quinta-feira, 24 de março de 2016

TEATRO DO ABSURDO ATUAL

            Melhor seria, não pensarmos nisso... A imaginação se perde quando, convenhamos, temos que reproduzir uma alucinação de um céu nos ares de um esquizofrênico mudo em uma cena de um ato apenas. O ato vira um grande molusco, onde a cabeça do dramaturgo rasteja como uma centopeia, ainda que esta não rasteje, posto ter pequenas pernas. Mas é um tanto complexo enquadrar a alucinação e mais ainda representa-la. Quiçá fosse mais simples talhar e especular sobre outras realidades, algo concretas, dos dias atuais. Não, não nos merecemos olhar sobre uma tela de televisão de alta definição os pixels que esquecemos de definir em uma mente enferma, por exemplo. A MENTE... Adormeçamos sobre o tema, é mais produtivo, talvez, mas não esqueçamos da mente social, de um modo que não adormece, mas dorme profundamente em seu viés, pois as tentativas intervencionistas absolutamente não são palpáveis como a seda de uma mulher. Esta que fere o coração de outro enfermo, pois este não sabe nem dizer que a ama, quanto mais tocá-la, apesar de ser forte o suficiente para não cair na ideia absurda de que não temos olhos que vejam, ou pulso para sentir o fremir das mãos inquietas, ou mesmo a ideia de medicamentos que entorpecem até o tufão. Haverá necessidade dessa loucura toda, onde o não paranoide é anormal posto frio como um cubo de gelo amoldado na forma de um papai noel? Não nos esqueçamos de não falar mais nada que tenha sentido, pois da lógica nos enojamos um pouco, e de suas nódoas no movimento fixo do peão, ou na soberba de desfilar ao tabuleiro convexo de alguma rainha prócer. Tentamos arranjar nossas condutas, por Deus que tentamos, e toca agora na vitrola uma música erudita que nos faria pensar mais que nada do choro convulso nos acorda, posto termos secado as varas de nossos sentimentos. Tudo isso é um apanhado, e no cadinho alquímico saberão os poetas que não existem ainda enquanto escritores que mesmo assim possam estar ao relento de suas convicções...
            Chegamos ao término de março ao absurdo amplo, geral e quase irrestrito, pois esta restrição é que incomoda, pois é ampla quanto as votações pelas diretas já em nossa história democrática, onde os lorpas e empata fodas votaram aberto contra a democracia. É nesse paradigma que talvez encontremos gente às avessas, tentando, manietando, restringindo ou, o que é pior, espiando ao compasso de espera os dois lados do muro, bem empertigados e orgulhosos pelo movimento central e covarde de seus atos, onde o para choque de seus carros orgulhosamente acenam para o White Power... Esse mesmo poder que possui um anacronismo nada sincrônico: e acenam tanto que aquele esquizofrênico amigo de Virgínia Woolf que ela não conheceu jamais talvez lesse algum de seus livros, mas que não escrevesse, pois em sua cabeça encontrasse ressonância em algum ser mais normal, quem sabe aprendesse mais com Hegel, ou com a poética de Augusto dos Anjos, mas que lera tanto e de tantos que acabou não administrando bem os seus condicionantes! Mas que tivesse, desculpem-me, nesse circo-teatro do absurdo, alguma confluência humanística, quem dera, em um mundo onde a exibição primeira do jornalismo era atacar o xisto dos governantes ou opositores com a coragem da “imparcialidade” das ofensas politicamente corretas. O teatro do absurdo mostra uma ninhada famélica de leite querendo mamar por sua vez em tetas gordas e fartas e ricas como as nossas estatais, ou melhor, entregá-las todas ao preço de premiações soberbas para o rugir igualmente famélico das águias e dos lagartos.
            O teatro do absurdo não é tão atual, mas passa pelo conceitual dos contemporâneos, onde a tecnologia da informação passou a ser condicionada ao andamento das novas profissões, a se dizer, que pontua maravilhosamente bem ao acreditarmos que nada sabemos delas, nem ao menos o que é input, e muito menos o output, tão declaradamente viável no delete de nossas conquistas... No absurdo por vezes choramos, caros, por vezes o teatro é triste. Mas o fato do absurdo continuar tanto e por tanto esforço em torna-lo crível aos olhos de uma Lei em que já de imediato não aprovara o Orçamento Federal, resta-nos sabermos que o desfecho que terá quando o pano deitar o espetáculo, sabermos que os atores que se esconderam durante o mesmo ato encenado todo o tempo, são os mesmos que talvez nem permaneçam em suas posições orgulhosamente incultas do credo em se fazer passar por homens ou atores competentes. O discurso do Método é esse absurdo, os seus métodos são cartesianos, pararam na ação e reação newtoniana, mediam questões claudicantes, outras são as propinas rolando soltas nessa conjurada mania de quererem o poder. O teatro fica amplo, chegam recursos, os bilhetes se sucedem, e pensam em quarenta e cinco dias, em trinta e nove horas, em trinta e dois minutos, mas dois segundos bastam para saberem que o absurdo nunca foi tão cômico e ridículo!

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