sábado, 7 de maio de 2016

O ENTRETENIMENTO VINCULADO AO TRABALHO

            A se começar, a um – que se possa afirmar – mescla-se, quando escreve, o trabalho com o entretenimento. A se ir mais além, mostra-se que a expressão inequívoca, a partir de uma necessidade particular de estabilidade psíquica, é a ingerência e o motivo do ato da escrita. A um homem ao menos se sentir útil e é essa pequena fração de sua existência à frente de se poder comandar a si e pertencer quiçá a uma camada mais restaurada de uma população que é tornada, desde os alvores de nossa história, vulnerável por sua condição enferma. E que este não pode trabalhar per si, mas que nos alegremos por lermos sem o compromisso, a saber que nem se espremendo suas laudas mais íntimas nada recebe do vintém, posto o papel só sentir a fluência da caneta e dissociar-se do prelo.
            O sol já avança por um metro da grade do portão, e sua liberdade é tal que todos os dias – quando as nuvens não o ocultam – sai a desfilar esperanças por boa semeadura: nos quartos, nas casas, nos apartamentos e nas ruas. A angulação transversa no muro, a sombra projetada da casa permitindo-se sentar à cadeira da frente, as cores mais vivas e o som de um bairro e seus consortes de máquinas nos fazem remeter ao entreter, e a descrição é um entretenimento tão prazeroso como fazer amor com as linhas do caderno... Uma vida de um insight contínuo lembra um êxtase intelectual que  é fato naquele que o afirma sinceramente, o que denota que saibamos observar e que o façamos igualmente no ouvir. Ao nos vincularmos a algo como um papel e uma caneta possuímos um meio e expomos algo que pode vir a se tornar um significado onde a ausência de amigos humanos se reflete na comunhão que importa: com a Natureza. Não necessariamente com mares e pombos, mas a matéria como um todo, animada ou inanimada. Esse encontro com as matérias e seus objetos merece que nos atenhamos com as nossas tecnologias, e nos apercebamos do que é lúdico, do que é insalubre, do que muitos afirmam sobre esforço determinista e a valoração do trabalho em suas medidas de ensaio ou pipetas de vastos laboratórios. Fala-se em trabalho limpo como algo confortável, fala-se nas universidades e, diga-se de passagem, as contestações com relação às injustas distribuições de renda e o justo acesso às instituições de ensino são motivos de conflitos. A bem dizer, muitas são as gentes com pouco embasamento nas letras. Outros, com oportunidades favoráveis à compreensão daquelas já estão nutridos em suas posições e servem muitas vezes para divulgar tudo aquilo que representa o caudal quase hilariante dos que são contrários ao reparte mais humano e às outras posições – infelizmente às vezes voltadas a um anacronismo – que estejam no processo progressista e coerente.
            Uma casa pode ser feita com concreto ou barro. O modo como é construída na verdade pode ser ocultado ao olhar do proprietário, mas aquela que possui o olhar na obra não se ressente em ser mais habitável, pois a porta falará mais a quem acompanha como abertura de um espaço com nobreza: seja rico ou pobre. Essa nobreza de cunho abstrato é de valia, pois é o oposto de agenciar a propriedade. É feita para o que foi feita: resultado de trabalho salutar, posto comungado entre o da obra e o do habitar. A se botar fogão, geladeira, a cama, a mesa, o chuveiro, a água, a energia, enfim, trabalhar com essa mesma validade que transpõe a regra proprietária e fria da ingerência da posse, apenas. Essa semântica fala da dialética espiritual, uma questão que deve ser acentuada nos dias em que acompanhamos todo um processo em que não se tenta o reparte nem a anacrônica expropriação, mas o recrudescimento de conflitos de natureza global que buscam apenas no poder sem limites a sua tese ou justificativa.
            Há diversas frentes de trabalho “justificado”, e outros fora dos padrões que estão em vias, sempre dentro de um processo civilizatório, de quererem impor às pessoas que passam diuturnamente sem sequer procurar emprego. A luta dessa massa pode ser vista em qualquer nação, nos êxodos, nas perseguições, nas guerras, naquilo que passa a ser assombro ao vermos em íntima relação com o caos quem ganha atualmente as convenções do Partido Republicano nos EUA. Vemos que a intolerância se torna a palavra de ordem em certos sítios e o determinismo bíblico impõe o Apocalipse, justificando seus exércitos sitos desde os profetas do AT que irão – ou pretendem – limpar o mundo dos que chamam esses fanáticos de “infiéis, ateus, comunistas, etc.” A sorte é não sabermos da vinda do Salvador, e nunca saberemos de onde virá, pois em outras religiões que se professe (a todas!) a igualdade de credos e a sua liberdade, nem que para isso saibamos que a imposição de uma religião é um erro crasso que subleva territórios, e que usar das mesmas para fins políticos é um outro erro, pois cabe ao Estado ser laico e respeitar suas manifestações e vanguardas intelectuais, étnicas e religiosas, posto que tudo remeta à União frente a líderes consagrados pelo voto. O oposto disso não será nunca um Estado Nacional Soberano. A entrega de nossas riquezas reza única e exclusivamente a que os imperialistas possam “entreter-se” nos países empobrecidos e sob sua tutela, mantendo o trabalho atado às regras absurdas de teorias econômicas anacrônicas que ditam o caos das leis neoliberais da oferta e procura: aumento da demanda ou queda de produção, concentração absurda de capital, especulação financeira, monopólios da produção, cartelização, trustes, arrocho salarial, exércitos industriais de reserva e outros inúmeros artifícios bárbaros mal gestados por inteligências dos opressores. Essa opressão abraçada por certas regras maquiavélicas de um jogo perverso há que ser evitada pelo bom senso de nossas frentes e donos de meios sugestionáveis. No entanto, há frentes que por vezes se constituem em farsa, pois em certas retaguardas o combate por vezes é cru como o gosto do sal amargo: duro, porém necessário. Por isso, deixemos a luta por quem o sabe, quando a inteligência e o bom senso das humanidades passem a usar em seu tutano as verdadeiras sinapses eletrônicas: as do cérebro humano, sem mais!..

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