domingo, 27 de dezembro de 2015

DE UM AMOR MAIOR

Aos olhos que não vêem
O que se dirá do certo,
O que se supõe do errado,
A palavra posta na mesa,
O amanhecer desperto em vida
E a morte em padecermos
O que nos diria o próprio destino.

Mas não, pois nos cerca por vezes
Apenas a teatralidade da loucura
Nos loucos que se travestem de sérios
Engendrando fantasias do horror.
Loucos com referências nas imagens,
Loucos treinados na coação
De regredir no tempo de sua própria hipocrisia.

No engolir as frases entrecortadas
Talvez na obra encontremos
O gesto de um homem, distante
Como é distante e lúcido o olhar consciente.
Como andar pelas ruas cáusticas
E receber os relâmpagos de outros olhares
Em que o registro não alcança em sua pálida distância.

Tecido imanente de pátina recriada
Ao ver que o povo ressurge
Posto o mesmo clarão de consciência
Que vemos quando o sentimos
Em sentir posto estar
Na veia inquieta que nos alimenta
De um alimento que nos aclara o espírito.

No entanto, matéria bruta,
Salve com o seu plantel as escamas de nosso dizer:
Escamas áridas que nos envolvem
Quando – reticentes – não sabemos
Que não somos peixes
Mas sobrenadamos ao oceano insofismável
De continuar a navegar conforme barco que – também – somos.

Um grande barco com o timão distante da proa
Mas sobre um potente motor,
Mas que são as horas da madrugada
Que silenciam, içadas as velas,
Em que preparamos a nau, rumo ao dia
Que não espera posto que ação,
Alimento pão, alimento chão, alimento teto!

Que alimento sejamos também ao ensinar
O topo pretendido ao se predizer
Palavras cálidas que amansam os tremores
Da truculência envaidecida das orgias;
Já que estamos em trabalho – justo –
Como a plataforma de um teatro improvisado
Em que atuamos na conformidade e respeito.

Desse respeito que transcende a um si próprio:
Desfaz a crueza da maldade em seus desfechos,
Traduz, silencioso, a semântica do verbo,
Prima pela atitude coerente de cada existir,
Desata os nós recorrentes que a nós reage,
Versa os versos de uma poesia por vezes tíbia
Mas que não silencia a voz da realidade.

Realidade que assombra
Quando vestimos os signos em nossas profundezas
Regemos orquestras, despimos a ignorância
De suas raízes fincadas em tempos sombrios
Onde o que era poderia não ter sido
Posto que somos frutos de uma árvore
Onde as ervas daninhas não podem medrar mais.

Poesia, verta o caudal rumoroso da história
Em que escutamos a voz da enfermidade
Em patíbulos que retiramos de bastilhas
Qual Danton em eternidade sincera
Da luta em se prosseguir, à mesma bandeira,
Em outras eras, outras propostas, outros conceitos,
Curando ela mesma por sua posição da medicina libertária!

Jamais cessará o canto, e que este navegue pela garrafa digital
No prazer dos poetas em brilhar novamente os olhos do cristal
Sereno em sua latitude, horizontal em seus vértices,
Lógica transubstanciada em sua aritmética,
A um ritmo sonante em moedas de esperança,
Amálgama no cadinho de experiência do mesmo homem
Que abraça silencioso o jacarandá em seu nascituro.

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