terça-feira, 22 de dezembro de 2015

A VIDA VAGA

            A vida consentida a muitos, assim, seria quase pedir que não a consentissem, pois que a vida não é de consentir. Vivemos na liberdade de um tom ou milhares de músicas em que a harmonia é presente, mas que igualmente, há partituras dodecafônicas, ao melhor estilo de Arrigo Barnabé... A não sincronia faz parte da melodia, os acordes traçam os estilos vários de uma beleza de sinfonia em que os músicos aprendem com seus instrumentos a tocar o que aproveitaram na teoria musical. Não há vida vaga, pois esta se preenche de tal modo que pensemos que essa condição não tangencia o sobreviver, mas que deve ser aceita como melhor a quem apenas luta para sobreviver, meus caros, pois isso é pensar como verdadeiros cristãos que sejamos, ou nas tabelas indiscutíveis em que se nos apresenta a veracidade do que existe no cunho das sociedades. Esperamos sempre por algo mal soletrado em nossas palavras, mas que certas outras elucidem os fatos, e as idiossincrasias da existência nos permitam respeitar que sejamos diferentes, mas unidos no platô do que é intencionalmente construtivo, progressista, arejado, não apenas espiritual, bem como materialmente. Como em um grupo musical: o saxofone é caro, mas existe a razão, ao que o tamborim marca a música com sua percussão, em que o bumbo dá alma no ritmo e o triângulo alterna a sanfona. Quem dera um panorama musical maravilhoso nos morros cariocas, onde há samba, mas Cartolas e Pixinguinhas passaram a ser muito raros. O mesmo a se dizer da literatura, seja no cenário brasileiro que na verdade passa a ser raro um autor ser aceito se ensaia no erro – e acerta, por vezes – ou no acerto, em que o erro pode ser aproveitado. Vaga-se a vida por tantos que se descaminham a se pretender a ilusão de fortunas fáceis, e a arte dilui-se para materializar-se apenas nas elites. Mesmo porque o trabalho da arte reside em uma palavra, um verso, uma pincelada competente, a mais, a se dizer, que muitos daqueles que nos prometem colocação, na verdade competem de igual para igual de um mito consolidado, que é a hipocrisia já feita deusa da  consagração dos que lutam contra a expressão livre da arte. O permitido passa a ser fama de algo, e o que consagra é fama mítica do nada, pois nada mais cáustico é ver um grande artista tornado louco, a se crer que de sua loucura a fama tenha que ser maior, justo não permitirem hoje a fama de um louco na arte... Essa é vida vaga, e passa a ser poesia na atitude do verbo tentacular de mais inteligência, pois as ignorâncias ainda campeiam nas nossas universidades, com seu estigma da má tolerância acadêmica.
            Acaba-se a vida sendo vaga em aspectos onde a pouca liberdade da enfermidade psíquica seja foco de atenção do progresso analítico e experimental dos sãos, a que se saiba que não significa nada romper com estigmas estraçalhados, já que seus fragmentos ainda alimentam aqueles que criticam o desfile de napoleões em que se tornam os normais além de seus mesmos tempos. O ser artista não significa que seja de utilidade a algo, mas que possui a necessidade de expressão e obviamente da compreensão dos próximos à sua produção, mesmo que seja no campo intelectual, em seus começos e preâmbulos de ensaios. A postura verdadeira por vezes só é aceita sob óticas de manuais e doutrinas, descartando um pensamento ou postura independente, quando já não há mais fôlego argumentativo ou analítico de uma inteligência fracassada, quando esta não permite seu ulterior desenvolvimento e atualização tendo em vista primar pela  manutenção de uma boa fonte. Não há quedas em nova filosofia, pois em exemplo clássico, Keines cai por ser totalmente interpretado e partido para uma prática, em que Adam Smith já abrira os caminhos para esse dogmatismo do livre comércio como selva de trustes e monopólios. Que se cite apenas, um dogma é sempre a ortodoxia com vestes estreladas, mas estas cunhadas a chumbo, e ver a estrela por sobre o céu, mirando outras ou a nós mesmos é sairmos da culatra quando sabemos do entrave em que por vezes muitos se metem, a sabermos sempre que o que é seguro permanece inalterado, qual rocha, e de atitudes saibamos do leme, que não nos pouse em meio do atol antes de lermos as cartas do mar! O social solidário espera nos tostões que evitamos de gastar, mas que dão a um café revolucionário, quando uma atitude nos leve a pousar em ilha do atol com corais, em um mergulho límpido. E que saibamos que os mergulhos que damos independem tanto do fundo do mar, posto areia e lodo se confundirem: do lodo à areia é um todo, um todo por vezes mínimo. De uma árvore a um espinho, se este for dela, não subamos sem luvas, ou que vejamos a cada passo de nossos pés, a cada alavanca de nossos braços e pegadas nos troncos, a ser, que sejamos corporalmente muito conscientes, pois senão nos ferimos, e deixemos avisado que o tronco possui vereda de escala com dificuldades. Assim no atol: que não destruamos o coral, que mantenhamos a vida marinha, que um homem, em terra, seja respeitado como a nós mesmos, mesmo que tenhamos que inquirir a alguma criatura, perguntando a que veio, se foi para destruir. E se foi o fato, tenhamos em mente que não avisemos, pois a árvore com espinhos dará o mesmo recado àquele que merece por outros não terem merecido...

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