segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

O CONSTRUIR DA ARTE

          É delicada a questão da arte, não apenas como representação simbólica, mas igualmente no caminho que nos leva à sua compreensão. Mesmo com tudo o que representam as inovações tecnológicas, há que fazer-nos crer que os pincéis e o contato com a tinta não é revisionismo, posto necessidade do conhecimento dos materiais que nos levem ao construir daquela. A vida da arte é independente, prossegue com todas as suas linguagens, torna-se hoje possível uma publicação de poesia, uma tela compartilhada, a maravilha relativa das conquistas da ciência, no entanto com a tendência da efemeridade como fator causal de nosso tempo, nessa contemporaneidade um tanto absurda em termos existenciais. Se por um lado admiramos os estilos artísticos no decorrer dos séculos, haveremos de fazer a arte ressurgir ainda em seus antigos materiais de estudo, repito, pois esta é uma sintaxe que jamais abandonará as culturas dos povos.
          Há algo de tradição na arte, posto o sincronismo com os anos leva a acreditarmos sempre que temos que fazer diferente, que o olhar muda tanto quanto nós pretendemos mudar nossos corpos, mas a mão é mão sempre, e desta é o meio e a manufatura do fazer artístico, pois uma máquina que venha a auxiliar sempre possui um controlador, alguém que ao menos dê o start apertando botões. No entanto, haja vista a possibilidade na abertura de nossas percepções, a eletrônica e seus recursos transcendem o mito da tecnologia, vêm a auxiliar quando nossa postura é mais do que a passividade naquilo em que muitos querem que nos tornemos, quais peças que apenas respondem afirmativamente a tudo o que é imposto, mesmo que de maneira tão sutil que não adivinhemos... Devemos sim, manter-nos atentos sobre um bom uso da tecnologia e seus gadgets, mas que a arte transcenda nossos alicerces para algo de maior e mais factível, algo mesmo de fato, não apenas o parafraseado formal e funcional do status contemporâneo de um mesmo gesto que acompanha servilmente o que querem impor, seja ela a arte utilitária dos dias atuais e suas tendências globalizantes, dentro da integração lógica de objeto, não obra, não arte como expressão inequívoca de um indivíduo, ou seu olhar de antena dentro de um outro qualquer estilo – necessário – para elucidar os signos que deixamos ocultos mas que trabalham cada vez mais para valorizar a mesma expressão.
          Existirá talvez uma sintaxe própria de cada cultura no construir artístico, certamente, e a aceitação desse fato é que nos faz conhecedores do fluir das civilizações, ou mesmo quando sabemos que há outras intocadas por aquelas que seguem o pensamento ocidental, com berço europeu. Esse legado, como qualquer que seja nas culturas e seus pensamentos dos povos do mundo, não pode ser negado. As artes da Idade Média e posterior Renascimento estão erguidas. A bem dizer, fruto da espoliação e saque de muito ouro e prata de outras culturas, mas não se derruba o patrimônio histórico em qualquer que seja o território da arte. É arte, quando manifestação do engenho humano grandioso, que surge em contingenciamentos, a saber que, igualmente em França, havia na espoliação de outros países, quando cidade luz da arte e literatura, na manutenção do colonialismo nas terras da África. Parece-nos que em determinados períodos da história econômica das regiões do planeta evitamos nos debruçar sobre aquilo que desconhecemos, ou no processo histórico, ou no plano das ideias, a filosofia, o que se pretende em conhecermos a terra sob nossos pés, para no mínimo não pisarmos em falso. A arte torna-se esse significado: uma compreensão motivada pelo mundo, sua história, suas técnicas, suas pinturas, sua necessidade... Isso diz respeito ao andamento quase de ritmo cifrado em moedas, onde quem sabe um pouco mais da arte seja quase inevitavelmente incompreendido pelos contemporâneos, mas que não denote falta pois as vantagens de eras em mutações tecnológicas é a migração em que se pode valer um artista mais versátil na descoberta de outras modalidades de expressão. Não que não seja importante estar na mutabilidade dos processos, pois muitas vezes esses gadgets se transformam em repetições onde só alguma cosmética faz prosperar a curiosidade em funcionar melhor o consumo. Disto que dizemos da arte, pois o consumo desta se manifesta em dias de games, em selfies comuns, em telenovelas, na ilustração de uma farsa, na comunicação que muitas vezes se perde entre as gentes, posto nos esquecermos que uma boa leitura ativa mais um comportamento de sobriedade intelectual. Se lemos um parágrafo, podemos reler o mesmo diversas vezes, ao tornarmos nossa compreensão dentro do mesmo significado, ou bebermos da beleza estilística de uma metáfora em sua poética narrativa.
          Se tanto é da arte, pontuaremos grandes somas de investimento vital quando acreditarmos na sua potência. Esta inflama aos olhos que a saibam ver, recria o olhar, desperta ao nosso mais íntimo conhecimento os padrões inequívocos da percepção, e reitera ao conhecimento de nossas histórias o espelhamento sereno da cultura.

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