Uma carga
de tributos fazia com que Aureliano quase perdesse o controle de suas contas,
seus volumes, o que considerava justo ou não, mas de todo compulsório,
infelizmente para ele e a maior parte das empresas menores, não havendo como
compatibilizar a sua, porquanto fosse apenas ele o trabalhador. Um tipo de
empreendimento que se fazia oportuno em uma época em que emprego com carteira
estava cada vez mais raro, visto com uma aposentadoria com contribuições a
perder de vista... Fazia ele muitos cálculos, e um que se predisse fosse a
proporção de bons ganhos era de estranhas aritméticas, haja vista não ter muita
assistência externa para um contador. Quanto produzia, daqueles bonecos de
biscuits, que com muita arte fabricava a sua esposa, e que ele assumia
integralmente o processo algo burocrático em que agora – nesses tempos modernos
– se transmutava em turva questão o comércio, seus entraves e competições. Se
mais arte fosse a quantia que agregava valor ao objeto, a educação artística
proporcionalmente daria futuro cultural a empreitadas desse porte, e uma
crítica saudável e necessária ao modal produtivo, à manufatura como um todo.
Separar-se-á
a educação como um todo? A noção evidente de que a arte de uma nação seja mais
importante no lado econômico igualmente trará perspectivas mais altas à
sociedade, em uma pequena comunidade, nesta majorada, um bairro, uma cidade,
obviamente de forma independente dos veículos eletrônicos nessa jornada do
fazer artístico, no que pontua também o construir e o expressar. Nessa
concomitância de valores, outro que se agrega passa a ser a saúde mental do
artista, quando este confere posições solidárias em uma economia mais fechada
de mercado... Em síntese, agrega-se valor na autenticidade da arte ou
artesanato, compreensão da sensibilidade da manufatura, necessidade da expressão,
o construir que não se dissocia da psique e habilidade motora, e suas metáforas
sociais necessárias, como uma educação de qualidade humana que busque não
banalizar o talento e o esforço, quando empenha mais recursos na tecnologia
apenas. Nas interações sociais, só se constrói algo de vulto a partir de
dominada as origens; ensinar arte e literatura, insistir no crescimento
cultural de uma nação passa a ser vivência cotidiana em países que queiram
emergir, quando for possível a um menino achar mais interessante empunhar uma
caneta do que um fuzil.
Aparentemente,
essa questão da violência que persiste nos nubla a tal ponto de nos
alimentarmos com as notícias consequentes, mas procuremos mais por notícias que
construam, que expressem, que fazem da literatura, por exemplo, o cotidiano de
um povo, ao menos que não arrefeçamos o debate, e façamos da invectiva saudável
de investirmos na educação que abrace aqueles que estão na pobreza, aos filhos
de pais que emprestam sua força de trabalho a preço irrisório e ainda voltam
para casa pedindo permissão a sinistras facções criminosas. Revisitemos a
história, comparemos o Governo do Rio de Janeiro de Leonel de Moura Brizola e
seu amigo Darci Ribeiro para sabermos o que foram os CIEPS, simplesmente a
melhor iniciativa de educação do país em todos os tempos. Lembremo-nos de como
Moreira Franco desarticulou a iniciativa, e por aí vai, o Rio de hoje e de
ontem.
Os cálculos
de Aureliano são complexos, pois são integrados de forma complicada com a
realidade quase exata dos aparelhos eletrônicos, e as feiras já não possuem a
identidade de quem produz para conduzir costumes, por exemplo. Muitos apenas
treinam, se esforçam, se juntam a máfias para realizar ganhos, obter
gratificações políticas e descaradamente roubar o patrimônio popular. A
introdução de Aureliano começar a contabilizar seus fazeres de empresa, depois
de termos girado para a situação da deseducação imposta, agrega valor na
questão do risco em crises, aloca posições financeiras, mexe com o valor quando
se saiba que na concretude só valerá o objeto enquanto tiver a demanda do
humanismo, da arte e da cultura. Como saber dessa magnitude, dessa hipótese?
A
princípio, a ideia é algo na contemporaneidade, quando científica, fruto de
buscas, de pesquisas, brain-storms,
muitas vezes condenadas a frutificar apenas quando já se possui a rede
necessária ao andamento do empreendimento, marketings virais, ou seja, podemos
enumerar um glossário de terminologias em que a aldeia global vai traçando em
proporção agora já decrescente, pois uma boa ideia que dê um lucro satisfatório
já é refém das conquistas econômicas de outros países. Estes possuem uma
engrenagem de capitais que remontam quebra cabeças em fracos mercados
emergentes como o nosso engolindo vértices e arestas da rede. Sobrando nichos
onde, para se manter um bom padrão de vida, os herdeiros da riqueza de países
mais ricos mantém vínculos estritos com relações de poder destes em relação aos
propósitos de si mesmo, um patronato que o próprio rótulo já prediz quando não
possui a noção de ser patriota.
Uma boa
proposição é sabermos como andam pesquisas sobre como alavancar negócios no
Brasil, como fomentar indústrias com conhecimento paritário com os mais
ricos... Incrivelmente: a simples possibilidade de termos um carro nosso,
brasileiro! Sem remessas, e que venham trabalhar aqui os brasileiros mais
inteligentes que estão no exterior, incluso músicos, cantores, artistas
plásticos de vanguarda, bons designers... Dirão não, não dá mais pé, o Rio de
Janeiro continua violento, nem as panças de chacrinhas balançam mais... Pois
sim, somos brasileiros, um povo que luta para seguir ao menos mantendo sua
dignidade, marcado pelo sofrimento imposto pelos jogos do poder.
Agora, que
nos atinemos mais sobre como lutar o suficiente para que preservemos o
conhecimento, a técnica, o saber como. Que ensinemos o quanto pudermos, que façamos
o teatro da realidade e do surreal, do que se quiser, haja pronta a versão de
um novo modernismo, onde a releitura de uma obra possa servir à arte, onde como
em um emaranhado de atitudes, de palavras, de gestos, quiçá de obras inacabadas
ou grafites bem expressos com a nossa fantasia e a nossa ficção. Pensemos no
absurdo como a materialização de um biscuit na forma abstrata que nos alcança
ao quase, posto não tocar em nossos mais irrequietos sentidos. Que a Bíblia
seja levada ao teatro, pois ao muito se há por dizer, na metáfora do que temos.
Aureliano calcula e aos poucos consegue, visto, aprendeu um pouco até do ábaco:
uma história interessante para um livro, de terras sem calculadoras, sem
botões, de terras com terras aráveis, do esterco aproveitado, de um biodigestor
em cada aldeia. Pensemos na história, que esta irá nos encaminhar, pelo
pressuposto que não basta estarmos caminhando apenas na rua, nos rictos em
nossa face pelo sol, pois que nos preservemos, portanto. Só há um modo, só há
uma vertente, que passa por uma absurda União, a cavarmos com as mãos as nódoas
de um solo machucado onde plantaremos mudas de espinafre, onde o mar sente as
dores diárias do esgotamento sanitário mal planejado, e se refaz, e luta e
investe contra os homens. Este mar resiliente que nos faz pensar nos dias em
que nos come o concreto armado, esse mar que volta e pressupõe paz de espírito,
quando na verdade os rios crescem e os besouros dos prédios não descem à rua
com o asfalto atapetado sobre o mangue. Por mais que o mar suba, os pássaros
possuem as rochas, revelando a Natureza mais sapiência em sua energia, em seu
modo de calcular os cálculos em que errara Aureliano, quanto de muito lhe
negaram um contador. Anita, sua esposa, continua a fazer dos biscuits suas
pequenas rochas, em que descobrira na arte a alienação reversa dos arrojados,
em suas tessituras afastadas de algum nexo, a não ser estarem plugados na
indiferença do metal.
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