Estranho
como a utilidade vem abraçada com muitas coisas que funcionam, que servem a
algum propósito. Nunca foi tão útil o sistema da computação como hoje em dia.
Nada funciona sem ele, e pensamos, como seria qualquer desapego dos meios
digitais? Talvez não signifique muito pensarmos sobre, mas igualmente
poderíamos pensar em nossas conexões com a Natureza, se é que a nossa relação
com Ela deva ser nomeada dessa forma.
O útil
assume formatos por vezes inexistentes, quando por si atende a apenas um
indivíduo, no que tange a ser assim necessário. Por que? A coletividade não é
importante? Pois bem, quando vemos uma formiga solitária, esta por vezes
procura, em meio a tantos outros espécimes menores ou maiores. Aquela formiga
bem menor, se desatenta, é predada pela aranha, o que nos leva a pensar que a
atitude, ou o modo de se portar individualmente remete a um espelhamento do que
coletivamente apreendemos na vida, principalmente se somos mais idosos e
experientes e não precisamos tanto da sociabilização para viver. A leitura, o
conhecimento, a arte, enfim, a cultura como um todo nos dá um suporte
espiritual suficiente para que possamos estar entre as gentes e não
necessariamente termos que pertencer a quaisquer agrupamentos, que possuem sua
utilidade, por vezes equivocados em uma única postura que não alterna com as
diversas realidades que compõem o cenário mundial. Um cenário que transforma
homens e mulheres em suas úteis funções, porquanto estes por vezes se ausentam
de realidades mais concretas, como o desmatamento e o desenvolvimento como
intenção em si, independente de seus impactos sobre o bem estar dos seres vivos
e de seus biomas. Enquanto não se pensar em resguardarmos o que nos cerca
acabamos por destruir esperanças naqueles que possuem ainda uma consciência que
vai além da simples utilidade em seus processos existenciais. A mudança de
paradigmas existenciais nos dará um amplo espectro quando aprendermos a desenvolver
uma visão mais crítica das novas tecnologias, dos processos produtivos e como
respondemos ao social quando permitimos uma segregação imposta, ou quando
caímos em erros no modo do preconceito em relação a tudo o que nos seja
diferente, ou mesmo aquilo pelo qual deveríamos tecer saudáveis debates ao
invés de rechaços cegos.
O diálogo
pode nos parecer algo fútil, mas naquele encontro face a face, sem
necessariamente facebook, nos fará perceber que separar nossa face dos livros
na aproximação concreta dos dois fisicamente, nos isentará de sermos mote de
investimentos que se baseiam na utilidade de nossos dados, de nosso perfil. A
questão de nos expormos em coisas que são aparentemente gratuitas estabelece
padrões em que acabam enquadrando a realidade conforme nossos gostos ou
opiniões. Sendo a informação uma moeda de troca, devemos saber que não a demos
assim, como em uma bandeja de oferta ao mercado. Temos que resguardar o viés de
certos modais do sistema, ao sabermos que tudo hoje é simbólica e efetivamente
fruto de sistemas computacionais. Giramos nossas cabeças com base nisso, e
devemos nos situar que, na ausência ou falência dos computadores sequer
sobreviveríamos por alguns dias. Essa é uma realidade que norteia a
contemporaneidade de nossa espécie. Portanto, um contraponto em relação a essa
realidade algo mecânica, pensarmos em arte, em filosofia, utilizarmos mais o
papel e não sermos tão úteis assim para esses sistemas e suas integrações são
saídas para termos nossas vidas mais autênticas. A utilidade dos sebos e
livrarias fazem do mundo algo mais belo: a poesia é algo lindo! A filosofia
igualmente. Que seja, a religião também... Pois que sejamos vivamente os donos
de nossos destinos, que lutemos para um país melhor, mais igualitário, mais
justo socialmente, mais humano, mais rico em todas as suas camadas. Que surja
um mundo melhor, é essa a grande utilidade de um pensar mais sereno mesmo em
decorrência dos obstáculos que se antepõem ao progresso de uma cidade, uma
nação e o mundo. Quanto da importância de nos mantermos serenos está justamente
a faculdade de pensar que dá origem a atitudes e gestos fraternos em relação à
humanidade. O ódio nunca ajudará a termos paz em nossos gestos; não é motor
algum, que não seja apenas uma motivação inócua de proceder a algo que não
traduz um modo civilizado de se portar, um modo beligerante de caos e conflito.
Nada do
que pensemos seja útil quando baseado em contendas, competições infrutíferas ou
atritos evitáveis pode ser exemplo da vida em sociedade, pois a plataforma
desejada pela humanidade deve ser a da paz, harmonia e igualdade com relação à
distribuição de renda e um regime que preze sempre pela democracia. Essa
deveria ser a razão distribuída a todos, e àqueles que não possuem condição
para entendimentos dessa ordem, uma educação necessária e de porte maduro para
a empreitada de nos capacitarmos a resolver inúmeras questões pertinentes à
nossa era.
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