quarta-feira, 26 de abril de 2017

PADRÕES DE ESTIGMA

            Não importa quem sejamos, talvez isso realmente não importe, mas importa quando somos enfermos mentais... Se tomamos a medicação como um remédio que nos salve de surtos ou crises graves, ou mesmo para nos mantermos estáveis, estamos sempre com um pé recuado – na defensiva – prontos a recebermos preconceitos de toda a ordem. Tudo bem que não sejamos aceitos como pessoas normais, mas filtrarem criteriosamente o que fazemos de nossas vidas, como nos comportamos, o que escrevemos, ou mesmo quem somos, parte da premissa – sob a égide do preconceito – que estamos errando em algum ponto, talvez do próprio existir no ser coletivo. Nada disso é diferente quando dependa de algum sistema ou ordem política, nem de motivos outros que não seja o simples e atávico estigma histórico que faz de pessoas que alcancem alguma fama, seja qual for, quando boa, contrapõe-se a doença para que nos aviltem, e quando má, para que se reitere o mesmo ato nefasto. O trabalho ou a recuperação que um enfermo dessa ordem tem a superar é em poucas palavras uma tarefa titânica, a longo prazo... Não há amparos legais para quem sofre de preconceito por possuir doença mental, mas justamente aquilo que se refira à sua quebra enquanto cidadão, por vezes necessária, mas nem sempre compulsória, o que vem a significar semanticamente quase o mesmo.
            Não há qualquer partido político, agremiação, religião ou nada que se assemelhe com a quebra desse padrão ou que favoreça o diálogo mais amplo na questão da enfermidade psíquica, qual não seja um amparo casuístico, reformador, ou paternalista a respeito das condições do indivíduo e sua relação com o entorno, que sempre é pontuada para ser entre o mesmo grupo, em que a socialização com os demais seres sociais ditos normais não parece vir de ocorrer nas sociedades ditas com os padrões civilizatórios atuais.
Quando se volta a atenção ao problema nota-se sempre a situação paradoxal onde nos encontramos face a face com a barbárie criada em torno de nossos próprios selfies, quando estes se espelham em um condicionamento gerado por ortodoxias baseadas em ignorâncias monolíticas dos fatores que são a razão da convivência harmônica em sociedade, onde certos mundos “fictícios” são criados pelo modo em que muitos apelam para a força bruta para lidar com assuntos tão amplos quanto a convivência que se deve desejar, humana e solidária, independente de emblemáticas questões que envolvem algo tão delicado como o sofrimento psíquico.

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