quinta-feira, 5 de maio de 2016

A ARTE DA PAZ

            Em certos panoramas não vemos o detalhe de qualquer tomada, de paisagem, a ser, como se dizer, mesmo na cinematográfica. O que vemos em uma superfície marinha não é a mesma onda que sentimos na presença de outras que sejam cordatas, mesmo que isso represente algo de ilusório... A semântica dos seres passa pela compreensão afetiva do homem, em relação à mulher, à prole, aos amigos sinceros e aos outros seres que já conferem importância vasta e inquestionável como companheiros cotidianos de sentir as gentes. Por mais que saibamos dos processos históricos passíveis de dissecações factuais, por vezes lemos um tópico simples que remete a um diálogo complexo por vedarmos a compreensão de um alterno de totalidades algo fragmentárias do que supomos novidades tecnológicas, e seus perfis altruístas quando se sabe que só consome quem pode. A paz torna-se a compreensão quase aristocrática ao revés na nobreza de compor uma música, no quadrante inominável de um olhar, nas mãos negras que tocam as brancas, na multidão de estrelas e no bom senso em se escrever ou propor pequenos debates dentro da proprietária serenidade, esta palco de uma vida privada entre dois, três ou um milhão. Para se alcançar um palco de grande vestimenta libertária precisamos saber que o próprio grilhão se ressente em padecer na pena do bom senso.
            Aquilo a que chamamos luta igualmente pode irmanar-se na paz de espírito, quando sucinta em suas razões, suas margens, seus ritmos e ponteios... A paz sempre pede passagem, e o estamento cultural é uma vertente que denota a importância – em um país como o nosso – da ausência de querermos interpretar nações internas: indígenas, por si. Pois os costumes jurídicos dessas nações fogem às regras padrões do direito internacional, e isso deve ser respeitado.
            Por que a salada grega em que os escritos se tornam? Talvez pela questão da paz se pronunciar em significados que tornam os versos da Natureza com uma ordem de importância inequívoca, em seus movimentos pela superfície do mundo. O mundo técnico pede passagem por vezes, mas as disciplinas humanas igualmente pedem passagem nesse mosaico quase bizantino na recolocação dos fragmentos ainda maravilhosos em seu todo recomposto! Esse grande mosaico em que nos coloquemos à questão quase hereditária das heranças culturais que nos remetam à validade da consciência, apesar da frieza científica em nos repaginar aos apontamentos mapeados.
            A análise histórica vem a granel, como uma dúzia embalada de ovos em uma caixa plástica, da forma como querem prosseguir no impacto das mesmas caixas que vertem seus pressupostos na arguição do que acreditamos um “bom” consumo. Quando se consome meio que se dá a noção talvez imprópria de algum hormônio que certamente não existe para salvaguardar um ato simbólico em nossa cultura do ocidente... Talvez fosse algo correto: pensar em ocidente e oriente, talvez o modo de consumo oriental seja mais intenso, mas que no entanto as caligrafias de seus modais nos diferenciam, erguem-se as barreiras linguísticas, mesmo sabendo-se que na banda ocidental as línguas latinas já perdem há muito para o anglicismo. O mais fácil, uma língua quase tornada pátria para alguns, em sua lesão das matrizes em decadência.
            A paz deve ser fruto da consciência, seja em que ordem ou tema for, mas que haja entrelaços de conhecimento, e a noção necessária da importância de qualquer matéria em questão. As equações – mesmo simplificadas em bases extremadas – são importantes em serem resolvidas quiçá individual, ou cogitadas coletivamente. Quando um está sozinho, na leitura em seu dinamismo de um livro ou de uma reflexão, estará caminhando em outro conceito de coletividade... Vejam o voo dos pássaros, o coletivo do voo e a organização e afeto dos bichos. Contemplem profundamente o andar de um gato e talvez compreendam o que é ser um shao lin. Talvez seja uma noção algo abstrata, talvez seja um arremedo de escrito algo solitário para que se possa compreender que não pode haver a separação entre o homem e a Natureza.
            Para quem estiver no concreto das grandes cidades, igualmente a Natureza se apresenta. Por isso, termos mais espaços públicos deve ser uma luta severa de reivindicação popular, no sentido de se encontrar a paz de espirito, entre ateus ou crentes. Não há cegueira que deva separar essas duas frentes, e a união e o debate aos que os desejam – dentro do possível – devem ser colocados como aglutinante das massas, e os conceitos de luzes pespontam nesses diálogos. Tentar compreender a realidade do outro irmana uma mesma classe e alavanca outras para propósitos de igualdade ou, no mínimo, respeito e paz social entre as gentes, o que abre a lacuna necessária para se ligarem outros fachos de luz, iluminando novas frentes e reverberando sombras mais tênues nas retaguardas de nossas existências...

Nenhum comentário:

Postar um comentário