sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

O SER E A ABSTRAÇÃO

 

          Já se disse do ser que nada fosse consubstancialmente significativo se este não mostra conteúdo ou ideia que se amolde na forma em si, onde se una o princípio e a finalidade, onde se ligue ideia e ação, ou prática. O ser abstrato é entidade existente em conceito, como seria de modo algo assustador reportar realidade que não esteja ao alcance de nossa compreensão, ou seja, melhor será a abstração do tema, a prosseguirmos nos conceitos a reconstruir a compreensão tijolo por tijolo, nem que para isso tenhamos que refazer a própria alvenaria. Tecer a urdidura de cordões conceitualmente amarfanhados pela existência do conceito em si dará sempre a mostra da inexistência de um padrão humano nas bases desse conhecimento. A abstração só haverá de dar a sua voz quando acompanhada da iconografia que paute por significados, ou seja, teremos que partir a descontextualizar muitos conceitos de fachada, ou casas onde nada reside, a não ser a ilusão de que estejam construídas, pois apenas o formão e seus toques no concreto dão o sinal desta possuir boas fundações. Por isso o grande tema de pensarmos que este mesmo pensar volte a ser liberado dentro das novas amarras tecnológicas, quando há de prosseguir nos meios: este como a talhadeira, o cinzel, a pá, e o martelo, além obviamente do frescor intangível de um celular, ou bom computador, em etapas harmônicas no desenvolvimento de uma massa mais propriamente inteligente no país, este nosso que sofre a falta de educação mais consagradora, onde a leitura deve vir precedida não apenas de não zerar no teste, mas que seja educar – ao menos – posteriormente para que não nos tornemos um povo de analfabetos funcionais.
          Essas questões vêm precedidas de certos temores em que as gentes preferem estar mais no aspecto externo da comunicação, ao invés da relevante e necessária introspecção, em que os sentidos se refreiem um pouco no seu ímpeto ególatra e recomecem na acepção da contemplação e questionamentos mais acertados em suas origens mesmas, a que não expusermos muito apenas nossas faces… Assim se dita uma regra fundamental: em que ensinemos, mesmo fora das escolas, a pontuação a que o diálogo com os nossos/as companheiros/as de trabalho permita embasar e florescer a própria filosofia em se viver e lutar por melhores dias. Sairmos da ilusória abstração que não nos acompanhe, e que cambiemos por atitudes mais sólidas, como quando o faz um operário ao obrar o cimento, ao rejuntar as letras de sua parede, ao se estruturar na totalidade enquanto cidadãos que somos, a perpetuarmos a própria construção de nosso ser sem a ausência de bons planejamentos, pois cotidiana por vezes é a vivência do futuro, seja no individual compartido, seja no coletivo em seus saudáveis rebatimentos. O futuro pode ser projetado, e há desse projeto que se prever por vezes a sustentabilidade de meio século como, a bem dizer, na despoluição de um rio importante ou na recuperação de um imenso manancial. Justo, se um rio como o Tâmisa foi despoluído, há que se rever completamente a situação do despejo de dejetos orgânicos ou químicos nos nossos rios, e a preservação coerente de suas margens. Isso não é abstração, posto algo de se dizer, uma proposta evoluída, que parte de um ser, e não de um nada que sobrevoa uma ausência consciente do que é uma riqueza à revelia do sofrimento do mundo.
         O ideal é que tenhamos um mundo a salvo, pois se Cristo nos concede a salvação espiritual, obviamente – sempre respeitando a quaisquer religiões – teremos que caminhar sobre um planeta igualmente salvo, a quem quer que se salve, qualquer religião, ou no – que se respeite igualmente – ateísmo. É no panorama dessa comunhão que partiremos para a igualdade entre os seres, incluso os humanos, partilhando da premissa inviolável de uma melhor distribuição de riquezas, pois não é justo haver tanta diferenciação nesse campo das sociedades em que aqueles que se nutrem por um determinismo econômico mereça viver melhor do que outros que são considerados mais fracos e vulneráveis. O apoio salutar deve ser dado aos governos que respeitam as frentes populares, pois agora é a única chance que temos em ver melhor justiça social, ética e humana no cerne de nossas sociedades, pois a competição desmedida peca pela deslealdade. Mas que abrandemos, pois que se traduza a efemeridade dos fantoches como se víssemos descartáveis folhetins. Aí sim, com um ser abstrato que nos alcance aonde estivermos com o rumoroso destino dos excêntricos e comportados invejosos, onde o que dizem é script desnecessário...

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