O dia amanheceu
frio, com a previsibilidade algo obscura de tempos previsíveis, e
portanto perigosamente difíceis, especialmente aos cidadãos de bem,
em uma pequena ponta de praia, onde estaria-se fatidicamente em um
sábado, fora, de manhã, tarde, cedo, enfim… Tomás sabia de uma
mulher que lhe regalara promessas de encontro, assaz ocupada, como
todos nos graphos de ocupação circunscritos, nas suas secretas
missões, meio que fatalmente esperando desfechos. Eram tempos
mecânicos nos comportares diversos, e de brutalidades insólitas,
covardemente desfechados, onde a própria cruz pendurada sobre o colo
de um homem poderia gerar contendas e agravamentos que transcendiam
até mesmo a mais sábia diplomacia. A guerra silenciosa já travara
seus argumentos, e nada mais era segredo pelos jardins daqueles édens
sintéticos de chumbo, onde a maldade reverberava algo de estranhos e
inóspitos julgamentos. A questão era que Tomás sabia que estava
só, sua mãe, enferma, não conseguia a tão almejada cirurgia, e a
medicina parecia se ausentar desses aspectos algo derradeiros e
burocráticos, onde uma família emergia quase desfeita em mais uma
história truculenta em meio a corridas de políticos e suas
engrenagens quase falidas em busca do poder. As respostas de Tomás
em relação à vida era que participara de reuniões para parar de
beber, e sua impressão passava ao largo da sobriedade cabal daquela
organização importante para ele, no sentido de tecer companhia
humana e solidária. A Igreja também era uma razão de sua
existência e, no entanto, temia que o carro quebrasse e que a vida
fosse mais efêmera na vertente de sua fé, inquebrantável, no
entanto, quando de seus encontros com a cidadania que tão presente
encontrava no catolicismo, suas vertentes humanas e necessárias,
que, se tal não fora, cria que teria condições de contribuir até
mesmo com a arte aplicada ao sacramento tão necessário, ao seu
primeiro e único sacramento: o batismo!
Amália já saíra de
sua cabeça, ele acreditava que lhe daria um certo apoio quase
afetivo enquanto mulher, mas seu temor era pensar que aquela seria
mais uma peça que estaria a serviço de algo ou alguém no
pressuposto quase invisível da conduta tão racional nas ideias da
lógica que talvez também fizesse parte de outras e não menos
previsíveis estranhas engrenagens. Tomás, enquanto escritor, se
alicerçava na literatura, sua sempre e imorredoura fiel companheira.
Estranho, mas, mesmo admirando as mulheres como acreditava serem tão
lindas quaisquer de existências cabais, sabia dos vocabulários da
traição, e sabia-o mais das ciladas e dos intempestivos seres
infernais que ultimamente emergiam por lados, por flancos onde, nem
mesmo por se caminhar na rua, estaria silenciosamente disposto a
enfrentar os fantoches que já aventavam o totalitarismo que já
começava a dar mostras de ser realidade pungente naquela nação tão
linda e tão sacrificada dos mares do sul: o sul, especificamente, um
pequeno território ainda livre, ainda humano e que resistia aos
desmandos de uma tirania que se fazia aberta em todos os finais de
semana, no que a semântica corrobora o significado do termo. Era a
velha questão do ser… Não que fosse uma questão complexa, mas na
realidade os embates eram velhas questões do ter, do ter poder, do
ter o tão almejado prazer, da virulência do que não se toleraria
em nenhuma circunstância, que, em um exemplo cabal de teste de
sensibilidade humana, por vezes a métrica de dezessete fonemas de
uma estrofe encerrada em um livro de capa vermelha por si só estaria
afeito a uma crítica virulenta e derradeira, como em um tipo de
massacre que tangia a mais da verbalização, mesmo que essa estrofe
versasse sobre uma parábola de Jesus, o Cristo! O temor de Tomás
não seria jamais a ausência de uma mulher que jamais a conhecera de
novo, igualmente previsível na história de mulher de vida madura e
cristalizada, mas apenas do que faz o prazer da carne com certos
seres em relação a outros ou a outras, de como encerrar padrões de
conduta com relação a tipos decadentes de êxtases materialistas
poderiam influir tanto em cabeças fracas de espírito, apesar das
atitudes aparentemente benevolentes e acolhedoras. Lembrava-se do grande
escritor, Erich Fromm… De como a psicologia católica lhe tanto
fizera bem, e quantas vezes recebera um pequeno livreto chamado
Crianças da Bíblia quando de bom aluno em uma escola do interior de
Santa Catarina. Sim, não temia, não dispunha de tempo para temer,
não gostava de lutar mas, como um bom cristão, gostava de amar,
incondicionalmente, era a velha questão do ser! Que seja, que fosse,
que prosseguisse, a guerra alguma lhe interessaria, contrariando
adeptos de horrores das supracitadas guerras porquanto a vida militar
não sobejava tanto em seu espírito, mais contrito e mais afeito à
paz, o que poderia lhe trazer inimizades mais intensas por esse
simples fato, de como santificar e abençoar espiritualmente a
própria existência pode significar algo de monta a ser imperdoável
sob o ponto de vista de vivenciar coisas que relegara ao ostracismo
da não ação, do respeito maior aos seres outros que fazem parte da
Natureza, e sua transcrição e admiração a São Francisco, como a
imagem que sustinha predileta em seu pequeno e caseiro altar. A
predileção por essa religiosidade fazia de sua compreensão
melhorada e, pensava, talvez fosse melhor dedicar seu final de semana
à companhia de sua sagrada mãe, que se sustinha sem poder se
movimentar, por estar com fraturas na lombar.
A arte passava a
ser suas letras, e a profundidade o lapidar constante e
peremptoriamente duro de seu caráter, em um tipo de penitência a
que se impunha, dentro de um quarto onde finalmente encontraria a
paz, onde se sustinha o seu leme e o seu prumo, suas linhas de
conduta e sua própria condição de homem só, vitimado pela
brutalidade algo burlesca, repetindo, daqueles anos de chumbo, de
descaso, de virulências e de máquinas que cada vez mais
distanciavam o corpo do espírito. Tomás e Amália, seriam um belo
par, mas a truculência programática tentaria de novo e os golpes
baixos se sucederiam naquele tipo de máfia dinâmica e de milícias
e grupos escusos que se formavam, que se armavam e que empunhavam na
mão a serpente de desforras em que a culpa seria a própria eleição
democrática que se apresentava próxima. Tentariam e tentariam, como
o próprio nome o diz. A tentação se apresentava dia a dia nos
olhares que passavam pelo espírito contrito de Tomás. E não seria
para tanto, Amália já se fora, não seria uma parceira à altura,
pois quiçá tudo o que aprendera não bastava para que quebrasse
aquele imenso firewall que construíra em toda a sua formação, em
todas as suas certezas e em todas as sequências programáticas que
obviamente não poderiam deixar de ser a sua essência de mulher
certeira, mas com atitudes de dogmas duvidosamente cruentos.
Aquele
sábado não amanhecera ainda, e seu amanhecer, na questão de ferro
gusa de ponta, de ponta de agulha circunspecta de broca de se abrir
as consciências mais elevadas talvez esperassem com a cautela das
serpentes o movimento de um quixotesco exemplar da espécie que ainda
seria considerado, em meio àquela turba famélica, um espécime
humano, de posse de histórias, de posse consagrada em seu apostolado
de vida! Não… Talvez Tomás esperasse o domingo, falaria com uma
autoridade eclesiástica, verteria talvez, de modo exausto uma
confissão ausente de palavras, talvez esperasse a clemência da
cúria, talvez não estivesse mais vivo para estar no domingo no
templo. Seria mais um?
Coisas Tomás não compreendia, de um
livro de Ellen White, chamado o Grande Conflito, um livro que se
dizia de uma religião, mas versando sobre uma grande cisão
religiosa, uma crítica contumaz aos papas, quiçá remontando os
antigos papistas de antes de sinistras rupturas que se davam no
embate entre as forças da paz e um tipo de Cruzada anti
evangelizadora…
Da parte de Tomás, uma voz feminina lhe
chamara a atenção, mesmo sabendo de maquiavélicas atitudes que já
conhecera ao longo de toda a sua existência. Pudesse amar algo,
amaria apenas a voz, uma voz eletrônica, talvez construída, como
uma gravação perdida que lhe dá uma abertura, entre outras coisas
a presença de um curtir no símbolo de um polegar, na vertente das
mulheres maduras que passaram pelas mãos de homens que apenas lhes –
aparentemente – cegaram a libido. Amália e Tomás, Tomás e
Amália. Os nomes não significavam tanto, e tanto, que Tomás cria
em seu peito poder entrar para uma ordem qualquer, dormir em um catre
em uma cela, orar para a eternidade e pagar pecados que infelizmente
a si não lhes foram dados com o dissabor das desavenças
necessárias, mesmo ao olhar de párocos em suas circunspecções de
certeza, em sua necessidade absoluta de não considerar a luta de um
homem de madurez espiritual para manter a chama de uma missão
cruenta acesa dentro das dependências do templo.
Assim como
Amália, Tomás gostava da ciência, como fator reativo de questões
de ordem transformador no seio social. Seria mais factível que
argumentasse nas letras, e não seriam letras de ordem cabalmente
corretas, pois falar sobre a ciência não era tão fácil para
aqueles que compõem e conhecem os caminhos da computação e suas
rotinas lógicas. Obviamente, alguns técnicos blefavam quando
citavam conhecer as sequências binárias e suas linguagens, mas
absolutamente, no escopo da realidade da vida de Tomás, um homem das
artes, não havia a menor possibilidade de que ele viesse a conhecer
a famigerada e supracitada habilidade destes tempos modernos,
porquanto fosse melhor ler os Salmos e aprender mais sobre as
Escrituras Sagradas da Santa Igreja.
No dia anterior,
passou-se algo sui generis para a percepção eternamente fresca de
Tomás, no sentido de perceber que os alvéolos de seu pulmão ainda
poderem receber a oxigenação de um ar moderadamente abençoado pela
brisa de Deus: enquanto simplesmente pagava as suas contas, um homem
extremamente drogado bufava ao seu lado parecendo um ser desligado. A
mulher, em seu caixa, devidamente blindado, ficou levemente
exasperada por algum desfecho inusitado, mas Tomás não temia que
alguém o fosse agredir pelas costas, pois mesmo um cão danado gosta
de carinho, nem que seja no quesito essencial de se respeitar uma
mínima distância a qualquer toque acidental onde pedir perdão pelo
ato pode resultar em um tiro, ou coisa que o valha, tal a sanha de
alguns que possuem esse desejo, o desejo de matar, mesmo a não saber
quem e nem a não saber o porquê, pois a razão não é
pertencimento do crime! Esse fator substancial, felizmente ocorre no
Estado do Sul, mesmo que não saibamos exatamente em qual… Afora
amores, o trabalho de se ter os amores de compromisso, as demandas de
uma parceria fogem ao lugar comum, mesmo que o santo seja expedito! O
único fato intransponível na visão talvez algo ingênua de um
espírito como o de Tomás era de que a Igreja não lhe pediria nada
diretamente, mas talvez o sermão lhe sirva sempre como sonora,
latente, dura e consonante lição. E que nada suplanta, no momento
da Missa Sagrada a autoridade do Padre e sua teológica e profunda
formação, assim seja, da escolha da Igreja do Vaticano como
remissão e arguição existencial profunda do próprio escrutinar-se
a fé de si mesmo, espelhada em todos os irmãos que, independente de
quaisquer posições de quaisquer ordens, estão lá para a questão
da prática religiosa, da religação com Deus e seu Poder Trino. E
havia esse templo a uma questão de curto caminho e, mesmo com
percalços nas dianteiras de nossos passos, e nas revisões atentas
de nossas retaguardas, o caminho que leva ao encontro com Cristo Rei
é o único a ser trilhado pelos pés, mesmo exauridos por batalhas
vencidas ou derrotadas.
Amália talvez estivesse pensando
naquelas horas, mas não seria o fato de surgir à sua frente um
homem com certo grau de instrução que poderia dizer a ela sobre o
que é ser sincero, posto e mesmo quando à sua frente houver uma
possibilidade de regeneração consuetudinária de direitos outros e
estranhos ao seu país natal, ao que de Tomás o desconhecimento
seria quase repleto em sua ignorância da malícia necessária ao
amor nos tempos contemporâneos, onde se vê mesmo em jovens o
descaramento absurdo da crueldade em se portar e da hipocrisia como
modalidade de atos reflexos, dinâmicos e dissecados espiritualmente
por uma fricção de ventres já precoce em suas modalidades na falta
de pureza de alma, no ato de um decassilábico verso incompleto,
inconcluso! As letras possuem um valor inominável e, que seja, se há
letras na Bíblia, ler-se não deixa de ser saudável para o
intelecto, por base e questão da inteligência necessária a esse
ser que somos, nem sempre buscador de palavras.
Pois bem,
capítulo adiante, e seríamos mais inteligentes se, na acepção da
autoridade de um grande santo como Francisco, nosso Papa, nos
ativéssemos ao menos nas suas encíclicas rigorosamente humanas e,
como tal, como em necessário holos, a totalidade, a Natureza: nossa
casa. Esse rigoroso tesouro, que nos perdoem os antigos herméticos,
transformam o chumbo em ouro, transformam a lógica da brutalidade no
renascimento da vida, e não nos transformam em soldados fracassados
em missão inóspita de lutarmos contra o nosso próprio espírito,
na bendição da bondade, onde o Sumo Pontífice prossegue liderando
toda a consciência da Igreja, seja onde e em que Estado ou cidade ou
rua ou beco ela se encontrar, ou em que continente do além mar, na
esperança de termos por vezes na figura de outras missões a mesma
missão que encontramos face a face dentro de templos que por vezes
queiram assumir questões que invalidem o próprio direito da fé em transigir com poderes ou questões relativas que encaminhem
brutalmente os fieis às modalidades da contradição espiritual
máxima, que é negar a igualdade material e espiritual, dentro de
uma democracia cristã inequívoca que não concorde jamais com a
anuência de laivos de maldade a justificativas extemporâneas.
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