terça-feira, 24 de maio de 2016

FICÇÃO E REALIDADE II

            Ao se conhecer os aspectos de uma aldeia, como disse Cervantes, podemos nos tornais universais em apreensão do que seja. Quando nos dispomos a verificar fatos em progresso saibamos que nada nos impede que tracemos a interpretação e crítica da vanguarda dos pensamentos e tecnologias atuais, incluindo toda uma cinematografia e a televisão como aspecto divisório entre realidade e ficção, mesmo em nosso espaço de entorno, como um bairro, uma rua, uma casa, um quarto. Em um aspecto fundamental ao extremo são os canais que noticiam principalmente na amplitude de alcance de redes abertas, as questões relativas ao que se apresenta na sociedade, em por vezes os filmes ou novelas. Parece que querem contar uma história imersa na forja de suas ficções e edições... Isso seria dizer algo já dito, já pronunciado, obviamente nunca dentro desses canais, que jamais realizam um debate com o povo que pensam estar manipulando, como dois mais dois são quatro, mas que se enganam, pois dois mais dois podem ser muito mais. A exatidão de suas circunscrições não pode ser medida com números ou gráficos, com mapeamentos, nem quaisquer termômetros que porventura possam medir a temperatura do que ocorre em uma nação que tenha visto a face da sua própria soberania, ou experimentado as conquistas que versam sobre a situação de populações inteiras. Poderíamos estar ausentes do surgimento das novas tecnologias, mas as pessoas que porventura não se integram totalmente a esse modo de existir sabem gerir outras horas em que paradoxalmente possam estar mais ágeis do que a mesma eletrônica de pratos feitos, do hambúrguer do Mc Donald. Nada nos impede de que almocemos nesses estabelecimentos fast food, mas incluirmos como painel de consumo rápido os mesmos androids e sistemas similares, como algo que nos gere a ilusória tranquilidade de estarmos inseridos não deixa de ser ela mesma: um aspecto de farsa, pois não há o neologismo clássico ainda de homo eletronicus... Aprioristicamente, passa a filosofia a transigir com uma superfície tão complexa em número quanto simples nos displays, a contar matricialmente em alguns ou uma dezena, em seu cerne mais absoluto, na questão informática. O restante é integração tecnológica, materiais muito caros, veículos inteligentes, prédios inteligentes e agentes do processo: a serviço ou não. Agentes ou não; farsa, realidade, objetos.
            Pensar alterno chega a ser pensar de modo padrão, alternativa nula enquanto regresso do nada, posto alguém demonstrar comportamentos que fujam abertamente do behaviorismo cabal passa em alguma circunstância, principalmente aos portadores de enfermidade psíquica, um motivo de redução da sua circunscrição existencial. O caudal dessas populações vulneráveis pode ser reafirmado existencialmente com uma revisão necessária ao processo em que a química atua simplesmente, desmistificando o tabu de como funciona a inserção na sociedade, a liberdade, o preconceito altamente recorrente e o espaço tão pungentemente necessário para que se recupere na medida de uma possibilidade de diálogo entre o médico, as instituições e o paciente fora dos manicômios. Essa deve ser uma prerrogativa civilizada que atenda por uma medicina mais generosa e solidária no trato com os problemas dessas enfermidades, quando aquela se torna mais restritiva com relação à urgência ou não de intervenções medicamentosas. Cita-se o parágrafo com muita atenção nessa temática, pois a indústria da ilusão nos tempos contemporâneos ou modernos dessa nossa era utiliza suas imensas e complexas ferramentas para recriar a própria realidade, dando vazão a que tenhamos até mesmo laços de afeto humano por objetos abstratos, mecânicos e eletrônicos. Torna-se o apego a não sermos mais independentes, alienando grande massa de gente que não possui esteios psíquicos para lidar com essa realidade, onde torna a ingerência das origens genéticas do problema apenas uma ponta de um iceberg de toda uma construção de sociedade baseada em silogismos desconstruídos, pois a quebra da lógica mais básica e necessária à compreensão do que é abre espaço para a dissociação mental, visto não encontrarmos por vezes a mesma referência da sociedade quando somos excluídos desta, pela questão do estigma imputado a um ser em um tipo de apartheid cruento que fere diametralmente o respeito aos direitos humanos. Que se trave circunstâncias que por vezes aparentam conciliação, mas embutem uma hipócrita ação que não atende o pressuposto da compreensão de alguns lares, em que o doente passa a ser “o outro”, segregado na incompatibilização de viver socialmente pelos grilhões existenciais que lhe impõe seu entorno. Talvez seja uma crítica mordaz no sentido de supormos que a intolerância, seja racial ou quaisquer venha a ser combatida com a mesma intolerância, e o fato veraz é que uma se torna demonizada pelos que iniciam as contendas, e os que reagem por vezes de modo civilizado, se considera sejam apenas peças fracassadas de uma resistência ao status quo. Por isso é mais fácil dar um acesso restrito a qualquer manifestação da verdade, impondo a mentira social como ficção ou pano de fundo de caráter entreguista. Isso infelizmente é fato. Consequentemente, verdadeiro.

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