Seguimos na senda de relacionar coisas
que não são muito boas para um cidadão e outras que facilitam de
qualquer modo o caminho da recuperação. Uma coisa muito importante
e um pouco rara na era contemporânea é a humildade. Se por ventura
cruzamos o caminho de gente extremamente arrogante, é sempre bom
mantermos aquela qualidade do bem portar-se para que não recrudesçam
possíveis desavenças, naquilo em que por vezes precisamos olhar
para o chão a ver, não propriamente ser espinha mole, mas prestar
atenção nos lugares onde pisamos nossos pés. Desse
modo, as possíveis e reais ofensas seguem seu curso natural e o
veneno da serpente não nos é inoculado, literalmente, pois o animal
não faz nada – salvo exceções – quando não provocamos um
litígio que, quando estamos sem o controle de nossos atos, acontece
frequentemente. Essa
humildade é muito rara quando estamos tomados por substâncias psico
ativas, tais como o álcool e outras drogas.
Um dado outro
importante para se ressaltar é a vontade de poder na vida
materialista em excesso. Carl Jung já colocava em xeque esse desejo
que a humanidade carrega dentro de si tão arraigado, expresso no
Príncipe de Maquiavel, onde nada se limite a obter
algo que possa ser ruim para outro ser, mas que egoisticamente
desejamos para nós, independente de quais artifícios o obtemos. Que
o ser humano queira tão somente viver na paz do anonimato, aliás, a
melhor saída para exercermos plenamente a cidadania, distantes de
tudo o que nos seja nocivo e, novamente, a sobriedade se torna sempre
necessária. Por quantas mesas de bar já passamos crendo que
poderíamos ser senhores de uma rua, de um bairro, da cidade ou mesmo
do mundo? Essa vontade de Poder abraça a ganância, a hipocrisia, a
falsidade e outros modais do comportamento humano como característica
que não estamos muito bem com relação à realidade, espelhando a
mesma dentro de um processo ilusório. No entanto, vemos que há
muitos que realmente são poderosos, e no mais das vezes retrocedem
os atos sem saber ou ter consciência do que fazer para melhorar a
vida de sua empresa, seu país ou seu povo. Essa
vontade extrema de poder resulta de conceitos onde relações entre
as pessoas possam estar vinculadas a uma ebriedade emocional
igualmente, como uma outra forma de dependência que possa acometer
ou surgir a partir de adicções que nos nuble a mente com o manto da
ilusão: uma outra face da ilusão, mais sutil e mais prejudicial,
enquanto “justificável”… Obviamente, este é um inventário
moral de quem vos fala, ou seja, já foi prejudicado por todas essas
questões enquanto
ativamente portador de uma doença chamada alcoolismo, e que agora
começa a fazer uma releitura de seu próprio caso, onde a
complexidade desse ato remonte a humildade necessária para assumir
erros ou falhas de caráter.
Não
é preciso estar em recuperação mental para testemunhar que a falta
da humildade está presente em muitos e muitos indivíduos da
coletividade, ou mesmo quando situados em funções de
responsabilidade perante grandes conglomerados, empresas ou funções
políticas. O fato de termos o exemplo de Jesus e seus apóstolos
retoma a posição espiritual como necessidade de rebatimento
fundamental – ou quase sempre – na recuperação da enfermidade
do alcoolismo ou similares. Essa vida ou crença em um Poder Superior
nos torna mais humildes com relação a Ele e portanto fica mais
fácil de se encontrar uma grande força interior que nos guarneça,
guie e ilumine, para que o nosso caminho seja mais de luz. Quando
nosso ego crê que tudo gira em nosso entorno é que ficamos para
trás na relação que temos com o planeta e esse egoísmo fatalmente
nos leva a cometer desatinos e nos torna mentalmente vulneráveis
para se ingerir quaisquer substâncias que nos tirem do prumo. Quando
o problema com o álcool se torna inevitável e chegamos ao fundo do
poço é a hora de assumirmos nossa impotência frente ao descontrole
de nossas vidas ocasionados pela adicção. Sempre é bom
investigarmos nossos erros, mas tudo começa na nossa entrega ao
Poder Superior para que voltemos à sanidade. Esse é o requisito
essencial para começarmos a ter esperança em nossa fragilizada
situação. Seguir os passos é fundamental e a literatura também
tem seu valor e importância capitais em nosso contínuo processo de
recuperação, além da frequência às reuniões do
AA.
FIM
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