segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

O CONSTRUIR DA ARTE

          É delicada a questão da arte, não apenas como representação simbólica, mas igualmente no caminho que nos leva à sua compreensão. Mesmo com tudo o que representam as inovações tecnológicas, há que fazer-nos crer que os pincéis e o contato com a tinta não é revisionismo, posto necessidade do conhecimento dos materiais que nos levem ao construir daquela. A vida da arte é independente, prossegue com todas as suas linguagens, torna-se hoje possível uma publicação de poesia, uma tela compartilhada, a maravilha relativa das conquistas da ciência, no entanto com a tendência da efemeridade como fator causal de nosso tempo, nessa contemporaneidade um tanto absurda em termos existenciais. Se por um lado admiramos os estilos artísticos no decorrer dos séculos, haveremos de fazer a arte ressurgir ainda em seus antigos materiais de estudo, repito, pois esta é uma sintaxe que jamais abandonará as culturas dos povos.
          Há algo de tradição na arte, posto o sincronismo com os anos leva a acreditarmos sempre que temos que fazer diferente, que o olhar muda tanto quanto nós pretendemos mudar nossos corpos, mas a mão é mão sempre, e desta é o meio e a manufatura do fazer artístico, pois uma máquina que venha a auxiliar sempre possui um controlador, alguém que ao menos dê o start apertando botões. No entanto, haja vista a possibilidade na abertura de nossas percepções, a eletrônica e seus recursos transcendem o mito da tecnologia, vêm a auxiliar quando nossa postura é mais do que a passividade naquilo em que muitos querem que nos tornemos, quais peças que apenas respondem afirmativamente a tudo o que é imposto, mesmo que de maneira tão sutil que não adivinhemos... Devemos sim, manter-nos atentos sobre um bom uso da tecnologia e seus gadgets, mas que a arte transcenda nossos alicerces para algo de maior e mais factível, algo mesmo de fato, não apenas o parafraseado formal e funcional do status contemporâneo de um mesmo gesto que acompanha servilmente o que querem impor, seja ela a arte utilitária dos dias atuais e suas tendências globalizantes, dentro da integração lógica de objeto, não obra, não arte como expressão inequívoca de um indivíduo, ou seu olhar de antena dentro de um outro qualquer estilo – necessário – para elucidar os signos que deixamos ocultos mas que trabalham cada vez mais para valorizar a mesma expressão.
          Existirá talvez uma sintaxe própria de cada cultura no construir artístico, certamente, e a aceitação desse fato é que nos faz conhecedores do fluir das civilizações, ou mesmo quando sabemos que há outras intocadas por aquelas que seguem o pensamento ocidental, com berço europeu. Esse legado, como qualquer que seja nas culturas e seus pensamentos dos povos do mundo, não pode ser negado. As artes da Idade Média e posterior Renascimento estão erguidas. A bem dizer, fruto da espoliação e saque de muito ouro e prata de outras culturas, mas não se derruba o patrimônio histórico em qualquer que seja o território da arte. É arte, quando manifestação do engenho humano grandioso, que surge em contingenciamentos, a saber que, igualmente em França, havia na espoliação de outros países, quando cidade luz da arte e literatura, na manutenção do colonialismo nas terras da África. Parece-nos que em determinados períodos da história econômica das regiões do planeta evitamos nos debruçar sobre aquilo que desconhecemos, ou no processo histórico, ou no plano das ideias, a filosofia, o que se pretende em conhecermos a terra sob nossos pés, para no mínimo não pisarmos em falso. A arte torna-se esse significado: uma compreensão motivada pelo mundo, sua história, suas técnicas, suas pinturas, sua necessidade... Isso diz respeito ao andamento quase de ritmo cifrado em moedas, onde quem sabe um pouco mais da arte seja quase inevitavelmente incompreendido pelos contemporâneos, mas que não denote falta pois as vantagens de eras em mutações tecnológicas é a migração em que se pode valer um artista mais versátil na descoberta de outras modalidades de expressão. Não que não seja importante estar na mutabilidade dos processos, pois muitas vezes esses gadgets se transformam em repetições onde só alguma cosmética faz prosperar a curiosidade em funcionar melhor o consumo. Disto que dizemos da arte, pois o consumo desta se manifesta em dias de games, em selfies comuns, em telenovelas, na ilustração de uma farsa, na comunicação que muitas vezes se perde entre as gentes, posto nos esquecermos que uma boa leitura ativa mais um comportamento de sobriedade intelectual. Se lemos um parágrafo, podemos reler o mesmo diversas vezes, ao tornarmos nossa compreensão dentro do mesmo significado, ou bebermos da beleza estilística de uma metáfora em sua poética narrativa.
          Se tanto é da arte, pontuaremos grandes somas de investimento vital quando acreditarmos na sua potência. Esta inflama aos olhos que a saibam ver, recria o olhar, desperta ao nosso mais íntimo conhecimento os padrões inequívocos da percepção, e reitera ao conhecimento de nossas histórias o espelhamento sereno da cultura.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

A SUBSTÂNCIA DA ARTE

Digamos que a flor não seja a mesma na pincelada de nosso olhar
Como quando com o mesmo olhar beijamos a superfície do carinho...

Digamos que a vida nos flutue sem prumo, dentro do navio que somos,
E que no entanto não navegamos sozinhos, como quando pintamos um ato.

Quem sabe seríamos a bem dizer mais prósperos em nossas certezas
Quando um desenho retratasse o suficiente em seu leito branco.

Uma hora a arte vira um século, em outro minuto, não há mais,
A que um momento próprio e tentacular olhamos para tal sem saber
Se o gadget que temos em mãos vai nos dizer o que não sabemos
E que no entanto não sabemos que vamos prosseguir nada sabendo...

Mas que a arte não está nas mãos do homem, é apenas uma linguagem
Que pode residir na estrutura simples de um peixe, a se tornar arte
Quando sequer soubermos que este também é do mar, melhor que nós...

A um dito saberemos mais se Krsna nos aponta a direção dos ventos:
Aí sim, as velas enfunadas, e nos tornaremos seres da arte do ar.

A ver que uma poesia possa ser arte no vínculo que temos com ela
Quando nos apercebermos que a leitura vem da arte em sentir
Com a sensibilidade aflorada na primavera de todos os artistas!

Pois quem dera se a música apenas não fosse, mas continua sendo
No canto do pássaro a arte maior, pois suas presenças são ao vivo
E não pertencem à microfonia anódina de nenhum equipamento.

E prossegue um amor conjugal, e prossegue este como madhurya,
No que se não saiba é a grande espiritualidade de desposar a Deus
Com tudo o que significa outros que podem criticar por não crermos
A tudo aquilo que se nos impõem como o justo em prosseguir.

E a arte continua mesmo assim, um sacerdócio pois diz algo
A alguém que saiba o que se pode ler em que se lê tudo
A todos um benefício em que a sociedade do Brasil é arte em si.

Pois que leremos as melhores poesias, enquanto uma molécula de ar
Se mostrar desnuda ao poeta, enquanto o desenho for uma imagem,
Enquanto um arpejo no violão se torna um quase arremedo de blues.

Um vento renasce no coração de um artista, mesmo sabendo que o nada
Compõe melhor do que aquilo tudo de tintas que desperdiçamos para um tom
De pintura em que por vezes um tratado todo é menor que um grafite.

De sabermos da arte, que nos seja dada a singularidade de nossa expressão,
A que não caibamos na dimensão de querermos aventar a menor possibilidade
De que não existe arte, ou que um surrealista não possa dar um codinome
A toda uma produção que vem para encerrar o que não possui término...

Óh grilhão da consciência, ensina-nos a permanecer um tempo na arte
Para vermos que toda a arte estimada seja, e que a estimemos sempre,
Pois com a graça que nos deu a vida a arte permanece incólume
Quando percebemos apenas que haverá de vir uma cultura diferente.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

EM PEQUENAS QUEDAS SAIBAMOS QUE APENAS ALGUNS BAMBUS VERGARAM E QUE A ÁRVORE FOI SEGURA PELA ROCHA.

QUE OS GUETOS SEJAM QUILOMBOS DE VITÓRIAS...

VINÍCIUS DE MORAES FOI O BRANCO MAIS NEGRO DO PAÍS. E HÁ QUEM NÃO O CONHEÇA.

O FASCISMO É FASCINANTE: DEIXA A GENTE IGNORANTE FASCINADA. (POETA BRASILEIRO)

UM HOMEM FALA A UMA MULHER E DIZ QUE SE GOSTE, É BOM, O AMOR, TUDO, NÃO NOS RESSINTAMOS, POR VEZES BASTA APENAS A PRESENÇA!

A ILHA É O QUE NOS TORNAMOS, E POR VEZES A PONTE NÃO LEVA AO FRACASSO, POIS TEMOS AS ORLAS COMO COMPANHEIRAS.

O QUE SE VÊ SE VÊ AGORA, O QUE SE VIU NÃO SE VERÁ JAMAIS, MESMO COM REGISTROS, POIS O SELF É APENAS UM OLHAR PARA O PEQUENO QUADRADO.

UM HOMEM VIVE, UMA PLANTA VIVE, UM ANIMAL VIVE, VIVAMOS E QUE TODOS LIBERTEM!

QUE SEJA DADA A LARGADA, VALEM OS HOMENS, VALEM AS MULHERES, DENTRO DO TESOURO DO BOM SENSO E À LINHA COERENTE...

O ATIVISMO RECORRE NA SUA RESISTÊNCIA E NA SUA LUTA, POR VEZES INDIGESTA.

A VITÓRIA DOS DEMOCRATAS NO EUA É A ÚNICA CHANCE DE ESTABILIZARMOS PARA MELHOR A PAZ MUNDIAL.

NA SALA AO LADO TODO UM IMPÉRIO CRITICA A CRIATIVIDADE...

SE É ABERTA UMA NOÇÃO DA COVARDIA, QUE FOTOGRAFEMOS A BRUTALIDADE COM O NOSSO VALIOSO OLHAR.

O PIOR DE TODOS POR VEZES É O MELHORZINHO DA EQUIPE.

ESQUEÇAM DE TENTAR LIBERTAR-ME, POIS DISSO EU MESMO CUIDO.

NUNCA AJUDE UMA LAGARTA A ENCONTRAR O LUGAR DE SEU RENASCIMENTO, POIS ELA SABE COMO FAZÊ-LO.

O PIOR ALGOZ É AQUELE QUE PERSEGUE OS PACIFICADORES.

VER O PESO DE UM GESTO BRUTAL É COMO ESQUECERMOS DE UM GALHO QUEBRADO ONDE RESIDE UMA SERPENTE...

A NOS ADMITIRMOS UM QUASE DE ADULTOS, PASSAMOS A VER UM MUNDO ASSOLADO, E NESSA DE NÃO NOS APERCEBERMOS MADUROS, IGNORAMOS QUE FAZEMOS TODOS PARTE DELE.

PREFÁCIO DE TEMA QUALQUER

            Qualquer escrita é algo que dita uma norma de tema a ser descoberto na semântica das linhas. Pode versar sobre complexidades ou recorrências de outros versos, ou mesmo aos parágrafos que se concatenam em profusão natural. Assim pode ser o de se escrever e prefaciar os modos da paródia: vêm a enriquecer os diversos significados que por vezes ignoramos. Seria um tema como o mar – imenso – em seu ser de ondas, seus rugidos milenares ou suas rochas silenciosas na calmaria, quando pousadas na vastidão daquele. A se observar, sintamos que cada onda e seus múltiplos fragmentos ajudam na compreensão da latitude espiritual dos mundos. Pois ao que vos escreve, em sua própria crença, sabe que inumeráveis são as compreensões da Criação. Dos troncos que emergem com suas fibras no quebra-mar, de uma Natureza toda da matéria saberíamos que prefaciar uma amostragem literária do todo infinito enquanto percepção sensorial finita. Quando a finitude percebe-se na amplidão das diferenças circunstanciais...
            Mais uma linha sempre remonta que saibamos de palavras e suas conexões com o verbo, a que não se caia no erro de acharmos que a gravidade seja a última resposta! Newton fez o avião voar, Deus fez as aves nascerem do voo da Natureza, e alguns poetas nasceram no mesmo átimo enquanto se fez de um coral ultramar brotar uma vaga e sua superfície de cristal. Assim é o próprio prefácio existencial de um imenso livro chamado vida espiritual.
            Na relação com a Natureza das ideias surge uma questão que remete ao entendimento desse universo, pontuado pela luz e versado sobre o conhecimento.
            Em simples tangentes desses significados existe o mais que sentimos, na veia circunspecta da vida, na solidão perpétua e por vezes necessária de um homem e sua próprias vagas de consentimento. Que não se remeta que ele seja do povo, pois seria apenas suficiente afirmar que o seja de uma crisálida, posto nascente é o sol dele mesmo, e que não se ressintam quaisquer, justo a Natureza ser a sua eterna – não perpétua – companheira! Pode ser que seja um tipo de soldado, mas com a mira infalível em sua arma: o conhecimento... Resguardem-se algumas religiões, pois, para alguns, Gibran e Prabhupada bastam para se compreender o mundo espiritual em todas as latitudes que nos tornam histórias de nós mesmos, que somos tão importantes quanto as rochas no mar que abrigam em seus côvados de alimentos a fartura dos peixes. Seria maravilhoso pensarmos um pouco a respeito não mais do que nos ensinamos repetidamente, mas do que farta e infinitamente nos ensina a Terra e sua Natureza. Isso se pontifica, é fato, recicla nossas consciências, ausente de indústrias, sem a carência do simples prazer mundano, já que tudo o que pensamos a respeito carece da humildade necessária a que reflitamos um pouco mais, dentro do que nos espera quando, mesmo limitados em nossas fronteiras existenciais, podemos contemplar a vida que se abre livre, o mesmo comer de um alimento quando sinceramente o oferecemos a Krsna. O homem que vive nessa latitude pode se realizar plenamente. Apesar de tudo, todos passamos por dificuldades, e há aqueles em que a vida tem uma aparência de desastre, mas é uma impressão inequívoca de estarem tendo como referências únicas as pretensas e ilusórias certezas, o que denota uma vida apartada de algo que não é apenas o uno, mas a reunião de todo o Universo, pois sabemos em sua inclusão das luzes que as estrelas existem em nossos céus, visto estarem presentes na companhia do fletir de nosso olhar ou, na ausência deste, em uma poesia recitada a um cego.
            Assim demos por letras as letras que garantam o que serve, quem sabe, a proposições mais verdadeiras ou, quem dera, diminuir a intransigência daqueles que capitulam na mesquinharia de suas contendas por eles tornadas insolúveis, ou ao modo em não saber lidar com a própria covardia a que, saibamos, vem de uma gente talhada a ferro na ignorância monolítica, apesar de lauréis acadêmicos ou virtudes quase sempre forjadas, quando pautam-se pelo egoísmo.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

QUANDO OLHAMOS A NÓS MESMOS

            Parece-nos que não estamos muito afeitos à nossa condição humana, quando pensamos nas derrotas em que nossa espécie pretendeu supor que imporia à Natureza, e que esta reage frente às mesmas conquistas que reiteram nossas noções a bem dizer ainda no cartesianismo que revoga uma visão mais abrangente de nossas sociedades e a relação com o nosso entorno, quase de uma apropriação ainda tão súbita que sequer saberemos como nos portar com o resultado de nossos atos. Quem sabe haja uma razão distorcida a respeito dessa relação com algo que é uno, total, em luta com nosso portar fragmentário de prospecção e exploração desenfreada. Não nos olhamos com os olhos da crítica assaz necessária para evitar a recorrência brutal de erros em vários modais de nossas particularidades e existências. Quando pensamos no que deva ser real, por vezes incorremos no erro de crer que os nossos desejos possam pontuar ou justificar esses atos contra a Natureza. Exemplifica-se o consumo como objeto do egotismo, como platô que dê um motivo, um consumo inescrupuloso, em que o motivo não passa do hedonismo em adquirir, obter e processar, dentro da modalidade ou limitação de cada qual, no trato da coisificação de tornar objetos as nossas relações com os gadgets. A arte passa a ser condição subalterna frente à miríade da fantasia que nubla como fruto de uma indústria de linguagens muito aproximadas em suas sintaxes. Quando revisitamos os conceitos da indústria que fala à tecnologia, podemos extrair seus recursos, mas que sejam renováveis em nossa consciência, no que esta mande a que sejamos coerentes em manter o máximo de aproveitamento dentro do mínimo de riscos de qualquer ordem. Como quando fazemos uma autoanálise, uma introspecção profunda com relação à nossa atitude perante o que nos cerca, ou melhor, o entorno, mesmo que este diste na profundidade de alcance de uma informação ou ação tecnológica que, saibamos, por vezes fazem parte intrínseca do modo de vida societária contemporânea. Essas questões nos mostram que fazemos parte de uma vida que seja, que as folhas de uma árvore pertencem ao nosso mundo, ou melhor, que ambos nos pertencemos, quais as formigas que certamente estão fazendo a sua parte na vida em que levam, nos seus trabalhos, se soubermos que até os átomos compõem igualmente o todo que obrigatoriamente nos faz tomar ciência quando, creiamos, tomamos como oportunidade para a qual. Não nos desviemos dessas assertivas, posto ciência, e desconhecemos o fim do mundo das formigas, já que estas começaram um pouco mais cedo pela Terra... Um tempo razoável nos separa enquanto seres que nos visitamos a cada qual, na mesma espécie que seja, de humanos a hipócritas, de desavenças a uma paz que teimamos em negar, posto estarmos negando a certa condição à qual humildemente devemos nos colocar.
            Teremos uma vez a qualquer momento visitarmos o que chamamos de fé, olharmos para dentro de questões mais duras em relação às nossas vidas e sentirmos quando a fé de uma montanha chegue a ser maior do que a nossa, pois aquela é mais importante do que nossas vidas, assim, do modo como nos colocamos perante tudo que comporta os direitos das espécies outras em viver como pulsa a vida de cada qual. Essa é uma visita importante, e a partir daí estaremos nos vendo como espelhamento sereno da própria Criação: a garrafa plástica no mar se torna aberrativa, o óleo fora do motor mostra a sua única existência funcional, e o vidro torna-se vidro, e as fezes, energia renovável, quando tudo de uma ciência madura na dura empreitada de se reorganizar as frentes de preservação do planeta.
            A história da vida deve ser contada, em suas minúcias, em nossos sacrifícios e penitências, pois deixar de lado uma certeza cabal e olhar para a frente com outra luminar faz até mesmo – ao invés de uma montanha movendo-se – um saneamento verdadeiro e competente existir, não apenas como meta, mas como fato concreto, realizado, pensado e administrado. Não é mais uma questão territorial, nacional, de estado, prefeitura. Passa a ser um debate mais amplo do que jamais houve: aquele de questionarmos a própria existência dos processos que admitem erros crassos com base em interpretações em que sempre se cogita que a grande faculdade humana é o erro. Tudo bem, devemos aprender com o que não sabemos, mas errar sabendo de nossas certezas sobre as soluções coerentes com a recuperação da vida do mundo é apenas acreditarmos que este tem que acabar por determinação religiosa ou qualquer interpretação equivocada sobre o que é a salvação terrena. A começar, ergamos os braços para que possamos trabalhar para a recuperação de nossas casas, para dar um exemplo mais prático, trilhemos os caminhos da solidariedade, compartilhemos boas ideias, dialoguemos sobre o que nos importe em bom caminho. Enfim, descubramos que um texto inteiro não possui panorama ideológico, pois não há tradução nefasta que nos impeça de construir um mundo melhor e mais saneado.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

UM ANÔNIMO

         Saíra como sempre, a esmo, a que muitos o condenassem por nada fazer, como se fora apenas um passeio em hora de trabalho, na grande metrópole, a que não saberíamos dizer nem hora, nem lugar e quem fosse a personagem. Era um homem apenas, e suas vicissitudes o encerravam em um lugar comum, no anonimato daqueles que se deixam vencer, capitulados, por um nexo inexistente, por uma fração de um tempo do não ser... Não seria levado à sério jamais: portanto, como se não bastasse, a sua tragédia não havia o suficiente a gerar bons humores, mas que o oposto se sucedia. Não tinha tatos de desconfiança, mesmo à distância e sem toques maiores, mas resguardava o espaço como em um pássaro que pousa em uma rocha dando lugar ao próximo, quando sentava a um balcão qualquer, à procura de um alimento. Bons sonhos nada teriam dito a ele, posto não sonhar acordado, e nem nos segundos que o alimentavam em vigílias. Sabia-se que era esquisito, tardiamente, como quem tenta pescar com as mãos e ainda consegue algo, nem que seja um molusco, solto na posteridade ao mar. Seu consentimento não era propriamente algo que lhe trouxesse sombras, mas algo recrudescia em seu imo no momento em que houvesse de trazer palavras à tona de se merecer um bom pensar. Uma vida que fosse, passando despercebida em meio ao oceano sem causas nem merecimentos e, no seu caso, apenas a devoção como padrão inquebrantável, a que não convenceria, quiçá apenas pelo exemplo de seus atos, menores no entanto que o rumor de um cântaro que se fende por vezes por encima, a deixar água sob suas cicatrizes. Seu encontro na semana passada fora com alguns insetos, mas propriamente uma lagarta que ajudar a subir na parede para a crisálida, para o renascer, como um padrão de vida de respeito a se ver nesta a razão de prosseguir. A vida em si, como ela é, sem a pressuposição de que encerre em si mesma as intenções de não sermos enquanto seres com seus modos de pensar algo que não possa o não pensar, posto não existirmos apenas no pensamento.
         No grande filme da vida, daquela outra, aliás, que são tantas, o homem participava como coadjuvante: de uma tela a outra, de outras rochas ao mar, a um barco que singra mas que o homem não navegue tanto, posto que na natação perdia para aquele de baía... Nada no filme daria nexos lineares, pois sua condição era de reerguer castelos imaginários e invisíveis a quem perscruta com um olhar mais atento. E não havia ordem nos filmes, apenas registros necessários mas sintomaticamente amadores. A crise do cinema já mostrava seus sinais em alguns lugares, mas o homem só via seriados, no sem tempo de sua particular história, visto que passasse metade do seu tempo organizando seus objetos, suas canetas, seus papéis, livros, pincéis, tintas. Aliás, a arte o tornara assim: anônimo. Em virtude de circunstâncias que consubstanciava sua existência no fazer artístico, em pensar na arte, e em respirá-la com a um ar de alento vital, na vida de suas moléculas que o faziam crer mais e mais – igualmente – em ciência. A voz inexistente em sua concretude, sua falta de amigos, sua busca insana trazia para a arte algo de um conforto sem par, na boa alienação. Que sua produção nada significasse para o mercado, disto sabia, mas que apenas era um meio de realização inequívoca de um parte de si que respirava o alento mais próximo da Europa, conforme sua eterna formação de estudante. Um estudante igualmente perpétuo, em um tipo de condenação que o ensinava em uma vida de sacrifícios que o levava a contentar-se meramente com uma caneta e um papel, como um caminho paulatino criado em direção à liberdade. Como a liberdade em ser um próprio caminho, como crer que na relação dos homens com a matéria por vezes a mesma liberdade é relativa, posto escravos das adições. Não daria jamais a haver um controle nas relações entre viventes, mesmo porque estas não necessitam dele. Bastasse apenas regular canais, para que estes não inserissem em suas mentes certas brutalidades da forja da intolerância, do preconceito, e da violência bárbara, gratuita e externa, ao país de nossa personagem. O homem voltava-se para a arte. Muitos trabalhavam fora dela, nua e cruamente, com suas dificuldades, a tanto que a quase todos os do trabalho seguiam veredas honestas, e outros optavam pela condenação. Se os tempos eram espúrios, pensava ele, a troco de muito esforço muitos se sacrificavam para trazer a tranquilidade para os lares e suas famílias, para as escolas, para os trabalhadores. Viviam assim muitos os anônimos dos lugares, das cidades, dos campos. Pois sim, que ao menos melhorassem suas vidas esses milhões de homens e mulheres trabalhadores que dentro do anonimato da existência ainda encontravam o tempo para tentar construir uma sociedade cada vez mais livre.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

UM DIA QUE FOSSE

         Que tantas Marianas fossem naquelas tardes de verão... Não saberia muito José, pois seu coração abarcava apenas um tanto de amores: uma rosa fincada em um pequeno jardim na costa daquela praia prometendo ser planta, mas apenas uma lembrança, de murchar, de não construir muito. Um punhado de areia que lembrasse algo de Médio Oriente, o barco silencioso que buscava algo entre as pedras, o suposto romantismo já quase não existente, o apelo ou mais de se crer que houvesse, sem as malhas, sem as tramas, com a rede de nylon, que fosse, sem tecedores mais complexos. José nunca saberia, pois a traição o sabia mais de seu repertório algo tosco, e que escreveria ao longo de suas décadas seu ofício de relojoeiro. Nas minúcias de seus tempos, no recrudescimento atávico de suas horas, em segundo incontáveis, no trato com a mecânica, naqueles tempos que evanesciam auroras sem nunca começarem dias, estas.
O ofício não o largava de um sem tempo, e a corrida sem esse mesmo tempo era de uma nobreza sem par, de ser nobre ao optar pelos pobres... Essa nobreza de cunho quase religioso, ao que o chamassem de louco por ser dádiva a sua vida, e para ele significava justamente isso: a dádiva, propriamente, e a própria loucura que já fazia a sua parte de existir, em que não haveria mais companheiras em sua vida, a querer, que se não bastasse já não queria José, estava livre, de uma liberdade diamantina, que preservaria cada nicho, cada seixo de seus jardins, com a familiaridade nas rochas do mar, ao que as pedras seriam das pedras. Nunca com muito conforto, e fumando seus cigarros sem saber que a vida era quase um palco que girava em falso, os atores se sucedendo, uns com esperanças pétreas dos saberes, outros que não procuravam saber, e dos contatos quase saberiam de esperanças de se falsamente ter alguém, naqueles tempos em que produzir a carne era quase de uma indústria absurda...
         Esse era seu próprio absurdo, e Mariana já havia escolhido dos seus, não propriamente que gostasse, mas José era louco. Assim, da loucura, em que suas vestes denotavam algo de behaviorismo arcaico, do ser autêntico enquanto excêntrico, de fazer de sua vida algo mais do que a arte em viver, posto a vida ela mesma não o esperava em qualquer lugar, mas a sua condição o esperava em cada manhã, em cada genuflexão de sofrimento, ao que outros não saberiam, posto o carnaval daquele fevereiro ter sido tão pungente que outros mares haviam cavado costões durante os milênios daqueles mesmos carnavais de outrora, e o significado disso remontasse uma festa em que as multidões se refestelavam do que era muito, mas a José seria menos que o mínimo, posto dormir às dez, quando de noite imediatamente anterior naquela quinta-feira, cometera o pecado de conversar quase até as onze com uma amiga. Não que as tivesse muitas, mas compreendia ao menos que o ser é mais que o nada, e não importava a ele qual era o ser, pois no nada consertava seus relógios, que de relojoaria fosse para ele o discurso de outros relógios, quiçá mais inteligentes, quiçá os melhores tecnologicamente, quiçá de baterias igualmente inteligentes, e o GPS, que José nem imaginava... Outras as horas em que o caudal tecnológico da era embromaria o tempo tão cáustico de querer pertencer a ele inequivocamente com o sal algo amargo da tentativa.
Mariana era uma amiga silenciosa por vezes, mas carregava em si uma grande, extensa existência na idiossincrasia que a José parecia um não encaixe, uma não arquitetura, um grande martelo que quebraria sua coluna erigida há muito, posto uma horizontalidade na atitude que lembrava um excesso de altruísmo, um orgulho de ego cristalizado, uma forma inequívoca de se amar demais, além da conta necessária. Não que se fosse proposta limitação, mas que o amor sempre é melhor quando compartido, ao menos. Quem seria apto a um tipo de censor, ou a um senso que fosse, quase nada a ver com tudo isso de se crer que o amor se construiria, posto naquela era uma semântica discreta com redomas de cristal e chumbo, entrelaçados com menos terra e mais aço, posto que o tijolo sempre falara mais alto aos obreiros, quando se ergue uma casa no perfil maravilhoso de ser mais uma vivenda...
         A redoma dos sentimentos de José não era muito extensa à visão, mas era o céu no que se pretendesse em uma grande cidade menor, à vista do sky line, e do litoral, o infinito do mar e suas montanhas, das rochas, se tornando maior na extensão própria que gostava ele, adorava, era de sua escolha. Certamente um pouco maior do que a tela de um display comandado pelas redes. Mas que abraçassem a cada qual, cada um era da extensão de seu abraço. Nada parecido de mais brutal era a assertiva de muitos em que criam que a vida era encerrada em um quadrado, mas que este nunca revelava realmente a distância entre o usuário e o que havia do outro lado: se era peça, se era peão, se era o rei ou a rainha. Pois se fossem o toque e o sexo era feito com os botões e suas promessas, a cada homem ou mulher, a cada palavra, a cada emoticon. Sanders Peirce acertara em cheio, pois a lógica transmutava-se em semiótica, no entanto reerguia-se aquela soberana, usando como alfombra as lições de imposição, os tratados finais, as derradeiras conclusões científicas.
Tratava-se da Natureza que rompia o rumor da interpretação dos ícones e índices, e os símbolos perdiam-se frente aos desastres. A cada galho rompido gritava a Natureza, a cada óleo vazado esta recrudescia o degelo, a cada bomba lançada mostrava as cicatrizes de geadas profundas no campo, a cada orgia decadente ela mostrava o seu perfil inquieto de deusa: a própria Kali, acentuada! Assim seria um mundo onde não adiantaria mostrar uma obra de arte, pois que esta sofria atentados igualmente, à socapa, aos golpes, à covardia do significado dos atos, da tradução de palavras. A arte já havia com equipes treinadas, os que despejavam matrizes quânticas sequer ignoravam que o corpo que tergiversa com as cordas mal sabe da terra, e muitas vezes é o inseto que a lavra, à sua maneira, sem quantificar.
O amor era jogado com jogos de morte, onde quem mata encontra a consagração de saber fazê-lo, pois o trauma que não sente ao tirar uma vida o faz herói, amparado em um testamento assaz antigo, que alicerça a guerra, que faz da diásporas de vinganças que afirmam históricas justifiquem os muros e a brutalidade. O mal se consubstancia baseado em escrituras, fazendo-se pequenas hecatombes diárias, onde a vida passa a ser banalizada como um abate cruento. Desse modo era um dia que fosse um dia, e um beijo seria raro, mas tão raro que desse para não se espelhar em uma novela, em um interesse de finanças tardias e ignorantes, e um aspecto de um louco condenado, como a um escravo que é visitado pela mulher adúltera, como um preso que defeca em um saco plástico e o joga além da sua cela, através do respiro de um pequeno quadrado. Seria bom não pensar, mas nada seria tão brutal como um século que haveria por definir a paz, por regrar os dias melhores, não para um combate insano por um nada, um jogo de poderes, um excesso de zelo em primar pela hipocrisia, um sonho abortado. Estas deveriam ser palavras, quando contestamos, quiçá, um próprio respiro que tenhamos esperanças, pois que o mundo se transmuta, há lugares onde nem todo o juízo final é aplicado cirurgicamente por estudiosos desse status, onde se possa falar da Paz, e que esta venha revisitando sua irmã Natureza. Duas entidades lindas, que podem ser moléculas que nos cercam para nos beijar com suas pétalas de flores, fazendo-nos esquecer daquelas de chumbo ou urânio.
São essas gentes que não precisem se arrastar por trincheiras, não precisam se cercar pela vontade de um tirano, que possam eleger um homem mais democrata, que não se ressintam tanto, meu Deus, se as suas vontades de aquisição não forem acertadas pelos seus ganhos, se os ganhos superlativos de muitos que queimam navios de óleo fossem repartidos com as tentativas de equacionar melhor os problemas do planeta.
Essas queimas que nos tornam expressos de outros quinhões, em que não participamos, a não ser em nossas corporações gigantescas, em cartéis que não ajudam a reduzir danos, mas os causam, das químicas dantescas que tornam lentas as recuperações das humanidades. Falemos assim, por suposto, que estejamos cientes que tudo é fruto do ser humano, das farsas e tudo o mais, que um quando se retrai pode ser por covardia ou mesmo antes porque conhece a natureza de um molusco e aprendeu com ele. Talvez voe em outras horas, e talvez aprenda bem mais com tudo, do que o que não se retrai e parte para a invectiva, a investida, a covardia, esta sim, covarde, pois guarda no poder a sua pretensa razão, mesmo quando do injusto, o que capitula a própria noção do sensato proceder.
Pensemos muito antes de muitas investidas, pois que não nos tornemos piores do que não sabemos que seríamos, assim quando, se faz em horas de trevas. Nessas defensivas de outros dias, o que nos espera, se muitos querem fazer crer abertamente que treinarem submissamente nas suas próprias fobias ilusórias e no entanto contagiantes, os farão classicamente mais preparados, o que vem a despreparar por vezes a importantíssima tolerância, esta uma faculdade que encerra em si mesma grandes luzes existenciais.
         Era um dia largado, que fosse, e Mariana revolvia muito o coração de José, que este se supunha encharcado de uma verdade, de – aliás – quase toda a verdade que podia supor, dentro de seu pobre consentimento, que se aparvalhava, e ela como cimento forte, amalgamando, quebrando seus tijolos, em que aquele esperava amálgama, mas encontrava a frieza do concreto.
Não mais resolvera esperar algo, pois, por um dia que fosse, talvez pensasse em dormir mais tarde, um dia, talvez roçar suas pernas, num bamboleio, nas pernas dela, que gostaria, que havia sonhado, que pecara em lembranças, que quisera tomar voto de sanyasi. Não bastasse isso, que apenas sorria, pois o seu sorriso era de ofício: seu modal, seu lócus. Encontrava Mariana sempre a projetar seus cabelos para uma frente sem muitos espaços, uma franja, meio moicana, meio indígena, com fitas que desciam aos ombros fartos, as roupas de um cobre, de um laranja ao musgo nos detalhes que sobressaíam, outras vezes como que em um luto, com tranças ruivas queimando a coloração mais discreta: os terras, os sienas, a floresta. Maria e Ana, mãe e avó do Cristo, duplamente Mariana, e a José o nome era sua paixão...

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

DO QUE PODE SER QUE UM HOMEM SEJA RARO, MAS DEIXA RASTROS EM BONS SERES, COMO AS ONDAS DE UM MAR DE UMA ANTIGA ILHA.

A SE GOSTAR DE UMA COMPANHEIRA, QUE ESTA O SEJA EM QUALQUER CIRCUNSTÂNCIA, POIS AMAR AINDA É O MAIOR VERBO.

QUE SEJA, POR FAVOR AOS QUE SE OPÕE, UM DIA TRANSPARENTE E TÉPIDO POUSADO SOBRE A VERDADE.

A MENOR DISTÂNCIA QUE LEVA UM HOMEM AO SEU IDEAL É UMA VEREDA CRISTALINA E SEM MEDIDAS...

OS DIAS SERÃO MELHORES, COMPADRES, PODEM CRER!

O BLUES EM SUAS NOTAS DE ACENSÃO É COMO UMA DEMOCRACIA QUE SE COMPARTE NA PARTICIPAÇÃO HORIZONTAL.

ASSIM, DE SE CONCLUIR UMA VIVENDA MAL SABEM OS OPERÁRIOS QUE ERGUEM OS TETOS DAS GENTES...

PENSEMOS QUE O QUE MERECEMOS É PROPRIEDADE ÚNICA DE NOSSO ESFORÇO.

A LETRA PODE PROSSEGUIR...

Uma letra, a voz, em que não pese o silêncio,
Pois outra se antepõe, em ocaso onde o Sol
Não abriu suas pestanas a que se comece o Dia!

Outra, a letra consonante, que seja, nos consome
Com outra página silenciosa de rumores
Em que comemos de outro arroz que não seja
Apenas a oliveira e seu fruto na conserva de sal
Onde apanhamos um quinhão em Terra consentida.

Que o outono se pronuncie tal como o Sol
Que botamos na distância entre os pontos da Lua
Enquanto não se encontrem, mas o brilho
Com o brilho da Estrela é de luz intensa
A que se completem os três na mesma Natureza!

E a um pássaro que nos sobrevoe o Mar,
Ditamos regras marinhas no espaço de vidas
Onde sequer sabemos onde reside o sal
Que verto na superfície desnuda de meus olhos.

REPITAMOS OS QUE PADECEMOS: QUERO ESTAR LÚCIDO PARA SACAR MINHA LOUCURA.

PASMEM, ENQUANTO AS LETRAS SURGEM COM O SOL, OS ABUTRES FOGEM POR DENTRO DE SUAS TREVAS.

QUE SEJA, A ESCRITA DE UM LOUCO ENCONTRA O ÁLIBI DE SUA INOCÊNCIA NA VERDADE DE SUA LOUCURA...

RETIREMOS RAPIDAMENTE NOSSOS PÉS DA ÁGUA PARA BOTAR OUTRAS EM NOSSOS PÉS!

UM VERSO É UM VERSO, NEM QUE O FOSSE EM UMA PROPOSIÇÃO DE COLO DE ÚTERO INTACTO POR DIREITO.

O APARENTE ENGAJAMENTO POR VEZES É UNICAMENTE A PREOCUPAÇÃO DE UMA VIDA REPLETA DO OURO DOS OUTROS.

A VIDA NÃO É SEMPRE VAZIA POSTO NEM SEMPRE A TORNAMOS CHEIA COM O NADA EM QUE NOS SITUAMOS.

A PONTE QUE DEGENERA POR NEGLIGÊNCIA É A INCAPACIDADE DE SERMOS CONTINENTE E ILHA, DENTRO DO DESCASO DE NOSSAS COVARDIAS.

A NORMALIDADE ACEITA POR VEZES É A DEMÊNCIA DO CONSENTIMENTO DAS TRAGÉDIAS...

AS LETRAS SÃO O PRÓPRIO SIGNIFICADO DO CONSENTIMENTO DE CADA UM EM PROSSEGUIR CONHECENDO E SE EXPRESSANDO.

UM SONHO SOB ESFERAS

         Partimos de algo que nos separa do todo lógico, do entre pensar, da quimera em termos daquilo que sabemos tão “legal” como “surreal”. Como um ovo que pensasse: qual seria o ovo, de lagarto, serpente, ave, um genoma em forma de concha não, que este não existe em seus termos mais gerais. Questões de conhecimento perceptivo, pois enquanto não encontrarmos a resposta nos ventos, como dizia Johannes Mario Simmel, não haverá a crise de consciência de ordens continentais, a que pese que não há mais o pró, e sequer o contra. Não há um movimento que não nos dite um proceder à altura do planeta: a Zica é peste, vivemos o princípio das pestes, e não há sequer – quando estamos distante de uma América Latina maravilhosa - a paz de que a humanidade tanto necessita!
         Passemos a sonhar, no entanto, pois este sonho em vida não cessa. Sonhemos encontrar dificuldades, tentemos tatear um continente de nós mesmos, que possivelmente sairemos conscientemente da gigantesca parafernália ilusória onde muitos por ventura enterraram suas botas, seus chinelos, ou correram demais sobre o negro asfalto, dono de derradeiras fortunas. Nada mais faria tanta diferença quanto essa coisificada máquina em que enfeixam hipócrita e vulgarmente a face das sociedades... Tanto a se dizer, que nós mesmos saberíamos mais de algo que nos nuble, mas teremos um tempo algo continental, se pensarmos em uma haste de gramínea como um princípio banal, mas importante.
         Do princípio ao que verbalmente estaremos mais inseridos mesmo que em valores sejamos relativos nos modos escalares. A relação depende do meio em que nos encontremos, a saber, que a ação de um homem ou um animal corre no relativo de quaisquer espécies, mesmo sabendo que aquelas superpopulosas enfrentam a crise, o stress e por vezes os resultados de equações assaz raras e desconhecidas ao vulgo que ignora e que pressente vários tipos de passagens.

domingo, 14 de fevereiro de 2016

O ORIENTE É POR NÓS DISTANCIADO, QUANDO POR VEZES NEGAMOS A APROXIMAÇÃO DELES ORIENTADA.

TEMOS UM INFINITO A SE CONHECER NAQUILO QUE DEVERAS ACHAMOS QUE CONHECEMOS...

O BURACO NEGRO DE EINSTEIN É O SONHO E A PRETENSÃO DE FUGIRMOS DO TEMPO.

A CADA PASSO QUE DAMOS DEVEMOS RECORDAR AQUELES EM FALSO, DOS ERROS ESQUECIDOS...

O FRUTO MADURO DO CONHECIMENTO POSSUI LINHAS A SER LIDAS POR SÉCULOS.

ESTARMOS EM UMA DERIVA EXISTENCIAL NÃO SIGNIFICA ESTARMOS FORA DO MAR...

ARQUITETURA DE HISTÓRIA

Um domo se retrai sobre colunas de alabastro
No que não pretendemos a se erigir, que sejam o concreto
De outra arquitetura, a saber que uma base quase oval
Traduz um crescer de um orgânico a alicerçar ferramentas...

De tijolos, o barro, uma casa de barro, que seja o barro maciço
Como uma montanha e suas amarrações de rochas
Em que o aço ergue, e saibamos que o ferro é material sagrado!

Cada semente de pedrisco a se armar o cimento é sombra
Que se torna gesto, sombra de autoria do obreiro
Que se faz luz na verticalização de sua obra...

A pequena janela onde entra a luz e a brisa ressente-se
Se ao norte não lhe for concedido o sol, posto um quarto
Do que seriam as peças da casa, caso o consentimento construa.

A sabermos que uma luz da lua é suficiente para que tenhamos
Um nascente mais próprio entre o que vemos de estrelas
E as chuvas que tendem a amalgamar estruturas.

E quando uma vivenda vem a despontar nua e solene
Nos cristais de uma rica proposta quando pesponta honesta
A vida de uma família torna-se rica posto situada,
Mesmo quando saibamos que a propriedade é convencionada.

As águas vêm de um ninho para outro, como um canavial
Em que as colheitas erguem de braços pátrios o esforço
A que seja merecido o necessário e suposto quinhão de cada.

Que a água chegue encanada, nos rincões do país
Onde São Francisco caudaloso nos refira menos misérias.

Assim de vermos que a arquitetura seja um piloti a mais
Dentro de cada proposição – mesmo sistêmica –
Em que as naves de uma catedral deixem espelhar no gótico
O que porventura deu escolas ao surgimento do renascer...

Não precisamos ver o que há por trás das culturas de um povo
Pois que as sintamos no diálogo que não nos ensombreça o tempo
Já que está que não supomos que há anonimatos no construir!

Desses braços que vemos por entre tapumes, por cima de lajes,
Nos meandros dos mourões, por entre caixas, em depósitos,
No gesto em que os pregos sintonizam o fazer da obra
Sejamos mais em respeito, pois ao Arquiteto é apenas tudo.

E nessa construção solene, que desejemos que haja um saneamento
Das mesmas consciências que por vezes se turvam
Quando escondem de si mesmas um pequeno riacho
Que beira o estupor inconsequente de uma não atitude...

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

A INDEPENDÊNCIA COMO REPRESENTAÇÃO

            O fato de existirmos enquanto seres, gregários, desponta que tenhamos boas representações, na acepção crua das palavras. Um homem ou uma mulher podem coexistir enquanto indivíduos em um universo do intelecto, posto entidades pensantes, e conviver com isso de modo algo filosófico... Pois que por vezes não tivemos formações ou contato com a filosofia desde crianças, e gostemos de pensar alicerçados, frente a uma escola em que apenas gerações mais antigas a tiveram. A independência passa por isso. Passa a ser uma questão de nenhuma doutrina, pois apenas um pensamento que verse sobre o que se percebe, quais as latitudes do conhecimento pensado e expresso, inequivocamente, como passo necessário à compreensão da própria realidade, ou sua interpretação do que venha a ser colocado como distinto da ilusão, da farsa, da parcialidade exposta nas sociedades. Essa questão passa a ser ou a fazer parte quase como um repertório em que hoje em dia se coloca frente à possibilidade dificultada em que nos alicercemos no pensamento mais linear, consonante, coerente com uma linha e suas curvas, suas oscilações, a sua mesma contemplação assaz importante para pensarmos com independência, não apenas dentro das fronteiras de nosso ser, como na aquisição da independência que passe por limites impostos, aí sim, a caminho da liberdade, extensiva aos países, extensiva às nações. Vem de um grande ser coletivo o apanhado de reflexos de pequenos grupos, familiares, amigos, trabalho, escola, universidades, partidos políticos, agremiações religiosas, quais sejam, a iniciativa apenas do indivíduo passa a não ter a mesma voz se este não se alicerça frente a uma sociedade enquanto ser, do todo, das partes...
            A independência é sempre um modo de se alcançar o conhecimento uno de cada qual, refletindo no outro o compartir a que se chegue em dimensões quase continentais, em suas permutas, em permanecer cada qual nas suas plataformas afirmadas e consentidas a partir de suas experiências, como um rebatimento na história de humanidades maduras e éticas enquanto consagradoras de um rebatimento moral. Esse mesmo moral que não enverga qualquer latitude nas questões criminais, posto a segurança treinar justamente essa integridade. E a independência em equações complexas dessa ordem versa que tenhamos suporte e inteligência necessários para dirimirem dúvidas recorrentes na estratégia de prevenção e combate tático. Nesse ponto nevrálgico de termos bons sistemas a integração por vezes peca por nivelar o conhecimento na prática defasada de outros tempos, aliás, por um lado que se revela positivo, haja vista a importância inequívoca de sistemas conectados e outros que não necessitam estar plugados aos de informação. A aquisição cabal de superarmos o olhar da máquina para servirmos a olhares mais profundos em nossas retinas, leva-nos a saber interpretar melhor o serviço da máquina e a inteligência das lideranças que a compartem dentro de equipes mais horizontais em suas hierarquias. Esse é o ponto crucial a ser levantado para que tenhamos uma inteligência mais equipada com o principal conteúdo de seus aparatos: o fator humano. A identificação mais exata das origens de problemas de ordem criminal prevê a ação repressiva como algo menos necessário, pois enfeixa efetivamente um conteúdo humanitário na reflexão do que levam comunidades inteiras ficarem à mercê de certos grupos ou facções organizadas para a prática de delitos. Essa é a equação social de merecimento da atenção do poder público. Não adianta fazer de um Estado todo um sistema repressor à criminalidade, se todos os setores da sociedade não repensarem um projeto social amplo na distribuição de renda mais justa e equitativa, para que os espelhamentos da ignorância em querer um modo de vida menos cáustico socialmente possa ser combatida por uma educação sem as fronteiras da separação entre os mais ricos e os mais pobres, ou seja, só podemos caminhar para uma inteligência de merecimento se injustiças sociais tremendas forem solucionadas por uma sociedade que prime pelo povo, pois deste deve emanar todo o Poder, soberano e pátrio.
            Pode ser uma concepção mais leiga, no entanto é de se supor que quanto mais a desigualdade imperar, mais problemas recorrentes de criminalidade vão surgir. Não se trata propriamente de ideologia, mas de uma posição lógica inegável, conforme temos exemplos de que uma sociedade sem formação é como abrir espaço para problemas sociais. Um exemplo evidente é o fato de que um cidadão que more em um lugar sem saneamento, e que trabalhe em outra área mais própria, tem o termo de comparação do que é viver de um modo ou de outro. A maior parte dos cidadãos trabalha duramente para conquistar os seus espaços existenciais, no entanto muitos querem a vida mais fácil, mesmo sabendo dos riscos de uma condenação perante a Lei. De forma tal que se espelha em todos os níveis da sociedade, desde uma aquisição indevida e ilícita mais irrisória até os grandes assaltos associados com os crimes da corrupção: em todos os poderes, em todos os Estados, invariavelmente, o que torna todo um sistema incompetente para solucionar problemas assaz complexos em suas culturas nefandas. Por isso conclui-se que uma nação independente de qualquer tipo de exploração imperial ou não, acharia caminhos mais válidos na representação de suas competências e solução de seus problemas estruturais. A validação de ações conjuntas com o imperativo do bom senso, dentro de um padrão verdadeiramente participativo e democrático, vem a nos colocar questões em que se possa contestar finalmente aqueles representantes do povo que ironicamente trabalham contra as frentes de emancipação de todo um país, estas com seu modal de progresso e justiça social decorrentes.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

AS VOLTAS DE UMA SUPERFÍCIE

Há cristais que emanam, que vem de Marte, no que Vênus não se ressinta
Para onde não sabemos nem sequer onde reside o espírito de nossas leis,
Porquanto esse não saber não voga o conteúdo errático de um pensamento
Em que tantas as esferas não se modelam em uma caixa lacrada...

No que versa a crista de um dinossauro de vida quase esmerada
A verve de um poeta quiçá saberia um pouco mais de seus pousos
Dentro do que pensa o que antes era um pouco vã e hoje necessária filosofia.

Nas questões de uma paz recorrentemente passageira enquanto desígnio
Também não sabemos nem um pouco mais do que suporíamos ter em conta
Que o mais vão dos mortais não será vão, posto haver igualdade
Na existência do tabuleiro de uma realidade onde o rei é o mesmo da formiga.

Onde esperamos que haja um sol que nasça para todos, esse esperar fatiga
A quem saiba que todos os sóis de todo o dia se repetem em outros nascituros!

Solene é o gesto de qualquer dos ventos nas folhas, e que na verdade
Acreditamos que os livros serão lidos algum dia, nem que o sejam
Para sabermos que no caudal da poesia se reveste um pouco da ciência
De cada palavra anunciada dentro das vestes do pensamento humano...

No que temos por lucidez acobertada por vezes, a uma loucura do sem nexo
Em que nada do que se pretende medra, por sabermos do mesmo modo
Que o teatro das lacraias talvez seja mais nobre do que um retorcer do verme.

Na carne que nos supõe a vida, não sejamos ela somente, carne, posto vida
É o que nos encerra no pão que não possuímos quando a fome é farta.

E esse carnaval se passa com a graduação de uma fera de metal com rodas
A prosseguir sobre o jurássico asfalto na voz do álcool que não fala: consente!

Assim seríamos algo a nos pretender maiores se não fora a disciplina dos versos
Algo a se tentar com arte quiçá em um sono merecido de um poeta
Ou no amor consagrado e verdadeiramente exato na vida inteirada de um par...

Pão que te quero mais urgente, pão que enobrece as gentes, pão do sol,
O pão que nos lega a semente do trigo nas noites em que a terra é fecundada.

Isso de sabermos às vezes do alimento, que as palavras alicerçam o espírito
Como uma hóstia que queremos relembrar do nascimento de Seu Filho.

sábado, 6 de fevereiro de 2016

UMA LÓGICA DE ENCAIXES

            A saber, que muitos tipos de contestação parecem válidos quando a crítica é previsível, em que se associe a um grupo. Os teores das redes fazem as vezes da crítica ou entretenimento com contatos devassados porém claramente elucidativos. Há que se investigar onde entra o banimento, ou em que canais este atravessa a mente dos mais vulneráveis, seja desde um bilhete até um ensaio, ou literatura que se pretenda mais verdadeira, ao ponto de desnudar aquilo que é fruto da enganação, fraude, o que deveria ser ilícito como entretenimento ao insuflar a violência em um moto contínuo, como um reflexo onde as crianças acreditem estar vendo algo natural, quando expostas continuamente ao entretenimento televisivo de conteúdo violento, onde torna-se banal virtualmente combater, no que se remonte que essas crianças com esse conteúdo por vezes tem contato muito precocemente. É uma questão fundamentalmente complexa, mas paradoxalmente simples. Um tipo de encaixe lógico pretende-se quase como uma corrosão necessária à ganância da indústria dos games, quando o apelo se torna lugar comum em países que não controlam esses índices. Propriamente, há que se ter uma regulamentação necessária, já que quando construímos uma boa infância nada é melhor do que uma vivência saudável entre os amigos, pais, filhos, parentes como um todo. Por isso a importância das escolas mais longas no seu princípio lúdico, por isso quem sabe Montessori, não se saiba qual o ideal, mas que haja livros em profusão, brincadeiras que deem origem ao fazer artístico, o esporte, as brincadeiras. Há que se destravar certos encaixes onde não adianta integrar tudo, haja vista as várias nações que comporta o nosso país... As saídas para uma equação que verse sobre uma educação de qualidade impõem-se desde cedo, na autoridade paterna e materna – baseada no respeito – e dos professores e colegas de escola. Não há outra via que não seja essa, do respeito, da noção de que a liberdade é relativa onde se respeita não apenas a identidade individual, como a realidade coletiva e sua adaptação recorrente. O que gira em torno disso é subterfúgio, cosmética, fantasia, não apenas na criança que se perde por vezes sem saber como vivenciar o espaço coletivo, como nos pais que se deixam enganar muitas vezes pela falsa competência de alguns educadores. Há que se investir em formação: história, filosofia, lógica, literatura, ciências, e a arte como um todo, que sempre é um bom instrumento para conseguir o aprofundamento nas questões humanas. Não há educação sem as humanas. Pode muito bem haver educação sem a informática, mas sem livros seria impossível. O país é imenso, e sempre contará com bons profissionais, que amam a livre docência, que se entregam à arte de lecionar nesta pátria tão fartamente cheia de encaixes integrados, mas sem as peças fundamentais que são a aprendizagem do que se ensina e o ensino do que se aprende: vigas mestras que compreendem o espaço da educação tão esperada...

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

CADA VEZ QUE A POESIA SILENCIA, É A VOZ QUE TENDE A SAIR MAIS CLARA E TÉPIDA EM SUAS CORREDEIRAS SEMÂNTICAS...

TODO O IMPERIALISMO É A TRADUÇÃO DO FRACASSO EM SER HUMANO, POIS O NOME JÁ O EXPLICA: DE ANTANHOS.

HÁ DE SE RESPEITAR A LIVRE EXPRESSÃO COMO UM DIAMANTE BRUTO EM SUAS PRÓPRIAS E CONSEQUENTES LAPIDAÇÕES.

A INDEPENDÊNCIA DE UM PAÍS NÃO SE FAZ COM COROCAS E VIZINHOS CONSPIRADORES.

NÃO PENSEM QUE ALGO DE POESIA SEJA COMO UM SUBTERFÚGIO DE ARTES VENCIDAS!

A CONSCIÊNCIA LUMINAR E VERDADEIRA NÃO SE TALHA COM BURIL DE LATAS...

FECHANDO-SE UM CERCO NO SI MESMO ANTI HISTÓRICO LEMBREM-SE QUE NÃO SE ABREM AS PORTAS DE VOSSO PRÓPRIO RESPIRO.

NÃO SE PESE NUNCA QUE A PRETENSA FACILITAÇÃO NÃO SEJA APENAS A SISTEMATIZAÇÃO DA CONSTRUÇÃO DE DIFICULDADES.

PANO DE FUNDO

            Alice se encontrara com Marcelo naquela sexta-feira, no endereço que haviam combinado. Punha-se um pouco de resguardo, mesmo que soubesse que o havia conhecido pelo celular. Era hábito corrente por aqueles tempos. Não havia como evitar, pois nas ruas não daria para arranjos que fossem burgueses, ou de rostos bem apanhados, corpos em exposição, o dilema de frágeis e tênues diálogos, e os inevitáveis desfechos da desilusão amorosa. Tudo o que convertera a sociedade contemporânea eram as promessas de que se um não estivesse pertencendo a uma conexão qualquer a cidadania estaria ausente, na acepção existencial dos tempos... Não haveria de ser crítica, ou que ela encontrasse um homem que contestasse algo, pois era culta o suficiente para saber do que foram as eras de revoluções tecnológicas, e como todos esses tempos facilitaram a vida por um lado, mas colocaram cabrestos nefastos através das teorias econômicas, que vinham como pano de fundo. E se impunha o fato de que um país continha tudo em termos de avanços de ordem da informática. Não se vem ao fato, o encontro fora casual:
            Marcelo vestia uma calça jeans, um sapato meio surrado, uma blusa comprada em um brechó católico, se portava como um cavalheiro, como efetivamente era. Viu-a, mas viu-a meio mortiça, sem muita cor, a pele clara, a palidez de noites mal dormidas, ele que se mantinha forte com seu temperamento solar, das ruas, como expectador de uma mulher cansada, de carência visível, uma carência inculcada, impetrada, de um tipo de carência que quase beirava a enfermidade, uma ansiedade em seus olhos inquietos nas órbitas... Falou-lhe.
            - Alice... É você? Quase não a reconheci.
            - Sou eu, o que você achou?                                         
            - Como? Olha, não precisamos fazer algo que não queremos, se é de tanto o se querer, mas não seja sempre, assim, por vezes.
            - Não entendo. – Disse ela, inquieta, com a voz meio no chão, o rosto para baixo, como que escondendo as olheiras das noites claras, de uma promessa de amor, que o sexo por si não se bastaria mais, e a revolução da igualdade de gêneros era algo do passado, bem sabia, mas não frequentava as amigas que possuíam machos objetos, que coisificavam o ato, que se alimentavam do coito como algo normal, de uma sistêmica normalidade... – Olha, Marcelo, eu ensaiei muito este encontro, eu gosto de ler, apenas gostaria de deitar-me com você em uma boa cama e que leiamos um bom jornal, apesar de estes não apresentarem a realidade dos fatos, que se nos encolhe a realidade! Apenas estou extenuada. Me leve, por favor, a um hotel.
            Alice havia viajado desde o oeste do Estado, dez horas de ônibus, possuía bagagens para ficar, perdera seu emprego há três meses e seus pais haviam falecido já há algum tempo. Deixara sete irmãos perto da fronteira. Um deles falecera de acidente no trabalho. Ganhara o celular de uma amiga que subira com um companheiro para fundar uma casa na perma-cultura, dentro de uma floresta preservada, e disse que não precisariam desse recurso, pois possuíam um rádio com muito alcance. Seu desejo no imediato era descansar, dormir, e quando vira os modos de Marcelo sentiu mais calor do que na web, no celular. Tinha todo o cansaço do mundo, de seu mundo, do espelhamento sincero de muitas outras mulheres, que escolhiam esses displays como um modo de alcance afetivo.
            Saíram a pernoitar em um hotel que Marcelo conhecia. Se chamava Ártico, localizado em uma rua sem saída. As paredes de pedra impressionaram Alice, por serem da idade em que se apresentava o estilo da arquitetura, visto que mal sabia ela sobre essa arte tão completa. Mas Marcelo conhecia um pouco, sabendo que se tratava de um estilo neoclássico, ou seja, uma repetição algo bela, posto feita efetivamente com pedras, o que impressionava a qualquer um que não tivesse muito trânsito fora de seus lugares, dentro das conchas em que se vivia. Naqueles dias o calor era tão intenso no sul, o sol dava lances inclementes sobre as gentes, que quase ninguém saía nos picos mais quentes do dia, a não ser em certos ou errados, no entanto pretensos combates ocultos... Rumores havia sobre os dois, já, sem ao menos terem se visto então naquele fim de jornadas, na tarde de sombras que evanescia a pressão atmosférica. Rumores de encontros, de outros que obtinham prazer em ajudar a desfazer a empatia do encontro, ou o surgimento do amor. Talvez fosse uma impressão, um trecho de Debussy, algo a se retratar com um médico psiquiatra, um transtorno, ou mesmo quiçá uma verdade em que o gênero humano meio que se assemelhasse aos corvos, quando assim ingenuamente em sua sólida malícia assentissem. Seria por concluir que Alice e Marcelo quase que se tocaram, e seus olhares permaneceram ligados um ao outro quando entraram no hall do hotel. Subiram.
            - Um pequeno, no entanto grande olhar, meu caro. – Foi a expressão dela, quando se enlaçaram por um instante breve, mas repleto. Separaram-se...
            - Quando é que nos encontraremos de fato, ao que não nos reportemos a todos esses canais que nos mantiveram em quase contato? Quem somos, ou melhor, será que somos nós dois ou todo um contexto dentro deste quarto de hotel? – Marcelo tinha dúvidas, estas de trato, de uma combinatória meio em que o acaso festejava... Visto em acepção profunda, naquilo em que se pretendia um encontro. Fazer o que? Descansariam, a busca tinha sido intensa...
            Aquele hotel tinha sido um lugar onde muitos se abrigaram durante a história daquele pequeno país. Como um nicho na cidade, um affair multiplicado com muitos de se amar, ou daqueles em passagem a negociar naquela pequena cidade, originária das tropas de mulas, onde o mesmo antigo antepassado do dono do hotel trabalhava com grãos, em épocas mais agrárias, eras de trocas. No entanto, o casal recém-formado sabia que na verdade haveria alguma idiossincrasia a passar a limpo, alguma diferença ou detalhe não dito, a impossibilidade das letras ou fotos, ou o infinito da personalidade humana. Desse infinito que redescobrimos no algo da consecução mesma dos universos... Esse o ponto! De nada a não sabermos sobre nada no universo mesmo da espécie, a que nos consintamos que a atração melhor se daria entre uma criação ou outra, de uma larva a um pássaro, de uma mulher a uma rocha incrustrada no peito de uma montanha. Assim, de por vezes achar mais linda a mariposa do que a pétala rosácea no baixo ventre de uma fêmea, assim, enquanto esta desce sobre o menir e seu pedestal representativo, a mariposa de três cores sobe, frente à lua, e dita algo mais um pouco, do que nos despe também, do que desprezamos quando estamos orgíacos, bêbedos, loucos na insanidade do prazer que vegeta os atos. Por um tanto que nos reservemos um pouco, pois a queda de um ser pode acontecer na predação inquieta de um turvo e inconsciente átomo e seu spin. Assim o encontro, que tanto de tantos os homens e mulheres requerem, em medidas solenes, no caudal de madrugadas, em que por vezes nos turvamos, por vezes vemos, bloqueamos, deletamos a nossa razão e viramos bichos, ao que os bichos não pretendam tão humanos em falhas destes. Erramos, e o encontro se dá errático enquanto fortuito, na não coragem de nos tocarmos na chuva inclemente, na luta de sermos viventes, no que temos de propósitos tecnológicos, mas que se acrescente nas luzes, e não que substitua a subsistência tão agonizante já do sentimento de amor: imparcial, decente, justo e definitivamente – ainda utilizando a palavra grande - humano.
            Alice e Marcelo compartiam cada qual seu próprio oposto, onde o encontro de suas curvas sinalizavam que as parábolas se tornavam retas em seus próprios conflitos. De saberem-se mais experientes, o amor de suas gerações em gênero, em classe, tornava-se objeto da lógica de seus gadgets... Tanto que estavam no hotel, no quarto, olhando-se, propriamente, não em presença um do outro, mas querendo teclar sucessos de outros presentes em seus manequins de quartzo! Mal sabiam da derrocada ou do insucesso em que se tornavam, pois sozinhos, perto do leito, teriam que “treinar” algo em que sumiam nas estratosferas dos milagres da ciência. Essa ciência certa, perfeita, a se descobrir a mesma receita, o mesmo milagre repetido, as novas maquiagens de outras hennas, os novos batons inteligentes, os cílios postiços interligados e espiões de si mesmos, os que curtiam, os que trabalhavam duro, os que esmolavam e não viviam, os que enlouqueciam e não eram levados a sério, à mercê dos seus apelidos cruentos, os que se reduziam a moedas, e aqueles que buscavam fechar as portas da liberdade para defender seus botecos, ou seja, os golpistas de última hora, sempre as horas, sempre copiando datas, sempre dando corda, sempre alheios ao bom senso. Isso vinha de roldão, mas a questão era bem mais existencial do que nunca, pois Marcelo e Alice sabiam de outros tempos, mas que os tempos se sucediam, e a devastação apenas existia dentro do nada do ser... O que importava para eles? Uma camisa de vênus mais moderna? Um encontro que fosse poético, era isso que importasse a cada qual, era a esperança do mundo, de sermos quem nos quisermos, mas que não sabemos mais nem quem foi um romântico como Victor Hugo, ou Shakespeare, quem foi Mallarmé, Virgínia Woolf. Talvez os dez mandamentos traduzissem tudo, quem sabe para o Juízo Final todos quisessem ser um fragmento missionário de Jonas, quem sabe o Cristo loiro ou moreno viesse, quem sabe os Cristos já estão por aí, enclausurados. Quem saberia? Os displays eletrônicos, o racismo, o fascismo, o nazismo, ou o esquecido Cubismo Analítico, este tão lindo em sua geometria apagada de nossas memórias artístico-culturais? Quem o sabe? Os franceses, os japoneses, a história de um robô? O verter de neurolépticos em demandas do fracasso cerebral imposto? As epidemias, a fome na África, o holocausto palestino? Na verdade, eram os dois apenas um casal, frente a uma realidade em que não davam conta, nem dariam, pois para construir um perfil favorável a que se pretendesse um bom contato, daria um trabalho extra em que arranjar as coisas com aplicativos que resolvessem essa parte humana ainda não estaria em mercado. E esse seria o ponto final, a soberba da conveniência da ganância fincando estacas de cristal líquido na mente dos mais vulneráveis: aqueles considerados inteligentes, normais, alfas, guerreiros, predadores sexuais, treinados, preparados, acadêmicos, neouniversitários, fabricantes de insights, pensadores contemporâneos com a profundidade aleatória do neo-neo pós algo, de liberalismo quaisquer, que utilizaria seu poder de persuasão para mostrar à humanidade que estaria tudo perdido, que não haveria de ganhar o progresso de toda uma coletividade mais pobre que, bem ou mal, estava construindo melhor e mais concretamente sua própria realidade. Esse encontro era de um par huxleyniano, a fuga aparente de atingir um orgasmo fora do padrão isolado dentro do perceptível sistema que não se sabia qual era, mas já dava sinais de fracasso, no mesmo viés tecnológico, onde antes a prerrogativa era de apenas uma face. As portas da percepção se tornavam necessárias, e estas eram fechadas à Natureza e abertas ao olhar dos gadgets e outros displays slaves, onde o fabril ou agente de natureza criadora ou participante das cúpulas da inteligência – o que há por trás – viravam slaves (escravos) de suas próprias rotinas, mesmo quando consagradoras de alguma posição em um serviço de inteligência qualquer, seja de que nação fosse.