quarta-feira, 11 de setembro de 2024
Comecemos com o que o próprio Freud diz quanto à natureza da sua invenção. Há vários textos em que ele examina os fundamentos das suas teorias − o início do artigo “Pulsões e destinos de pulsão” (1915), a Autobiografia (1925), a defesa que redigiu para o processo contra Theodor Reik por prática ilegal da Medicina, intitulada “A questão da análise por não-médicos” (1926), e outros. A argumentação mais completa encontra-se na última das Novas conferências de introdução à psicanálise (1932), cujo título é “Sobre uma Weltanschauung”. Como se trata de um texto escrito em sua velhice, podemos pensar que representa a opinião definitiva de Freud sobre o assunto. Weltanschauung significa concepção ou visão de mundo, e Freud quer responder à pergunta: da Psicanálise se depreende, ou não, uma concepção de mundo específica? Parece evidente que, nesse caso, “mundo” se refere ao homem e à sua vida psíquica, tanto individual quanto em sociedade. A pergunta poderia ser assim compreendida: a Psicanálise envolve, ou não, uma concepção filosófica do homem, da sua mente, do seu comportamento, da sua natureza? Mas, para nossa surpresa, não é em absoluto esse o caminho que toma Freud. Ele começa por definir o que entende por Weltanschauung: 322 Natureza Humana 9(2): 319-359, jul.-dez. 2007 “uma construção intelectual que resolve de modo unitário todos os problemas da nossa existência [unseres Daseins] com base em uma suposição fundamental [übergeordneten Annahme], construção na qual, portanto, não permanece em aberto interrogação alguma, e tudo que nos interessa encontra seu lugar determinado” (Freud 1932, SA I, p. 586; BN III, p. 3191). A vantagem de dispor de semelhante construção é evidente: ela nos proporciona segurança, oferecendo critérios claros tanto para compreender o que nos rodeia, quanto − ao definir ideais para a conduta, obviamente convergentes com sua “suposição fundamental” − para orientar nossas ações. RENATO MEZAN.
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