Trabalhara
como todos os dias, eu e minha vida, de sabermos nós – eu e ela, apenas – que
não se trabalhara nada, aos olhos de quaisquer jurisprudências. No entanto eu
estava só, como sempre, assim de se dizer, como refém de sentimentos de joguete,
palavras que me vinham de outros, tal miríade, tal coleção de refrãos baratos
que começara a me lembrar dos tempos em que não havia solidão, não esta que
anuncio sem medo, posto ser inequivocamente de minha escolha, sem as ofertas
outras que vêm de memória, o compartir da lama. Lembrei-me de uma vez,
perdoem-me o linguajar chulo, mas de estar com uma mulher me drogando a noite inteira
no motel, acabando em festar na banheira, ao que ela me ofereceu como o
suprassumo de algo lavado externamente, ao que o reto me bastasse a introduzir
o que eu supunha sexo. Naquele dia deixei de lado, a água era turva de espuma,
a mulher e eu estávamos secos por dentro da luxúria, e chamávamos quiçá de uma
noite de embalos, de uma noite de prazer. Os amigos haviam fervilhado naquela
noite de boates, de um roque nada progressivo, da erva, da cocaína, que agora
recordo não passar de pesadelo, no meu antigo e recorrente caso em recaídas, em
que me faltara o chão por diversas vezes, por não poder, e incorrer nos mesmos
erros. Nada contra as intimidades, mas agora graças a deus essas recordações
são apenas flashies de tempos que
passaram, em que as minhas veredas de libertação foram árduas, longas,
solitárias, em que os longos anos se passaram em que a minha associação não me
permitiu ver ao menos um risco de pó ou um cigarro de maconha. Quase vinte anos
se passaram sem ver ao menos ao que denoto fé de companheiros que me fizeram
ver de tamanha ilusão, principalmente o grande Prabhupada com livros que ditam os
preceitos, ao que ainda falho por fumar meu tabaco.
O
caminho da libertação é árduo, pois a lama gruda de tal forma que por vezes
quando queremos limparmo-nos, outros vem e derramam de água mais suja. Tive que
trilhar vereda mais longa, que com o tempo seca, e hoje acho um bocado ridículo
se um homem da minha idade, 50 anos, fuma um baseado. Ou que, se fumar, que o
faça longe de mim ou de minha casa, pois o lícito penal ainda manda que andemos
pela lei, e longe disso querer transgredir o correto. 2015 foi o ano em que
abandonei o álcool, descartando mais e mais associações e me unindo mais e mais
a Prabhupada, ou Krsna. Talvez o prazer da filosofia, de fumar um bom cachimbo
olhando o céu noturno hoje, agora há pouco, e vendo as nuvens enegrecidas como o
corpo da Encarnação Negra, de onde vem Deus a Vrndavana, a brincar em seus
Passatempos. Posso tornar-me um pouco chato, mas alguns homens, algumas
mulheres desenvolvem suas próprias manias, seus próprios modos de transcender,
e talvez sejam bem raros aqueles que encontram mais prazer na contemplação do
que no coito. Se ainda pudéssemos sentir o tato dos órgãos genitais seria muito
mais prazeroso, mas sempre existe o risco da peste da AIDS que inflama de
contaminações tantas as cidades litorâneas que na verdade não há por que
arriscar, em que temos que literalmente embalar o sexo... Talvez até indústrias
de embutidos possam fazer alguma propaganda tipo o selo da linguiça sadia, ou
coisa parecida, como um rótulo de camisinha.
O
caminho mais fácil está parecendo o de reflexos rápidos, dos insights rápidos
como um roteiro acelerado no script de um filme, como em uma novela barata
latino-americana que empurra noções de romantismo banalizado no gesto do
grudar-se, não apenas no tete a tete do prazer, como no invasivo e recorrente e
banalizado gesto da agressão verbal e física. Esses são os berços do fascismo,
e é através dessa ótica que devemos buscar a simples equação que dita ou está
ditando essa moda de intolerância, para que esta invada até mesmo lideranças que
estão comandando o país como representantes do povo com joguetes onde a crítica
principalmente burguesa dá asas e recorre até mesmo como alternativa viável
qualquer golpe que retire da classe trabalhadora as conquistas obtidas com
muita luta. Teci um preâmbulo da minha libertação, mas para criar as condições
de poder lutar inteligentemente, com a sobriedade que faz parte dos verdadeiros
combatentes e sua integridade moral irretocável, nesse quesito de lutarmos para
sermos no mínimo civilizados e atenuando com diplomacia a truculência desumana
a que querem submeter o país grupos que inclusive insuflam as drogas e a
violência no sentido de confundir os fracos. A questão de estar no meio da lama
leva os incautos a afundarem mais e mais e se tornarem vulneráveis e, no
entanto, ativos como contingentes mais e mais alienados para o cometimento de
crimes e outras barbáries.
Por
isso digo, quando nos tornamos mais solitários, nada nos impede que nos
encontremos com o vizinho do lado, que conversemos com a comunidade, que floresçamos
boas ideias, que favoreçamos pensamentos e ideais saudáveis, solidários, que “orientemos”
com boas atitudes aqueles que nos querem retaliar, assim de suprimir qualquer
evento que nos diga respeito a faltarem com este. Em síntese, que possamos
levar a luz a quem precisa, pois, creiam-me, aqueles que entraram por veredas
de trevas e encontraram a luz tíbia de vagalumes, e que os seguiram pelas
entranhas da vida e seus perigos, que não se quebraram por sorte, que protegem
a quem amam e servem por servir, sempre, têm, em suas saudáveis escolhas apenas
a representatividade de abrirem a mente a uma escola que se faz presente em
qualquer país, em qualquer cidade, em qualquer aldeia, pois o fato de se fazer
o correto sem essa palavra ser tão dramaticamente reta, com ternura e carinho,
nos dita o caminho da volta, em que os vagalumes nos tragam o amanhecer para
aprendermos em qual posição do horizonte nasce o sol, e em que quadrantes este
incorpora a vida!
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