O
difícil sempre se torna especular sobre as coisas do amor, ainda mais quando
fluem sobre plataformas de tecnologia em que o amor possa se tornar distinto.
Não precisamos exceder a mesma especulação intelectual a pensar muito que o
amor tenha se tornado com muitos estereótipos, desde que a sua palavra
existe... Houve amores na vida de muitos homens e mulheres em que pernoitavam
nas ruas, viviam em manicômios, mendigavam, ou mesmo no trivial aspecto de pais
e mães de família, outros em lutas revolucionárias, as certas remissões de
outros duros e monstruosos, no ser e na serpente... Hoje, por falar em coisas
do amor, esta linha talvez não encontre mais o olhar do leitor pois já tornou um
parágrafo por vezes maior do que o fôlego de uma massa que não encontra mais
amor nas letras, já que o celular e seu quadrado pequeno possui um whats app mais rápido em se encontrar
com o próximo gozo prometido. Se é de se queimar cartuchos, a experiência
mostrará que há profissionais do amor, prontos a investir, com a capa da
insensibilidade falsamente acobertada por um teatro reles, em amores a que
surjam negociatas. Talvez sejam os tempos modernos, mas na verdade, esse dito
inconsútil amor clama para que haja caminhos, mas o que ocorre fisicamente é a
patologia social de estarem dependendo muitos da conexão imediata, no que versa
seja conexão, ou outra palavra qualquer, mas muitas vezes vício a displays tecnológicos, dependência mesmo.
Mesmo sabendo que ao valor superlativo podemos fazer um bom uso de ferramentas
como uma publicação na internet já que no papel não há como sem recursos, e
chegar a um lugar de leitura a um homem que goste das letras já é um tipo de
prazer grande e serenamente forte. Obviamente, não sou mais um jovem, com meio
século de existência. A contemplação me apraz de modo raro, e é sobre isso que
descrevo minha experiência como um resultado de uma vida muito intensa e que
espero que continue assim até meus términos. Não que eu ache que não viverei
mais depois da morte, porque considero esta apenas uma passagem. O que ocorre é
que para um devoto ou homem sem devoção – tanto faz – não temos a memória de
outras vidas, mas a diferença de um ser mais espiritualista é que faz de sua
vida algo de meritório justamente por saber que estará aqui, principalmente
quando de sua posição algo confortável que serve de aproveitamento, à missão
que lhe é confiada, com isso que penso desenvolver um breve texto sobre o amor
ao Supremo, ao mais atrativo dos seres, nossa relação que perdemos com Ele e a
necessidade de resgatarmos esse amor com a convicção de tentarmos não nos
situar apenas no aspecto rasgadamente hedonista que tem colocado as raízes para
cima e as folhas a secar no limbo, na grande árvore que é apenas o reflexo do
que é realmente a vida e nossa relação com que pensamos inatingível, mas que em
uma imagem nos faz recordar essa relação...
Temos
conceitos a partir de tudo, mas o primeiro a ser colocado são os elementos que
compõem a matéria: a água, o fogo, a terra, o ar e o éter. Deles tiramos tudo o
que compõe a Natureza. Nosso corpo é feito de matéria, e quando dizemos que o
corpo somos nós, erramos, pois este pertence ao espírito que é a nossa
identidade, o nosso Eu verdadeiro. Se não fosse assim, não seríamos tantos em
nossas formas corpóreas, desde que nascemos, na forma de um neném, até
atingirmos a velhice, quando assumimos, no decorrer da existência, vários e
vários corpos, e não há sentido de que a velhice signifique a morte, ou que
esta signifique o fim. São os elementos materiais que abrigam nossa centelha
espiritual que nos move e que nos dá a consciência. Possuímos consciência
humana, enquanto um gato ou um cachorro possui a consciência de sua espécie.
Creio que nos pensarmos superiores às outras espécies, no sentido de termos a
“autonomia” de agirmos predatoriamente como estamos agindo nos coloca na
posição de uma espécie que coloca o mundo a perder. É através do poder que
temos de destruir que efetivamente temos destruído e especulado ferozmente para
podermos justificar os nossos atos, perante o crivo da construção de lógicas
que nos deem um anteparo cíclico para que continuemos. Acabamos por não
conseguir mais nos proteger da ameaça que recai sobre nós, em que esta
ameaça acaba sendo nós mesmos que a criamos, fazendo parte justamente da
ausência da simplicidade em viver tão necessária, do que estarmos a tornar
complexa uma vida em que a rendição ou contemplação do divino faz a diferença.
Por exemplo: no mínimo, tentem aproximar-se da Natureza, observar um pequeno
inseto, saber que possui igualmente uma centelha espiritual, ver o céu, saber
que a chuva é o sêmen de Deus que faz germinarem as ervas e traz fertilidade, e
reconhecer que o desequilíbrio foi obra do homem sobre o planeta, e a ação e
reação não acontece apenas no plano espiritual, mas igualmente acontece na
matéria bruta. Basta sabermos que nada nos pertence, pois a terra estava há
muito quando nem existíamos, e esse tipo de convenção é um modo que a
civilização de que somos frutos fez para que cerceássemos a compreensão de que
em verdade tudo pertence a Deus, Krsna. Se tudo vem Dele, basta regarmos a raiz
e melhor compreenderemos a nossa situação espiritual. Como?
Quando
adoramos a Arca Vigraha, como um retrato de Vishnu, por exemplo, estaremos
regando a raiz, pois encontraremos ressonância em outros planetas, estaremos
viajando através da devoção a muitos e muitos universos, já que Vishnu reside no
Oceano Causal, de onde diversos universos são criados a partir de seus poros.
Essa certeza é tão gigantesca, que logicamente superlativando a Alma Suprema
estaremos encontrando ressonância nos mais ínfimos seres, e os respeitando,
justamente, quando regamos a raiz de tudo: de todos os seres, de um arbusto, de
uma folha depositada sobre o húmus, da raiz de uma planta que amemos, do amor
que nos faz crescer existencialmente, vendo que o que passa a nos atrair é
muito mais a razão da Natureza como espelhamento de Deus do que um artifício
intelectual de um mero especulador mundano, que encontra em aparelhos digitais
a razão de interpretação de algo tão pequeno e insignificante que são as
sociedades padronizadas dos sistemas de vida contemporâneos, que só corroboram
a história de erros crassos cometidos pela humanidade. Nada contra ajustes
intelectuais, mas o amor a Deus, como deve ser, dá um sentido sólido e
irrestrito à qualquer relação que possua consonância com essa Realidade
Suprema.
Os
princípios das meditações são extremamente válidos, o trabalho em devoção nos
afasta da ilusão, a consciência dos materiais, a vida sacrificada que nos traga
um companheirismo real, tudo passa a ser consciência humana. Não tentemos
liquidificar o amor, pois há muitos homens e mulheres que já sabem do seu real
significado, e outros sabem mais da relação das máquinas com o pressuposto do
tema. Que seja, somos diversos, e nessa diversidade reside a tolerância, e a
pensar melhor que não tenhamos que tornar um sentimento inconsútil, basta que
plasmemos através da terra com a água, a participação dos elementos essenciais
ao mundo, e que respeitemos o que deste nos resta, afim de sabermos que um gozo
sexual é apenas um fragmento de significado na gigantesca realidade espiritual
neste mundo...
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