Estudar é como principiar algo a mais do que já
conhecemos de fato. Há uma questão que a mim é referencial que é
o estudo da arte e sua técnica. Como em um tipo de engenharia das
humanidades, a arte abraça quase todas as disciplinas, haja vista
começando com o estudo do corpo humano, o funcionamento das plantas,
as cores da Natureza, a psicologia como agregada maior de nossos
tempos e tantas outras matérias que reforçam o mesmo conhecimento
tão abrangente desse campo. Vejo a arte um modo de expressão que
possui seus vocabulários e sua sintaxe, haja vista um escritor ou
artista visual conhecerem um pouco do seu mundo, quando a sua
necessidade é dizer algo a alguém, através do grande e anímico
instrumento artístico. Materializar essa mesma sintaxe, essa
mensagem por vezes duradoura e sintética é mimetizar, dentro do
pressuposto do que se quer dizer, por vezes duradoura e sintética é
mimetizar, dentro do pressuposto do que se quer dizer, por vezes
graus de subjetividade superlativos, tornando como exemplo cabal o
conhecimento da história profundamente necessário. As cores possuem
sua linguagem, as formas, a composição e suas relações com o
entorno, o estilo na literatura, as metáforas na poesia, seus
quadrantes e ritmos e a música que versa no espírito as suas
fundações…
Há, portanto, necessidade intrínseca do estudo
e não apenas isto, mas uma vivência ou aprofundamento existencial,
pois a ferramenta que conduz à técnica não é o principal item da
expressão humana. Não podemos afirmar que um ilustrador digital
mostra resultados superiores a um aquarelista, ou desenhista que se
utilize de carvão para esboçar sua expressão. Alfredo Bosi disse
com propriedade que a arte é um fazer, um construir, um expressar.
Nada mais próprio em se afirmar, pois quando desenhamos, por
exemplo, em nossos rabiscos, estamos pensamos no papel que embala o
pão. É como a caligrafia: se não for ensinada como sempre o foi,
considerando que tenhamos que usar o computador ao invés do papel,
criaremos uma expressão dependente da transposição complexa e
autoritária da energia elétrica para o suporte. Sendo a arte um
fazer, não importa de que meio nos utilizamos para tal, pois um
grafite, uma serigrafia, xilo, aerógrafo, ou mesmo um carimbo, são
igualmente expressões da arte visual. O mesmo se dá na literatura:
por vezes um homem possa ter apenas uma caneta para escrever um
livro, pode estar em um barco singrando o oceano ou algo similar, e
se não souber uma caligrafia não poderá escrever uma única linha,
já que os celulares pifam quando molham.
Esse tipo de
iniciativa de que tenhamos para nos expressar de utilizar tal ou qual
meio é no mínimo acepção de totalitarismo anacrônico, ou, o que
é pior: pós moderno! Na contemporaneidade devemos alicerçar nossos
pensamentos e expressão com o que tivermos à mão, criarmos nossos
suportes, independente da meritória tecnologia, que igualmente, veio
para ajudar, sob muitos aspectos. Mas não façamos disso uma
sociedade que tenta mitificar a técnica e estabelecer critérios
acadêmicos de seleção de alunos que deixem a redação, por
exemplo, nulificada no sistema de ensino. Esse é um retrocesso
gigantesco, pois só vemos multiplicarem-se os analfabetos
funcionais, ou seja, aqueles que não conseguem entender um parágrafo
mais longo.
O segredo do estudo, em qualquer campo de atuação,
além da abordagem prática, é o que se lê para compreender a
matéria, e é com base nesse tipo de disciplina – através de
livros – que teremos uma educação à altura de países mais
cultos do que o status terceiro mundista da ignorância, que não
percebe a vulnerabilidade de seu povo que por ter sua massa crítica
nulificada, abre espaço para que o manipulem através de canais que
fazem o seu papel sinistro de apenas correr para aonde está o poder,
ou o interesse de suas corporações.
Quero crer que se estude
neste país, pois o poder de barganha dos novos meios de
entretenimento e comunicação está limitado a um nível acachapante
e avassalador, e enquanto não contestarmos esse status, não teremos
mais referências cultas nem em nossos profissionais de ordem
acadêmica de letras, como os nossos advogados, que enfrentam sérios
problemas em sua maioria para passar bem nos exames de admissão da
OAB. Fica a sugestão que articulemos frentes amplas de boa
alfabetização, compreensão de leituras desde as primeiras letras,
incrementos nos acessos aos livros escolares, e igualmente a formação
de ordem técnica, tão importante quanto o conhecimento das humanas
e da arte, mas não mais do que estas...
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