Não que
seja algo confuso afirmar, mas já é dia na madrugada de qualquer que seja,
mesmo onde não esperamos que fôssemos tantos e tantos, e que o somos realmente,
e sempre seremos, pois não podem ignorar a massa que ergue a riqueza de nossa
nação e se um desperta mais cedo pode saber que outros já se anteciparam ao
trabalho, pois uma cidade não dorme quando já possui algum porte. Desse start saibamos que, o que acontece em
outro país, não necessariamente estaremos sabendo por aqui, pois a notícia que
devemos saber é da cor do céu, é ver as gentes das ruas, é se desligar um pouco
dos gadgets, prosseguir, como tantos
que somos, mesmo com inquietações que nos fazem sofrer... Mesmo com as penas
que nos infligem as circunstâncias que nem sempre são um motivo justo, como o
determinismo que certas famílias encontram na pauperização de seus lares, com
causas de salários exíguos. Na verdade, tantas são as vertentes em que a
ignorância pousa seus olhos que acabamos por fazer perecer aqueles que amam a arte,
sobretudo, os que precisam dela para sobreviver espiritual e materialmente.
Pois as diferenças que cabem em cada qual, nessas partículas existenciais que
dão de dizer da boca pra fora, que o dinheiro nada vale, parte de ilusões
tamanhas... Para prosseguirmos com uma existência justa, requeiramos o nosso
quinhão do justo, e enquanto houver carestia, enquanto houver ódio pela classe
política e continuarem a consumir drogas, por exemplo, a defender submundos, as
partículas da corrupção se alastrarão pelo grande enxágue que certas chuvas
pestilentas acabam por fazer participar sonhos de outras e outras gerações.
As mãos
limpas deveriam ser de todos, incluso se houver suspeita de que algum aparato
jurídico esteja contra posicionamentos ideológicos, pois se for evidenciado
esse tipo de ato veremos soçobrar em um país cada vez mais pobre a esperança
dos próprios magistrados de terem um sono bom sem tomar nenhum drinque. A
ofensa que muitos esperam causar a grupos mais vulneráveis, a guerra que
queiram tramar a partidos ou grupamentos que ainda pensam no país com a
esperança titânica da coragem, são todas ações que paulatinamente vão torcer o
rabo para a direção cada vez mais forte da covardia e da inépcia. Não é questão
de fazermos jornalismos titânicos, de sermos contra o Golias, mas esperar que
grandes títeres do roubo quadrilheiro acabem por beirar incluso o capitão, é
esperar que se capitaneie outros que sejam honestos dentro de sua vivência
civil, a ensinar que nos tempos de hoje disciplina tem a ver com a liberdade, e
sacrifício tem a ver com religião. Não esperemos que só o Cristo tenha sofrido
por nós, para nos redimir, pois há muitas e muitas centenas de pessoas no
Brasil que vem sofrendo, não por estarem realmente em situações dramáticas de
vida, mas igualmente muitas por verem sua pátria neste estado que se encontra
nesse atual mundo, onde no mínimo – em pleno século XXI – se espera que
houvesse progresso humano, e não o holocausto que querem nos desferir (ao povo
pobre brasileiro) dia a dia (e àqueles que sofrem igualmente, mesmo estando em
outras classes, mas com perdas irreparáveis nas mutilações culturais que vimos
sofrendo). É inegável estar revoltado com tudo isso, e a coação se torna a
serenidade compulsória, sob pena de sermos contidos em manicômios ou prisões se
externarmos nossas opiniões em lugares onde só a legítima defesa daria para
escapar do engodo e das ciladas com que as sociedades nos deparam.
O nosso
Brasil está virando uma sociedade do ódio e da intolerância, com várias faces
da mesma moeda, e a paz do Salvador não está bem incluída em certos cultos que
pregam a palavra do Nosso Senhor. Divide-se a nação entre esquerda e direita,
os extremos ou o que surja de centros, politiza-se a religião, transformam tudo
em Estado ou mercado, e demoniza-se o ser como um todo, tornando blasfemo quase
todo o diálogo, que porventura deveria ser contemporizador, e não investigativo
ou perscrutador até dos sentimentos mais pessoais, até da vida mais íntima que
cada cidadão guarda com seus familiares por toda a sua existência, para ser
dissecada por vezes em um balcão de padaria, ou no tititi das conversas
apodrecidas por vermes. A função do escritor é apresentar as opções, por vezes
suculentas, por vezes algo virulentas, por vezes em decomposição. Nada se
pareça com rancores, mas apenas o realismo das nossas épocas, em que várias são
concomitantes, que vão desde a extrema esquerda com o stalinismo à extrema
direita com o nazi-fascismo. A salada está pronta, e seus gestos são algo
repetidos, algo já sem substância, pois o que ocorre nestas cidades já em
processos de intervenções internas é a busca de um controle social à revelia do
que está acontecendo com os nossos serviços populares mais essenciais, como a
limpeza, como a saúde, como a educação. Não adianta querermos engrossar
fileiras de mini soldados com nossas crianças, doutrinando seus comportamentos
e isolando com remédios aquelas que queiram caminhos distintos, anímicos e
espirituais, no sentido pleno de relação íntima com o pensamento crítico e a
filosofia libertária. Se as nossas crianças mais pobres tiverem uma educação
exemplar, se toda a população mais pobre for capaz de exercer a mesma cidadania
que é ofertada apenas aos mais abastados, claro está que a saúde de nosso corpo
social melhorará como um todo, sendo a derrocada sistêmica que paradoxalmente
já empunha sua bandeira cambando para uma sociedade totalitária, plutocrata,
não condiz com um digno processo civilizatório.
O que
igualmente ocorre nos meandros das nossas sociedades são grupos e mais grupos
que treinam por si coisas que só o aparato de segurança pública deve ser capaz,
pois sua noção de ordem possui uma função quadrática, em se preparando para se
armar ou utilizar as forças de uma violência já bem latente nos seios das
classes mais altas. É justamente através da força transformadora da burguesia
ante seu próprio antagonismo e contradição do valor enquanto peça repressora
por conta, quando de aproximação necessária com seu entorno pela beleza a ser
encontrada no existir, na virtude de um carinho, no amor como mola mestra, a
alegoria Thanatos de Marcuse torna-se mais fraca em virtude do surgimento de
Eros na forma sedimentada de uma outra e possível realidade, que vem na
contraparte, no discurso à frente transformador e revolucionário, a tal ponto
que a revolução seja parte intrínseca, dentro de outras que se renovam, para
dar lugar presente e permanente a uma verdadeira primavera de nossa atitude
perante a vida, e ao próximo, independente do credo ao valor, da cor ao gênero,
do gesto ou do olhar, da bandeja ou do copo, de uma luta ou de sua paz. Visto
sermos o país que mais promete ser o melhor do planeta, pois as nossas águas e
terras continuam – e o sabem – a estar repletas da vida que deveríamos invejar,
por sermos apenas humanos, nada mais do que isso...
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