É delicada a
questão da arte, não apenas como representação simbólica, mas igualmente no
caminho que nos leva à sua compreensão. Mesmo com tudo o que representam as
inovações tecnológicas, há que fazer-nos crer que os pincéis e o contato com a
tinta não é revisionismo, posto necessidade do conhecimento dos materiais que
nos levem ao construir daquela. A vida da arte é independente, prossegue com
todas as suas linguagens, torna-se hoje possível uma publicação de poesia, uma
tela compartilhada, a maravilha relativa das conquistas da ciência, no entanto
com a tendência da efemeridade como fator causal de nosso tempo, nessa
contemporaneidade um tanto absurda em termos existenciais. Se por um lado
admiramos os estilos artísticos no decorrer dos séculos, haveremos de fazer a
arte ressurgir ainda em seus antigos materiais de estudo, repito, pois esta é
uma sintaxe que jamais abandonará as culturas dos povos.
Há algo de
tradição na arte, posto o sincronismo com os anos leva a acreditarmos sempre
que temos que fazer diferente, que o olhar muda tanto quanto nós pretendemos
mudar nossos corpos, mas a mão é mão sempre, e desta é o meio e a manufatura do
fazer artístico, pois uma máquina que venha a auxiliar sempre possui um
controlador, alguém que ao menos dê o start
apertando botões. No entanto, haja vista a possibilidade na abertura de nossas
percepções, a eletrônica e seus recursos transcendem o mito da tecnologia, vêm
a auxiliar quando nossa postura é mais do que a passividade naquilo em que muitos
querem que nos tornemos, quais peças que apenas respondem afirmativamente a
tudo o que é imposto, mesmo que de maneira tão sutil que não adivinhemos...
Devemos sim, manter-nos atentos sobre um bom uso da tecnologia e seus gadgets, mas que a arte transcenda
nossos alicerces para algo de maior e mais factível, algo mesmo de fato, não
apenas o parafraseado formal e funcional do status contemporâneo de um mesmo
gesto que acompanha servilmente o que querem impor, seja ela a arte utilitária
dos dias atuais e suas tendências globalizantes, dentro da integração lógica de
objeto, não obra, não arte como expressão inequívoca de um indivíduo, ou seu
olhar de antena dentro de um outro qualquer estilo – necessário – para elucidar
os signos que deixamos ocultos mas que trabalham cada vez mais para valorizar a
mesma expressão.
Existirá
talvez uma sintaxe própria de cada cultura no construir artístico, certamente,
e a aceitação desse fato é que nos faz conhecedores do fluir das civilizações, ou
mesmo quando sabemos que há outras intocadas por aquelas que seguem o
pensamento ocidental, com berço europeu. Esse legado, como qualquer que seja
nas culturas e seus pensamentos dos povos do mundo, não pode ser negado. As
artes da Idade Média e posterior Renascimento estão erguidas. A bem dizer,
fruto da espoliação e saque de muito ouro e prata de outras culturas, mas não
se derruba o patrimônio histórico em qualquer que seja o território da arte. É
arte, quando manifestação do engenho humano grandioso, que surge em
contingenciamentos, a saber que, igualmente em França, havia na espoliação de
outros países, quando cidade luz da arte e literatura, na manutenção do
colonialismo nas terras da África. Parece-nos que em determinados períodos da
história econômica das regiões do planeta evitamos nos debruçar sobre aquilo
que desconhecemos, ou no processo histórico, ou no plano das ideias, a
filosofia, o que se pretende em conhecermos a terra sob nossos pés, para no
mínimo não pisarmos em falso. A arte torna-se esse significado: uma compreensão
motivada pelo mundo, sua história, suas técnicas, suas pinturas, sua
necessidade... Isso diz respeito ao andamento quase de ritmo cifrado em moedas,
onde quem sabe um pouco mais da arte seja quase inevitavelmente incompreendido
pelos contemporâneos, mas que não denote falta pois as vantagens de eras em mutações
tecnológicas é a migração em que se pode valer um artista mais versátil na
descoberta de outras modalidades de expressão. Não que não seja importante
estar na mutabilidade dos processos, pois muitas vezes esses gadgets se transformam em repetições
onde só alguma cosmética faz prosperar a curiosidade em funcionar melhor o
consumo. Disto que dizemos da arte, pois o consumo desta se manifesta em dias
de games, em selfies comuns, em
telenovelas, na ilustração de uma farsa, na comunicação que muitas vezes se
perde entre as gentes, posto nos esquecermos que uma boa leitura ativa mais um
comportamento de sobriedade intelectual. Se lemos um parágrafo, podemos reler o
mesmo diversas vezes, ao tornarmos nossa compreensão dentro do mesmo
significado, ou bebermos da beleza estilística de uma metáfora em sua poética
narrativa.
Se tanto é
da arte, pontuaremos grandes somas de investimento vital quando acreditarmos na
sua potência. Esta inflama aos olhos que a saibam ver, recria o olhar, desperta
ao nosso mais íntimo conhecimento os padrões inequívocos da percepção, e
reitera ao conhecimento de nossas histórias o espelhamento sereno da cultura.
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