A saber-se o sem rumo, o sem lado, a fronteira que não é,
Um samba sem a síncope do ontem, a desesperança dos confetes,
A risca de uma memória, o altaneiro folião que cata latas,
A festa da miséria, um bloco rico e engajado da zona sul,
A dialética sem diálogo, a premissa de que Cristo era quase deus,
A vertente do folião de casaca, a vida em si, perscrutada
Nas escutas que não se escutam, no celular e seus encontros…
Não há lados no Carnaval, não há maiores quesitos do que
O que sonha a madrinha da bateria, o mestre-sala dos mares,
O pipocar sereno de um tombo, o vértice que não se encaixa no ar.
Seria muito a se dizer que possuir a festa popular não deixe ensaios
Nas fronteiras do que não conhecemos, no grito de um surdo,
No repinique com o tamborim, no gesto algo sem rumo do álcool,
Nas vértebras de uma coluna árida porquanto sem risos e triste.
Não, que a festa da carne seja de esperança, que a música contagie
Ao menos até as cinzas de um fogo que mal começou a trepidar
E vê seus dias extintos nas manhãs das quartas e no começo do
nada.
Que a poesia também não possua lados, que a vida comece aos trinta
E tantos que não queiram possam viver, no entanto, mesmo no começo
De outro decrépito carnaval que mostra a mobilização sem causa
Com seus protestos histriônicos onde se permite ao menos o
participar…
No que não vai, a mola tensa não move, o que era de andar se cala,
A trouxa é carregada suja, lava-se a mesma roupa do suor sem sentido
Qual não seja de mais uma noite onde a maioria fica sem sexuar.
Nos bons ares do tanto das emendas, do tentar-se prosseguir na festa,
Andará um mote inquieto de continuar a ter-se a parca ideia
De que o mês de março se conclua nas funções de uma temporada
A mais, na vertente irrequieta de outros dias que não culminam
criativos.
A criação de algo mais perene, sem dúvida, seria um território da
arte
Dizer mais um pouco, e seguramente, o que vem a dar nos protestos,
Afora sejam, apenas a manifestação expressiva da arte, sua robustez
Na tentativa mais sólida de um arcabouço cultural digno de ser
sentido.
No que fazer, apenas criar coisas que nos digam mais do que apenas a
graça,
Do que apenas a comédia, mas que refaçam a energia criadora para
urgir
A semântica indelével dos significados, a repetição do que jamais
foi repetido!
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