quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

O PREÂMBULO DE UM SONHO

            Acordei um pouco mais cedo do que o usual, encharcado de um suor e um pouco do descarte de meu ego contrito, muito depois de uma incerta no facebook, em que minha latinidade se fez presente em algo quase mítico, mas evanesceu sem qualquer proposta mais duradoura. Minha vida um pouco que se tornara uma colcha de retalhos, e meus sonhos viravam pouco a pouco um preâmbulo de fragmentos, em que nem a mais famosa música seria tocada sem interromper-se no clímax. Me sentia assoberbado do araque, meio que sem saber do mundo mais do que algumas imagens e muito pouco texto, que o excerto deste parágrafo talvez os tornassem infinitos. Tudo que eu dissesse a partir desse momento seria algo a não ser nada que supusessem de valia. E disso saberia, pois os textos mais longos não aparecem mais... Não vibram na mesma frequência, não se alternam com o fluir mais solene, meio que um escolho, uma penedia que encontramos por dentro de nós mesmos, em que fluímos e refluímos depois de deixarmos nosso barco ensimesmado dentro de nosso peito!
            Optei por um café mediano, sem leite, preto. Era o dia de Lemanjá, e saberíamos mais tarde que aqueles de oferendas estavam distantes do recrudescimento da violência contra o candomblé em alguns turvos litorais de nossa cultura. Assim de se costear, a saber, que outros barcos mais motorizados fariam do rito algo distante, assaz improvável, que se tornava mais e mais um sonho o poder-se ritualizar, dançar um ritmo de percussão, achar por vezes que um beijo não sacramenta mais nada, na etnia branca, ou naqueles que se envolvem demais com conceitos de pureza de raças, estes que não existem mais antropologicamente. O sonho viraria um conceito qualquer? Passaria a ser uma categoria, uma classe, uma ideia, um ato? De dois por três se vira um bicho, de três por dois, quiçá seremos mais humanos, ou mais corajosos... Isso seria uma verdade cabal no mundo de hoje, mas grupos de dois já são realidade treinada, e o refinamento da catástrofe já se ouve mundo afora. A coisa aumenta, de coisa a se dizer quase nada, pois não sabemos a se referir objetos, algo inanimado, um aparato, ou um ser. A coisa e o nada, seria mais lógico dizer, pois enquanto coisa ainda somos, e o nada é a nossa ausência em nos desmerecer enquanto víveres que ainda seríamos. Pois que se represente um armazém, em que coisas são vendidas, trocadas, vivenciadas artística e falsamente. Mas que compramos, compramos, consumimos e vivemos dentro de um teatro em que os que estudaram a arte podem prosseguir com mais prazer, enquanto que os de sinceridade tendem mais a enlouquecer, pois esse padecimento é muito recorrente nos nossos tempos atuais. Companheiros, depois da química vêm os fortes, e estes que a recorrem já foram ou são ilustrados no sofrimento...
            Escrever é um tanto: é fazer amor com o significado, é beijar diversas vezes ao conhecimento, encontrar uma mulher e regar seu corpo com poesia. Pois sim, assim deveria ser, mas que o resguardar da pureza de sentimentos por vezes distrai a guarda, e hoje, ao baixarmos a guarda, nos pegamos no fetiche de mais sonhos, visto a Natureza Material redescobrir apenas o cimento, recapear o asfalto, varrer as folhas, conversar um pouco, assim, de se baixar guardas, de se redimir, pois à menor aproximação de um cidadão dito burguês a uma preferência popular, o populacho do mexerico já traduz como um ampulheta ideológica, e aí o conservadorismo talha o seu processo, verte de sombras o que pode sinalizar solidariedade, ou melhor, aproximação meramente humana, cordial, cristã, religiosa, civilizada, ou seja lá a razão: talvez socialista. O pavor que vertem do socialismo aqueles que creem que perdem com isso manda os sinais que reverberam desde aqueles que poderiam perder um pouco que seja, a outros, mais escusos pois mais rentes ao povo, que tenderiam a ganhar, pelo menos no fator humano, pois talham a manobra do mexerico algo do que pensam que entendem do que tendem a chamar de manobra, cuja origem vem de termos militares, mas que na verdade poderiam aqueles aprender com estratégias humanitárias o oposto do que foi erroneamente aplicado em eras de guerras, de espoliação e de horror. Na acepção crua, o que se diz atualmente não possui mais a linearidade do que era há dez anos atrás, e modelar com patriotismo uma presidenta como Dilma Rousseff, por exemplo, ao invés de chamarmos constritamente de socialismo podemos citar o progressismo, pois neste 31 de dezembro de 2015 a Hora do Brasil, das sete horas, falou um pouco da questão da Bolsa Família, do que significou esta iniciativa para o país e seu povo, e como outros se espelharam em virtude de termos tirado da miséria mais de 20 milhões de brasileiros. Se um cidadão se diz humano, que mostre logicamente a sua felicidade em ver tal processo histórico na face de toda uma nação.
            Quando se fala de sonho, podemos beirar o surreal, tangenciar o concreto, por vias de uma necessidade premente de todo um povo. A imersão religiosa é indubitável, mas a Natureza Material existe para nos mostrar um fato, já que a economia de um país traduz a realidade financeira como de um lar, em que recebemos, compramos e pagamos contas. Essa ordem de fatores explica igualmente de forma lógica que, com a crise econômica que atravessa os países ricos, sentimos no Brasil reflexos duros, mas temos que cumprir com a verdade de que tornar o país politicamente instável, com as artimanhas da oposição, com a tese de quanto pior melhor, é apenas criar o caos em que aqueles que trabalham arduamente sofrem mais imediatamente com toda essa questão. Creio que ditar esse balanço é chover no molhado, mas muitos usam de seus balancins para curtir suas férias nos seus paraísos, enquanto outros não possuem muitas férias a se curtir em suas favelas ou vilas empobrecidas... Ainda somos um país carente, mas que não precisemos sonhar muito para ver uma realidade em que nos tornemos uma referência em vários setores de desenvolvimento, no que podemos e devemos girar as rodas para nos tornarmos uma pátria educadora, em que todos os Estados da Federação concebam o fato como condição primeira, junto à saúde, da população brasileira. Já somos referência na diplomacia, recebemos maravilhosamente os estrangeiros, somos o coração das Américas, dispomos do maior volume de água do planeta, possuímos a Amazônia, os povos indígenas, a Bahia de Todos os Santos, uma das maiores cidades do mundo, uma música de encher os olhos... Tudo isso não há de ser riqueza de mãos imperialistas, com o chauvinismo tecnocrata de seus lacaios internos. A nação é nossa, o petróleo é nosso, são nossas as nossas florestas. Qualquer país independente já teve um dia e sempre terá essa prerrogativa como a máxima de qualquer governo, independente do seu status de hierarquia como produtor ou fornecedor, pois é através da independência total de uma nação que se ganha tempo suficiente para gestar o seu próprio futuro, sem os entraves em que se tornam ferruginosos os parasitas que tramam incansavelmente os golpes. 

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

A ALMA DA ÍNDIA

            Um sonho é encontrar-se com uma pátria espiritual, como é a Índia para a totalidade dos universos manifestos e que ainda há por manifestarem-se. Não é pouco dizer algo como isso, já que Krsna está em tudo, nos átomos e no todo, além do Paramatma em nosso coração, como testemunha ao desfrute de nossas sendas, de nossas missões, nascimento a nascimento, desde que haja uma liberação quando atingimos o estado de serviço em bhakti ao Supremo. Isto é um pequeno preâmbulo de fé, que o digamos, necessário a um entendimento cabal entre os que desconhecem um país maravilhoso, com milhões e milhões de religiosos e sábios. Prabhupada trouxe o conhecimento ao Ocidente, ao país mais poderoso, os EUA. Dalí em diante outros países adotaram a consciência de Krsna, através de sucessão discipular, dos ensinamentos, dos preceitos védicos, da não intoxicação, da tolerância, paz, e a não violência não apenas ao gênero humano, mas extensivamente a todos os seres que habitam o planeta. Na verdade trouxe também o preceito em aceitarmos todas as religiões como caminhos de diversas culturas, não havendo por ótica humana nenhuma discriminação de cultos, ou diferenciação de deuses, pois tudo é uma coisa apenas, esse o fato que narro para mostrar aos aflitos que sofrem a discriminação de qualquer natureza que aquele que é consciente de Deus realmente é mais feliz, apesar de sabermos que o que obtemos materialmente é estritamente necessário para que possamos no mínimo manter a alma e o corpo unidos. Prabhupada, o grande líder espiritual deste último século mostra sempre que o seu desapego foi o exemplo de um homem que com simplicidade ensinou a outros que a luxúria do consumo nunca será o caminho que nos leve à religião, pois como se diz no latim: religare, esta nos liga ao mundo sob a visão em que as escrituras como o Gita como Ele É e o Shrimad Bhagavatam dão mostras do que possuímos como todo o conhecimento espiritual da Índia, dentro da plataforma do Vaishnavismo. Digo, pois chega uma hora em que nada faz mais muito sentido sem o encontro crucial com esses textos sagrados, a comunhão com a Natureza e os mantras védicos.
            Pude ter a satisfação de estudar várias vezes o Gita, e ler dez Cantos do Bhagavatam, e sou sincero em concluir abertamente que isso ampliou minha concepção do mundo, pois creio que não há muitas possibilidades de compreender o mundo sem que não haja a distinção clara entre o que é ilusão e o que não é, já que transcender muitas coisas é condição sine qua non para mim e outros devotos enquanto vivemos em um mundo onde os negócios são mais importantes do que as pessoas... Talvez seja uma afirmação libertina, mas penso que os valores financeiros estão tornando o mundo refratário, já que enquanto alguns apenas sobrevivem, aliás, a grande massa do mundo ocidental, outros tem padrões de vida muitíssimos mais elevados, não se utilizando de nascimentos em famílias mais ricas para elevarem-se espiritualmente, mas apenas para perpetuar a simples exploração predatória, a ganância e a relação de poder inequívoca para esse tipo de gente. Todo esse emaranhado está que a alguns pode parecer uma contradição inerente a sentimentos de fé originalmente despojados de utilidade por receitas ou interpretações arcaicas, mas que às grandes massas que incorporam o evangelho nas sociedades, desde há gerações, temos a impressão de que não podemos passar sem esse fato.
            Caramba, por vezes parece uma pretensão de desafogo, nada mais, tentar erigir um edifício sobre pilotis que hão de passar por crivos, mas que não importe, pois o panorama da civilização passa por uma questão de profundas diferenças religiosas. Podemos ser Hare Krsnas, mas igualmente podemos ser evangelistas, judeus, católicos, muçulmanos, umbandistas, jainistas, budistas, ateus ou agnósticos. Incluso a idolatria deva ser respeitada profundamente em nossos alicerces culturais, pois africanos e indígenas também possuem – de modo extremamente rico – seus ritos e cerimônias religiosos. É nessa miríade de crenças, de misticismo tipicamente emergente e um certo dogmatismo de contraponto em países mais ricos, que vemos uma fusão em que paralelamente o atrativo display tecnológico passa a ser adorado como mais um totem em seus diálogos por vezes sem sentido, mas que azeitam a máquina da compreensão da mesma. Não haja a separação maniqueísta de sermos superiores em termos de compreensões de qualquer natureza, pois que não há mais superioridade no gênero humano, já que a mesma intolerância abraça todos os povos e há ainda a se respirar, justo, na pátria latino-americana algo que envolve de humanismo àqueles que lutam como trabalhadores, os empresários e certos governos, que passam por ajustes de importância crucial, no que agora terão que sobreviver enquanto estamento político a partir da anuência das bases sociais. É esta a fundação do edifício, de sapatas profundas e largas, o que nos pressupõem tornarmos bela a fruição de uma boa arquitetura, ou das assistências exatas da engenharia... Negar esses pressupostos é negar uma lógica que não se nega, pois não há como enveredar por um caminho em que a Verdade não a pertença.
            A alma da Índia é sobremaneira maravilhosa: mais de bilhão se seres compondo uma nação, e o simples mergulho na mãe Ganjes mostra ao mundo que muitos são os sítios sagrados, e que o mundo Oriental encerra em si mesmo seu próprio modo de orientação espiritual, econômica e existencial, em que nos parece talvez cedo para compreendermos, mas que não está saturado como o Ocidente que tentou, todo o tempo, em toda a história tornada oficial perante séculos e séculos, impor sua cultura aos povos que chamavam de primitivos. Agora, estranho paradoxo, terminamos por destruir cada vez mais a Terra, enquanto alguns povos ainda se mantém em sua dimensão harmônica em relação ao planeta: ensinando ao branco como ser mais inteligente e educado em relação à Natureza, e a seu próximo...

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

SE HÁ FLORES NO CAMPO, SE SENTIREM QUE UMA CANSA UM POUCO APOIADA EM UM PEQUENO TRONCO, LEMBREM-SE QUE É O PRINCIPIAR DE MAIS UM OCASO DA POESIA, QUE CORRE NO CICLO, QUE VEM DA FONTE E DESCANSA EM SEU CATRE DE CELIBATO...

QUEM VOS FALA É O MAIS CAÍDOS DOS DEVOTOS, MAS QUE SE LEVANTA COM FACILIDADE E SE CONTENTA COM POUCO, A SE POUSAR EM QUALQUER LUGAR, A ESCREVER EM QUALQUER INSTANTE.

E QUE SEJAMOS CONTEMPLADOS COM O AMOR MAIOR ONDE KRSNA RESIDE COMO PARAMATMA DENTRO DE NOSSO PEITO...

COMO DIRIA UM POETA, HÁ QUE SE GUARDAR A MULHER AMADA COMO O MAIOR TESOURO QUE ESTÁ BEM AO NOSSO LADO!

DE NOVO A SE DIZER: CONTEMPLANDO O MAR, ENCONTRAREMOS AS SEREIAS QUE PASSAM AOS NOSSOS LADOS TOMANDO REFRIGERANTES E OLHANDO COM CARINHO...

SABEREMOS MAIS SOBRE O CONHECIMENTO MATERIAL QUANDO NOS DISPUSERMOS A DEIXAR DE LADO OS ENTRAVES DE PRÉ JUÍZOS.

A VERDADE É O CAMINHO MAIS LONGO PARA NOS ENCONTRARMOS COM A VIDA QUE PENSAMOS EXISTIR DENTRO DE NÓS, E QUE HÁ: MAIS FLUENTE E MAIS DIGNA.

AQUELES QUE ESTÃO COM OS DESVALIDOS SABEM DO SOFRIMENTO HUMANO.

NÃO É SEMEANDO A DISCÓRDIA, MAS LUTANDO PELA IGUALDADE, QUE VAMOS REPARAR NOSSOS CRASSOS ERROS HISTÓRICOS.

SÃO MUITAS AS GENTES QUE SOFREM PARA MANTER UMA DESIGUALDADE SOCIAL TOTALMENTE ABSURDA EM GRANDE PARTE DO PLANETA. NÃO PENSEM QUE ESTE VAI DEIXAR DE SER EXATO AO MOSTRAR AO MUNDO QUEM É QUEM NAS INJUSTIÇAS...

MARX É UM CRISTÃO NA TEORIA ECONÔMICA...

EIS QUE FOI FEITA A CAMISETA: NA FRENTE, DEUS ESTÁ MORTO. ASSINADO, NIETZSCHE... ATRÁS ESCRITO: NIETZSCHE ESTÁ MORTO, ASSINADO, DEUS!!!

NUNCA PODERÁ HAVER HIERARQUIAS ESPIRITUAIS NO DÍZIMO.

JESUS CRISTO ERA COMUNISTA ESPIRITUAL, POIS QUE OS DOIS LADOS EM AMBAS AS PARTES SÃO IRMANADOS, E AOS RICOS NÃO SERÁ FÁCIL PASSAR PELO PORTÃO DO CÉU.

DEUS NÃO É FIEL AOS SEUS FILHOS, ASSIM COMO EM UMA FAMÍLIA OS FILHOS É QUE DEVEM SER FIÉIS AO PAI...

A QUE TENTEMOS AO MENOS SUPOR ALGO DE ESPÍRITO NÃO MERCENÁRIO, POIS DE BÊNÇÃO BASTA NÃO SERMOS NOSSO CORPO, QUE ASSUME DIVERSAS FORMAS EM NOSSA EXISTÊNCIA.

POR TERRA TALVEZ ENTENDEMOS ALGO POR CERTEZAS QUE CERTAMENTE NUNCA ENCERRARAM VERDADEIROS CONHECIMENTOS, EM SUA PROFUNDIDADE REALMENTE NECESSÁRIA.

O BARCO

Tremenda embarcação, esta em que nos situamos a respirar do ar noturno
E que tangencia uma palavra que seja dada ao espírito, de uma noção livre
Em que nos encardamos na tipoia de suas velas içadas no temperamento
De um florescimento em que Dante seria claro ao versar o tanger de uma fera!

Barco que nos chama a algo, e que nem sempre sabemos como, mas fala tanto
Que outros versos diriam, e que bastaria, em homenagem viva, a vermos Camões
Como um turíbulo pungente do que há ainda a se prescrever na medicina de Deus.

Dentro de um convés de laterais curtas, a se agarrar nas alças, transpomos
Um cabo tormentoso em que hoje o talento africano recria-se a enriquecer
De sua cor os extenuados e antigos europeus que desandaram na desanda de XVI.

Que os franceses pensem em suas diversas argélias, e que os ingleses retraduzem
O que fizeram com seus barcos repletos na Índia sagrada que os poetas pétreos
Carregam nos Vedas a compreensão mesma do que versa certa realidade...

Mas o barco não traz ressentimentos, pudera, nem arca seja, mas com gentes
Que revigorem tratados, que aceitem do que seja líquido, pudera, não podemos
Com mais liquefazer do que os Oceanos que ditam a plataforma do aquecimento.

Esquecemos que temos agora um barco gigantesco que nos subtrai as terras
Sem nos darmos conta de que aquilo pelo qual lutamos arduamente
Evanesce como as cinzas em um sertão preservado e incólume na seara da Bahia.

Comecemos com o ardiloso perfil de toda uma massa perfilada em outras naves
Que sequer sabem onde reside o próximo pilar dos mares, se veem no tipo rádio
As telas de algo que serve e serviu para alienar os montantes rumorosos do destino!

Será ainda possível uma linearidade sem a fração de que nos fragmentemos
A dizermos que em um país não se possa traduzir um gesto fundamentado
Em uma expressão livre que remonte uma data transversal da paz?

É um barco, camaradas, é neste barco que ensaiaremos o nosso ressurgimento,
Pois agora não dá para alterar mais a roda da história, posta a posição do timão
Em que aprumemos a quilha que a algum lugar possa, ao mesmo fundearmos...

É alternando marés com tempestades, que vamos avançando na procela
Dos penedos e parcéis gigantescos e abissais, que o movimento de uma vaga
Redescobre os marulhos de mariscos bêbados de tanto serem tocados pela água.

E saibamos que a mesma água desce das serras com a exatidão de uma coroa
Quando esta oculta a mais linda pedra diamantina do planeta Terra
Que possui o mais lindo nome, algo entre Verdadeira e Liberdade... ipsis literis!

CAMINHO ÁRDUO

            Trabalhara como todos os dias, eu e minha vida, de sabermos nós – eu e ela, apenas – que não se trabalhara nada, aos olhos de quaisquer jurisprudências. No entanto eu estava só, como sempre, assim de se dizer, como refém de sentimentos de joguete, palavras que me vinham de outros, tal miríade, tal coleção de refrãos baratos que começara a me lembrar dos tempos em que não havia solidão, não esta que anuncio sem medo, posto ser inequivocamente de minha escolha, sem as ofertas outras que vêm de memória, o compartir da lama. Lembrei-me de uma vez, perdoem-me o linguajar chulo, mas de estar com uma mulher me drogando a noite inteira no motel, acabando em festar na banheira, ao que ela me ofereceu como o suprassumo de algo lavado externamente, ao que o reto me bastasse a introduzir o que eu supunha sexo. Naquele dia deixei de lado, a água era turva de espuma, a mulher e eu estávamos secos por dentro da luxúria, e chamávamos quiçá de uma noite de embalos, de uma noite de prazer. Os amigos haviam fervilhado naquela noite de boates, de um roque nada progressivo, da erva, da cocaína, que agora recordo não passar de pesadelo, no meu antigo e recorrente caso em recaídas, em que me faltara o chão por diversas vezes, por não poder, e incorrer nos mesmos erros. Nada contra as intimidades, mas agora graças a deus essas recordações são apenas flashies de tempos que passaram, em que as minhas veredas de libertação foram árduas, longas, solitárias, em que os longos anos se passaram em que a minha associação não me permitiu ver ao menos um risco de pó ou um cigarro de maconha. Quase vinte anos se passaram sem ver ao menos ao que denoto fé de companheiros que me fizeram ver de tamanha ilusão, principalmente o grande Prabhupada com livros que ditam os preceitos, ao que ainda falho por fumar meu tabaco.
            O caminho da libertação é árduo, pois a lama gruda de tal forma que por vezes quando queremos limparmo-nos, outros vem e derramam de água mais suja. Tive que trilhar vereda mais longa, que com o tempo seca, e hoje acho um bocado ridículo se um homem da minha idade, 50 anos, fuma um baseado. Ou que, se fumar, que o faça longe de mim ou de minha casa, pois o lícito penal ainda manda que andemos pela lei, e longe disso querer transgredir o correto. 2015 foi o ano em que abandonei o álcool, descartando mais e mais associações e me unindo mais e mais a Prabhupada, ou Krsna. Talvez o prazer da filosofia, de fumar um bom cachimbo olhando o céu noturno hoje, agora há pouco, e vendo as nuvens enegrecidas como o corpo da Encarnação Negra, de onde vem Deus a Vrndavana, a brincar em seus Passatempos. Posso tornar-me um pouco chato, mas alguns homens, algumas mulheres desenvolvem suas próprias manias, seus próprios modos de transcender, e talvez sejam bem raros aqueles que encontram mais prazer na contemplação do que no coito. Se ainda pudéssemos sentir o tato dos órgãos genitais seria muito mais prazeroso, mas sempre existe o risco da peste da AIDS que inflama de contaminações tantas as cidades litorâneas que na verdade não há por que arriscar, em que temos que literalmente embalar o sexo... Talvez até indústrias de embutidos possam fazer alguma propaganda tipo o selo da linguiça sadia, ou coisa parecida, como um rótulo de camisinha.
            O caminho mais fácil está parecendo o de reflexos rápidos, dos insights rápidos como um roteiro acelerado no script de um filme, como em uma novela barata latino-americana que empurra noções de romantismo banalizado no gesto do grudar-se, não apenas no tete a tete do prazer, como no invasivo e recorrente e banalizado gesto da agressão verbal e física. Esses são os berços do fascismo, e é através dessa ótica que devemos buscar a simples equação que dita ou está ditando essa moda de intolerância, para que esta invada até mesmo lideranças que estão comandando o país como representantes do povo com joguetes onde a crítica principalmente burguesa dá asas e recorre até mesmo como alternativa viável qualquer golpe que retire da classe trabalhadora as conquistas obtidas com muita luta. Teci um preâmbulo da minha libertação, mas para criar as condições de poder lutar inteligentemente, com a sobriedade que faz parte dos verdadeiros combatentes e sua integridade moral irretocável, nesse quesito de lutarmos para sermos no mínimo civilizados e atenuando com diplomacia a truculência desumana a que querem submeter o país grupos que inclusive insuflam as drogas e a violência no sentido de confundir os fracos. A questão de estar no meio da lama leva os incautos a afundarem mais e mais e se tornarem vulneráveis e, no entanto, ativos como contingentes mais e mais alienados para o cometimento de crimes e outras barbáries.
            Por isso digo, quando nos tornamos mais solitários, nada nos impede que nos encontremos com o vizinho do lado, que conversemos com a comunidade, que floresçamos boas ideias, que favoreçamos pensamentos e ideais saudáveis, solidários, que “orientemos” com boas atitudes aqueles que nos querem retaliar, assim de suprimir qualquer evento que nos diga respeito a faltarem com este. Em síntese, que possamos levar a luz a quem precisa, pois, creiam-me, aqueles que entraram por veredas de trevas e encontraram a luz tíbia de vagalumes, e que os seguiram pelas entranhas da vida e seus perigos, que não se quebraram por sorte, que protegem a quem amam e servem por servir, sempre, têm, em suas saudáveis escolhas apenas a representatividade de abrirem a mente a uma escola que se faz presente em qualquer país, em qualquer cidade, em qualquer aldeia, pois o fato de se fazer o correto sem essa palavra ser tão dramaticamente reta, com ternura e carinho, nos dita o caminho da volta, em que os vagalumes nos tragam o amanhecer para aprendermos em qual posição do horizonte nasce o sol, e em que quadrantes este incorpora a vida!

domingo, 27 de dezembro de 2015

DE UM AMOR MAIOR

Aos olhos que não vêem
O que se dirá do certo,
O que se supõe do errado,
A palavra posta na mesa,
O amanhecer desperto em vida
E a morte em padecermos
O que nos diria o próprio destino.

Mas não, pois nos cerca por vezes
Apenas a teatralidade da loucura
Nos loucos que se travestem de sérios
Engendrando fantasias do horror.
Loucos com referências nas imagens,
Loucos treinados na coação
De regredir no tempo de sua própria hipocrisia.

No engolir as frases entrecortadas
Talvez na obra encontremos
O gesto de um homem, distante
Como é distante e lúcido o olhar consciente.
Como andar pelas ruas cáusticas
E receber os relâmpagos de outros olhares
Em que o registro não alcança em sua pálida distância.

Tecido imanente de pátina recriada
Ao ver que o povo ressurge
Posto o mesmo clarão de consciência
Que vemos quando o sentimos
Em sentir posto estar
Na veia inquieta que nos alimenta
De um alimento que nos aclara o espírito.

No entanto, matéria bruta,
Salve com o seu plantel as escamas de nosso dizer:
Escamas áridas que nos envolvem
Quando – reticentes – não sabemos
Que não somos peixes
Mas sobrenadamos ao oceano insofismável
De continuar a navegar conforme barco que – também – somos.

Um grande barco com o timão distante da proa
Mas sobre um potente motor,
Mas que são as horas da madrugada
Que silenciam, içadas as velas,
Em que preparamos a nau, rumo ao dia
Que não espera posto que ação,
Alimento pão, alimento chão, alimento teto!

Que alimento sejamos também ao ensinar
O topo pretendido ao se predizer
Palavras cálidas que amansam os tremores
Da truculência envaidecida das orgias;
Já que estamos em trabalho – justo –
Como a plataforma de um teatro improvisado
Em que atuamos na conformidade e respeito.

Desse respeito que transcende a um si próprio:
Desfaz a crueza da maldade em seus desfechos,
Traduz, silencioso, a semântica do verbo,
Prima pela atitude coerente de cada existir,
Desata os nós recorrentes que a nós reage,
Versa os versos de uma poesia por vezes tíbia
Mas que não silencia a voz da realidade.

Realidade que assombra
Quando vestimos os signos em nossas profundezas
Regemos orquestras, despimos a ignorância
De suas raízes fincadas em tempos sombrios
Onde o que era poderia não ter sido
Posto que somos frutos de uma árvore
Onde as ervas daninhas não podem medrar mais.

Poesia, verta o caudal rumoroso da história
Em que escutamos a voz da enfermidade
Em patíbulos que retiramos de bastilhas
Qual Danton em eternidade sincera
Da luta em se prosseguir, à mesma bandeira,
Em outras eras, outras propostas, outros conceitos,
Curando ela mesma por sua posição da medicina libertária!

Jamais cessará o canto, e que este navegue pela garrafa digital
No prazer dos poetas em brilhar novamente os olhos do cristal
Sereno em sua latitude, horizontal em seus vértices,
Lógica transubstanciada em sua aritmética,
A um ritmo sonante em moedas de esperança,
Amálgama no cadinho de experiência do mesmo homem
Que abraça silencioso o jacarandá em seu nascituro.

NUNCA QUEBRAREMOS UMA COLUNA QUE SEJA, POIS A ARQUITETURA SEMPRE É AMPLA DENTRO MESMO DE SEU ESPAÇO CÔNCAVO...

OS QUE SEMEIAM O AMOR TEM AS MÃOS FORTES E DURAS PELA DEFESA DE SUAS TERNURAS.

HÁ DOIS DIAS NASCEU O CRISTO, E FAZEM MAIS DE DOIS MIL ANOS QUE NASCE EM TODOS OS NATAIS..

UMA SEMENTE APENAS A BROTAR FAZ DE UM VENTRE UMA PÁGINA DE MILAGRE...

SE A PLANTA CRESCE POR TUDO, VEMOS A TERRA COMO ALGO QUE SEQUER PRESSENTÍAMOS COMO MATÉRIA MÃE.

SE A PLANTA CRESCE PARA OS LADOS, ESPEREMOS ATÉ QUE PREENCHA NOSSAS MÃOS COM A GENEROSIDADE DE SEU CARINHO.

E CERTOS VOOS DE PÁSSAROS MARINHOS CRESCEM PARA AS ALTITUDES MOSTRANDO A NÓS, MÍSEROS MORTAIS, A AMPLITUDE DO CÉU.

O OLHAR DE UMA POMBA TEM O PLENO VOO DE SUA PROFUSÃO DE LIBERDADES!

A LUZ SINCERA VEM DE UM OLHAR DE UM SER QUE TE OLHA QUERENDO COMPARTIR SEU PÁLIDO VÉU DE ESPERANÇA...

A LUZ NEM SEMPRE É CORTEJADA PELOS RICOS, POIS DE LUZES AS ORGIAS ESTÃO REPLETAS, LUZES DA ELETRICIDADE, DA MECÂNICA NEWTONIANA.

POIS SIM, CLARO ESTÁ QUE NÃO PRECISAMOS EVADIRMOS DE NÓS MESMOS PARA PERPETUAR A FARSA MAQUILADA DE NOSSOS PRÓPRIOS FRACASSOS ENQUANTO GÊNERO HUMANO.

A EXISTÊNCIA DE UM AMIGO OU DE UM INIMIGO NÃO PASSA DE UMA QUESTÃO ILUSÓRIA, POIS É CRIADA NA MENTE, SOB A ÓTICA ERRADA DA INTOLERÂNCIA OU DE GANANCIOSOS INTERESSES.

AO MESMO TEMPO QUE A ONDA ENVOLVE O ROCHEDO, HÁ QUEBRAS QUE REFLUEM, DEIXANDO CERTOS VÁCUOS PARA OUTRAS VAGAS...

SEJAMOS SEMPRE CONTRA AS GUERRAS, POIS ESTAS NÃO SE JUSTIFICAM NEM NO ATO NEM NA REAÇÃO.

O TÍTULO DA PAZ É ALGO QUE NEM A MAIOR NOBREZA DA TERRA PODERIA ATINGIR.

DA GUERRA OU DA PAZ, PARECE QUE DEPENDEMOS MUITO DE QUEM FABRICA AS ARMAS...

sábado, 26 de dezembro de 2015

SEM RESSENTIMENTOS, CORAGEM, BROTHERS, CORAGEM, PLEASE!!!

O MAR É O LÍDER, UM DOS, DO CONHECIMENTO, E QUEM O CONHECER CONHECE O MUNDO, MESMO DE DENTRO DE SUA ALDEIA...

SE QUEREM SABER DE SEGREDOS, SAIBAM QUE UM POETA VERDADEIRO NÃO OS POSSUI, POR ISSO É UM HOMEM LIVRE!

ESTÁ LIBERADA A ESPIONAGEM DA CIA E OUTROS ÓRGÃOS DE INTELIGÊNCIA, POIS SEUS TENTÁCULOS ESTÃO EM TODAS AS PARTES, INCLUSO NO PEQUENO MUNDO DE CAMILO...

VERSA O SENTIMENTO DE UM HOMEM QUE VÊ DIA A DIA O AMOR SECANDO COMO UMA PLANTA SEM CUIDADOS.

FAZER O AMOR TORNOU-SE MOEDA RARA, POIS SEMPRE HÁ ABUTRES EM TORNO DO SENTIMENTO SINCERO...

A TORTURA FÍSICA E PSÍQUICA ESTÃO ALIADAS AO PRECONCEITO EM VÁRIOS LUGARES DO PLANETA, INCLUSO O NOSSO CONTINENTE...

NÃO HÁ UM PARTIDO NO MUNDO QUE DÊ RETAGUARDA AOS QUE SÃO DE CORAGEM PÉTREA!

AS PREFERÊNCIAS SEXUAIS PODEM SER LIBERTÁRIAS, MAS A SOLIDÃO IMPOSTA DEVE ORIGINAR A LUTA PELA LIBERTAÇÃO DE UM POVO: SEMPRE!

NÃO ADIANTA ACHAREM QUE SÃO ATIVISTAS AQUELES QUE SE ESCONDEM DENTRO DOS FETICHES DE SUAS CUEQUINHAS...

OS VERDADEIROS POETAS E ARTISTAS VOAM EM SEU PLENO VOO DE UMA LIBERDADE LEGITIMADA PELO ESPÍRITO, ESTÃO SALVOS...

NÃO ESPEREM GUARDAR RESSENTIMENTOS, CAROS CIDADÃO, MAS O MUNDO INTEIRO BEIRA UMA GUERRA TOTAL, É O QUE ESTAMOS FAZENDO À HUMANIDADE, AO CONCENTRARMOS TODAS AS RIQUEZAS...

A PARTIR DE UMA VIRILIDADE CRIATIVA, PICASSO PODERIA TER AFIRMADO EM SUA GUERNICA DA SUA ATUALIDADE NESTES NOSSOS PROMETIDOS TEMPOS CONTEMPORÂNEOS, EM RELAÇÃO A CULTURAS MORTAS...

ENCALACRA-SE O VERBO, MAS NÃO DEIXA DE SER ALGO DOUTA A EXISTÊNCIA DA COMPREENSÃO DA POESOFIA...

A VIDA QUE NÃO CESSA

De se esperar que não se espere, que a vida como que flutua
Ao sentirmos quiçá em devaneios em que um homem possa ser poeta
Mesmo quando vê que sua embarcação remonte ao Mediterrâneo atual
Onde prescreve-se vidas sem o rumo de outras que não encontram razões...

A vida não cessa, não tem término, quando insetos nos dizem que – vivos –
O sabem de muito a que sequer conhecemos em outras dimensões
Nos parecendo que queiramos o céu apenas para nele caminharmos ilesos.

A vida vem do éter, do limbo, das almas contritas e sofredoras, dos loucos
Que não encontram sequer a compreensão primeira do próprio entendimento
De que a mesma medicina que nos cura ou promete qualquer apanágio
Também mostra sinais de cansaço ao não receber pagamentos.

E a vida viria do pago, do lucro, da desmedida diferença bruta da prata,
Ou sequer sabemos que nossos empregos por vezes encerram dentro da redoma
O fato que vivemos de modo egoísta em uma selva inegável do propósito
De engolirmos uma a uma certas vertentes de esperança, no que não dizem.

Pois que a vida não cesse na anti-vida do preconceito e do falso perdão,
Quando querem nos perdoar através de outras ofensas oclusas
Nas mesmas palavras que ditam que somos normais dentro de uma ótica
Em que de modo sistêmico sabemos que quase tudo anda de vida errada...

Mas que por vezes há vidas que cessam, que cansam da luta, que cedem
Ao espaço de algozes que só vem na maldade a saída aos que pensam
Um pouco mais e melhor na crítica que verte luz em suas próprias trevas!

Há vidas melhores do que outras, igualmente há melhores seres,
Nisto de espécie humana em que falar sempre do livre arbítrio
No mínimo é coadunar com um liberalismo de grilhões: antigo...

Saibamos que a vida não precisa passar pela carestia de muitos,
Pois esta encerra páginas ainda não escritas pelas vertentes do tempo
Que ajudam quando tecidas na aurora dos homens a descobrir
Um tesouro que fala mais ao espírito do que à matéria de plástico.

A vida não cessará jamais quando pensarmos que é criação
De tempos onde não haveria tanta, mas que em nossos é farta
Quando sabemos que agora em que muitos vivem bem em seus lócus
Outros pretendem socializar até – justo – os sentimentos sãos.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

O REVISOR DAS ROCHAS

            Atado a um critério de não saber muito sobre o que encontrar na costa, Emílio vira Elvira caminhando, e não saberia dizer muito bem se gostava realmente dela, pois que o cumprimentava, mas com a reserva que ele acreditava que vinha apenas para si próprio. Do que ele observara de sua Natureza companheira, as formigas estavam assoberbadas com algo, de um tamanho que ele não discernia, mas resolvera – em tempos bons naquele século permissivo nessas questões – consultar o oráculo de suas ondas... Sua pele estava acobreada, e outro que igualmente portava-se autêntico – até demais – possuía igualmente o couro de cobre.
            Esteve em uma ponta, o encontro de dois pequenos mares, em que as pedras emaranhavam e conturbavam o encontro. Mas o mar naquela baía não era forte. Dito que não se possa dizer, pois aquele encerra do clima as mensagens mais absurdas. Viu as pedras, o término das ondas na praia, mas um começo, no refluir de uma maré que não se apresentava exata, como efetivamente não possui cálculos. Há que se sentir algo, e a maré do mesmo modo nos sente, mesmo a depender de idiossincrasias, no fator humano, em que não nos propomos reais, no mais das vezes. As pequeninas vagas contavam histórias de rochedos milenares, a que se dissesse que tinham comportamentos similares, este mesmo que coloca no plano do infinito algo imprevisível em qualquer interpretação sistemática. Era na cabeça de poucos verdadeiras flechas de milhões de cupidos que não venciam na alma da poesia mais beleza do que isso tudo. E ainda se falava de muito, mas que realmente poucos usufruíam a Natureza como ela se basta desse tanto, repito, infinito tanto, posto a combinatória não poder com eventos de átomos que nunca se repetem, mesmo em sabermos que pensemos alguma certeza na quântica, ao que Einstein se retira da cena para deixar os de coragem divagarem as ciências...
            Emílio tirara conclusões: vivia só, mas não vivia só. Estava com seus seres e era enquanto a isso, pois não descortinara vida que não fosse ao apadrinhamento de sua reserva enquanto observador inato, um homem que versava maravilhas a partir dos modos de ignorância que o atraíam, já que o que pensamos de ser monolítica a pedra da incompreensão por vezes é seara fértil para que dela nos apercebamos de cruas realidades em que por vezes um homem é o fato apenas, um homem e suas procelas internas, seus devaneios e incertezas, as paredes que críamos serem pedras e por vezes encobrem frestas por onde vertemos de nossas luzes. A que se ilumina mais, pois aqueles que nada possuem de esperança nesta vida bebem sequiosamente de uma ausência de preconceitos e prejuízos, a tarefa mais árdua para alguns, a que para Emílio se soava aparentemente natural, visto sofrer igualmente em épocas anteriores, que mal sabia se retornariam, ou que a suas posição não seria traída por ser apenas mais um estudioso. Visto ter suas manias, e uma delas era estudar, ao sonho de lecionar, como se ensinar fizesse parte de seus aprendizados como ser. Sabia que um gato ensina a sua prole na sobrevivência, que um cão por vezes dá cobertura a outro mais fraco e no entanto mais experto, que um inseto plana e pousa sem que o percebamos, a trilhar que não trilhemos o fato apenas da moda de comermos, pois não é para isso que existem, e as aventuras extraordinárias que as deixemos para os programas de domingo...
            Pois bem, Emílio estudava, os ossos mecânicos da informática, a hierarquia dos mesmos ossos, as suas articulações o fascinavam, como em uma matéria crua de engenharia mecânica, uma reinvenção das funções da ortopedia em bonecos de animação. A proposta era dura, a invenção seria mais difícil, mas a poesia de Cartago, seu amigo, o infundia, o esmerava. Por isso a vasão das águas que lhe transportavam, pois não era muito confortável possuir uma enfermidade quase patibular em reações matutinas, quando de seu refluxo à consciência. Não era nunca tarefa fácil, já que sozinho temeria algo, como em seus sonhos mais proféticos. Sabia não poder amar como um homem normal, mas a anormalidade em um fator o produzia enquanto vivente seus sentimentos éticos que construíam em uma construção de erguer estruturas que esperava não ruíssem, ou se fosse, refaria, com o progresso de uma fundação perene em que estivera na lida de erigir por longas veredas...
            No que encontrasse Carolina àquela manhã, saberia mais a se dizer de muito, pois falava algo que remontava ao pensamento, jamais censurando palavras e, quando de pouco, usando filtros de reconhecimento, apenas... Constatou-se na vizinhança que Carol viria com o namorado, um desses, de excelência existencial. Paciência, não teria tanto a contar jamais do que esperava fosse, remontando em palavras perdidas no éter apenas reminiscência de um libelo em libertar-se, posto sua vida ser um sacrário de arcabouços que se perdem no tempo, mas não em frações de memória, em que tais cenários nem se comparavam com as dificuldades das reações matutinas, e no encorpado e nem tão salutar encontro no externo daqueles que acordam prontos para esmerar conflitos, como tantos que vemos por encima, no prisma distante da pirâmide.
            Vagava, meio vespertino, o dia que se sobressaía naqueles tempos, e a fração desconforme das ausências perscrutava o coração dos mais aflitos... De um gesto ensaiado a outro na velocidade da luz, eternamente recriado, em tempo relativo que desse progressão, ao passo de regresso menor do que um que não ofende a criação, posto ser mais sábio ao depender de fontes inesgotáveis, enquanto duram... Assim seria a vida de mais um homem que se portava inquieto pelos caminhos, sem frações de queda, pois que se andasse retorcido seria apenas um retorno do já acontecido nos oitenta, e esse regresso nunca enganaria a história, companheiros, que se faz em torno das conquistas dentro de uma revisão histórica que busca na antiga receita de suas própria interpretação a consciência de que a onda na rocha, a partir do momento em que for compreendida por alguns que acabem por aceitar essa Verdade, a mescla em lutarmos por melhores dias não se apagará como o mar que lambe nossas letras na areia!


quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

A CLARA COR DA ÁGUA

Água que forma, que corre em manancial, alimento da Terra
Que sai e brota como olho e diamante supino de força,
Que gere tudo e desprezamos sua existência no gole de guerras...

Água que circunscreve fronteiras, que transporta, que verte
Por vezes de Shiva o caudaloso Ganges, e em Netuno
O oceano de navegadores que redescobrem o planeta.

Água que és tantas que não encontramos seu codinome
Nem que o seja no respirar de um peixe perto da pétala de um coral
Ou no que disse o Cristo ao olhar de suas flores as vestes dos lírios!

Pois que és tudo e todos, e bendizemos que existas sempre,
Agora tesouro e patrimônio, sempre solapado e boicotado
Pelas sujeiras de uma espécie em franca involução...

Que saias de teus propósitos, agora que és força da Natureza
E se mostra inquieta dentro de seus reflexos e rebeldias
No que despe de catástrofes as suas próprias defesas.

Que a água tem cor serena quando respeitada, cor de verde água,
Ou as cores da paz azul, mas que nas tempestades sem cor
Se vê as cores turvas de suas forças reticentes do poder.

Nem sempre és água, posto terra também e assim o somos
Dentro da vestimenta da matéria, e que sejamos igualmente espíritos
A compreender que sem ti padecemos todos os nossos erros!

O vento soletra teus planos, quando cais como chuva nos quadrantes
E erguemos muralhas para conter-te, e desabam montanhas
Em cima dos mesmos lençóis que conseguimos deturpar...

És guarani no sul, seara seca no norte, és precioso no continente mãe
Em que sabemos que torcem mais pelos diamantes do que na vida
Do que muitos que deram sua vida solapada no sangue da escravidão.

És pungente em seus planos, geras energia, fracassas os sonhos do nadador,
Afundas embarcações titânicas, usam-te como veia de batalhas
E ainda assim o homem crê ser teu dono como no descarte de um ás de ouros...

Sabemos da terra onde existes, que tomam por liderar a corrida
Por onde houver-te, já há planos dos países ricos em te mapear
Por onde existas que sejas nas mãos que crispam seus dedos de abutres.

Mal sabem que em Marte não há mais da água da Terra, em que paraísos
Só existem na profecia gasta de um fundamentalismo cíclico
Em que este mesmo barco em que estamos haverá por navegar muito mais.

És motivo de desavenças, és de uma hipocrisia em que te criam
Recriando os falsetes de poderes em que te anunciam
Ao que se moram melhor quando defronte a si existe uma praia linda!

Basta, que já mostraste a tua cor clara e sutil a quem te respeita
Como elemento vasto e permanente e que não se falte
Se por descasos administrativos se falta a quem não lhe soube valer...

AOS QUERIDOS DE NOSSA TERRA

Pois bem, o que seria de uma gota d’água sem o consentimento
Que esta venha a brilhar o sol de uma grande primavera...

Transcende o conhecimento febril, pois o não conhecer-se
É que nos torna pequenos frente à vastidão do que não se conhece!

A uma gota de orvalho, à forma linda de um lírio rosa
Que lembram encantadoras pétalas femininas...

Assim subimos à vida, em oposição óbvia daqueles tantos outros
Que se fazem valer da maldade para ganhar o prêmio de um ósculo
Que no mínimo não é no lugar exato por onde reina o amor.

E assim de trabalhos e recortes vamos montando o mosaico de um cristal
Onde a rosa não fenece, pois desconhece até mesmo o tempo!

Supomos que estamos bem, por vezes, mas há a insistência do polo contrário
Que revela apenas os seus anjos de Thanatos na sua falsa misericórdia...

Para os nossos, como dizem, e dizem muito sem dizer o absoluto e veraz
Que dita ao nosso coração a fortaleza de nosso verdadeiro propósito:

Viver a vida, lutar por justiças sociais, pela bondade humana,
Por um homem e uma mulher que não se associam apenas para o gozo.

Mas que se amem na plenitude, não no balcão egoísta do feroz hedonismo
Que infelizmente fecha as pessoas dentro de seu caráter falsamente libertário.

Que seja dada a largada, como é linda a aliança de enamorados
Que pranteiam a tristeza como as estações dos anos, quando são presentes.

A estação garante que nos portemos bem, e para isso é justo que selecionemos
As maçãs que podemos e comeremos no futuro éden dos nossos sentimentos.

A REPORTAGEM DOS ACERVOS

            Nada se prevê com a exatidão da certeza... O nada conhecemos de véspera, mas a existência mesma do homem não há bem ao certo, pois seremos algo a se confirmar quando estamos situados em nós mesmos, sem o subterfúgio, assim, de alguma ilusão que nos alicerça de vento. Há fundações que podem ser profundas, mas que por vezes não testemunham o valor de um homem sem a invectiva quase ou sempre indispensável de seus ganhos. Para isso existem os recursos absolutos que têm suas origens no poder, e só por ele é destinado a algo mais justo do que seria justo realmente. Assim talvez possa parecer, mas é a velha questão da justiça e dos seus pertencidos, seus agentes, seus profissionais. Triste seria não acreditar na Justiça, pois o Estado ainda é de Direito. Navegamos por vezes pelos equívocos, pela intolerância, por mentes desenfreadas que não suportam as investidas tão cruas da realidade, que nos mostram que no capitalismo a luta será sempre desigual. Os oprimidos fazem parte da exclusão, e as grandes fortunas sempre tendem a ampliar seu capital. É de modo cabal essa crítica, mas não deixa de ser fato substancial visto não só de fora mas igual, e principalmente, do lado de quem vive neste sistema. Para citar um exemplo abstrato e conceitual: este sistema pensa resolver em partes o que na verdade é total e insignificante a solidariedade para aqueles que sofrem alguma vulnerabilidade concreta, apesar de algumas heroicas e raras iniciativas que remam contra a maré da competição desenfreada e tecnicidade dos aspectos produtivos, não permitindo que outras estruturas surjam como opções revolucionárias que teçam crítica a Comte ou Adam Smith, em suas enferrujadas doutrinas. Talvez o Positivismo seja algo um pouco melhor, mas, convenhamos, tentar conter os avanços sociais de nosso atual Governo com o famoso e fracassado Neoliberalismo, no mínimo é retórica indecente. Indecente porque não prescreve receita real, nem distributiva e, por conseguinte, fracassada socialmente em sua qualidade.

            Pois bem, demos espaço aos argumentos, que a impressão de todos é importante, em qualquer circunstância de nossas vidas, esse é o teor de um debate democrático, e os diversos setores se beneficiam com as luzes que obtemos em uma casa iluminada não na profusão das luzes por si, mas no acervo que mantemos quando encontramos o que queremos...

NÃO É CONTRA CULTURA, NÃO É POESIA CONCRETA, SEQUER POESIA, É UMA TELA E SEU SINCRONISMO COM UM POUCO DE HISTÓRIA, QUE SEJA, TALVEZ UM TIPO DE LITERATURA...

O BARCO É TÃO GRANDE E FANTÁSTICO QUE NEM EISENSTEIN DARIA CONTA EM FAZER UM FILME IGUAL.

QUE UM ALIMENTE O ESPÍRITO E OUTRO DÊ ACESSO À COMIDA, SEUS GRÃOS E SUAS FOLHAS...

CADA UM TRABALHE A SEU MODO: QUE UM SALVE E QUE OUTRO CONDENE..

AS PALAVRAS DURAS SE BASTAM A QUE SAIBAMOS DOS REAIS SIGNIFICADOS DO QUE É O NATAL PARA O MUNDO CRISTÃO!

TALVEZ NÃO GOSTEMOS DA IDEIA DE IMPÉRIOS TÃO OFUSCADAMENTE ATRATIVOS CAÍREM, MAS A DECADÊNCIA JÁ É RISÍVEL.

O RECESSO PARLAMENTAR É PARA OS DEMÔNIOS GOLPISTAS SACIAREM SUAS SEDES NAS ORGIAS QUE OS RETEMPERAM PARA PRATICAR SUAS VILANIAS MAIS TARDE.

ENTÃO APRENDAMOS DE UMA VEZ: UM CELIBATO DE UM DIA, AO MENOS, É UMA HOMENAGEM AOS SANTOS...

PELA EXPLICAÇÃO SINCERA EM QUE OLHEMOS OS LÍRIOS DO CAMPO E QUE, NA MINHA LOUCURA, CHEGO A OLHAR PARA OS SERES COM IGUALDADE SINCERA.

NOVAMENTE FALANDO NO MESTRE DOS MESTRES, JESUS, SAIBA ELE QUE SOU SEU MELHOR AMIGO, APESAR DAS DISTÂNCIAS DE TEMPOS E ESPAÇOS...

O AMOR É COMO UMA CARINHO QUE SE CONCEDE A UMA FLOR.

NADA SE RESOLVE NESTE MUNDO EM FORNICAR POR FORNICAR, SEM O MÍNIMO DE CARINHO, POIS RELAX, BABIES, É PARA CASA DE MASSAGENS.

E POR FALAR NA LUXÚRIA DA COSMÉTICA DO CONSUMO, CRISTO VEIO NESTA ÉPOCA, EM OUTRA NO ENTANTO, E TALVEZ RETORNE A MOSTRAR NOVAMENTE AO MUNDO SEUS ERROS IMPERDOÁVEIS, POIS QUE NÃO VEM AO PERDÃO DESTA VEZ!

DE TANTO NÃO HÁ DE SER CRÍTICA, MAS O EXTREMO DE UM TROVÃO PARTE DE CIMA DO OLHAR DO CRIADOR...

NO ENTRETANTO OS TROVÕES SALPICAM NO CÉU EM QUE NÃO NOS APERCEBEMOS NA EMBRIAGUES DA LUXÚRIA DO FIM DE SEMANA

MINUTOS DE BOA NAVEGAÇÃO NOS MOSTRA SIGNIFICADOS DE MARES DE INFORMAÇÃO: A ZERO, ZERO, A UM, E OUTRO UM.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

A ROSA DOS MARES

            Luciano sabia dos ventos e das correntes marinhas... Seu barco era pequeno e a navegação a praticava com maestria, assim como caminhante sabia dos acidentes de escala e de olhares oceânicos. Vertia seus conhecimentos nas páginas de uma ancestralidade generosa em histórias. Assentia com a mão de um gesto qualquer, posto a ele que a humanidade resolvesse a gestualidade dos modos que quisesse, pois em sua vida saberia melhor em seus funcionamentos do motor de centro do barco, e do mar que não gesticula, pois é infinito! Não escutava horrores, e sua vida pontificava a serenidade santificada de uma boa atitude. Não propriamente que o lençol d’água fosse um paraíso, mas peixes em sua mesa farta eram de melhores dias, apenas. Mas se impunha entre seus iguais, que todos os seriam, mas há tubarões em nossos mares que devem ser respeitados, e Luciano nunca pensara em fazer comércio de suas barbatanas.
            Em terra firme os amigos da associação de pescadores conversavam com a familiaridade dos trabalhadores do mar, suas idiossincrasias e sua amplidão dos horizontes. Em alguma totalidade humana se ressentira alguma vez, o que o impedia de sentir-se muito sociável, enquanto homem dado á contemplação, um dos sérios motivos que o levavam a navegar. Levava sempre seu filho mais velho, Carlos e o sobrinho Edinaldo, e a cabine dava para comportar os três muito bem, com um pequeno banheiro, o balcão com o timão, o rádio e controles, e dois estrados suspensos para o descanso. Havia um metro e meio de passagem lateral no convés e dois mastros para o velame, afora o tanque do óleo para o motor. O barco se chamava Rosa dos Mares, e seu filho mais novo pintara as letras com caligrafia impecável, e sua mulher Neusa ajudara – com a comunidade – a tecer uma boa rede, com a envergadura de um mar alto.
            Quando em terra, em um domingo, Luciano esperava Neusa que fora às compras com o carro, um fusca 1.300, devidamente recauchutado de motor, no continente, onde havia um bom mercado. Comprou uma aguardente de cana-de-açúcar, que seu companheiro – em terra – tanto gostava... Saiu Luciano a contemplar o mar – a logo voltar –, seus rochedos alisados pelos milênios e suas águas de procelas, quando o mar, talvez raramente, apresentava ressacas assustadoras. Era nessas horas – de profundezas em se abraçar com os olhos o tapete marinho até o horizonte – que Luciano sentia o seu próprio parecer. Algo quase abstrato, de raízes grandes e fincadas na sua sobriedade de bom homem, mas que encerrava uma complexidade infinita em cada mirada sobre as ondas igualmente várias. Às vezes, olhando o mar, via pularem peixes sobre a água e lembrava-se que no mar alto eram estes bem maiores, que tal fascinava o navegante... O mar compunha a sua existência com a ausência de palavras, que fossem elas, quaisquer. E Neusa havia sido sua primeira mulher, e a ela dedicava seus peixes, o que obtinha, já do menos em se viver, pois grandes embarcações faziam a sua varredura para alimentar os que invadiam a costa brasileira, com o arrasto de imensas redes. Parecia a ele o acaso, obra do desenvolvimento inevitável. Os sindicatos da pesca estavam unidos para reivindicar melhores patrulhas para que isso não acontecesse: a invasão predatória de águas territoriais. De qualquer modo, sua família agora já não encontrava muitas dificuldades, pois o barco conseguia alcançar proventos.
            Neusa chegava já com as compras, e o fusca verde estava estacionado onde ela sempre o deixava, em uma subida de longos tempos... Luciano foi ajudá-la com seus braços longos, de tanto achar água com as remadas, quando nadava nos remansos. Parecia, nesse modo de nadar, que fosse justamente outro nadar, uma comunhão com as águas, pois estava visceralmente vinculado ao mar. Um mar de nascente, que em si mesmo transmutava os sentimentos de Luciano, apaziguando-o. Nada que interferisse em sua vida seria como dar umas braçadas na companhia de Iemanjá e seus segredos de deusa. Neusa o absorvia em seus sãos delírios, quando o chamava ao real:
            - Tinha um caminhão grande por lá... Dos grandes mesmo, você deveria ter visto, sem placas. Uma beleza, Luciano!
            - Precisou ir tão longe sempre, querida? Os peixes já estão no cesto, já os limpei.
            Ela olhou-o atônita, meio que seu homem só pensava em seus peixes, em sua lida no mar, em seus mares navegados e ainda por navegar. Assim pressentia, pois ainda, depois de vinte e cinco anos de casados parecia que não o conhecia.
            - Ajude-me. Apenas isso que quero de você e ponto final. – Disse, divertida...

ATALHOS DA ARTE ABSTRATA

            A abstração pede que não sejamos concludentes... Como se todo quadro tivesse algo de se concluir, mas melhor seria dizer que o abstrair existe na superfície de todas as telas, até mesmo nos sonhos das veias eletrônicas em seus minérios de sílica. O que dizer mais do abstrair, posto que seja igualmente necessário saber que lidamos hoje com uma vertente autocrática do realismo na TV e acessórios. Não seria delongar afirmar que a mesma abstração não possui conceitos, pois as palavras citadas apenas sirvo delas para estabelecer critérios dentro desse mundo fascinante, não apenas nas artes plásticas como na releitura da imagética digital, tão presente em nossas civilizações contemporâneas. Passa-se a ter como arte o não querer dizer, mas a abstração em nossa percepção consciente como anteparo também pode negar o meio, e negar a mensagem igualmente, vendo por através do ensaio que possamos fazer para compreender o próprio labirinto dos filmes, conscientemente, a partir de uma análise de sua produção, como as que gentilmente nos ofertam certos veículos de comunicação de massa. A partir do momento que somos partícipes da produção, em que produzamos conteúdo – nem que o seja em um diálogo ou registro – esse modo de ter o controle nos situa em novos paradigmas de atuação, dentro ou fora da tecnologia.
            Abstrair-se significa muito do pouco talvez que saibamos, posto termo não muito empregado nesse conceito tão paradoxal da ideia que temos a respeito, pois já sabemos que quando falamos de realismo, implica na temática explícita de certos filmes. Podemos permitir, obviamente, já que estamos em uma democracia, mas creio que canais estatais de alcance similar aos grandes e privados seriam boa solução a se antepor ao forte e vertical conteúdo de oligopólios da mídia. Fato esse que se revela substancialmente dentro do entendimento mesmo de uma sociedade livre e democrática: que tenhamos noção clara e evidente de como estamos no quesito da indústria cultural, como funciona, a que propósito subsiste e em que escalas se processa. Essa é uma discussão saudável entre todos os grupos que regem o entretenimento televisivo do país, independente dos chavões cáusticos contra livres ofertas, pois trata-se de ganharmos espaço como referência cultural dentro e fora de nossas fronteiras... Um amplo debate, abstrato, a bem dizer, quando somamos para não subtrairmos o espaço necessário para uma convivência pacífica e salutar entre todos os grupos de mídia: Google incluído, etc, com toda a questão que envolva mais do que apenas o nem tão sólido estamento moral das TVs abertas ou fechadas. Uma fenda que se abre, sente-se abstrair-nos em algo que nos remeta a um longo período que contemple a arguição, o entendimento, pois são questões que um governo não daria conta, pois ao menor toque que vá contra interesses profundos nesse campo, perde-se o poder ou sua legitimação. É fato, nada que traduza como isso acontece, mas há sempre uma previsibilidade de alguns grupos de poder saberem de antemão qual a tendência de alguns debates ainda não realizados, haja vista a vulnerabilidade quase abstrata dos bancos de informações, com a opacidade transparente em seu esforço em manter-se em sigilo. Teço esse ensaio pensando inicialmente na arte abstrata, justamente para traçar um paralelo a que muito do que conhecemos nas vanguardas da tecnologia não passam de abstrações sob um véu tênue da roupagem realista para encobrir ações efêmeras, no entanto pontuais e concretas, que no mais das vezes fogem ao entendimento dos que não são partícipes de diversos grupos imantados de poder.
            Não me entendam mal, caros senhores, mas a crítica, perdoem-me, às vezes assoberba meu espírito – contrito – que seja... Volto a dizer que a arte abstrata, esta que por várias direções pode não parecer exata na fruição estética, é um universo a ser descoberto mesmo em uma televisão, quando comparamos suas cores, quando a observamos mais, os olhares dos artistas, e que não precisemos beber de uma fonte pensando que seja melhor a água, pois as notícias estão em vários pontos, e é aí que se encerram questões mais verdadeiras, no humilde exemplo que coloco, a serviço de qualquer nação que busque ao menos compreender o porquê de que se crê certo, e igualmente, daquilo que se crê errado.

FAÇAM AMOR, NÃO FAÇAM GOLPE!!!!!

O DESEJO NÃO É FAZER INIMIGOS, PELO CONTRÁRIO, DEIXAR TUDO UM POUCO MAIS AMISTOSO E DECENTE.

VIVA A PRESIDENTA BRASILEIRA, COM ORGULHO, FÉ E CORAGEM...!

GLÓRIA A DEUS NAS ALTURAS E QUE SAIBAMOS DO CÉU E DA TERRA, DO OCEANO E DOS RIOS: QUE SE TRANSPONHA, SÃO FRANCISCO!!

VIVAS AOS PAÍSES INDEPENDENTES, QUE FAZEM DE SEUS BARCOS UMA FROTA DE ORGULHO EM SUA PRÓPRIA ENGENHARIA...

RESTA A ESPERANÇA NO OLHAR DA EMBARCAÇÃO EM QUE O TIMÃO É FIRME E FEMININO... GRANDES OLHARES.

A QUEM NÃO SAIBA NAVEGAR, SAIBA QUE CAMINHAR TAMBÉM É PRECISO!

O MAR POSSUI A LATITUDE DE UMA ONDA EM SEU INFINITO CORRER PARA OUTRAS...

O BARCO QUE NAUFRAGA SEM MOTIVOS ENCERRA EM SEU TESOURO A AUSÊNCIA DOS PIRATAS.

A VIDA VAGA

            A vida consentida a muitos, assim, seria quase pedir que não a consentissem, pois que a vida não é de consentir. Vivemos na liberdade de um tom ou milhares de músicas em que a harmonia é presente, mas que igualmente, há partituras dodecafônicas, ao melhor estilo de Arrigo Barnabé... A não sincronia faz parte da melodia, os acordes traçam os estilos vários de uma beleza de sinfonia em que os músicos aprendem com seus instrumentos a tocar o que aproveitaram na teoria musical. Não há vida vaga, pois esta se preenche de tal modo que pensemos que essa condição não tangencia o sobreviver, mas que deve ser aceita como melhor a quem apenas luta para sobreviver, meus caros, pois isso é pensar como verdadeiros cristãos que sejamos, ou nas tabelas indiscutíveis em que se nos apresenta a veracidade do que existe no cunho das sociedades. Esperamos sempre por algo mal soletrado em nossas palavras, mas que certas outras elucidem os fatos, e as idiossincrasias da existência nos permitam respeitar que sejamos diferentes, mas unidos no platô do que é intencionalmente construtivo, progressista, arejado, não apenas espiritual, bem como materialmente. Como em um grupo musical: o saxofone é caro, mas existe a razão, ao que o tamborim marca a música com sua percussão, em que o bumbo dá alma no ritmo e o triângulo alterna a sanfona. Quem dera um panorama musical maravilhoso nos morros cariocas, onde há samba, mas Cartolas e Pixinguinhas passaram a ser muito raros. O mesmo a se dizer da literatura, seja no cenário brasileiro que na verdade passa a ser raro um autor ser aceito se ensaia no erro – e acerta, por vezes – ou no acerto, em que o erro pode ser aproveitado. Vaga-se a vida por tantos que se descaminham a se pretender a ilusão de fortunas fáceis, e a arte dilui-se para materializar-se apenas nas elites. Mesmo porque o trabalho da arte reside em uma palavra, um verso, uma pincelada competente, a mais, a se dizer, que muitos daqueles que nos prometem colocação, na verdade competem de igual para igual de um mito consolidado, que é a hipocrisia já feita deusa da  consagração dos que lutam contra a expressão livre da arte. O permitido passa a ser fama de algo, e o que consagra é fama mítica do nada, pois nada mais cáustico é ver um grande artista tornado louco, a se crer que de sua loucura a fama tenha que ser maior, justo não permitirem hoje a fama de um louco na arte... Essa é vida vaga, e passa a ser poesia na atitude do verbo tentacular de mais inteligência, pois as ignorâncias ainda campeiam nas nossas universidades, com seu estigma da má tolerância acadêmica.
            Acaba-se a vida sendo vaga em aspectos onde a pouca liberdade da enfermidade psíquica seja foco de atenção do progresso analítico e experimental dos sãos, a que se saiba que não significa nada romper com estigmas estraçalhados, já que seus fragmentos ainda alimentam aqueles que criticam o desfile de napoleões em que se tornam os normais além de seus mesmos tempos. O ser artista não significa que seja de utilidade a algo, mas que possui a necessidade de expressão e obviamente da compreensão dos próximos à sua produção, mesmo que seja no campo intelectual, em seus começos e preâmbulos de ensaios. A postura verdadeira por vezes só é aceita sob óticas de manuais e doutrinas, descartando um pensamento ou postura independente, quando já não há mais fôlego argumentativo ou analítico de uma inteligência fracassada, quando esta não permite seu ulterior desenvolvimento e atualização tendo em vista primar pela  manutenção de uma boa fonte. Não há quedas em nova filosofia, pois em exemplo clássico, Keines cai por ser totalmente interpretado e partido para uma prática, em que Adam Smith já abrira os caminhos para esse dogmatismo do livre comércio como selva de trustes e monopólios. Que se cite apenas, um dogma é sempre a ortodoxia com vestes estreladas, mas estas cunhadas a chumbo, e ver a estrela por sobre o céu, mirando outras ou a nós mesmos é sairmos da culatra quando sabemos do entrave em que por vezes muitos se metem, a sabermos sempre que o que é seguro permanece inalterado, qual rocha, e de atitudes saibamos do leme, que não nos pouse em meio do atol antes de lermos as cartas do mar! O social solidário espera nos tostões que evitamos de gastar, mas que dão a um café revolucionário, quando uma atitude nos leve a pousar em ilha do atol com corais, em um mergulho límpido. E que saibamos que os mergulhos que damos independem tanto do fundo do mar, posto areia e lodo se confundirem: do lodo à areia é um todo, um todo por vezes mínimo. De uma árvore a um espinho, se este for dela, não subamos sem luvas, ou que vejamos a cada passo de nossos pés, a cada alavanca de nossos braços e pegadas nos troncos, a ser, que sejamos corporalmente muito conscientes, pois senão nos ferimos, e deixemos avisado que o tronco possui vereda de escala com dificuldades. Assim no atol: que não destruamos o coral, que mantenhamos a vida marinha, que um homem, em terra, seja respeitado como a nós mesmos, mesmo que tenhamos que inquirir a alguma criatura, perguntando a que veio, se foi para destruir. E se foi o fato, tenhamos em mente que não avisemos, pois a árvore com espinhos dará o mesmo recado àquele que merece por outros não terem merecido...

sábado, 19 de dezembro de 2015

A ARTE DO OFÍCIO

            Entre tantos lavores que passavam pela cabeça de Ramon, seu recurso máximo era alternar entre as soluções de seu modo de equacionar problemas e a habilidade de suas mãos. Em quase tudo era expedito e trabalhava para alguns ranchos de pescadores de um istmo, próximo a molhes naquela que seria a baía onde nascera, meio ponta de mar. O seu tronco era largo, o nariz aquilino, as feições duras e vincadas, a que ninguém lhe daria a idade certa, mas já era patrimônio da pequena vila daqueles pescadores, e não havia como duvidar de suas competências. Desde muito cedo, ainda quase claro o dia, enfunava seu peito com orgulho e prestava a si mesmo a homenagem que lhe cabia e que lhe davam sem pedir nada em troca. Não bebia quase, apenas mediano o suficiente, e quando lhe ofereciam o trago. Mas sempre ao cair da tarde, em que perpetuara seu trabalho durante o dia, em que sempre houvesse mais em todos os outros. Assim era a prerrogativa de sua existência, e quem desse por sua falta por sinal não haveria de muita lucidez, ou um pouquinho de atenção, pois Ramon andava por tudo e propriamente a sua presença sinalizava bom tempo como a pomba de Noé. Andavam por alto seus matos, que a ele bastava um bosque com pássaros a sentir-se bem, não importava aonde, mas convivia harmoniosamente com a realidade crua dos parcéis...
            Tanto era do ofício que não conseguia focar muito bem no de se ficar parado, meio que se era realmente expedito, seria sempre, pois sempre o fora, desde muito jovem. Saía a levar farnel, comprava a cachaça dos compadres, visitava enfermos, levava as boas notícias, não faltava a ajudar nas más, sabia discernir dos ventos e escutava as rochas nos marulhos inquietos do seu amigo, o mar. No entanto, vagava pela terra, não o sabia do navegar, pois nem ao nado lhe bastava um certo conhecer, posto a água não ser seu meio, a se pretender enfrentar. Que lhe pedissem:
- Ramon, vai pela direção aquela, me traga de bom aipim, na feira o encontra que nela hoje chega! Corre pela vila inteira e anuncia que trocam de Padre! Saiba de Mariana, minha esposa, espia que vai em trabalho de parto pra semana!
            Ele não parava, e do seu ganho merecido amealhava pão e vinténs. Pois do céu também vinha o seu vinho, e ele se regalava de estar do lado de fora, nas ruas, a ver dos edifícios, ver as gentes pelas janelas debruçadas como trabalhadoras de casas, a ver dos braços negros de algumas mulheres em que jamais a alguma tivesse oportunidade, pois o consideravam, apesar de tudo, um pouco obtuso. Talvez fosse um pouco do temperamento, mas atalhava em ordenar-se por receber demandas, onde tudo do natural,  tudo do construído lhe alçava luz, a saber-se útil e por viver sua vida sem contratempos, isso o contentava de modo raro.
            Na verdade, não havia lugar – nessa vida de zelo – a que tivesse preconceitos de qualquer natureza, pois respeitava o próximo não com escudos ou emblemas, mas de modo espontâneo, já que o conceito do prejulgamento a si era inexistente. Essa era a idiossincrasia de Ramon.
            Possuía alguns conhecidos de rua, e um deles era Arnaldo. Homem alto, barba farta derramada quase ao peito, olhos turvos de algum remédio para a mente, senhor complicado mas ao mesmo tempo simples: havia sido um bom burocrata, mas a vida lhe reservara um caminho mais árduo. Este homem era um caminhante, como tantos havia no povoado, mas estavam virando um século essas sociedades enigmáticas contemporâneas em seus jargões tecnológicos, em que uma coisa se fundia com a outra, ou muito do que se pretendia era algo como o nada. Ao olhar de Arnaldo o diálogo por vezes se turvava, e três linhas se tornavam diacrônicas na ausência de um debate de dois, posto ser importante saber que o debate deve assumir a presença de ao menos quatro, quando um media. Nada desses jargões burocráticos passava novamente ao olhar taciturno de Arnaldo, mas que muitos o viam, se viam, nesse processo.
            Certo dia, estava Ramon fumando um pito com Arnaldo quando um homem louro chamado Hans apareceu, oferecendo um bom gole de conhaque. Sequioso, Arnaldo acedeu, mas Ramon olhava meio que se distanciando, a saber, que conhecera muito pouco aquele homem mais franzino, de óculos profundos, os olhos que revelavam uma inteligência perspicaz e talento na voz: em sua voz meio rouca... Chegara do exterior recentemente, sabia muito do idioma português, pois lera muito de nossas obras literárias e históricas. Uma cultura de letras sem par, a que muitos o conheciam por fabricante de motocicletas, mas apenas negociava com importação de máquinas computacionais assim, meramente formais. Possuía uma memória de excelente enxadrista, quando se sabe que na organização de um bom negócio sabia de contabilidade quase sem registrar os livros. A conversa estava meio sóbria demais, ao que não se entendiam os três, apenas o conhaque falava mais alto, agora que Ramon, depois de olhar atento os óculos que se apresentavam, bebia sem brevidades.
            Hans, com seu olhar vestido por um cavanhaque curto, com bordas de profeta, disse, sem meias palavras a eles:
            - Sei que por aqui vocês gostam dessa vida despojada... Despojada é simples, a meio entendedor. Colocarei aqui uma estação gráfica e gostaria de arregimentar alguns homens e mulheres para trabalhar comigo, pois estou retornando a este país depois de ficar fora durante um bom tempo. Não sei se vocês conhecem o chamado Android, um sistema que implantamos, nós não, o mundo, e gostaríamos de avançar justamente sobre as populações que estão à margem desse mesmo mundo... Gostaria do avanço tecnológico em todas as frentes, no simples fato de dizer e poder comprovar que não há mais futuro sem conectividade: essa palavra significa estar plugado no mundo, compreendem?
            Arnaldo olhava por entre os olhos de Hans, mas o media o fato de não ver mais do que um homem calvo falando menos do que uma roca que falasse... Tudo bem, à meia voz, mas o homem se soltava e gostava de verter o álcool para o copo alheio. Arnaldo havia vencido graves problemas com a experiência e maturidade de poucos, apesar de contar com apenas quarenta e três anos... Foi breve, mas o suficiente.
            - Olhe, meu amigo, nós sabemos da dificuldade em se alcançar as gentes para qualquer coisa, mas o mercado está aí, e se você faz de seu mercado um bom negócio, é bom para você. Mas talvez não seja a hora de aceitarmos como apenas uma realidade o fato que você nos apresenta. Eu, por exemplo: não vejo tudo sob esse prisma e pretendo continuar caminhando, pois assim sigo fazendo meus bicos, me entendes? Já fui mais organizado, entenda-me, mas o gosto da vida meio caótica me alegra igualmente. Mas tem um lado: qual o seu interesse, senhor Hans, ou melhor, o que quer o senhor?
            Hans olhou para o lado meio nervoso, sorrindo entre dentes, o olhar febril, o conhaque ordinário já o havia guardado, e disse a eles:
            - Queria que mandassem em alguns homens que possuem essas baleeiras para transportar um material até aquela faixa, que fica do outro lado da baía. Daria a vocês uma parte do lucro... Quero que saibam que é legal.
            - Poderia falar diretamente com Tobias, o dono de três das melhores embarcações -, disse Ramon, em sua doce ingenuidade...
            Hans se manteve claudicante, a saber, vislumbrava algo escuso viabilizando alguma tentativa dentro da pretensa, a seu ver de pretensão, ingenuidade de dois homens que possuíam trânsito naqueles embarcadiços. A questão era como poderia transportar uma mercadoria que eles não sabiam, se utilizando da informação tão valiosa que achava que encontraria na mente quase duplamente obtusa dos dois desafortunados. Acontece que nada aconteceu: Arnaldo sacou de uma garrafa de gim, pediu para que Hans se sentasse com calma, encheu o seu copo e mostrou-lhe uma gravação que fizera de seu smartphone com sistema Android dos mais avançados... Não era tolo, aquele homem. Denunciaria a intenção, a ver que outros melhor investigassem, já que Hans prometera que era negócio justo e decente. Haveria de se ver, pois do outro lado da baía sabia Arnaldo que havia pontos de receptação de materiais escusos. Os olhos de Hans se cravaram de ódio, e a partir daquele instante emudeceu, em que toda a sua inteligência de conexões prometidas havia comprometido o seu instante propício ao negócio escuso, ao saber que as comunidades, por uma via ou outra, são tecnologicamente avançadas. Na suposição de um dolo, veriam quem se meteria a ser glabro com seu vizinho, assim da lisura do mal entender-se.
            Resolveu-se a questão, não haveria nada, apenas a versão de que quando pensamos que alguém é muito mais provido da inteligência, outro vem e mostra que nas relações humanas mais profundas não há razões na galhofa.