sábado, 14 de maio de 2016

A APROPRIAÇÃO DO CAPITAL AFETIVO

            Não há como começar um tópico relevante no ostracismo de uma nova concepção, este induzido por métodos vários que levam à contestação de uma lógica imutável na realização de qualquer estudo sério, e que, não nos levem a mal, pertinente como o fogo e a água na civilização contemporânea... O contemporâneo na Alemanha do século XIX mostra o surgimento de veias solenes do pensamento mais acurado, em que os anglo saxões perderiam com Ricardo e Adam Smith, renascidos hoje como âncoras gastas frente ao mercado sem medidas na introspecção de fazer valer – ainda a grande e cada vez maior – acumulação em relação ao livre comércio e à pressuposição nada justa do enfrentamento em relação a direitos trabalhistas.
O antigo Tamagushi é a origem dos modernos celulares inteligentes, onde os alimentamos, os cuidamos e os portamos como companheiros eletrônicos inseparáveis em nossas carências afetivas, não nos dando termos a que desenvolvamos algo maior do que breves e efêmeros insights que ficam na esteira do rolamento mecânico e newtoniano da compreensão, remontando as máquinas fabris da Inglaterra e seus desejos da apropriação, neste caso, da manufatura e, no caso dos displays eletrônicos, do tempo de muitos intelectuais que não percebem seus verdadeiros usos e se perdem na científica e biológica questão do condicionamento pavloviano de estímulos e respostas. Resta sabermos que reconstruir a própria indústria do pensamento reza que o façamos a partir da compreensão cotidiana – recorrentemente a palavra cabal – do que seja concreto, do uso em síntese, da leitura linear, ou a sua pesquisa terminante a que se atinjam os propósitos inerentes à compreensão de processos algo complexos. Sempre se diz que um quando cria algo novo não encontrará repercussão na sociedade conservadora, pois a própria história tem se revelado ao imediatismo dos conservadores, e as novas vertentes que mudam o perfil de nossos tempos não aceitam a imediata aquisição ou uso da filosofia, econômica ou não. Quando os Tamagushis foram lançados, não havia a proficiência da eletrônica tão desenvolvida como hoje, mas formou-se no mundo um grande laboratório de ensaios, e o inventor do brinquedo assemelha-se ao jovem que incorporou o facebook sem critérios éticos ou moralmente leais aos sócios a fortuna e controle, à divulgação não permitida de perfis, à comercialização de informações, graças à expropriação do afeto, como sombra de um novo modal do capital nos dias cibernéticos e avançados que vivemos. Essa equação não é negável, pois traça um paralelo em que o significado do gadget celular esconde em seu manual não lido o que a maioria sequer estudou – graças ao plug and play – e os interstícios do que há por trás do sistema android, que por ventura não é o mesmo dos outros sistemas que o consumidor comum e usual jamais compreenderá, pois não foi treinado para isso e, mesmo que tivesse feito a universidade de computação, seria mero tentáculo de especialização focada no que se diz proficiência de campo.
Já que não teremos tempo para a compreensão do conjunto da obra de Dell, Microsoft, Apple, Facebook, Whatsapp, Instagram, Youtube e outros materiais, saibamos que ao menos na plataforma Linux seremos mais blindados do que em outras, e aí reside a luta em quererem impor em países como o Brasil a verticalização do consumo. Divide-se o país em pequenas fronteiras informativas: a mídia que deu trégua entre si e se uniu para derrubar um Governo, conforme a televisão e seu ofício de fabricar a edição indutora de notícias e programações, a internet suspeita em suas multiconexões e controles de informações a preço irrisoriamente gratuito, as agências de informação externa que trabalham em espionagens e serviços igualmente suspeitos dentro de nosso território (que supostamente deveria ser soberano) e as religiões, que se imiscuem no pressuposto do deus da tolerância para a guerra de exércitos para atacar, em nome do famoso apocalipse. Pois sim, agora que estamos com um governo conservador, talvez tenham deixado esse apocalipse para outra era vermelha, como se a cor fosse confortável na agremiação daqueles que segregam.
A apropriação do capital afetivo é como uma voz feminina tépida como o orvalho na seara independente de um guerreiro, de um lutador pela causa do socialismo... Por vezes é uma sombra, por vezes é uma isca, em outras o ignorar, a saber, que ninguém deve reclamar por coisas que permite é uma máxima incorreta, pois o que se permite é a lei de um Estado Democrático de Direito, apesar de derrubarem governos por questões levianas e parciais no uso das mesmas leis, a ponto de retirarem alguém do poder com subterfúgios escusos, dentro de um processo onde a expropriação afetiva uniu tamagushis em profusão, com muito mais recursos para inviabilizar o andamento da democracia no Brasil através de um golpe. Talvez seja o fruto de ficarmos à mercê dos computadores em todos os setores de nossa nação, em cada gabinete, em cada seção, talvez tenhamos apostado alto no aparelhamento burocrático, pois só teremos no futuro condições de sermos independentes se formos capazes de nos tornarmos matematicamente superiores para desenvolvermos sistemas alternativos. Que seja dada a largada: a vereda é longa, companheiros, e quem vos escreve talvez o faça pelos alternos dos próprios sistemas: um homem solitário mas feliz, pois que o andamento das sociedades caminha no rumo em que deixamos a obra inacabada, e que possam derrubar algumas paredes, mas as fundações estarão sempre firmes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário