Estar-se
praticando a análise é tarefa árdua por vezes para o analista quando o paciente
já demonstra a contrariedade em falar, mantendo-se em silêncio, posto o
analista não pára de pensar a respeito, e sua atitude nem sempre vai ser a
mais apropriada... Deve-se respeitar o silêncio do paciente, o analista deve
resistir a esse tipo de ocorrência na psicanálise, mas muitas vezes falar algo
denota que a quebra do silêncio pode acarretar uma sessão mais produtiva, pois
a inibição por vezes dá o empuxo necessário a que o paciente associe mais
livremente as suas ideias frente ao terapeuta.
Por
vezes o silêncio é uma pausa depois de um processo onde houve um esvaziamento
do inconsciente do paciente, como se descansasse, ou desse um tempo para recarregar
as baterias, ou mesmo depois de um momento onde teve um insight oportuno, um
encontro com sua realidade mais pungente, algo que temia falar e que brotou naturalmente,
aliviando-o de uma pressão existencial profunda. Faz parte o ofício do
terapeuta também se utilizar do silêncio por vezes, dar um tempo ao tempo,
falar pausadamente, redarguir, questionar e interpretar uma palavra de
importância na acentuação da fala do paciente, quando se fizer necessário, ou
quando sua intuição achar importante esse questionamento. Estar com o
inconsciente sintonizado com o inconsciente do paciente é tarefa importante do
analista, pois isso lhe dá a abertura necessária para que mergulhe fundo nas
questões faladas, nos silêncios, nas pontuações, e nas palavras ditas no caso
de se estar escutando na modalidade da atenção flutuante, que é quando o
paciente, já bem desinibido, fala livremente as suas associações, sem necessariamente
ter um sentido muito lato em suas ideias ou vivências...
O
analista tem que possuir resiliência e persistir em valorar seus próprios
pensamentos a respeito de situações onde o silêncio do paciente possa estar
relacionado com outras questões, mesmo quando profere uma única palavra, que
pode ser a chave para aquele desvende momentos onde se quebre o mesmo silêncio
e a sessão transcorra com naturalidade e proficiência. Por vezes algo como:
você não se sente à vontade de falar como foi o seu dia hoje? Ou perguntas relativas
ao andamento de outras questões as mais várias, podem romper a inibição e
iniciar um processo de fala mais amplo, mas sempre há que se deixar o paciente
falar livremente, e estar atento para poder interpretar o que estiver por trás
do discurso, muitas vezes.
Na
escuta objetiva, muitas vezes o paciente migra para a fantasia, e o analista o
trás para a realidade, tentando situá-lo na mesma, para que o princípio de realidade
prevaleça no discurso, onde o inconsciente torna-se a fonte para que a
interpretação do analista traga esse material ao nível do consciente. Por isso,
é recorrente o fato de que o paciente ofereça resistência de várias formas no
processo terapêutico, tentando evitar falar sobre determinadas questões ou
mesmo pulando de um a outro assunto, como quem trilha um silêncio sobre
camadas, onde o terapeuta tem que desencavar verdadeiras equações para
encontrar os elos de ligação, onde está a fantasia, onde estaria a
racionalização do paciente, que também é uma forma de resistência, pois busca
explicar uma fala onde houve um arrependimento qualquer.
Há
diversas quebras na questão da análise de um paciente, que por vezes tem causa
na inibição e em outras na resistência, na transferência negativa, na
agressividade e outras. A relação entre o par analítico sempre deve ser de
confiança mútua, e por vezes o tempo é que consolida essa dita relação, mesmo
porque será na citada confiança e melhoria paulatina do paciente, com seus
insights a respeito de si mesmo, e as questões da competência e humanismo do
terapeuta que a coisa se processa da melhor forma possível. A interpretação
correta da situação do paciente, suas inquietações e o que acontece no seu imo
mais profundo, pode efetivamente permitir a remoção de traumas, ou mesmo a
catarse em lembra-los, bem como livrá-lo de estar com relações de dependência
de várias naturezas, melhorar a relação com seu entorno e estar mais em
harmonia no trabalho, na escola, ou em grupos, na sociedade como um todo.
O
perfil do silêncio por vezes não é o que aparece, não é o que aparenta... Há
pessoas internamente convulsas que gritam em seu silêncio, e cabe ao analista
descobrir as angústias que decorrem dos tempo atuais, tão afeitos a processos
existenciais complexos, tantas são as solidões mundo afora, tantos os
desacertos, os desafetos, problemas econômicos e outros. A seara para se estar
em consonância para um processo paulatino de recuperação psíquica de muita
gente dependerá da boa vontade do par analítico como unidade, e a confiança do
paciente no terapeuta denota que este esteja cumprindo bem o seu papel, não
faltando nas terapias e concedendo a atenção e compreensão necessária àquele
que necessita de cuidados. Por isso, apesar do silêncio por vezes inevitável, a
palavra sempre será essencialmente fundamental.
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