O
encontro de mais um dia com algo de famigerado, um ser ou outro, uma
esportividade, quem sabe em um sábado seja tão fortuito quanto sorrir para uma
mulher sem expressão, quando no preparo da rega, quando ela, em um café do sul
da América do Sul, quiçá pensasse em algo que fosse realmente concreto... Ao
que não nos furtemos que a comunicação é válida, por vezes estamos cansados,
por vezes um entregador de farmácia treme, ao temor de um dia, por vezes o dia
aparenta algo que não vemos na ótica do outro, ou quem sabe tudo seria uma
questão meramente espiritual! Pois sim, viremos a alcançar uma luz maior no
pressuposto quase invisível da Natureza, e àqueles homens e mulheres que dela
necessitam como rotor indelével de suas vidas, a cada instante estamos com a
força redobrada, e as baterias não param de ser recarregadas, mesmo que no
cansaço intelectual se sinta a fadiga, já ao término de mais uma jornada.
De
tantas passadas, quando vivemos intensamente essa força anímica citada no
encontro com a dita Natureza, cada pássaro, cada inseto, cada vibração ou
lufada do vento, as horas em seu movimento, os homens e mulheres, ou as
crianças brincando, tudo faz parte de uma harmonia que se dá dentro daquilo que
muitos pensam ser a natureza material, mas na realidade é isso mesmo, uma
Natureza, mas algo maior, posto espiritualidade dentro da carne, dentro das
cascas, tão somente em uma árvore encontramos e reencontramos essa energia e
substrato vital...
Daquilo
que é aparentemente subtraído da liberdade de um homem ou de uma mulher, ou
daquilo que verte – livre – por meios outros, dentro de uma janela digital, do
serviço em estar-se doando a algo ou alguém, do encontro com amigos novos e
velhos, do aparente “sem contato físico” ao contato concreto dos resultados,
tudo é modo e circunstância da vida mesma que pulsa no coração daquele que
redescobre o viés de uma performance existencial mais profunda, quando senão
seriam dias melhores também ao fato de que a sobriedade apenas ressalta a dádiva
de nossas qualidades intrínsecas.
Quando
queremos um amor, apenas queremos, mas o amor que queremos não é propriamente
algo de objeto, algo que viria por meio de um trabalhar para isso no sentido do
encontro, de se encontrar fisicamente, qualificar a coisa e tentar a
conquista... Esse meio de apropriação lembra de quando o rude ser abatia a
presa e a carregava para deglutir na sua fome de predador! Seria algo tão
crível quanto entrar em uma concessionária de carros e arcar com os dotes
financeiros necessários para presentear a felizarda, por uma noite regada a
champanhe e sexo. Mais do que isso, impor-se limites ao possível, limitar-se a
regras básicas de existência cabal, é um pouco mais importante do que
viabilizar sonhos heroicos, ou mesmo “retaguardas históricas...” Um pouco da
quebra do mito é necessário para se remontar um quebra cabeças indizível e
praticar a sensatez destes dias onde se reflui um instinto e se reconstrói
partes do ego que já não sedimentava as pulsões de modo mais equilibrado. Um
pragmatismo na prática.
Seria
um tanto de evitar a rudeza consigo mesmo, ser mais condescendente com o
próximo, talhar prejuízos na pedra em vez de na madeira de um restaurante, e
sentar civilizadamente, mesmo que a comunicação se dê na medida do provável,
sem obviamente darmos muita corda quando estamos bem orientados quanto à
realidade de onde estamos.
Em um
viés dilatado, estaremos mais distanciados de bad trips sóbrias, de caminhos tortuosos se enviarmos a nós mesmos
recados de um superego mais treinado, por vezes como um grilo que se anuncie de
tempos em tempos, ou mesmo na espiritualidade tão importante que se dê na fé e
na recarga da certeza de estarmos trilhando por veredas concretamente corretas.
Essa espiritualidade é coisa de se fazer sentir no dia a dia, mas não seria
como uma muleta, senão o próprio sentido da vida de um ser humano. Poderiam
chamar isso de religião, mas se não houvera outra denominação, seria porventura
o ser religioso se pronunciando a si mesmo e aos seus recursos espirituais mais
íntimos, e por que não? O reconhecimento de estarmo-nos religando a nós mesmos
com um Poder maior do que nós, é o aval de prosseguirmos diante de uma vereda
onde os caminhos se abram para a luz, e onde se veja que, se porventura
encontrarmos rochas que se anteponham, basta evitar estar em suas direções, e
passar ao largo, mesmo que por adiante tenhamos que retornar, para que prossigamos
já em outro escopo do espírito, consonantes com a evolução da matéria, que
perfazem em uníssono um hólos, uma
totalidade, um quê de se determinar a ótica de se viver em um mundo em que não
projetemos hostilidades ilusórias...
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