almejada cirurgia, e a medicina parecia se ausentar desses aspectos algo derradeiros e burocráticos, onde uma família emergia quase desfeita em mais uma história truculenta em meio a corridas de políticos e suas engrenagens quase falidas em busca do poder. As respostas de Tomás em relação à vida era que participara de reuniões para parar de beber, e sua impressão passava ao largo da sobriedade cabal daquela organização importante para ele, no sentido de tecer companhia humana e solidária. A Igreja também era uma razão de sua existência e, no entanto, temia que o carro quebrasse e que a vida fosse mais efêmera na vertente de sua fé, inquebrantável, no entanto, quando de seus encontros com a cidadania que tão presente encontrava no catolicismo, suas vertentes humanas e necessárias, que, se tal não fora, cria que teria condições de contribuir até mesmo com a arte aplicada ao sacramento tão necessário, ao seu primeiro e único sacramento: o batismo!
          Amália já saíra de sua cabeça, ele acreditava que lhe daria um certo apoio quase afetivo enquanto mulher, mas seu temor era pensar que aquela seria mais uma peça que estaria a serviço de algo ou alguém no pressuposto quase invisível da conduta tão racional nas ideias da lógica que talvez também fizesse parte de outras e não menos previsíveis estranhas engrenagens. Tomás, enquanto escritor, se alicerçava na literatura, sua sempre e imorredoura fiel companheira. Estranho, mas, mesmo admirando as mulheres como acreditava serem tão lindas quaisquer de existências cabais, sabia dos vocabulários da traição, e sabia-o mais das ciladas e dos intempestivos seres infernais que ultimamente emergiam por lados, por flancos onde, nem mesmo por se caminhar na rua, estaria silenciosamente disposto a enfrentar os fantoches que já aventavam o totalitarismo que já começava a dar mostras de ser realidade pungente naquela nação tão linda e tão sacrificada dos mares do sul: o sul, especificamente, um pequeno território ainda livre, ainda humano e que resistia aos desmandos de uma tirania que se fazia aberta em todos os finais de semana, no que a semântica corrobora o significado do termo. Era a velha questão do ser… Não que fosse uma questão complexa, mas na realidade os embates eram velhas questões do ter, do ter poder, do ter o tão almejado prazer, da virulência do que não se toleraria em nenhuma circunstância, que, em um exemplo cabal de teste de sensibilidade humana, por vezes a métrica de dezessete fonemas de uma estrofe encerrada em um livro de capa vermelha por si só estaria afeito a uma crítica virulenta e derradeira, como em um tipo de massacre que tangia a mais da verbalização, mesmo que essa estrofe versasse sobre uma parábola de Jesus, o Cristo! O temor de Tomás não seria jamais a ausência de uma mulher que jamais a conhecera de novo, igualmente previsível na história de mulher de vida madura e cristalizada, mas apenas do que faz o prazer da carne com certos seres em relação a outros ou a outras, de como encerrar padrões de conduta com relação a tipos decadentes de êxtases materialistas poderiam influir tanto em cabeças fracas de espírito, apesar das atitudes aparentemente benevolentes e acolhedoras. Lembrava-se do grande escritor, Erich Fromm… De como a psicologia católica lhe tanto fizera bem, e quantas vezes recebera um pequeno livreto chamado Crianças da Bíblia quando de bom aluno em uma escola do interior de Santa Catarina. Sim, não temia, não dispunha de tempo para temer, não gostava de lutar mas, como um bom cristão, gostava de amar, incondicionalmente, era a velha questão do ser! Que seja, que fosse, que prosseguisse, a guerra alguma lhe interessaria, contrariando adeptos de horrores das supracitadas guerras porquanto a vida militar não sobejava tanto em seu espírito, mais contrito e mais afeito à paz, o que poderia lhe trazer inimizades mais intensas por esse simples fato, de como santificar e abençoar espiritualmente a própria existência pode significar algo de monta a ser imperdoável sob o ponto de vista de vivenciar coisas que relegara ao ostracismo da não ação, do respeito maior aos seres outros que fazem parte da Natureza, e sua transcrição e admiração a São Francisco, como a imagem que sustinha predileta em seu pequeno e caseiro altar. A predileção por essa religiosidade fazia de sua compreensão melhorada e, pensava, talvez fosse melhor dedicar seu final de semana à companhia de sua sagrada mãe, que se sustinha sem poder se movimentar, por estar com fraturas na lombar.
          A arte passava a ser suas letras, e a profundidade o lapidar constante e peremptoriamente duro de seu caráter, em um tipo de penitência a que se impunha, dentro de um quarto onde finalmente encontraria a paz, onde se sustinha o seu leme e o seu prumo, suas linhas de conduta e sua própria condição de homem só, vitimado pela brutalidade algo burlesca, repetindo, daqueles anos de chumbo, de descaso, de virulências e de máquinas que cada vez mais distanciavam o corpo do espírito. Tomás e Amália, seriam um belo par, mas a truculência programática tentaria de novo e os golpes baixos se sucederiam naquele tipo de máfia dinâmica e de milícias e grupos escusos que se formavam, que se armavam e que empunhavam na mão a serpente de desforras em que a culpa seria a própria eleição democrática que se apresentava próxima. Tentariam e tentariam, como o próprio nome o diz. A tentação se apresentava dia a dia nos olhares que passavam pelo espírito contrito de Tomás. E não seria para tanto, Amália já se fora, não seria uma parceira à altura, pois quiçá tudo o que aprendera não bastava para que quebrasse aquele imenso firewall que construíra em toda a sua formação, em todas as suas certezas e em todas as sequências programáticas que obviamente não poderiam deixar de ser a sua essência de mulher certeira, mas com atitudes de dogmas duvidosamente cruentos.
            Aquele sábado não amanhecera ainda, e seu amanhecer, na questão de ferro gusa de ponta, de ponta de agulha circunspecta de broca de se abrir as consciências mais elevadas talvez esperassem com a cautela das serpentes o movimento de um quixotesco exemplar da espécie que ainda seria considerado, em meio àquela turba famélica, um espécime humano, de posse de histórias, de posse consagrada em seu apostolado de vida! Não… Talvez Tomás esperasse o domingo, falaria com uma autoridade eclesiástica, verteria talvez, de modo exausto uma confissão ausente de palavras, talvez esperasse a clemência da cúria, talvez não estivesse mais vivo para estar no domingo no templo. Seria mais um?
          Coisas Tomás não compreendia, de um livro de Ellen White, chamado o Grande Conflito, um livro que se dizia de uma religião, mas versando sobre uma grande cisão religiosa, uma crítica contumaz aos papas, quiçá remontando os antigos papistas de antes de sinistras rupturas que se davam no embate entre as forças da paz e um tipo de Cruzada anti evangelizadora…
           Da parte de Tomás, uma voz feminina lhe chamara a atenção, mesmo sabendo de maquiavélicas atitudes que já conhecera ao longo de toda a sua existência. Pudesse amar algo, amaria apenas a voz, uma voz eletrônica, talvez construída, como uma gravação perdida que lhe dá uma abertura, entre outras coisas a presença de um curtir no símbolo de um polegar, na vertente das mulheres maduras que passaram pelas mãos de homens que apenas lhes – aparentemente – cegaram a libido. Amália e Tomás, Tomás e Amália. Os nomes não significavam tanto, e tanto, que Tomás cria em seu peito poder entrar para uma ordem qualquer, dormir em um catre em uma cela, orar para a eternidade e pagar pecados que infelizmente a si não lhes foram dados com o dissabor das desavenças necessárias, mesmo ao olhar de párocos em suas circunspecções de certeza, em sua necessidade absoluta de não considerar a luta de um homem de madurez espiritual para manter a chama de uma missão cruenta acesa dentro das dependências do templo.
           Assim como Amália, Tomás gostava da ciência, como fator reativo de questões de ordem transformador no seio social. Seria mais factível que argumentasse nas letras, e não seriam letras de ordem cabalmente corretas, pois falar sobre a ciência não era tão fácil para aqueles que compõem e conhecem os caminhos da computação e suas rotinas lógicas. Obviamente, alguns técnicos blefavam quando citavam conhecer as sequências binárias e suas linguagens, mas absolutamente, no escopo da realidade da vida de Tomás, um homem das artes, não havia a menor possibilidade de que ele viesse a conhecer a famigerada e supracitada habilidade destes tempos modernos, porquanto fosse melhor ler os Salmos e aprender mais sobre as Escrituras Sagradas da Santa Igreja.
          No dia anterior, passou-se algo sui generis para a percepção eternamente fresca de Tomás, no sentido de perceber que os alvéolos de seu pulmão ainda poderem receber a oxigenação de um ar moderadamente abençoado pela brisa de Deus: enquanto simplesmente pagava as suas contas, um homem extremamente drogado bufava ao seu lado parecendo um ser desligado. A mulher, em seu caixa, devidamente blindado, ficou levemente exasperada por algum desfecho inusitado, mas Tomás não temia que alguém o fosse agredir pelas costas, pois mesmo um cão danado gosta de carinho, nem que seja no quesito essencial de se respeitar uma mínima distância a qualquer toque acidental onde pedir perdão pelo ato pode resultar em um tiro, ou coisa que o valha, tal a sanha de alguns que possuem esse desejo, o desejo de matar, mesmo a não saber quem e nem a não saber o porquê, pois a razão não é pertencimento do crime! Esse fator substancial, felizmente ocorre no Estado do Sul, mesmo que não saibamos exatamente em qual… Afora amores, o trabalho de se ter os amores de compromisso, as demandas de uma parceria fogem ao lugar comum, mesmo que o santo seja expedito! O único fato intransponível na visão talvez algo ingênua de um espírito como o de Tomás era de que a Igreja não lhe pediria nada diretamente, mas talvez o sermão lhe sirva sempre como sonora, latente, dura e consonante lição. E que nada suplanta, no momento da Missa Sagrada a autoridade do Padre e sua teológica e profunda formação, assim seja, da escolha da Igreja do Vaticano como remissão e arguição existencial profunda do próprio escrutinar-se a fé de si mesmo, espelhada em todos os irmãos que, independente de quaisquer posições de quaisquer ordens, estão lá para a questão da prática religiosa, da religação com Deus e seu Poder Trino. E havia esse templo a uma questão de curto caminho e, mesmo com percalços nas dianteiras de nossos passos, e nas revisões atentas de nossas retaguardas, o caminho que leva ao encontro com Cristo Rei é o único a ser trilhado pelos pés, mesmo exauridos por batalhas vencidas ou derrotadas.
            Amália talvez estivesse pensando naquelas horas, mas não seria o fato de surgir à sua frente um homem com certo grau de instrução que poderia dizer a ela sobre o que é ser sincero, posto e mesmo quando à sua frente houver uma possibilidade de regeneração consuetudinária de direitos outros e estranhos ao seu país natal, ao que de Tomás o desconhecimento seria quase repleto em sua ignorância da malícia necessária ao amor nos tempos contemporâneos, onde se vê mesmo em jovens o descaramento absurdo da crueldade em se portar e da hipocrisia como modalidade de atos reflexos, dinâmicos e dissecados espiritualmente por uma fricção de ventres já precoce em suas modalidades na falta de pureza de alma, no ato de um decassilábico verso incompleto, inconcluso! As letras possuem um valor inominável e, que seja, se há letras na Bíblia, ler-se não deixa de ser saudável para o intelecto, por base e questão da inteligência necessária a esse ser que somos, nem sempre buscador de palavras.
            Pois bem, capítulo adiante, e seríamos mais inteligentes se, na acepção da autoridade de um grande santo como Francisco, nosso Papa, nos ativéssemos ao menos nas suas encíclicas rigorosamente humanas e, como tal, como em necessário holos, a totalidade, a Natureza: nossa casa. Esse rigoroso tesouro, que nos perdoem os antigos herméticos, transformam o chumbo em ouro, transformam a lógica da brutalidade no renascimento da vida, e não nos transformam em soldados fracassados em missão inóspita de lutarmos contra o nosso próprio espírito, na bendição da bondade, onde o Sumo Pontífice prossegue liderando toda a consciência da Igreja, seja onde e em que Estado ou cidade ou rua ou beco ela se encontrar, ou em que continente do além mar, na esperança de termos por vezes na figura de outras missões a mesma missão que encontramos face a face dentro de templos que por vezes queiram assumir questões que invalidem o próprio direito da fé em transigir com poderes ou questões relativas que encaminhem brutalmente os fieis às modalidades da contradição espiritual máxima, que é negar a igualdade material e espiritual, dentro de uma democracia cristã inequívoca que não concorde jamais com a anuência de laivos de maldade a justificativas extemporâneas.

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