quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

UMA ESCOLHA INDEFINÍVEL

          A um passo que damos para o lado que encerre o caminho, nossa escolha é como um parágrafo que quase escrevemos, por vezes. Passos estes são dados, mas podemos acertá-los com um outro, e mais um, não importando se tememos por nossa vereda, pois em tudo o que fazemos não há mesmo o que temer se abraçamos a vida ausente das máscaras da hipocrisia, sendo pautados pela sinceridade. Há um refúgio importante em nossas liberdades. A questão essa, se um escreve ou pinta, se um trabalha fabricando os pães, ou dirigindo um caminhão, a liberdade está em sua cabeça no propósito existencial em seguir trilhando por si um modal de vida. As nossas vidas, em sua sacralidade, que por si são a nobreza espiritual de sempre sabermos que por mais que estejamos solitários, nunca estamos sozinhos. Um homem pode estar aparentemente isolado, mas se ele vê a Natureza com o olhar profundo, sempre saberá de sua ciência… O mar lhe tecerá companhia, com seus pássaros, rochas e outros seres. Claro, mesmo na matéria reside o espírito, posto não existir a mesma rocha sem seu substrato de vida! Mas a prática libertadora deve pautar-se pela comunhão entre os seres, a definição plausível de não colocarmos o revanchismo na questão de ordem de nossos dias, e compreender finalmente que aquele ser distante não dista tanto quanto a solidariedade de nosso olhar, ou a generosidade de nossos gestos. A tudo encontraremos uma razão, um sentido. Aqueles que tecem guerra vestem o manto de sua maldade e saem, a um estranho e sinistro desfile, com suas máscaras covardes da violência. Não precisamos enumerar exemplos, mas saibamos que a Terra enfrenta um período assaz conturbado, com toda a onda que vem como um vagalhão a dar nos costados do que se prima por bondade. Esta bondade deve ser o nosso modo de ação, a mesma ação em consciência de nossos atos. Não há gongorismos nem muitas metáforas nessa assertiva posto aqueles que zelam por nossa segurança tem a ver com a base da justiça. Obviamente, os cidadãos que arriscam suas vidas para manter a ordem deveriam receber os seus proventos equiparados com outros que promulgam leis, por vezes de dentro de suas casamatas blindadas do descaso. Nem toda a escolha por voto significa um voto por uma boa escolha, haja vista que muitos representantes do povo jamais representam suas bases, a não ser pela compra e influência. Mas isso é bater um ponto a mais, apenas: um grande ponto acima do zero, mas nulificado enquanto nota, sem merecimento, sem mérito, inglório. A razão que é fato é de uma em alguns milhares, em que a intenção continua sendo uma questão irrisória, a boa intenção, não é justo o roubo gigante sem punição. A cada dólar a mais que se roube, deve-se imputar a condenação proporcional, e quem lesa deve ser punido, senão teremos lesionada a nação, a se considerar portanto que qualquer mecanismo internacional que se nos aproprie riquezas merece o rechaço. A escolha nós temos que fazer, mesmo que a princípio não a definamos muito bem, mas aquelas que porventura não tenha a definição qualquer devemos ter o crivo de não aceitar. Resta saber qual é a escolha indefinível… Talvez esta resida no equívoco da certeza, a saber, pensar que a máquina não erra, mas saber que pifa é certeza concreta! Uma certeza pela qual não temos o comedimento de compreender que somos limitados enquanto passíveis de depender integralmente não apenas de máquinas, aparelhos e equipamentos, mas igualmente da integralidade e seus processos em que por vezes nos deixam a escolha da ação, limitada. A integração permite caminhos, mas por vezes emperra certos modais de atuação onde a independência compulsória de certos fatores fazem azeitar melhor um determinado e importante setor, a se dizer isso na questão produtiva, comercial, ou social. Como um comportamento de rede, em que uma pessoa por vezes vira apenas um apêndice previsível, um vértice a mais, determinado e conhecível para investigações a posteriori, conforme a questão ou o caso em si. Essa previsibilidade torna as coisas mais entediantes quando a contestação e a crítica necessárias passam a não fazer mais sentido àqueles que não se detém ao menos em contemplar mais serenamente o pensamento de seu tempo, quando vive-se um silêncio e escolhe-se, portanto, um quesito indefinível enquanto apenas peça, apenas suporte de madeirite em pés que urgem por um equilíbrio efêmero e barato, na acepção crua de nossa indiferença com relação à existência que temos conosco e com o próximo.

          Na arte as escolhas são direcionadas – como quase tudo hoje – para um tipo de aplicação digital que isenta do braço sua manufatura antropológica de materiais e ferramentas. Por assim dizer friamente – ferramenta – qual não sejam estas o pincel, o lápis, o carvão, papel, tela e etc. As bases do conhecimento artístico vêm de uma manufatura da mão em relação ao suporte, sua expressão táctil em relação à cerâmica e às esculturas, e por parte da literatura as narrativas que podem tangenciar ensaios filosóficos. Ou seja, retornar um pouco à realidade do século XX traria bons alvores existenciais para a juventude que se torna manipulada pelo interesse dos pais em relação à competição desenfreada do capitalismo cruento pelo qual estamos passando neste princípio de século, em que as inovações tecnológicas e duras contradições acabam por gerar o isolacionismo físico de grupos que afirmam suas identidades na própria exclusão do sociável, da ressonância com as diferenças de classe e ofícios, segregando a si mesmos dentro do modal da experimentação forçada que os insights motores tão bem ensaiam na alma humana.  

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