quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

O VALOR DA ATENÇÃO

         O comedimento que temos em relação a algo, o tipo frugal de comportamento, a educação esmerada, a civilidade, são assuntos que deviam pertencer às casas do Poder. Pois se nós déssemos a atenção merecida quanto sermos algum tipo de representação, de modo algum a arrogância deve pontuar em algo em vias de se decidir, como qualquer tipo de lei que se cria, ou atitude de abordagem naqueles que estão vivendo e dando seus valores como cidadania própria que temos pela frente, em um país em que muitos se jactam de suas posições, acreditando serem superiores ao povo. O próprio poder investido reside na alcunha, na empáfia, no procedimento ilegal justificado por costas quentes, pela impunidade, ou mesmo pela parcialidade que remonta peças que antes não existiam na modalidade em que agora se pronunciam com seus atos.
         A atenção, independentemente de quem somos neste estranho modal de sociedade, vira capital de ordem, vira afeto necessário e razão de existência cabal porquanto estarmos erradicando continuamente as contendas em que muitos meio que se preparam para levar a termo, ou estudam lutas absurdas para se defender das investidas de abstrações que não deveriam nos dizer respeito. Essas moedas de troca, a se pretender uma União serão classes em que não nos coloquemos como objetos, pois estaremos repetindo linguagens que se mecanizam na falta do progresso humano. O que se nos toca a perceber, enquanto um processo que apesar de longos períodos para percebermos resultados mais visíveis resulta em ação imediata, em atitude, em construção do valor essencial ao andamento de um lócus mais justo, seja onde estivermos: aqui, ou em todo o mundo. No entanto, uma atenção igualmente se faz necessária quando obtemos um ganho equiparado – ou não – ao trabalho exercido, a começar tornando o trabalho essencial enquanto sua consciência, a sabermos que um padeiro encontra em seu colega de ofício a empatia que tem um artista quando encontra outro, na concomitância, na aproximação natural. Muitos querem aparelhar Estados com a noção crua de que a competição livre e desumana faça parte da lógica de mercado e isso talvez remonte a um regresso humanístico enquanto motivação a que se descarte com muito mais recorrência aqueles que não se treinaram de antemão, mesmo quando possuem valor afetivo rico, ou mesmo a capacidade do diálogo e exposição de ideias, que tendem a acrescentar ao invés da submissão ao crivo tecnologicamente “correto”. Porventura as nações que já ultrapassaram fases civilizatórias e emergiram como potências, a elas interessa a competição desmedida, posto estarem cientes de seu protecionismo interno, como vemos nos EUA e na China, as duas maiores potências econômicas do planeta. A divisão entre os que ganham muito pouco ou a mesma classe média que perde continuamente sua posição e se torna empobrecida e aqueles que concentram cada vez mais a riqueza dentro das fronteiras fechadas de seu mercado agigantado orienta o quesito de motivação em que se explique as diferenças abissais entre populações mundiais como algo “natural”, onde o que vale é a expansão do empreendedorismo: palavra que denota em sua maior parte das vezes no fracasso de novas empresas que surgem sem muito capital. E aquelas que suportam a pressão do mercado por vezes são submergidas pelas corporações, mesmo que tenham sido pioneiras e assaz criativas. Existe algo a mais que faça uma empresa crescer junto a mercados como o brasileiro, e justo seria não coexistir crescimento com arrocho salarial, pois somente a partir do crescimento de nosso mercado interno é que podemos vislumbrar luzes dentro do escopo nacional. Pensar que a maior parte da população tenha seus ganhos majorados compensando a melhoria das relações do trabalho com a proteção fiscal de nossas empresas e a contenção de privatizações de ordem estratégica.
          Sabemos que países como a China mesclam mercados do mundo inteiro dentro das cenas de suas investidas econômicas. Devemos saber, no entanto, que a tecnologia e seu know how foi um modelo de seu desenvolvimento, desde a sua libertação do jugo colonial. Igualmente os EUA, que tiveram que passar por caminhos duros até se tornarem independentes da Inglaterra, e passaram por uma guerra civil para consolidar o desenvolvimento de toda a União. Obviamente, hoje não há espaço histórico para que espelhemos esse exemplo para a nossa realidade. O espaço que temos e havemos por lutar com nossas forças patriotas é justamente trazer a Democracia para a nossa democracia, ou seja, respeitar o voto da escolha popular, como se respeita a Constituição no modo elaborado em 88, como modelo de leis conquistadas pela necessária abertura e ressurgimento da República nos moldes de gente grande, na completude civilizatória. Jamais deverá haver – isso com o pacto social – o regresso institucional, ou a sobreposição caótica de apenados e libertos, quando estes também cometem o crime, ou casos em que não há provas que imputem culpa a um inocente. Nós não vivemos nos países ricos, vivemos em um país que cresce injustiçado dia a dia, e quando estamos com olhos atentos e conscientes do que verdadeiramente se passa, já é um modo de mudarmos para melhor – incluso aos olhos do mundo – a situação tão crítica que estamos passando.

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