Santa Catarina, estado amado, data ignorada...
CARTA A UM DOUTOR
Tantos somos, meu amigo, que venho lhe contar certos vinténs que deixei cair de minha existência. Sôfrego passei horas amargas, a vida nos prepara certos momentos em que, em decorrentes fúrias de túrgidos carretéis humanos, como centopeias onde não possuam sequer mais a cabeça, meu caro doutor, você que se esmere, não poupe esforços em compreender-me, taturanas em silêncio, estranhas criaturas que não sejam a silvestre primavera que desejáramos em outro tempo, quando lhe visitava em seu consultório e via por entre a janela o conforto em seu divã – algo como privilégio fato – as árvores da capital...
Pois bem, amigo, sinto-me feliz em escrever-lhe, assim como me lembrar da USP, de tantos ensinamentos, do CEPÊ e, hoje, os ss se pronunciam, e a gente se traveste e reclama da cia, mal sabendo onde estamos, e quem está fadado a algo, transudando o nosso afã de conhecimento, coisa que nos aproxima deveras, não bem lembrado o dia da primeira consulta, quiçá fora claudicante em meus pensares, e hoje a data é 6 do um, preferi não colocar na primeira linha, se me entendes. Não sabes como me machuca a condição de algumas mulheres, a gente dá um toque, mas me lembro de sampa, eu na garupa da moto de fafi, meu primeiro beijo na faculdade, depois de quatro anos de escola, depois do mack, lá elas eram muito ricas e gostosas, faziam um certo doce e eu não tinha o fuca ainda. Estou feliz, dr, estou feliz, você sabe disso, no íntimo, posto minha alienação foi sempre as letras, pelo menos já faz uma boa temporada de anos. Você é meu irmão mais novo que não tive, muito mais inteligente do que eu, no entanto, um médico, heim! Quem diria, a minha honra... Tantos pediram para mim a legalidade, eu não sou e não sou, sou um nada, mais um como dizem. Tem grupo que usa isso para me usar, botam criaturas medonhas, e vejo que é tudo uma farsa, posto estar respingando em grupos e a resistência vira do viés e, o que é pior, acabo de ofender meio veladamente uma grande amiga... Mas não sei o que ela deseja de mim, estou descolado do feltro de qualquer quarto de hotel, por mais que me ofereçam o licor da minha queda. Há pouco já tomara o remédio, e minhas mãos não enobrecem o gesto expressivo como gostaria, e caio de sono outra vez. No entanto, dr, peço que me perdoes se por vezes avanço um pouco, posto esta carta começou no dia 6 e já é hoje a noite do 14 de janeiro, uma sexta solitária onde passei a tomar o remédio um pouco mais tarde... Saiba que não sou hipócrita ao ponto de dizer que talvez demasiadas pessoas estejam lendo, pois as estatísticas deste blog estão alcançando canada e países baixos, e nos eua a audiência é maior que no nosso país.
Remeto sonhos quase secretos de meu imo, fiz lives políticas, bem o compreendo que talvez não tenha sido fortuito na questão, mas no oposto livre, não me causaram danos, quiçá, assim dependerá do seu critério e avaliação. Imagino ter a liberdade plena de expressão, teço por vezes um jornalismo investigativo, e por estes dois últimos dias fiquei preocupado pela ausência de uma mulher que trabalha cerca de 100 metros da minha casa. Não que eu quisesse algo maior, mas apenas conversar ou entender a natureza desse ser que é precípuo dentro das mulheres, em seus pistilos resolutos de femmes. Por um tempo, trilhei um caminho árduo de trabalho investigativo, e isso me trouxe franca terapia, me senti mais viável, mais consorte com a situação: deveras. No entanto, como sei que gostas das letras, espero que eu esteja preparado para ler James Joyce no Ulisses, com todos os parágrafos inexistentes em certo trecho. Tenho gostado tanto das letras que prossigo sem solidão, por vezes sentindo um desejo da carne feminina, posto possibilidade quiçá de chauvinismo, mas isso não me dá sequer o prazer comparado ao de construir uma boa linha, um pensamento expresso, visto que certamente o contato da carne pressupõe protocolos de sala de estar, de estar com quem por vezes nem sabe o contexto mais concreto da existência, pois acho que as mulheres estão se libertando por um viés meio de lutas que são por si só inglórias... Talvez você não saiba, mas eu não estou em modalidade de fama ou cronópios, como no livro de Cortázar. Talvez mais de cronópios, para ser sincero. Em um partido político me disseram uma vez que eu era mais um, mas acabei votando duas vezes na última eleição. Eu sou zero, e prefiro continuar duplamente zero... Você acredita que eu saí de noite alta só pelas ruas aqui do bairro para estar esticando as canelas na luz amarela dos postes? Em uma live, noite passada, clamei por uma união das forças armadas brasileiras em favor da democracia, acho que bem procedi, como participação cidadã.
Caro dr, peço perdão, mas creio que a minha suscetibilidade em inferir iniciativas de ordem política foi uma modalidade meio compulsória, partidária e inevitável. Não me tem dado óbice em minha recuperação, até chego a achar que o fiz do modo mais civilizado possível, e me retraio em copas, a nada temer, por ter chegado a lugar nenhum, graças a Deus, o lugar de estar de manhã cedo na praia praticando meu taichi e na rotina que para mim é sumamente agradável de cuidar dos afazeres da casa e da saúde de minha mãe. Lhe escrevo esta carta porque para mim você eu considero como meu melhor amigo, algo meio de irmão, se me entendes, algo meio da saúde e sua ciência, dos homens de bem... Não sei se escapo da caixa da lucidez, mas creio e boto fé que podemos sentir melhores ares no mundo, quiçá seja essa a vontade de Deus ou a tendência de uma vibe melhor para a humanidade! Não te ressintas, pois creio que a dosagem de dois está valendo bem, eu tenho me sentido bem e bem sereno, bem tranquilo e bem vivente sobre o chão que tateio ainda, sempre aprendiz.
É com essa conformação de palavras que traço os meus caminhos e andanças na minha vida, sempre um desafio em todos os momentos, e a energia suficiente para abraça-los com a graça que você me permite fazer de minha existência. Não fujo mais de nada e encontro comigo mesmo do jeito que vim ao mundo, como Marcos, não o apóstolo, mas apenas mais um ser que vive no mundo conturbado como está, sem alicerçar-me sob o umbral de coisa que eu não sou pois sei quem sou, já que o dna não se repete e, aos olhos da ciência, o remédio tem me dado a moeda de ouro da sanidade.
Sem mais dizer, um abraço!
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