Quiçá a anuência de nossa condição humana
meio que permita que baixemos da altura concedida por nossas pernas,
quiçá uma mulher linda de Bogotá seja uma rainha que leia algum
trecho que remeta a carta em que endereçamos a alguém de se tocar,
na mesma vida em que – inconclusa e eternamente – possuímos nas
linhas do carinho que não verte na vírgula, e que o verbo apenas se
lembra do ato! Talvez as Memórias de Adriano de Marguerite
nos relembre não as páginas que não lemos na cama, mas as
recordações de uma pequena viagem de um prenúncio de amor em que
se gestualizou um contato que o poeta guarda dentro de uma arca de
cristal, na formosa e experiente forma de uma mulher… A um toque de
carinho sobre o joelho, a um beijo inesquecível, quem luta
honestamente a favor do amor se contenta em prosseguir à guisa de um
sentimento sincero, pelo menos nos momentos em que não relutamos na
vereda em se saber amado. Não que se suponha ser um bom amante, pois
essa posição profissional já é página doutrinada pelos
profissionais do sexo, em toda a querência do assunto, variado e tão
vaticinado nos tempos de hoje.
Relutar a favor da maré não
pode ser visto como uma inconsequência, mas como uma bujarrona
deitada e enrolada no convés enquanto a embarcação triangula pelos
vieses do vento, a seguir a mar alto, sem necessariamente sair das
duzentas milhas costeadas pela Marinha. Essa profusão de fronteiras
marítimas onde o penedio se apresenta, e Robson Cruzoé é
encontrado com a barba dos anos, em uma ilha quase desconhecida…
As agruras rebarbadas do destino cruzam com olhares, por vezes
tíbios, com pixels de baixa definição ou – em plataformas mais
precisas porquanto maiores de visão, talvez a pupila e sua contração
seja sinônimo de algum sentimento, mas haja de se crer que a técnica
urge participar mais de seu próprio métier.
Quando a palavra de um escritor vem para acrescentar mais espaço
espiritual e material no íntimo e quase vertido paradigma de
existirmos, justamente isso nos refaz na mesma ordem em que
civilizadamente, mesmo à barbárie prosseguimos, não como Quixotes
tristes, mas com Sancho e Dulcineia, em que o Rocinante leva o
cavaleiro distante da paródia da loucura, posto não o fosse não
seríamos leitores tão afeitos a Cervantes, para quem gosta de
literatura maravilhosa. A que dizer não fora, que o Canto mais
primoroso de Dante Alighieri é o Inferno, onde coloca os florentinos
seus patrícios na distância da sua condição de exílio.
Longas e distantes
são as passadas, e o que seria pegar um avião e viajar, pode ser
apenas a cômoda fração de estar dentro da única possibilidade de
conhecer a condição a que uns relacionam onde carregar baterias,
mas que nos livre o lítio de problemas renais naqueles que sofrem de
padecimentos mentais, por vezes egressos de rudes estadias.
E
que não seja o pensamento voar demais, mas voa de qualquer modo na
visão de companheiros que estão subindo aos céus, e por vezes
mergulham de uma altura onde se vê a presa ou o peixe, seja chão ou
seja mar, voltando a voar na suprema e necessária asa coletiva, com
a consciência de como voar usando as penas traseiras para a direção
de uma máquina que nem Da Vinci ousou construir, quando se apercebeu
que o Renascimento ao menos sabia do Sistema Solar, em que Ícaro, em
suas penas de cera mitológica não pode com o sol, no antigo e
prenunciado panteão, antes mesmo da Idade Média transigir com a
retomada do Antropocentrismo.
Os tempos idos na verdade
retornam com outros trajes, e a comunicação pode ter sido uma
invenção de Thomas Watt, ou a inspiração dos irmãos Lumière. Na
administração de nosso encontro com o conhecimento, os dados e as
informações bastam por si, mas muitas vezes não conseguem
concatenar aquele. Presencialmente, na era contemporânea, é melhor
perder um namorado do que o smartphone, pois os reservas já estão
listados na compleição da caixa de Pandora! Mas que não se abra o
dispositivo, posto é melhor ter reservas que se tornam humanas do
que possuir humanos que jamais reservam-se o direito de amar. A
grande questão icônica é que os caracteres digitais são, conforme
citado acima, espécie de posses, barganhas, mercadorias, peças,
imagens, curtas falas, mentiras, calúnias, pornografias por vezes e,
acima de tudo, ilusão, Maya, a Deusa desta era de Kali.
Um desafortunado afetivo como quem vos fala – a respeito desse
padrão de afeto consubstanciado para almas condicionadas – na
verdade está afetivamente vinculado à leiva de grama que ainda não
chegou para acompanhar as tonalidades do Antúrio que soletra a
composição das cores complementares. Dessas cores que falamos,
daquele pintor solitário que, com sprays trabalha durante dias para
pintar Cruz e Souza ao lado da praça XV em um centro de uma
capital.
Enfim, a vereda da arte encontra a ressonância ao
lado das possibilidades que emergem dentro de um velho mundo:
mudam-se alguns meios de produção e técnicas suplementares, mas o
ser e o poder andam de mãos dadas para que se dê a largada crucial
a que defendamos algo como a liberdade da Democracia aceite pelos
adversários, em um discurso que remeta a que sejamos ao menos
humanos, depois de renascermos de um sinistro fundamentalismo não por intenção errática, mas por uma quase
imposição comportamental e existencial.
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