sexta-feira, 20 de maio de 2016

ARTE AUTORIA E ARTE DESAVENÇA

            A verdade é que sempre se apresenta, igualmente no fazer artístico. Supomos, por conclusão ser esta a nossa vereda: uma expressão, não importando a técnica nem o suporte, mas sim a união em que tecemos desde uma pintura, aos livros, ao processo autoditata artesanal, à exemplificação de uma feitura mais dentro de um padrão tecnologicamente desenvolvido, e tal. Pois que enriqueçamos o fazer, a prática artística, e não o façamos com o cunho de arte desavença, pois esse conceito de neologismo integrado não existe, pois não há vertentes que o una a quaisquer manifestações do espírito humano... O comércio relativo a se pretender quando da autoria de um é o coletivo de muitos quando fruem dos mesmos canais que hoje dispomos, quais sejam, mesmo na representação simbólica de que não possuímos os meios para tal, mas isso não é fato, pois a autoria da arte remonta tantos quantos somos os habitantes, nesse tempo nosso, no mundo, na Terra. O que se afirma da arte desavença é o espírito de nos mantermos ocupados fora da produção de nossa mesma arte, pois a dita prática nos eleva enquanto fabris da construção ou releitura de nossos mais íntimos aspectos culturais, sem precisarmos da fama, pois que a infâmia peça passagem como termômetro de por vezes estarmos em uma outra História das Artes.
            Um homem não dissocia sua razão quando conhece junto às suas técnicas fabris, o conhecimento que engloba mais do que um aspecto existencial, quanto da geometria ou matemática, por exemplo, pois muitas das equações artísticas no respiro da vanguarda pós Idade Média vinha do conhecimento, melhor dizendo como exemplo, da proporção áurea, e igualmente do conhecimento alquímico como transmutação das bases de pintura em madeira ou tela. Uma experiência ímpar é o estudo das leis construtivas que rezam a geometria, os mesmos polígonos que constroem, os vértices como entidades de ponta, e as arestas que unem os mesmos polígonos. Tal é a modelagem fabril de estarmos dialogando constantemente com a máquina, em que esta mostra que podemos estar em uma plataforma intensamente tecnológica e ao mesmo tempo compartilhando um texto elucidativo de como pensarmos melhor a nossa prática expressiva, suas limitações, suas coordenadas, seus comandos computacionais e a lógica irrefutável que verte no espaço tridimensional a ciência, não propriamente o consumo que passa a não ser tão necessário. Este verte sobre um panorama de luzes antigos materiais e mescla a tecnologia ao gesto-osso do pincel, como caligrafia inequívoca que possa ser experimentada na aproximação dos idiomas anglos e latinos com os países asiáticos do leste do planeta. Quanto à prática engajada da arte, lembremo-nos que o Ocidente trás em si um panorama saudável de referências a que nos lembremos da importância de mantermos nossos arcabouços artísticos e culturais, sendo a agregação do sentimento artístico algo que ultrapasse fronteiras, culturas, ou mesmo esteios de ordem anímica ou mística, pois a história mostra que por vezes a religião se vincula de maneira extraordinária com a arte.
            A arte utilitária também faz parte de nossa civilização, revelada sobretudo nas cerâmicas de todos os povos em sua história. De uma primitiva urna crematória às porcelanas de cunho aristocrático, revela-se a cultura de um povo, seu desenvolvimento tecnológico e sua relação intrínseca com o sagrado e o material que o plasma, às decorações filigranadas, suas técnicas, as superfícies ao tato, as esculturas magníficas que vão da Mesopotâmia a Arp, em seu dadá que surpreendeu o mundo a rever todo o processo artístico, em novas formas. No que se dê vital importância no conhecimento das artes visuais igualmente a outras, posto que a própria filosofia pode ser um manancial de arte, enquanto palavra poética em suas ideias, expressão humana de um indivíduo no que se apreende que tenha um conhecimento de seu entorno material, ou mesmo psíquico, ou no aprender coletivo, compartilhando a outros solidariamente seus conhecimentos, o que raramente se vê hoje, enquanto vivemos em uma sociedade assaz competitiva, em todos os sentidos. O que compartilhamos por vezes tornam-se detalhes solitários de um celular, pois nossos segredos mais íntimos não podem ser expostos nessa imensa vitrine de três polegadas de liberdade de expressão. O tempo vai se escoando, e toda essa escalada da tecnologia relegada ao hedonismo nos transforma ou em passivos cúmplices de um sistema andrógino em expansão ou agentes ativos e motivadores dessa farsa, a serviço de toda uma indústria que nos torna obsoletos enquanto seres sem ética e humanismo. Todo o tempo livre torna-se um onanismo simbólico onde nos desfazemos enquanto seres pensantes, ou agentes revolucionários que possam realmente mudar a face de nossas sociedades, que se enclausuram em seu próprio display, ou ilusoriamente creem participativos quando vinculados aos píncaros da tecnocracia eletrônica.
            Há gente treinada “exemplarmente” para acabar com as vontades do povo – considerando esse povo a grande massa trabalhadora mais carente – através de seus artifícios e relação imposta pelas matrizes tecnológicas, ou os países que detém o poder com suas centrais que abastecem de informações estratégicas de outros satélites o que desejam obter para o saque sem conta das riquezas naturais que por seu próprio processo pertencem às nações de suas origens. Obviamente, contam com isso com a conivência quase grotesca de seus sequazes dos países a que fazem parte. Francamente, a necessidade de uma arte engajada não é arte da desavença, mas da defesa de expressão de toda uma massa de artistas e intelectuais patriotas que tem por missão revelar e dar luzes que sejam mais consistentes do que atuar apenas nos canais como o Google, que tornam a empatia reversa.

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