domingo, 17 de fevereiro de 2019

DEGRAUS DE DECÊNCIA


           Porventura qual seja o mundo, é – talvez – uma parte daquilo que se nos apresenta… Talvez uma parte, pois a existência humana, posto ser isso um mistério, acaba por nos distanciar dos nossos “colegas” de outras espécies. Haja vista a designação espécie, tomada ao pé da letra de nossa ciência, ou seja, que nos permitamos saber que temos sentidos imperfeitos, e que muitos dos nossos juízos devam ser relativizados, no foco portanto do Mistério que nos envolva, e na sublimação que pode ocorrer no plano psíquico, ou que tenhamos a fé naquilo em que nossos limites nos coloca, frente a frente com o próprio Mistério. Qual não seja, um patamar decente de humildade na nossa existência, ao menos ao nos colocarmos em pé de igualdade com os seres e objetos, pois até mesmo os objetos possuem ações no nosso entorno, e instrumentalizá-los bem, a fim de que não causem rejeitos funestos, ou frutos nocivos, é dever de cada cidadão: dentro do que promete um mundo civilizado, ou mesmo no seu processo de crescimento humano, pois é a nossa espécie que tem o poder de destruir ou construir mundos melhores para o próprio planeta. Nessas questões predomina uma certa hierarquia do bom senso onde, se se pensar em conturbar qualquer status de bons diálogos e respeito ao próximo, isso, naturalmente, trás reveses na questão de uma paz permanente que já teve como enunciador o Filho do Homem. Anunciar boas novas deve ser um compromisso latente no modo como vemos certas maravilhas da Criação, como uma refeição e o simples desejo de que todos dela partilhem. Eis como pensemos ser um milagre viver. Nosso peito possui um coração que bate involuntariamente, qual seja o espírito que o embala, o move, o toca, dando a nós algo da vida e seus inúmeros sinônimos, e que queiramos, que seja… Esse amém é imenso, como tanta é a Eucaristia que nos une em comunhão: como o fato de agirmos com a bondade e o perdão na plataforma de instituições fortes e consonantes com a Lei, que vem desde priscas eras até tempos algo conturbados como os nossos, no que nos constitua a Verdade de saber a respeito, e caminhar na trilha do conhecimento, a saber, da filosofia e de bons livros, na boa graça de ótimas edições.
         Saiba o ignorante que quer saber bastante, que aquele que busca, que deseja subir a escada que nos reserva a nossa curta existência neste mundo, basta não ignorar a honra que supostamente um bom livro nos enseja. Saber que todos devem buscar a oportunidade, que a leitura é fundamental, e o estudo um sacrário. Basta saber igualmente que quando alicerçado pelo estudo, o ato, a ação concreta em direção ao bom senso se torna um progresso efetivo de nossas vidas. O que seria de um poeta se não fossem as letras? O que seria do mundo se houvesse apenas um livro para ler e estudar? Não, a voz é mais profunda do que isso… Teleologicamente, o mundo não deve começar apenas com uma palavra. Quem sabe se a filosofia grega nos ensinasse um pouco, pois não seria suficiente parar por ali, visto a inquietação fazer parte da conquista de mais um degrau, de mais uma lição, de mais escolas, de mais estudo, mais vivência, mais trabalho. Conhecer algo supostamente faz-nos ampliar a visão sobre o aspecto em questão, e quando remonta a díspares assuntos, fica mais confortável conviver com o contraponto, a condição humana. Pois sim, pois muitos nem começaram a discutir questões antes de começarem a aprender, sem subir ao menos um degrau, e já dispõem da vida do próximo, com a facilidade de se assassinar alguém por motivações torpes e nulas. Em realidade, quando o fator social chega ao ponto nulo, ao núcleo insolúvel de um sistema qualquer, é hora de pensar criteriosamente em valorizar qualquer atitude que disponibilize a um cidadão ao menos poder galgar um par de degraus. Ao menos que sejamos mais decentes… Essas questões fecham com o propósito de podermos ver quem somos, de encontrarmos quiçá na literatura e nas artes um personagem e a criação da vida nas mãos de um bom artista. E que saibamos, acima de tudo na arte a escada é longa, mas tão importante é aquele que não precisa de degraus, com outro que se esforça para dizer algo, pelo menos a si mesmo, pois o encontro com o todo parte de um si mesmo, e por vezes o esforço individual toca ao todo, na própria semântica onde antes se expressaria a tristeza o resultado é o alívio que a livre expressão permite nas manifestações artísticas, que sempre transcendem o próprio belo natural! Essa beleza que buscamos que pode ser um ato, uma linha, uma reta, um quadrado, uma pintura, foto, ou mesmo um cúbico de uma casa…  

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