Por uma praia distante dos roteiros
paradisíacos, de feição urbana já, de antes claramente rupestre, se vê uma
montanha. Uma azulada montanha azul da perspectiva aérea, em que sentimos
viverem por lá alguns seres... Quiçá seres que não vemos quando perto, pois
sentimos distantes nessa realidade com sombras, a que diste, talvez nos vejamos
neles. Sua pele pode ser de calcário, conchas perdidas nas rochas, os costões
talvez existam mais longos do que o quebrar das ondas que não vemos... Talvez viva
um homem barbudo, inadaptado ao que não seja a selva, meio índio, meio sereno,
no serenar de rochas que ele encontra, e que da distância desconhecemos... Por
hora que virasse meio anfíbio, salitrando gotas de resistência, no recrudescer
de suas lutas. Mas não, que por onde o criamos em nossa especulação, as
carochas de metal passam esbaforidas e o câmbio se sente nas passadas. O ser
montanhoso vive de uma cultura milenar, enquanto o ser que deveria prosseguir
montanha verte seu sonho em uma alfombra digital, como um papel onde
sobrescreve mitos. Vanapastra é seu nome, e algo de hinduísmo lhe aflora o
cerne, que tal, era hora de não hesitar na renúncia. Mas baste-se algum nome,
que se lhe chame Bhisma, daria de se contar histórias védicas jamais
escrutinadas pelos votos daquilo que jamais pensamos. Difícil seria imaginar
tantas rochas, que não são mais imaginação, posto existirem em sua imensidão de
caminhos. Que margeiem nenhum obstáculo o caminho que nos leve em um barco, ou
mesmo na terra onde nos descaminha os montes mais altos. Seria aliviar um pouco
o fardo, ao que se desse ao menos as palavras que norteamos em bússolas de espectros
em criaturas noturnas, e seus cais particulares ao redor da ilha. Na ponta de
Cacupé, em aldeias sambaquis, nos canais da contra cultura a se refazer
melhores dias nos reconhecimentos territoriais. Desce um declive, aponta-se uma
casa, mostra-se um duende que só existe em maquetes. No que verse, uma manchete
que mostre um duende mais personalizado, mesmo em cartola que se revela
ofuscada nos jornais. Seria talvez insanidade afirmar algo distinto, mas a
insanidade é válida para descortinar oxigênios, por vezes.
O que é de se afirmar que o homem da
montanha não veja por hora os trocos irrisórios de uma campanha difamatória, ou
o que de mal vai na sociedade, as maletas de dinheiro, as calúnias, os
preconceitos. Mantenha o homem a sua renúncia, pois que é de aldeia se coloque
perto de uma árvore, ou descubra fontes que nunca serão encontradas, pois
pertencem à madre Natureza: santa Madre! Madre em seus rabiscos, em que a
rabiscam a superfície, ao que a ela se denote que verte água pelos poros, que
aumenta seu humor na temperatura, que mostra ao homem – não ao da montanha – o que
o homem faz com ela. Nem com ela, a si mesmo, em sua estúpida ignorância,
queimando o óleo firme, queimando seu próprio tutano dentro de suas
digitalizações inócuas, quando disformemente comanda o atraso, as guerras, os
ódios, os saques e a devastação, que engloba tudo enquanto destruição inata da
qualidade da espécie sapiens: enormemente “evoluída”. Caros amigos, reinventem
seus próprios sistemas, a parar de apropriar-se, que estamos nos apropriando do
nada, em que o nada convexo nos mande saber que no fim o clamor popular ainda é
a tomada de consciência mais salutar, pois seu conhecimento pode valer de mais
bagagem e compreensão das coisas, e não a tipificação da sobrevivência apenas,
enquanto alguns discutem a natureza dos cruzeiros marítimos. Talvez esteja tudo
bem, mas que crescer as gentes é factível, é de boa natureza.
O homem da montanha parece tudo ver,
mas vê nas entranhas da Natureza o que há para se conhecer, ou sentir, ou
prescrever a si mesmo, nos melhores modos de compreensão do que são os seres, e
por esse ponto chegaremos na questão mais estável do conhecimento: que cada
folha, que cada gomo de bambu, que cada naco de terra saudável, que um inseto
navegando generoso em sua idiossincrasia é mais, tudo é mais do que supomos, e
é nesse micro que devemos aprender, pois preservando o entorno preservaremos a
nós mesmos e à ciência maior de compreendermos próximos a uma totalidade mais
saudável. Sem essa consciência não somos, sem isso não existiremos, pois não
adianta vermos uma peça de teatro se o dramaturgo nunca pisou seus pés na
terra...
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