domingo, 13 de dezembro de 2015

AS ALMAS CONDICIONADAS

            Quem dera não fossemos condicionados como somos. Apertamos botões em nossas vidas para nos sentirmos tecnológicos e tudo o que aprendemos antes se torna uma página de alfarrábio, pois queremos garantir que o sucesso é viver trancado dentro do luxo imposto, com direito à uma piscina incólume e ao padrão de vida totalmente fora dos limites da pobreza que nos circunda, e que vemos como culpada de algo... Um homem ou mulher que trabalham em seus dias, em suas jornadas não podem ser alvos de crítica por terem um emprego considerado braçal, ou inferior, pois, creiam-me, as mais lindas rainhas são as mesmas trabalhadoras que varrem nossas ruas, por um exemplo cabal e necessariamente evidente, pois enfrentam como reais guerreiras muito mais problemas na existência. Não são da beleza grega idealisticamente, mas há que considerar as valquírias aquelas que efetivamente são guerreiras, defendendo por vezes de modo insalubre as suas conquistas materiais. Mas o ponto chave a ser abordado neste campo em que as palavras vêm para gerar é a questão do condicionamento da fala. Aliás, as falas que condicionam o modo da burguesia em se expressar que já se aproxima muito das vezes populares, graças a deus. Acontece neste país uma retomada da leitura, que remonta a que criemos um modo em que longos parágrafos possam ser compreendidos e assim atenuarmos nossas diferenças culturais de ordem erudita.
            Vemos o sintomático índice cultural de nossas telenovelas, como sendo ainda a maior audiência das populações do país, e não pensemos que sejam restritas a determinada classe, mas que alcançam ainda a maior parte das gentes do país... De tal monta que são tantas, que na verdade não haveria uma pressuposição de que estejam condicionando toda essa gente, já que a miríade de diálogos cria insights – mesmo considerando de uma plataforma ausente de correntes mais filosóficas – que o popular encontra como meio de compreender e entreter-se nesse mundo, depois de suas exaustivas jornadas de trabalho. Demos crédito ao folhetim e sua vertente teatral de costumes, tão atrativa como são os seriados internacionais de TVs fechadas, que por sua vez atende uma parcela mais idosa da população, em classes mais altas, mas que no cerne passa a ser a mesma preguiça – neste caso, naqueles que vivenciaram formações mais intelectualizadas – ou cansaço do mesmo intelecto, ou mesmo a escolha tão importante no mundo de hoje, pois jamais devemos coagir as escolhas, atalhar os desejos, desde que sejam dentro da lei e suas proteções salutares e maduras. Obviamente canais que exibissem mais filmes de cunho da arte, como no exemplo europeu, seria talvez querer muito de um país onde a dominação estrangeira tece seus interesses, criando atmosferas espirituais nos países pobres nem sempre condizentes com entretenimentos de melhores níveis culturais. Isso é apenas a constatação do fato, ou dos fatos mesmos, pois de que adianta tanta aproximação com grandes metrópoles se o nosso povo é mantido em um limbo de conhecimento mais facilmente manipulado? Nem é tanto a questão de almas condicionadas, mas se tanto, do mesmo em materialismo, do Pavlov ainda atual, considerando a importância de seus conhecimentos com bichos, no que prescreva que em certos aspectos somos bem piores do que os tais...
            Que não teçamos, com o mundo tal como está, superioridade de espécies no planeta, pois chegamos à conquista de conceder afetos afortunados aos animais, como em A Montanha dos Gorilas, com a atriz consagrada Sigourney Weaver. Por que não creditarmos ao movimento de formigas um conhecimento que encontramos e que nos dá a Natureza, com a generosidade maravilhosa em que nossa espécie não costumou ainda a se dar conta, com sua percepção aberta apenas aos aparelhos digitais? Saibamos que a afetividade de um cão não pede recompensas, apenas que se o trate bem, e que sejamos humanos – estranho paradoxo – com eles. Atingimos níveis de condicionamento maiores do que os bichos, na equação: estímulo-punição-prazer, em que a ordem não se dá em nenhum sentido, pois mesmo os estímulos dependem de nossa massa encefálica em apertar os botões e vivermos, a não ser que exerçamos a escrita, a arte, pois estas ferramentas de expressão fazem brotar muitas vezes a contradição necessária, dentro de uma investigação acurada e quase filosófica de como nos situamos no mundo... Como disse Vandré, a vida não se resume a festivais, e agora, nem a orgias, nem ao descaso, injúria, inveja, preconceito ou difamação. Apenas afirmo que senti tudo em minha carne, mas não importa, pois para um devoto de Krsna, a fama é igual à infâmia, pois não há dualidades na vida espiritual e, como um bom conselho que dou aos seres que aceitem de meu verbo, a senda necessária é ao menos tentar agir em consciência de Krsna, em bhakti, não importando a religião, ou mesmo, para os ateus, agir com caráter, com a disposição férrea de cavalheiros, pois de barbáries já basta em muitos cantos insalubres do planeta. Pensemos no progresso como algo que saiba de melhor distribuição de riquezas, pois do mesmo lado de alguém que curta escrever, há a curtição sem precedentes em sabermos que muitos poderão a vir a ler. E entender.


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