Parece-nos que não estamos muito
afeitos à nossa condição humana, quando pensamos nas derrotas em que nossa
espécie pretendeu supor que imporia à Natureza, e que esta reage frente às
mesmas conquistas que reiteram nossas noções a bem dizer ainda no cartesianismo
que revoga uma visão mais abrangente de nossas sociedades e a relação com o
nosso entorno, quase de uma apropriação ainda tão súbita que sequer saberemos
como nos portar com o resultado de nossos atos. Quem sabe haja uma razão
distorcida a respeito dessa relação com algo que é uno, total, em luta com
nosso portar fragmentário de prospecção e exploração desenfreada. Não nos
olhamos com os olhos da crítica assaz necessária para evitar a recorrência
brutal de erros em vários modais de nossas particularidades e existências. Quando
pensamos no que deva ser real, por vezes incorremos no erro de crer que os
nossos desejos possam pontuar ou justificar esses atos contra a Natureza.
Exemplifica-se o consumo como objeto do egotismo, como platô que dê um motivo,
um consumo inescrupuloso, em que o motivo não passa do hedonismo em adquirir,
obter e processar, dentro da modalidade ou limitação de cada qual, no trato da
coisificação de tornar objetos as nossas relações com os gadgets. A arte passa a ser condição subalterna frente à miríade
da fantasia que nubla como fruto de uma indústria de linguagens muito
aproximadas em suas sintaxes. Quando revisitamos os conceitos da indústria que
fala à tecnologia, podemos extrair seus recursos, mas que sejam renováveis em
nossa consciência, no que esta mande a que sejamos coerentes em manter o
máximo de aproveitamento dentro do mínimo de riscos de qualquer ordem. Como
quando fazemos uma autoanálise, uma introspecção profunda com relação à nossa
atitude perante o que nos cerca, ou melhor, o entorno, mesmo que este diste na
profundidade de alcance de uma informação ou ação tecnológica que, saibamos,
por vezes fazem parte intrínseca do modo de vida societária contemporânea.
Essas questões nos mostram que fazemos parte de uma vida que seja, que as
folhas de uma árvore pertencem ao nosso mundo, ou melhor, que ambos nos
pertencemos, quais as formigas que certamente estão fazendo a sua parte na vida
em que levam, nos seus trabalhos, se soubermos que até os átomos compõem
igualmente o todo que obrigatoriamente nos faz tomar ciência quando, creiamos, tomamos
como oportunidade para a qual. Não nos desviemos dessas assertivas, posto
ciência, e desconhecemos o fim do mundo das formigas, já que estas começaram um
pouco mais cedo pela Terra... Um tempo razoável nos separa enquanto seres que
nos visitamos a cada qual, na mesma espécie que seja, de humanos a hipócritas,
de desavenças a uma paz que teimamos em negar, posto estarmos negando a certa
condição à qual humildemente devemos nos colocar.
Teremos uma vez a qualquer momento
visitarmos o que chamamos de fé, olharmos para dentro de questões mais duras em
relação às nossas vidas e sentirmos quando a fé de uma montanha chegue a ser
maior do que a nossa, pois aquela é mais importante do que nossas vidas, assim,
do modo como nos colocamos perante tudo que comporta os direitos das espécies
outras em viver como pulsa a vida de cada qual. Essa é uma visita importante, e
a partir daí estaremos nos vendo como espelhamento sereno da própria Criação: a
garrafa plástica no mar se torna aberrativa, o óleo fora do motor mostra a sua
única existência funcional, e o vidro torna-se vidro, e as fezes, energia
renovável, quando tudo de uma ciência madura na dura empreitada de se
reorganizar as frentes de preservação do planeta.
A história da vida deve ser contada,
em suas minúcias, em nossos sacrifícios e penitências, pois deixar de lado uma
certeza cabal e olhar para a frente com outra luminar faz até mesmo – ao invés
de uma montanha movendo-se – um saneamento verdadeiro e competente existir, não
apenas como meta, mas como fato concreto, realizado, pensado e administrado.
Não é mais uma questão territorial, nacional, de estado, prefeitura. Passa a
ser um debate mais amplo do que jamais houve: aquele de questionarmos a própria
existência dos processos que admitem erros crassos com base em interpretações
em que sempre se cogita que a grande faculdade humana é o erro. Tudo bem,
devemos aprender com o que não sabemos, mas errar sabendo de nossas certezas
sobre as soluções coerentes com a recuperação da vida do mundo é apenas acreditarmos
que este tem que acabar por determinação religiosa ou qualquer interpretação equivocada
sobre o que é a salvação terrena. A começar, ergamos os braços para que
possamos trabalhar para a recuperação de nossas casas, para dar um exemplo mais
prático, trilhemos os caminhos da solidariedade, compartilhemos boas ideias,
dialoguemos sobre o que nos importe em bom caminho. Enfim, descubramos que um
texto inteiro não possui panorama ideológico, pois não há tradução nefasta que
nos impeça de construir um mundo melhor e mais saneado.
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