sábado, 2 de janeiro de 2016

PREMA – AMOR A DEUS

            O difícil sempre se torna especular sobre as coisas do amor, ainda mais quando fluem sobre plataformas de tecnologia em que o amor possa se tornar distinto. Não precisamos exceder a mesma especulação intelectual a pensar muito que o amor tenha se tornado com muitos estereótipos, desde que a sua palavra existe... Houve amores na vida de muitos homens e mulheres em que pernoitavam nas ruas, viviam em manicômios, mendigavam, ou mesmo no trivial aspecto de pais e mães de família, outros em lutas revolucionárias, as certas remissões de outros duros e monstruosos, no ser e na serpente... Hoje, por falar em coisas do amor, esta linha talvez não encontre mais o olhar do leitor pois já tornou um parágrafo por vezes maior do que o fôlego de uma massa que não encontra mais amor nas letras, já que o celular e seu quadrado pequeno possui um whats app mais rápido em se encontrar com o próximo gozo prometido. Se é de se queimar cartuchos, a experiência mostrará que há profissionais do amor, prontos a investir, com a capa da insensibilidade falsamente acobertada por um teatro reles, em amores a que surjam negociatas. Talvez sejam os tempos modernos, mas na verdade, esse dito inconsútil amor clama para que haja caminhos, mas o que ocorre fisicamente é a patologia social de estarem dependendo muitos da conexão imediata, no que versa seja conexão, ou outra palavra qualquer, mas muitas vezes vício a displays tecnológicos, dependência mesmo. Mesmo sabendo que ao valor superlativo podemos fazer um bom uso de ferramentas como uma publicação na internet já que no papel não há como sem recursos, e chegar a um lugar de leitura a um homem que goste das letras já é um tipo de prazer grande e serenamente forte. Obviamente, não sou mais um jovem, com meio século de existência. A contemplação me apraz de modo raro, e é sobre isso que descrevo minha experiência como um resultado de uma vida muito intensa e que espero que continue assim até meus términos. Não que eu ache que não viverei mais depois da morte, porque considero esta apenas uma passagem. O que ocorre é que para um devoto ou homem sem devoção – tanto faz – não temos a memória de outras vidas, mas a diferença de um ser mais espiritualista é que faz de sua vida algo de meritório justamente por saber que estará aqui, principalmente quando de sua posição algo confortável que serve de aproveitamento, à missão que lhe é confiada, com isso que penso desenvolver um breve texto sobre o amor ao Supremo, ao mais atrativo dos seres, nossa relação que perdemos com Ele e a necessidade de resgatarmos esse amor com a convicção de tentarmos não nos situar apenas no aspecto rasgadamente hedonista que tem colocado as raízes para cima e as folhas a secar no limbo, na grande árvore que é apenas o reflexo do que é realmente a vida e nossa relação com que pensamos inatingível, mas que em uma imagem nos faz recordar essa relação...
            Temos conceitos a partir de tudo, mas o primeiro a ser colocado são os elementos que compõem a matéria: a água, o fogo, a terra, o ar e o éter. Deles tiramos tudo o que compõe a Natureza. Nosso corpo é feito de matéria, e quando dizemos que o corpo somos nós, erramos, pois este pertence ao espírito que é a nossa identidade, o nosso Eu verdadeiro. Se não fosse assim, não seríamos tantos em nossas formas corpóreas, desde que nascemos, na forma de um neném, até atingirmos a velhice, quando assumimos, no decorrer da existência, vários e vários corpos, e não há sentido de que a velhice signifique a morte, ou que esta signifique o fim. São os elementos materiais que abrigam nossa centelha espiritual que nos move e que nos dá a consciência. Possuímos consciência humana, enquanto um gato ou um cachorro possui a consciência de sua espécie. Creio que nos pensarmos superiores às outras espécies, no sentido de termos a “autonomia” de agirmos predatoriamente como estamos agindo nos coloca na posição de uma espécie que coloca o mundo a perder. É através do poder que temos de destruir que efetivamente temos destruído e especulado ferozmente para podermos justificar os nossos atos, perante o crivo da construção de lógicas que nos deem um anteparo cíclico para que continuemos. Acabamos por não conseguir mais nos proteger da ameaça que recai sobre nós, em que esta ameaça acaba sendo nós mesmos que a criamos, fazendo parte justamente da ausência da simplicidade em viver tão necessária, do que estarmos a tornar complexa uma vida em que a rendição ou contemplação do divino faz a diferença. Por exemplo: no mínimo, tentem aproximar-se da Natureza, observar um pequeno inseto, saber que possui igualmente uma centelha espiritual, ver o céu, saber que a chuva é o sêmen de Deus que faz germinarem as ervas e traz fertilidade, e reconhecer que o desequilíbrio foi obra do homem sobre o planeta, e a ação e reação não acontece apenas no plano espiritual, mas igualmente acontece na matéria bruta. Basta sabermos que nada nos pertence, pois a terra estava há muito quando nem existíamos, e esse tipo de convenção é um modo que a civilização de que somos frutos fez para que cerceássemos a compreensão de que em verdade tudo pertence a Deus, Krsna. Se tudo vem Dele, basta regarmos a raiz e melhor compreenderemos a nossa situação espiritual. Como?
            Quando adoramos a Arca Vigraha, como um retrato de Vishnu, por exemplo, estaremos regando a raiz, pois encontraremos ressonância em outros planetas, estaremos viajando através da devoção a muitos e muitos universos, já que Vishnu reside no Oceano Causal, de onde diversos universos são criados a partir de seus poros. Essa certeza é tão gigantesca, que logicamente superlativando a Alma Suprema estaremos encontrando ressonância nos mais ínfimos seres, e os respeitando, justamente, quando regamos a raiz de tudo: de todos os seres, de um arbusto, de uma folha depositada sobre o húmus, da raiz de uma planta que amemos, do amor que nos faz crescer existencialmente, vendo que o que passa a nos atrair é muito mais a razão da Natureza como espelhamento de Deus do que um artifício intelectual de um mero especulador mundano, que encontra em aparelhos digitais a razão de interpretação de algo tão pequeno e insignificante que são as sociedades padronizadas dos sistemas de vida contemporâneos, que só corroboram a história de erros crassos cometidos pela humanidade. Nada contra ajustes intelectuais, mas o amor a Deus, como deve ser, dá um sentido sólido e irrestrito à qualquer relação que possua consonância com essa Realidade Suprema.
            Os princípios das meditações são extremamente válidos, o trabalho em devoção nos afasta da ilusão, a consciência dos materiais, a vida sacrificada que nos traga um companheirismo real, tudo passa a ser consciência humana. Não tentemos liquidificar o amor, pois há muitos homens e mulheres que já sabem do seu real significado, e outros sabem mais da relação das máquinas com o pressuposto do tema. Que seja, somos diversos, e nessa diversidade reside a tolerância, e a pensar melhor que não tenhamos que tornar um sentimento inconsútil, basta que plasmemos através da terra com a água, a participação dos elementos essenciais ao mundo, e que respeitemos o que deste nos resta, afim de sabermos que um gozo sexual é apenas um fragmento de significado na gigantesca realidade espiritual neste mundo...

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