Acordei
um pouco mais cedo do que o usual, encharcado de um suor e um pouco do descarte
de meu ego contrito, muito depois de uma incerta no facebook, em que minha
latinidade se fez presente em algo quase mítico, mas evanesceu sem qualquer
proposta mais duradoura. Minha vida um pouco que se tornara uma colcha de
retalhos, e meus sonhos viravam pouco a pouco um preâmbulo de fragmentos, em
que nem a mais famosa música seria tocada sem interromper-se no clímax. Me
sentia assoberbado do araque, meio que sem saber do mundo mais do que algumas
imagens e muito pouco texto, que o excerto deste parágrafo talvez os tornassem
infinitos. Tudo que eu dissesse a partir desse momento seria algo a não ser
nada que supusessem de valia. E disso saberia, pois os textos mais longos não
aparecem mais... Não vibram na mesma frequência, não se alternam com o fluir
mais solene, meio que um escolho, uma penedia que encontramos por dentro de nós
mesmos, em que fluímos e refluímos depois de deixarmos nosso barco ensimesmado
dentro de nosso peito!
Optei
por um café mediano, sem leite, preto. Era o dia de Lemanjá, e saberíamos mais
tarde que aqueles de oferendas estavam distantes do recrudescimento da
violência contra o candomblé em alguns turvos litorais de nossa cultura. Assim
de se costear, a saber, que outros barcos mais motorizados fariam do rito algo
distante, assaz improvável, que se tornava mais e mais um sonho o poder-se
ritualizar, dançar um ritmo de percussão, achar por vezes que um beijo não
sacramenta mais nada, na etnia branca, ou naqueles que se envolvem demais com
conceitos de pureza de raças, estes que não existem mais antropologicamente. O
sonho viraria um conceito qualquer? Passaria a ser uma categoria, uma classe,
uma ideia, um ato? De dois por três se vira um bicho, de três por dois, quiçá
seremos mais humanos, ou mais corajosos... Isso seria uma verdade cabal no
mundo de hoje, mas grupos de dois já são realidade treinada, e o refinamento da
catástrofe já se ouve mundo afora. A coisa aumenta, de coisa a se dizer quase
nada, pois não sabemos a se referir objetos, algo inanimado, um aparato, ou um
ser. A coisa e o nada, seria mais lógico dizer, pois enquanto coisa ainda
somos, e o nada é a nossa ausência em nos desmerecer enquanto víveres que ainda
seríamos. Pois que se represente um armazém, em que coisas são vendidas,
trocadas, vivenciadas artística e falsamente. Mas que compramos, compramos,
consumimos e vivemos dentro de um teatro em que os que estudaram a arte podem
prosseguir com mais prazer, enquanto que os de sinceridade tendem mais a
enlouquecer, pois esse padecimento é muito recorrente nos nossos tempos atuais.
Companheiros, depois da química vêm os fortes, e estes que a recorrem já foram
ou são ilustrados no sofrimento...
Escrever
é um tanto: é fazer amor com o significado, é beijar diversas vezes ao
conhecimento, encontrar uma mulher e regar seu corpo com poesia. Pois sim,
assim deveria ser, mas que o resguardar da pureza de sentimentos por vezes
distrai a guarda, e hoje, ao baixarmos a guarda, nos pegamos no fetiche de mais
sonhos, visto a Natureza Material redescobrir apenas o cimento, recapear o
asfalto, varrer as folhas, conversar um pouco, assim, de se baixar guardas, de
se redimir, pois à menor aproximação de um cidadão dito burguês a uma
preferência popular, o populacho do mexerico já traduz como um ampulheta
ideológica, e aí o conservadorismo talha o seu processo, verte de sombras o que
pode sinalizar solidariedade, ou melhor, aproximação meramente humana, cordial,
cristã, religiosa, civilizada, ou seja lá a razão: talvez socialista. O pavor
que vertem do socialismo aqueles que creem que perdem com isso manda os sinais
que reverberam desde aqueles que poderiam perder um pouco que seja, a outros,
mais escusos pois mais rentes ao povo, que tenderiam a ganhar, pelo menos no
fator humano, pois talham a manobra do mexerico algo do que pensam que entendem
do que tendem a chamar de manobra, cuja origem vem de termos militares, mas que
na verdade poderiam aqueles aprender com estratégias humanitárias o oposto do
que foi erroneamente aplicado em eras de guerras, de espoliação e de horror. Na
acepção crua, o que se diz atualmente não possui mais a linearidade do que era
há dez anos atrás, e modelar com patriotismo uma presidenta como Dilma
Rousseff, por exemplo, ao invés de chamarmos constritamente de socialismo
podemos citar o progressismo, pois neste 31 de dezembro de 2015 a Hora do
Brasil, das sete horas, falou um pouco da questão da Bolsa Família, do que
significou esta iniciativa para o país e seu povo, e como outros se espelharam em
virtude de termos tirado da miséria mais de 20 milhões de brasileiros. Se um
cidadão se diz humano, que mostre logicamente a sua felicidade em ver tal
processo histórico na face de toda uma nação.
Quando
se fala de sonho, podemos beirar o surreal, tangenciar o concreto, por vias de
uma necessidade premente de todo um povo. A imersão religiosa é indubitável,
mas a Natureza Material existe para nos mostrar um fato, já que a economia de
um país traduz a realidade financeira como de um lar, em que recebemos,
compramos e pagamos contas. Essa ordem de fatores explica igualmente de forma
lógica que, com a crise econômica que atravessa os países ricos, sentimos no
Brasil reflexos duros, mas temos que cumprir com a verdade de que tornar o país
politicamente instável, com as artimanhas da oposição, com a tese de quanto
pior melhor, é apenas criar o caos em que aqueles que trabalham arduamente
sofrem mais imediatamente com toda essa questão. Creio que ditar esse balanço é
chover no molhado, mas muitos usam de seus balancins para curtir suas férias
nos seus paraísos, enquanto outros não possuem muitas férias a se curtir em
suas favelas ou vilas empobrecidas... Ainda somos um país carente, mas que não
precisemos sonhar muito para ver uma realidade em que nos tornemos uma
referência em vários setores de desenvolvimento, no que podemos e devemos girar
as rodas para nos tornarmos uma pátria educadora, em que todos os Estados da
Federação concebam o fato como condição primeira, junto à saúde, da população
brasileira. Já somos referência na diplomacia, recebemos maravilhosamente os
estrangeiros, somos o coração das Américas, dispomos do maior volume de água do
planeta, possuímos a Amazônia, os povos indígenas, a Bahia de Todos os Santos,
uma das maiores cidades do mundo, uma música de encher os olhos... Tudo isso
não há de ser riqueza de mãos imperialistas, com o chauvinismo tecnocrata de
seus lacaios internos. A nação é nossa, o petróleo é nosso, são nossas as
nossas florestas. Qualquer país independente já teve um dia e sempre terá essa
prerrogativa como a máxima de qualquer governo, independente do seu status de
hierarquia como produtor ou fornecedor, pois é através da independência total
de uma nação que se ganha tempo suficiente para gestar o seu próprio futuro,
sem os entraves em que se tornam ferruginosos os parasitas que tramam
incansavelmente os golpes.