A se começar, a um – que se possa
afirmar – mescla-se, quando escreve, o trabalho com o entretenimento. A se ir
mais além, mostra-se que a expressão inequívoca, a partir de uma necessidade
particular de estabilidade psíquica, é a ingerência e o motivo do ato da
escrita. A um homem ao menos se sentir útil e é essa pequena fração de sua
existência à frente de se poder comandar a si e pertencer quiçá a uma camada
mais restaurada de uma população que é tornada, desde os alvores de nossa
história, vulnerável por sua condição enferma. E que este não pode trabalhar
per si, mas que nos alegremos por lermos sem o compromisso, a saber que nem se
espremendo suas laudas mais íntimas nada recebe do vintém, posto o papel só
sentir a fluência da caneta e dissociar-se do prelo.
O sol já avança por um metro da
grade do portão, e sua liberdade é tal que todos os dias – quando as nuvens não
o ocultam – sai a desfilar esperanças por boa semeadura: nos quartos, nas
casas, nos apartamentos e nas ruas. A angulação transversa no muro, a sombra
projetada da casa permitindo-se sentar à cadeira da frente, as cores mais vivas
e o som de um bairro e seus consortes de máquinas nos fazem remeter ao
entreter, e a descrição é um entretenimento tão prazeroso como fazer amor com
as linhas do caderno... Uma vida de um
insight contínuo lembra um êxtase intelectual que é fato naquele que o afirma sinceramente, o
que denota que saibamos observar e que o façamos igualmente no ouvir. Ao nos
vincularmos a algo como um papel e uma caneta possuímos um meio e expomos algo
que pode vir a se tornar um significado onde a ausência de amigos humanos se
reflete na comunhão que importa: com a Natureza. Não necessariamente com mares
e pombos, mas a matéria como um todo, animada ou inanimada. Esse encontro com
as matérias e seus objetos merece que nos atenhamos com as nossas tecnologias,
e nos apercebamos do que é lúdico, do que é insalubre, do que muitos afirmam
sobre esforço determinista e a valoração do trabalho em suas medidas de ensaio
ou pipetas de vastos laboratórios. Fala-se em trabalho limpo como algo
confortável, fala-se nas universidades e, diga-se de passagem, as contestações
com relação às injustas distribuições de renda e o justo acesso às instituições
de ensino são motivos de conflitos. A bem dizer, muitas são as gentes com pouco
embasamento nas letras. Outros, com oportunidades favoráveis à compreensão
daquelas já estão nutridos em suas posições e servem muitas vezes para divulgar
tudo aquilo que representa o caudal quase hilariante dos que são contrários ao
reparte mais humano e às outras posições – infelizmente às vezes voltadas a um
anacronismo – que estejam no processo progressista e coerente.
Uma casa pode ser feita com concreto
ou barro. O modo como é construída na verdade pode ser ocultado ao olhar do proprietário,
mas aquela que possui o olhar na obra não se ressente em ser mais habitável,
pois a porta falará mais a quem acompanha como abertura de um espaço com
nobreza: seja rico ou pobre. Essa nobreza de cunho abstrato é de valia, pois é
o oposto de agenciar a propriedade. É feita para o que foi feita: resultado de
trabalho salutar, posto comungado entre o da obra e o do habitar. A se botar
fogão, geladeira, a cama, a mesa, o chuveiro, a água, a energia, enfim,
trabalhar com essa mesma validade que transpõe a regra proprietária e fria da
ingerência da posse, apenas. Essa semântica fala da dialética espiritual, uma
questão que deve ser acentuada nos dias em que acompanhamos todo um processo em
que não se tenta o reparte nem a anacrônica expropriação, mas o recrudescimento
de conflitos de natureza global que buscam apenas no poder sem limites a sua
tese ou justificativa.
Há diversas frentes de trabalho “justificado”,
e outros fora dos padrões que estão em vias, sempre dentro de um processo
civilizatório, de quererem impor às pessoas que passam diuturnamente sem sequer
procurar emprego. A luta dessa massa pode ser vista em qualquer nação, nos
êxodos, nas perseguições, nas guerras, naquilo que passa a ser assombro ao
vermos em íntima relação com o caos quem ganha atualmente as convenções do Partido
Republicano nos EUA. Vemos que a intolerância se torna a palavra de ordem em
certos sítios e o determinismo bíblico impõe o Apocalipse, justificando seus
exércitos sitos desde os profetas do AT que irão – ou pretendem – limpar o
mundo dos que chamam esses fanáticos de “infiéis, ateus, comunistas, etc.” A
sorte é não sabermos da vinda do Salvador, e nunca saberemos de onde virá, pois
em outras religiões que se professe (a todas!) a igualdade de credos e a sua
liberdade, nem que para isso saibamos que a imposição de uma religião é um erro
crasso que subleva territórios, e que usar das mesmas para fins políticos é um
outro erro, pois cabe ao Estado ser laico e respeitar suas manifestações e vanguardas
intelectuais, étnicas e religiosas, posto que tudo remeta à União frente a
líderes consagrados pelo voto. O oposto disso não será nunca um Estado Nacional
Soberano. A entrega de nossas riquezas reza única e exclusivamente a que os
imperialistas possam “entreter-se” nos países empobrecidos e sob sua tutela,
mantendo o trabalho atado às regras absurdas de teorias econômicas anacrônicas
que ditam o caos das leis neoliberais da oferta e procura: aumento da demanda
ou queda de produção, concentração absurda de capital, especulação financeira,
monopólios da produção, cartelização, trustes, arrocho salarial, exércitos industriais
de reserva e outros inúmeros artifícios bárbaros mal gestados por inteligências
dos opressores. Essa opressão abraçada por certas regras maquiavélicas de um
jogo perverso há que ser evitada pelo bom senso de nossas frentes e donos de
meios sugestionáveis. No entanto, há frentes que por vezes se constituem em
farsa, pois em certas retaguardas o combate por vezes é cru como o gosto do sal
amargo: duro, porém necessário. Por isso, deixemos a luta por quem o sabe,
quando a inteligência e o bom senso das humanidades passem a usar em seu tutano
as verdadeiras sinapses eletrônicas: as do cérebro humano, sem mais!..
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