sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

A SUBSTÂNCIA DA ARTE

Digamos que a flor não seja a mesma na pincelada de nosso olhar
Como quando com o mesmo olhar beijamos a superfície do carinho...

Digamos que a vida nos flutue sem prumo, dentro do navio que somos,
E que no entanto não navegamos sozinhos, como quando pintamos um ato.

Quem sabe seríamos a bem dizer mais prósperos em nossas certezas
Quando um desenho retratasse o suficiente em seu leito branco.

Uma hora a arte vira um século, em outro minuto, não há mais,
A que um momento próprio e tentacular olhamos para tal sem saber
Se o gadget que temos em mãos vai nos dizer o que não sabemos
E que no entanto não sabemos que vamos prosseguir nada sabendo...

Mas que a arte não está nas mãos do homem, é apenas uma linguagem
Que pode residir na estrutura simples de um peixe, a se tornar arte
Quando sequer soubermos que este também é do mar, melhor que nós...

A um dito saberemos mais se Krsna nos aponta a direção dos ventos:
Aí sim, as velas enfunadas, e nos tornaremos seres da arte do ar.

A ver que uma poesia possa ser arte no vínculo que temos com ela
Quando nos apercebermos que a leitura vem da arte em sentir
Com a sensibilidade aflorada na primavera de todos os artistas!

Pois quem dera se a música apenas não fosse, mas continua sendo
No canto do pássaro a arte maior, pois suas presenças são ao vivo
E não pertencem à microfonia anódina de nenhum equipamento.

E prossegue um amor conjugal, e prossegue este como madhurya,
No que se não saiba é a grande espiritualidade de desposar a Deus
Com tudo o que significa outros que podem criticar por não crermos
A tudo aquilo que se nos impõem como o justo em prosseguir.

E a arte continua mesmo assim, um sacerdócio pois diz algo
A alguém que saiba o que se pode ler em que se lê tudo
A todos um benefício em que a sociedade do Brasil é arte em si.

Pois que leremos as melhores poesias, enquanto uma molécula de ar
Se mostrar desnuda ao poeta, enquanto o desenho for uma imagem,
Enquanto um arpejo no violão se torna um quase arremedo de blues.

Um vento renasce no coração de um artista, mesmo sabendo que o nada
Compõe melhor do que aquilo tudo de tintas que desperdiçamos para um tom
De pintura em que por vezes um tratado todo é menor que um grafite.

De sabermos da arte, que nos seja dada a singularidade de nossa expressão,
A que não caibamos na dimensão de querermos aventar a menor possibilidade
De que não existe arte, ou que um surrealista não possa dar um codinome
A toda uma produção que vem para encerrar o que não possui término...

Óh grilhão da consciência, ensina-nos a permanecer um tempo na arte
Para vermos que toda a arte estimada seja, e que a estimemos sempre,
Pois com a graça que nos deu a vida a arte permanece incólume
Quando percebemos apenas que haverá de vir uma cultura diferente.

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