sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

O ÚTIL COMO ABORDAGEM

            Estranho como a utilidade vem abraçada com muitas coisas que funcionam, que servem a algum propósito. Nunca foi tão útil o sistema da computação como hoje em dia. Nada funciona sem ele, e pensamos, como seria qualquer desapego dos meios digitais? Talvez não signifique muito pensarmos sobre, mas igualmente poderíamos pensar em nossas conexões com a Natureza, se é que a nossa relação com Ela deva ser nomeada dessa forma.
            O útil assume formatos por vezes inexistentes, quando por si atende a apenas um indivíduo, no que tange a ser assim necessário. Por que? A coletividade não é importante? Pois bem, quando vemos uma formiga solitária, esta por vezes procura, em meio a tantos outros espécimes menores ou maiores. Aquela formiga bem menor, se desatenta, é predada pela aranha, o que nos leva a pensar que a atitude, ou o modo de se portar individualmente remete a um espelhamento do que coletivamente apreendemos na vida, principalmente se somos mais idosos e experientes e não precisamos tanto da sociabilização para viver. A leitura, o conhecimento, a arte, enfim, a cultura como um todo nos dá um suporte espiritual suficiente para que possamos estar entre as gentes e não necessariamente termos que pertencer a quaisquer agrupamentos, que possuem sua utilidade, por vezes equivocados em uma única postura que não alterna com as diversas realidades que compõem o cenário mundial. Um cenário que transforma homens e mulheres em suas úteis funções, porquanto estes por vezes se ausentam de realidades mais concretas, como o desmatamento e o desenvolvimento como intenção em si, independente de seus impactos sobre o bem estar dos seres vivos e de seus biomas. Enquanto não se pensar em resguardarmos o que nos cerca acabamos por destruir esperanças naqueles que possuem ainda uma consciência que vai além da simples utilidade em seus processos existenciais. A mudança de paradigmas existenciais nos dará um amplo espectro quando aprendermos a desenvolver uma visão mais crítica das novas tecnologias, dos processos produtivos e como respondemos ao social quando permitimos uma segregação imposta, ou quando caímos em erros no modo do preconceito em relação a tudo o que nos seja diferente, ou mesmo aquilo pelo qual deveríamos tecer saudáveis debates ao invés de rechaços cegos.
            O diálogo pode nos parecer algo fútil, mas naquele encontro face a face, sem necessariamente facebook, nos fará perceber que separar nossa face dos livros na aproximação concreta dos dois fisicamente, nos isentará de sermos mote de investimentos que se baseiam na utilidade de nossos dados, de nosso perfil. A questão de nos expormos em coisas que são aparentemente gratuitas estabelece padrões em que acabam enquadrando a realidade conforme nossos gostos ou opiniões. Sendo a informação uma moeda de troca, devemos saber que não a demos assim, como em uma bandeja de oferta ao mercado. Temos que resguardar o viés de certos modais do sistema, ao sabermos que tudo hoje é simbólica e efetivamente fruto de sistemas computacionais. Giramos nossas cabeças com base nisso, e devemos nos situar que, na ausência ou falência dos computadores sequer sobreviveríamos por alguns dias. Essa é uma realidade que norteia a contemporaneidade de nossa espécie. Portanto, um contraponto em relação a essa realidade algo mecânica, pensarmos em arte, em filosofia, utilizarmos mais o papel e não sermos tão úteis assim para esses sistemas e suas integrações são saídas para termos nossas vidas mais autênticas. A utilidade dos sebos e livrarias fazem do mundo algo mais belo: a poesia é algo lindo! A filosofia igualmente. Que seja, a religião também... Pois que sejamos vivamente os donos de nossos destinos, que lutemos para um país melhor, mais igualitário, mais justo socialmente, mais humano, mais rico em todas as suas camadas. Que surja um mundo melhor, é essa a grande utilidade de um pensar mais sereno mesmo em decorrência dos obstáculos que se antepõem ao progresso de uma cidade, uma nação e o mundo. Quanto da importância de nos mantermos serenos está justamente a faculdade de pensar que dá origem a atitudes e gestos fraternos em relação à humanidade. O ódio nunca ajudará a termos paz em nossos gestos; não é motor algum, que não seja apenas uma motivação inócua de proceder a algo que não traduz um modo civilizado de se portar, um modo beligerante de caos e conflito.
            Nada do que pensemos seja útil quando baseado em contendas, competições infrutíferas ou atritos evitáveis pode ser exemplo da vida em sociedade, pois a plataforma desejada pela humanidade deve ser a da paz, harmonia e igualdade com relação à distribuição de renda e um regime que preze sempre pela democracia. Essa deveria ser a razão distribuída a todos, e àqueles que não possuem condição para entendimentos dessa ordem, uma educação necessária e de porte maduro para a empreitada de nos capacitarmos a resolver inúmeras questões pertinentes à nossa era. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário