Um
sonho é encontrar-se com uma pátria espiritual, como é a Índia para a
totalidade dos universos manifestos e que ainda há por manifestarem-se. Não é
pouco dizer algo como isso, já que Krsna está em tudo, nos átomos e no todo,
além do Paramatma em nosso coração, como testemunha ao desfrute de nossas
sendas, de nossas missões, nascimento a nascimento, desde que haja uma
liberação quando atingimos o estado de serviço em bhakti ao Supremo. Isto é um
pequeno preâmbulo de fé, que o digamos, necessário a um entendimento cabal
entre os que desconhecem um país maravilhoso, com milhões e milhões de
religiosos e sábios. Prabhupada trouxe o conhecimento ao Ocidente, ao país mais
poderoso, os EUA. Dalí em diante outros países adotaram a consciência de Krsna,
através de sucessão discipular, dos ensinamentos, dos preceitos védicos, da não
intoxicação, da tolerância, paz, e a não violência não apenas ao gênero humano,
mas extensivamente a todos os seres que habitam o planeta. Na verdade trouxe
também o preceito em aceitarmos todas as religiões como caminhos de diversas
culturas, não havendo por ótica humana nenhuma discriminação de cultos, ou
diferenciação de deuses, pois tudo é uma coisa apenas, esse o fato que narro
para mostrar aos aflitos que sofrem a discriminação de qualquer natureza que
aquele que é consciente de Deus realmente é mais feliz, apesar de sabermos que
o que obtemos materialmente é estritamente necessário para que possamos no
mínimo manter a alma e o corpo unidos. Prabhupada, o grande líder espiritual
deste último século mostra sempre que o seu desapego foi o exemplo de um homem
que com simplicidade ensinou a outros que a luxúria do consumo nunca será o
caminho que nos leve à religião, pois como se diz no latim: religare, esta nos liga ao mundo sob a
visão em que as escrituras como o Gita como Ele É e o Shrimad Bhagavatam dão
mostras do que possuímos como todo o conhecimento espiritual da Índia, dentro
da plataforma do Vaishnavismo. Digo, pois chega uma hora em que nada faz mais
muito sentido sem o encontro crucial com esses textos sagrados, a comunhão com
a Natureza e os mantras védicos.
Pude
ter a satisfação de estudar várias vezes o Gita, e ler dez Cantos do
Bhagavatam, e sou sincero em concluir abertamente que isso ampliou minha
concepção do mundo, pois creio que não há muitas possibilidades de compreender
o mundo sem que não haja a distinção clara entre o que é ilusão e o que não é,
já que transcender muitas coisas é condição sine
qua non para mim e outros devotos enquanto vivemos em um mundo onde os
negócios são mais importantes do que as pessoas... Talvez seja uma afirmação
libertina, mas penso que os valores financeiros estão tornando o mundo
refratário, já que enquanto alguns apenas sobrevivem, aliás, a grande massa do
mundo ocidental, outros tem padrões de vida muitíssimos mais elevados, não se
utilizando de nascimentos em famílias mais ricas para elevarem-se
espiritualmente, mas apenas para perpetuar a simples exploração predatória, a
ganância e a relação de poder inequívoca para esse tipo de gente. Todo esse
emaranhado está que a alguns pode parecer uma contradição inerente a
sentimentos de fé originalmente despojados de utilidade por receitas ou
interpretações arcaicas, mas que às grandes massas que incorporam o evangelho
nas sociedades, desde há gerações, temos a impressão de que não podemos passar
sem esse fato.
Caramba,
por vezes parece uma pretensão de desafogo, nada mais, tentar erigir um
edifício sobre pilotis que hão de passar por crivos, mas que não importe, pois
o panorama da civilização passa por uma questão de profundas diferenças
religiosas. Podemos ser Hare Krsnas, mas igualmente podemos ser evangelistas,
judeus, católicos, muçulmanos, umbandistas, jainistas, budistas, ateus ou
agnósticos. Incluso a idolatria deva ser respeitada profundamente em nossos
alicerces culturais, pois africanos e indígenas também possuem – de modo
extremamente rico – seus ritos e cerimônias religiosos. É nessa miríade de
crenças, de misticismo tipicamente emergente e um certo dogmatismo de
contraponto em países mais ricos, que vemos uma fusão em que paralelamente o
atrativo display tecnológico passa a ser adorado como mais um totem em seus
diálogos por vezes sem sentido, mas que azeitam a máquina da compreensão da
mesma. Não haja a separação maniqueísta de sermos superiores em termos de
compreensões de qualquer natureza, pois que não há mais superioridade no gênero
humano, já que a mesma intolerância abraça todos os povos e há ainda a se
respirar, justo, na pátria latino-americana algo que envolve de humanismo
àqueles que lutam como trabalhadores, os empresários e certos governos, que
passam por ajustes de importância crucial, no que agora terão que sobreviver
enquanto estamento político a partir da anuência das bases sociais. É esta a
fundação do edifício, de sapatas profundas e largas, o que nos pressupõem
tornarmos bela a fruição de uma boa arquitetura, ou das assistências exatas da
engenharia... Negar esses pressupostos é negar uma lógica que não se nega, pois
não há como enveredar por um caminho em que a Verdade não a pertença.
A
alma da Índia é sobremaneira maravilhosa: mais de bilhão se seres compondo uma
nação, e o simples mergulho na mãe Ganjes mostra ao mundo que muitos são os
sítios sagrados, e que o mundo Oriental encerra em si mesmo seu próprio modo de
orientação espiritual, econômica e existencial, em que nos parece talvez cedo
para compreendermos, mas que não está saturado como o Ocidente que tentou, todo
o tempo, em toda a história tornada oficial perante séculos e séculos, impor
sua cultura aos povos que chamavam de primitivos. Agora, estranho paradoxo,
terminamos por destruir cada vez mais a Terra, enquanto alguns povos ainda se
mantém em sua dimensão harmônica em relação ao planeta: ensinando ao branco
como ser mais inteligente e educado em relação à Natureza, e a seu próximo...
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