A
vida consentida a muitos, assim, seria quase pedir que não a consentissem, pois
que a vida não é de consentir. Vivemos na liberdade de um tom ou milhares de
músicas em que a harmonia é presente, mas que igualmente, há partituras
dodecafônicas, ao melhor estilo de Arrigo Barnabé... A não sincronia faz parte
da melodia, os acordes traçam os estilos vários de uma beleza de sinfonia em
que os músicos aprendem com seus instrumentos a tocar o que aproveitaram na
teoria musical. Não há vida vaga, pois esta se preenche de tal modo que
pensemos que essa condição não tangencia o sobreviver, mas que deve ser aceita
como melhor a quem apenas luta para sobreviver, meus caros, pois isso é pensar
como verdadeiros cristãos que sejamos, ou nas tabelas indiscutíveis em que se
nos apresenta a veracidade do que existe no cunho das sociedades. Esperamos
sempre por algo mal soletrado em nossas palavras, mas que certas outras
elucidem os fatos, e as idiossincrasias da existência nos permitam respeitar
que sejamos diferentes, mas unidos no platô do que é intencionalmente
construtivo, progressista, arejado, não apenas espiritual, bem como
materialmente. Como em um grupo musical: o saxofone é caro, mas existe a razão,
ao que o tamborim marca a música com sua percussão, em que o bumbo dá alma no
ritmo e o triângulo alterna a sanfona. Quem dera um panorama musical
maravilhoso nos morros cariocas, onde há samba, mas Cartolas e Pixinguinhas
passaram a ser muito raros. O mesmo a se dizer da literatura, seja no cenário
brasileiro que na verdade passa a ser raro um autor ser aceito se ensaia no
erro – e acerta, por vezes – ou no acerto, em que o erro pode ser aproveitado.
Vaga-se a vida por tantos que se descaminham a se pretender a ilusão de
fortunas fáceis, e a arte dilui-se para materializar-se apenas nas elites.
Mesmo porque o trabalho da arte reside em uma palavra, um verso, uma pincelada
competente, a mais, a se dizer, que muitos daqueles que nos prometem colocação,
na verdade competem de igual para igual de um mito consolidado, que é a
hipocrisia já feita deusa da consagração
dos que lutam contra a expressão livre da arte. O permitido passa a ser fama de
algo, e o que consagra é fama mítica do nada, pois nada mais cáustico é ver um
grande artista tornado louco, a se crer que de sua loucura a fama tenha que ser
maior, justo não permitirem hoje a fama de um louco na arte... Essa é vida
vaga, e passa a ser poesia na atitude do verbo tentacular de mais inteligência,
pois as ignorâncias ainda campeiam nas nossas universidades, com seu estigma da
má tolerância acadêmica.
Acaba-se
a vida sendo vaga em aspectos onde a pouca liberdade da enfermidade psíquica
seja foco de atenção do progresso analítico e experimental dos sãos, a que se
saiba que não significa nada romper com estigmas estraçalhados, já que seus
fragmentos ainda alimentam aqueles que criticam o desfile de napoleões em que
se tornam os normais além de seus mesmos tempos. O ser artista não significa
que seja de utilidade a algo, mas que possui a necessidade de expressão e
obviamente da compreensão dos próximos à sua produção, mesmo que seja no campo
intelectual, em seus começos e preâmbulos de ensaios. A postura verdadeira por
vezes só é aceita sob óticas de manuais e doutrinas, descartando um pensamento
ou postura independente, quando já não há mais fôlego argumentativo ou
analítico de uma inteligência fracassada, quando esta não permite seu ulterior
desenvolvimento e atualização tendo em vista primar pela manutenção de uma boa fonte. Não há quedas em
nova filosofia, pois em exemplo clássico, Keines cai por ser totalmente
interpretado e partido para uma prática, em que Adam Smith já abrira os
caminhos para esse dogmatismo do livre comércio como selva de trustes e
monopólios. Que se cite apenas, um dogma é sempre a ortodoxia com vestes
estreladas, mas estas cunhadas a chumbo, e ver a estrela por sobre o céu,
mirando outras ou a nós mesmos é sairmos da culatra quando sabemos do entrave
em que por vezes muitos se metem, a sabermos sempre que o que é seguro
permanece inalterado, qual rocha, e de atitudes saibamos do leme, que não nos
pouse em meio do atol antes de lermos as cartas do mar! O social solidário
espera nos tostões que evitamos de gastar, mas que dão a um café
revolucionário, quando uma atitude nos leve a pousar em ilha do atol com
corais, em um mergulho límpido. E que saibamos que os mergulhos que damos
independem tanto do fundo do mar, posto areia e lodo se confundirem: do lodo à
areia é um todo, um todo por vezes mínimo. De uma árvore a um espinho, se este
for dela, não subamos sem luvas, ou que vejamos a cada passo de nossos pés, a
cada alavanca de nossos braços e pegadas nos troncos, a ser, que sejamos
corporalmente muito conscientes, pois senão nos ferimos, e deixemos avisado que
o tronco possui vereda de escala com dificuldades. Assim no atol: que não
destruamos o coral, que mantenhamos a vida marinha, que um homem, em terra, seja
respeitado como a nós mesmos, mesmo que tenhamos que inquirir a alguma
criatura, perguntando a que veio, se foi para destruir. E se foi o fato,
tenhamos em mente que não avisemos, pois a árvore com espinhos dará o mesmo
recado àquele que merece por outros não terem merecido...
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