terça-feira, 12 de outubro de 2021

O SOPRO DOS VENTOS

 

           Tanto é o mundo que a tragicomédia sobrescreve o capítulo de nós mesmos… As traições tornam-se inevitáveis e as leis consuetudinárias viram alfarrábios obsoletos. A vida pressente que tenhamos a positividade como orientação, mas a realidade mostra laivos imensos da corruptela em que se torna paulatinamente a sociedade nacional como um todo. Os enganos são frequentes, e a adicção às drogas e ao álcool submetem o povo e o manietam. É triste sabermos que a ponta do icebergue prossegue querendo a sobriedade, mas os ventos da angústia e da desesperança assolam cada vez mais os desavisados, permitindo que nos aproximemos de um fosso em que cavamos muitos – muitas vezes desde priscas eras – com um tipo de “cuidado” essencialmente nocivo. E vertem golpes, roubam, procrastinam ações coerentes com a bondade e, no mais, encontramos ambientes propícios a um vento que muda o quadrante do rumo de nosso barco. É nessa situação que devemos ter a fé transformadora, como um sentimento do espírito e da ordem que estabelecemos para nós mesmos, com toda a disciplina quase espartana, toda a força que emerja de dentro de nossos instintos, ladeada por uma razão que alicerce nossos sentimentos, domando-os como a uma parelha de cavalos ágeis e, no entanto, com as rédeas que devemos possuir com pulsos de aço. Essa é a questão: sendo ou não sendo, sempre estaremos com o nosso próprio controle.
         Não adianta suprimirmos essa supra citada disciplina, pois a mudança de rotina requer outra rotina, e os estudos prossigam com o alvitre dos resultados positivados, senão não sublimaremos a preguiça e a depressão que por vezes podem nos acometer! É verdade que viver sóbrio não é tarefa muito fácil a muitos, mas viver dependente de muitas substâncias inócuas não é tarefa nenhuma, mas sim a anulação de qualquer utilidade social a que nos devemos submeter para concluir com uma existência mais serena os problemas e suas rematadas soluções, que encontramos em nosso próprio potencial transformador… O pássaro que vemos em pleno voo possui sua própria resiliência, e nossos braços podem alçar voo em nosso trabalho, em nossa leitura e em nosso meio de se sustentar nesse desafio maravilhoso e instigante que é o amor e a transcendência que havemos de possuir espiritualmente no planeta. Certamente, este mundo está cheio de orientações conflitantes, de receitas autoritárias, ou de justiças equivocadas, por vezes. A verdade é que a Verdade Suprema não é relativa e nem encontrará meios de ser relativizada, posto sempre as mentiras, as falcatruas e as idiossincrasias particulares da farsa é que campeiam por aqui e por acolá. Devemos prosseguir na sobriedade de nossos maiores laços espirituais, no berço de um Deus que é maior do que nós mesmos, assim como O concebemos, ou dentro de uma coerência e boa atitude perante o próximo.
          Finalmente, o desafio posto a nós mesmos, tanto individual ou coletivamente, nos revelará que – com simplicidade e austeridade – conseguiremos vencê-lo como dois e dois são quatro! Não há como distanciarmo-nos de um comportamento reto e íntegro, fruto dessa tomada de consciência e posicionamento espiritual, no escopo da ventura e da virtude. Assim é, para alguns, tarefa não muito rara e para outros um trabalho hercúleo e, no entanto, cotidianamente justo e correto. Essa conscientização se revela nos menores gestos, e conseguiremos aprumar a nau para navegar em remansos, saindo de ilusórias tempestades. Se houver rumor durante a jornada para dissuadir-nos que o melhor é um tipo de causa e consequência, se no platô dos enjeitados continuarmos a assumir nossa própria autopiedade, o caminho pode se tornar mais longo e difícil e em uma direção algo incerta. Quando pontificarmos que uma vida simples e um pensamento elevado possa se tornar um objetivo existencial em cada ser que somos, o respeito a nós mesmos, ao próximo e a todos os seres do planeta se tornará algo mais concreto de se realizar, com resultados atinentes em cada sopro de ventania serena a plácida em nossos próprios corações. Desse modo, saberemos que o barco é para todos, e quando enfunarmos suas velas, a navegação será para um futuro melhor, visto que diariamente faremos um esforço para não sair do rumo e de uma navegação exemplar como argonautas que o sejamos um pouco, validando alguns deslizes, estes que fazem parte da procela que por vezes temos que enfrentar. Emprestar valor à força preexistente e seguir rumo a uma jornada libertária diz respeito a respeitar um ao outro, aceitando as diferenças e prestar atenção ao que nos sugere justamente a palavra liberdade...


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