segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

UM PEQUENO CONTO

 


          Adroaldo pertencia à classe nobre dos que pecam por necessidade. Dos que urgem por dignidade, pura e simples… Gostava da mulher e esposa sobremaneira. Quisera os séculos compreendessem as quimeras de Adroaldo… Vivia como operário em uma estação mineradora. Ajudava no processo de extração da hulha e seus derivados. Gostava de boas causas e seus orgulhos, à maneira de um cidadão cordato e pacato. Em sua vida, espezinhava-se, nutria-se de silêncios onde operava-se a sua inocência. Não fora pelo fato de querer adquirir um sustento nobre, amanhecia várias vezes com angústia de ver seus semelhantes, colegas ou não, na vertente do sofrimento cabal.
          Por dias repensava-se, adquirindo conformação com os ideais ao seu alcance. Por ora, gostava do pouco lhe oferecido, nem que as flores germinassem pouco em seu imo. Em se falando de assunto tão grave, em virtude de que ensaiasse o amor, tinha o fórceps dos que são taxados injustamente de ignorantes. Na verdade, possuía uma história rica em sua vivência, incontestável em sua pujante e manifesta cultura pessoal. Porém, não possuía o esteio intelectual vigente nos eruditos, que pregavam, naquele tempo, o arcabouço da crítica pertinente e parcial, visto pertencessem a uma camada antagônica ao ausente da metafísica. Porém, havia laivos supinos de luzes em sua consciência, por onde perpassavam arroubos de conversação lúcida e humana, contrapondo-se ao comum das gentes que olham apenas para cima, adorando posses, dando leves olhadas para baixo, anuindo com o consentimento dos que derrotam por terem.
          De outra feita, rogava às palavras pronunciadas por sua linda mulher, que não fosse tão bastante, tão maravilhoso que, ao simples desejo por sua ternura, lembraria a relva e um tapete de flores cor de céu. Como uma singela carta, enviava olhares súplices a ela, companheirinha linda de sua tão atribulada vida.

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